sábado, 4 de agosto de 2012

Rush - Clockwork Angels (2012)




RUSH CLAMA: THIS IS MY SPOT!

Prólogo - A Vingança dos Nerds


Esqueça Sheldon Cooper e Leonard Hofstadter, os Nerds mais amados do mundo estão de volta! O Rush não lançava nenhum disco de inéditas desde o não mais que bacaninha Snakes & Arrows, de 2007 - mesmo ano de início da série The Big Bang Theory – e tal como a popular série televisiva (e talvez por uma parcela de culpa da mesma), a banda viu nesse período de cinco anos uma mudança de percepção do mundo sobre seu legado. Ao terem suas vidas expostas pelo documentário Beyond The Lighted Stage (2010) – o Rush, outrora espezinhado e taxado como uma espécie de banda “leite com pêra” composta por três senhores que são a antítese do estereótipo do rock star, repentinamente se tornou “cool”.  


O Império Nerd Contra Ataca!

Na excelente matéria de capa da Classic Rock Magazine de julho desse ano (ver foto), Gedy Lee abriu seu coração sobre o impacto que o filme exerceu em sua percepção sobre a banda (transcrição em tradução livre):
“Absolutamente me assistir falando sobre minha própria vida não é para mim. Mas ver gente como Billy Corgan (Smashing Pumpkins) e Trent Reznor (Nine Inch Nails) relatando sobre o impacto que nossas músicas tiveram para a vida deles, isso sim significa muito. Saber que as pessoas analisam tão seriamente o que você tem feito pelos últimos 40 anos te traz um sentimento bacana, faz você pensar que viveu uma vida e tanto.”

Ao que Alex Lifeson completa o raciocínio com seu humor peculiar:
“Além disso, o que impressiona e choca é que um diretor tenha conseguido nos tornar figuras interessantes.”

Essas declarações podem parecer tolice aos olhos dos fãs, mas a banda definitivamente precisava dessa percepção de carinho. Como todo nerd que se preze, o trio canadense tem problemas sérios de auto-estima. A última década não foi fácil. Em 2001, a seqüência de tragédias pessoais que envolveram o baterista Neil Peart (que em menos de um ano perdeu a esposa e a filha) fez que o mesmo declarasse não ter mais interesse em seguir em frente. Parecia o fim da linha. Por sorte, Alex Lifeson aproveitou idéias para um projeto paralelo e enfurnou a banda em estúdio, para produzir o que se tornou Vapor Trails. O disco, lançado em 2002, pode ser esquecível musicalmente falando, mas teve importância crucial para a continuidade da banda. Segundo o próprio Neil, a turnê que seguiu o lançamento “foi a maior jornada na qual nós três nos envolvemos” – Vapor Trails manteve a banda viva.

Capa da Classic Rock Magazine

Mas apesar de viva, a banda não andava nada confiante. Segundo o produtor Nick Raskulinecz, quando ele foi trabalhar pela primeira vez com a banda, em Snakes & Arrows, ele encontrou um grupo de músicos tentando resgatar sua identidade – “eles pareciam um pouco perdidos, os intervalos entre os discos haviam ficado grandes e a música mudara muito de um para outro” – e a evidente falta de confiança influenciaria bastante no resultado do disco. Mas ao ser contratado pela banda para gravar o novo disco, Nick diz ter encontrado uma banda muito mudada, ao menos em atitude.

Curiosamente, além do filme já citado, seria Alex Lifeson – o mais contestado (ou menos incensado) do Power trio - o responsável pelo boost de auto-estima no Rush. De personalidade expansiva e muito pouco afeito à perfeição, Alex convenceu seus colegas a reviverem as jams do início da banda na turnê Time Machine. O resultado disso foi uma banda menos mecânica, que redescobria a cada show sua veia criativa. E a idéia ao entrar em estúdio foi transpor esse clima para o novo álbum.

E como a banda resolvera se reinventar foi acatada uma idéia insistente de uma pessoa próxima a banda – o Rush deveria tentar escrever seu primeiro álbum inteiramente conceitual:
E esse trabalho conceitual, fruto de uma gestação de mais de dois anos, surgiu sob o nome de Clockwork Angels.

Clockwork Angels – gestação e conceito

Repetindo a parceria com Nick Raskulinecz, que produziu artistas tão diversos do universo Rushiano quanto Alice In Chains, Evanescence, Danzig, Death Angel e Foo Fighters, o trabalho de composição começou já em 2010. Ainda durante a turnê a Time Machine Tour, duas novas músicas foram apresentadas no repertório dos shows, Bu2B e Caravan (ver vídeo). Ambas foram muito bem recebidas.


Ainda em 2010, mais 5 músicas foram compostas – e o conceito foi rapidamente ganhando forma, a ponto de ter sido proposto a Neil Peart que o mesmo se tornasse um livro. Aparentemente, a idéia persiste, e devemos esbarrar com algo ainda esse ano.

Eu seria um tremendo cretino se dissesse aqui que compreendo do que se trata a história, mas vamos lá:
A mesma se refere à jornada de um jovem artista em um universo de estética steampunk, onde o mesmo se vê inspirado por vários acontecimentos e personagens que cruzam seu caminho. Tudo gerido por uma figura transcendental que rege o universo como um relojoeiro celestial. Ah, tudo muito inspirado por Julio Verne e com referências a alquimia. Não eu não entendi lhufas lendo as letras e roubei a explicação acima de entrevistas e do press release do disco.

Mas não costumo dar a mínima para discos conceituais, apenas os ouço com a expectativa de que a necessidade de desenvolver a história a ser contada não limite a música, que é o que interessa.
E nisso a parte gráfica nos dá boa pista do que está por vir: afinal, o relógio celestial marca 21:12 – e se você não sabe a que isso se refere, largue essa resenha e vá escutar música!

E que cantem os tais anjos

Não, o novo disco não resgata o Rush mais progressivo de 2112, como alguns sonhavam. Mas se não resgata em absoluto sua verve épica e progressiva, deixa lampejos da mesma impregnar o hard rock classudo e de acento pop que a banda vem fazendo desde meados dos anos 1980.

A jornada tem início com a já conhecida dobradinha Caravan/ Bu2B. A ordem de trabalhar com menos programação e mais inspiração já aqui mostra seus frutos. Embora tenham refrões com molho pop suficiente para lembrarmos das músicas após a primeira audição, nelas percebemos o quão mais inventivas estão as linhas de baixo, e como o trabalho de Neil Peart parece revigorado. Pela primeira vez em décadas a banda trabalhou escrevendo as músicas em jams e pela primeira vez em sua carreira, Neil Peart não apareceu para gravar suas partes com tudo escrito. Segundo o misantropo baterista, cerca de 75% do que acabou no disco foi criado/gravado em um take.

O molho progressivo surge um pouco mais forte na faixa título, para muitos um novo clássico, que Neil disse esperar intensamente que não saia mais do repertório dos shows das turnês vindouras. Só de ler uma declaração dessas, fazendo referência a “turnês vindouras”, assim no plural, vinda de um cara que não sabia se gravaria outro disco há uma década atrás, mostra o quanto o novo disco afetou positivamente a banda. Uma faixa que mistura praticamente todas as facetas que a música do Rush teve desde sua estréia.


O clima solto é perceptível no longo início instrumental de The Anarchist, e cabe de antemão ressaltar a ótima sonoridade do disco – com muita pegada e todos os instrumentos aparecendo com igual destaque, sem que soe pasteurizado demais. Não é a toa que o Sr.  Nick Raskulinecz já abocanhou um Grammy em sua carreira.

Um início circense e lá temos um riff seco e poderoso mostrando ao que Carnies realmente veio. Cortesia de Alex Lifeson pode-se dizer que o Rush não soava tão pesado desde Counterparts. Aliás, todas as faixas contam com ótimos solos de Alex. Para dar um ar mais ao vivo, os solos foram todos gravados sem guitarra base ao fundo, o que deu mais liberdade para que a cozinha da banda preencha o som. Mas apesar do vigor, Carnies é uma das menos inspiradas do disco.

A inspiração volta na bela balada Halo Effect, que faz saltar aos ouvidos mais um ponto interessante desse álbum: Uma das reclamações mais constantes nas últimas turnês do Rush se refere à sempre polêmica voz de Geddy Lee. Mas ao menos aqui ela está soando bem como há muito não se ouvia. As linhas melódicas e as interpretações aqui são todas marcantes.

Orgulho Nerd

Seven Cities of Gold é uma das duas faixas que começam com um tema de baixo. Uma das faixas mais legais do disco, mostra que a banda conseguiu abraçar a modernidade e ao mesmo tempo fazer claras referências ao seu passado. Um feito que vinham tentando sem sucesso desde Test For Echo. Com belo e empolgante trabalho instrumental e bom refrão, Seven Cities of Gold é presença certa no repertório da próxima turnê.
A animada The Wreckers mostra o lado hard pop da banda o melhor estilo Counterparts. Aqui também aparece pela primeira vez com destaque o trabalho da orquestra – ao encargo de um tal David Campbell, pai do outrora queridinho Beck. Grudenta e bem bolada, é uma de minhas favoritas. Seu refrão impregnou minha cachola por dias e dias. Curiosamente, a música nasceu de uma Jam na qual Alex e Lee trocaram seus instrumentos um com o outro.

Headlong Flight é um dos destaques absolutos do disco, e começa com mais um riff de baixo. O curioso é que foi o produtor o culpado. Nick pediu que Geddy Lee usasse seus pedais como nos velhos tempos. Ao que Lee respondeu ser impossível, já que ele havia se desfeito de todo o equipamento desde a turnê de Permanent Waves. Após um baita esporro do produtor, Geddy Lee tratou de montar um novo set. Além da ótima performance instrumental (ver vídeo), com clara e proposital referência ao clássico Bastille Day, essa é uma das faixas onde pode-se notar a força da voz de Geddy Lee de volta.


A curtíssima e orquestrada Bu2B2 serve de introdução para a alegre Wish Them Well, outro bom exemplo do poderio pop da banda.
A parceria com a orquestra fecha o disco, na excelente The Garden. Uma balada muito bonita com um clima épico e transcedental. O arranjo de cordas faz com que ela espertamente termine em um crescendo quase cinematográfico, fechando de maneira irrepreensível o disco e a história nele contada.


Saldo Final
Como qualquer bom disco do Rush, Clockwork Angels é um daqueles trabalhos que crescem a cada audição. Longe de ser um retorno ao rock progressivo, é um album que pega várias facetas da banda e as desenvolve com maestria, com grande êxito na maior parte das vezes.

Muita gente tem escrito que Clockwork Angels é o melhor lançamento da banda desde Moving Pictures, mas acho que essa afirmação vai depender mais de como o fã vê a guinada da banda aos sintetizadores na década de 1980.

Particularmente concordo com as críticas. Mas mesmo quem tem preferência pela fase dos teclados, posso dar a certeza de que no mínimo esse é o disco mais forte da banda desde Counterparts. O que não é pouca coisa, tendo em vista tratar-se de um dos trabalhos mais aceitos do Rush.
Independente da polêmica referente á comparações com trabalhos passados, Clockwork Angels estará na lista de melhores do ano de 9 entre 10 críticos musicais.

NOTA: 9




Ficha Técnica
Banda (Nacionalidade): Rush (CAN)
Título (ano de lançamento): Clockwork Angels (2012)
Mídia: CD
Gravadora: EMI (Nacional)
Faixas:
Duração: 65’
Faixas:
1. Caravan; 2. Bu2B; 3. Clockwork Angels; 4. The Anarchist;  5. Carnies; 6. Halo Effect; 7. Seven Cities of Gold; 8. The Wreckers; 9. Headlong Flight; 10. Bu2B2; 11. Wish Them Well; 12. The Garden

Rotule como: Hard Rock, Rock Progressivo
Indicado para: Fãs de Rush, em qualquer fase
Passe longe se: Odiar Rush, em qualquer fase.


4 comentários:

  1. Eu conhecia mt pouco de rush, mas ano passado baixei os 1os cds deles e achei bem maneiro!
    Nada que me fizesse ficar apaixonadão, mas curti.

    Depois baixei o Vapor Trails e tb curti.
    Ele é bem mais "direto" q os mais antigos, mas achei bem legal!

    Ouvindo os links q vc colocou aki, do novo cd, parece q o bagulho é bom tb.

    Não sou fã da voz do Geddy Lee, mas acho muito bom o "ideal musical" da banda, com esse clima progressivo e "grandioso" das músicas!

    Vou procurar o cd aqui e comento mais despues!

    PS: baixei o "Epicus Doomicus Metallicus" e achei menos parecido com black sabbath do q o cd novo (não sou mt conhecedor de metal, então posso estar falando merda! hehe)
    Baixei uma edição q vem com um cd bonus ao vivo, com o messiah cantando. Curti a voz dele e vou procurar algo de estúdio com ele, pra ver koé!

    junds

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    1. Pablo
      Meu caso com o Rush é de amor e ódio. Tive uma época de intensivão em relação ao rock progressivo. Após alguns anos acabei pegando uma certa aversão pelo estilo e me desfiz de muita coisa de várias bandas do gênero. Infelizmente coloquei o rush no pacote e me desfiz de muita coisa boa da banda. Também não sou muito fã da voz do Geddy Lee...mas hoje consigo aceitar na boa. Esse é um dos melhores discos da banda, vale uma conferida.
      Sobre o candlemass...o Epicus é meio que a unanimidade no catálogo. Meus favoritos são o Nightfall e o cd de retorno (homônimo), ambos com o Messiah...aconselho a vc a pegar o Candlemass Live, que marcou a despedida do Messiah na década de 1990. É um bom apanhado daquela fase e as músicas ali aparecem em versões melhores que as de estúdio. Espero que vc curta mais coisas do candlemass, é uma banda que gosot bastante e acho que tem uma cara bem própria, apesar das referências ao black Sabbath.
      Abração
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  2. Rush é uma das minhas bandas prediletas! O show deles em 2002 no Maracanã consta na minha lista top5 de shows!

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    1. Krill
      Putz, eu perdi esse show. Em se tratando de shows, Rush é uma tremenda falha curricular minha.
      Mas o que você achou desse novo disco?
      Abraço
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