quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Saxon - Heavy Metal Thunder Live - Eagles Over Wacken (2012)




Uma Bem Vinda Overdose Saxônica

Prólogo: Um Orgulhoso Sobrevivente da NWOBHM

A New Wave Of British Heavy Metal (ou, para facilitar, NWOBHM) talvez seja a cena musical mais incensada dentro da história do Metal. Ela marcou o surgimento (e em alguns casos, ressurgimento) de toda uma geração de bandas que não só reergueu o metal, praticamente extinto ao final dos anos 1970 pela disco music e pelo punk rock, como o trouxe de volta á vida com uma energia nunca vista antes, sob uma nova estética tanto visual como musical. Esse soerguimento se espalhou pelo mundo, e várias bandas surgidas em outros países acabam sendo relacionadas por tabela ao movimento (um caso clássico é o dos americanos do Riot).

O movimento lançaria o metal numa espiral crescente de popularidade que culminaria nos excessos do hair metal (ou Hard Farofa) do final dos anos 1980 (vide Motley Crue, Cinderella, Ratt, Poison, Guns And Roses...). Pouco depois o metal novamente desceria ao porão, chutado do mainstream pelo emergente grunge.


Apesar de sua importância histórica, a NWOBHM curiosamente viu poucos de seus integrantes sobreviverem à década de 1980. Bandas promissoras como Angel Witch, Diamond Head, Samson, Grim Reaper e Satan logo pereceriam (salvo algumas tentativas de shows de retorno esporádicas). Outras como Tygers Of Pang Tang, Venom ou Demon sobreviveriam aos trancos e barrancos, sempre relegadas a um status de curiosidade Cult, como fósseis vivos musicais.




NWOBHM (Sentido Horário - começando zero hora) - Grim Reaper, Venom, Tygers Of Pan Tang e Angel Witch 

Se considerarmos que Motorhead e Judas Priest nasceram cedo demais para serem incluídas na conta da NWOBHM, sobram dois representantes realmente bem sucedidos daquela cena: o gigantesco Def Leppard (banda que nem gosta de ser relacionada ao período) e a maior banda de metal em todos os tempos: o Iron Maiden.

Mas há um caso especial, de uma banda que sobreviveu àquela cena sem nunca ter se tornado gigante, mas sem também nunca também ter passado perto da ameaça de extinção. E essa banda é o Saxon.

O Desnutrido Saxon na década de 1980
O Saxon seria uma das primeiras bandas daquela cena a ver a luz do dia sob a forma de um LP – no caso, auto-intitulado e lançado em 1979. No início dos anos 1980 a banda lançaria uma série de discos clássicos, com uma mistura do novo heavy metal de então (hoje chamado Metal Tradicional) com a malicia do rock pesado da década anterior.

A partir de 1984, quando lançou seu maior sucesso comercial, Crusader, a banda passaria a apresentar uma progressiva americanização de seu som, culminando no achincalhado Destiny (1988), que se perdia entre o metal e o hard farofa em voga na época.


1988 - Saxon compra MUITO laquê

Tendo desagradado a gregos e troianos e vendo o som pasteurizado do final dos anos 1980 que tanto perseguira sucumbir ao grunge, a banda não teve opção a não ser resgatar sua identidade, o que aconteceu com Solid Ball Of Rock (1990).
Mas foi só algum tempo depois, mais especificamente com Unleash The Beast (1997), que a banda de fato se reergueu. Se aproveitando do boom de popularidade do Power Metal na Europa no meio da década de 1990, a banda revigorou seu som, acrescentando ao mesmo características daquele subestilo, inclusive nas letras, que passariam das motos de outrora aos recém incensados dragões e mitologia.
 Desde então, contando com uma certa estabilidade em sua formação, e com uma reputação renovada, o Saxon voltou a se reconhecido também por uma característica que nunca havia deixado a banda, mesmo em seus piores momentos: a de ser uma força impressionante ao vivo. Tive a oportunidade de assistir os britânicos ao vivo apenas uma vez, na derradeira edição do Monsters Of Rock, em 1998, e posso garantir que poucas bandas de metal fazem um show tão empolgante.


Por isso, não posso deixar de ficar feliz em resenhar esse novo lançamento, um Box que compila apresentações do Saxon em várias edições do maior festival de Heavy Metal do mundo, o alemão Wacken Open Air.



Saxon e Wacken – um antigo caso de amor

Uma das bandas favoritas da equipe que organiza o Wacken Open Air, a banda tem sido presença constante no festival desde 2001. Aliás, a edição daquele ano integra a atração principal do ótimo Box Saxon Chronicles, lançado em 2003.

De lá para cá a banda repetiu a dose no Wacken nas edições de 2004, 2007 e 2009. E há rumores que já estão escalados para a edição de 2013, marcando a turnê de um novo disco.



A sintonia é tanta que a banda promete sempre (o que pode ser visto em algum ponto do DVD aqui resenhado) que quando for encerrar oficialmente sua carreira o ponto final será um show especial no festival.


Wacken - Cast de 2004 com Saxon em destaque

Para comemorar o sucesso dessa parceria, o Saxon lançou o Box Heavy Metal Thunder, em dois formatos. Uma edição limitada que traz os três shows na íntegra, em três DVDS separados, além de um show da turnê atual em dois cds. Esse Box recheado ainda conta com 10 vales que podem ser trocados por ingressos de qualquer show da turnê atual (e das futuras) do Saxon.



A outra versão, aqui analisada, será a “econômica”, idêntica a lançada no Brasil. Nela temos um DVD compilando o melhor das três apresentações no Wacken supracitadas, além de dois CDs contendo uma apresentação em Glasgow.




DVD – Eagles Over Wacken

O DVD – Eagles Over Wacken – é o principal item do pacote.

Pudera.

O mesmo traz nada mais nada menos que cerca de três horas de Saxon, encapsuladas em 30 faixas retiradas das participações da banda no festival nos anos 2004, 2007 e 2009.

As 30 faixas, por sinal, retratam praticamente todas as fases da carreira da banda. Salvo engano, apenas Destiny (1988) e Forever Free (1992), dois dos poucos discos fracos do Saxon, não estão representados no repertório. As músicas são apresentadas em seqüência, como se fossem parte de uma só apresentação e a diferença na qualidade de som e imagem entre as três gravações diferentes é pequena o suficiente para garantir a fluidez da artimanha. Não fossem as legendas que aparecem ao início de cada faixa, dando o título e ano em que a mesma foi gravada, provavelmente muitos não notariam tratar-se de um apanhado de shows diferentes.


De faixas obrigatórias como 747 (Strangers In The Night), Crusader e Wheels Of Steel; passando por destaques da fase mais recente da banda, como Killing Ground, Dogs Of War, Metalhead, Attila The Hun e Unleash The Beast – tem de quase tudo no repertório. E deu até mesmo para resgatar faixas “perdidas” como To Hell And Back Again, The Bands Played On, Rock The Nations, The Eagle Has Landed e Stallions of The Highway.  É o tipo de repertório que faz com que tenhamos raiva da estratégia de bandas como o Iron Maiden e Deep Purple, que parecem ter orgulho em ignorar boa parte de suas ricas discografias e em torturar os fãs com as mesmas músicas de sempre em seus shows e lançamentos ao vivo. Colocarei ao longo dessa resenha o link de algumas das músicas como apresentadas no DVD.




O som apresentado ao longo do DVD é muito bem gravado. Dado a qualidade tradicionalmente mais baixa do som em eventos que contam com diversas atrações no mesmo dia, pode-se dizer que esse fator não comprometeu em nada as gravações contidas no DVD. A ressaltar apenas dois pequeninos problemas: a mixagem deixou o poderoso vocal de Biff Byford um pouco alto demais e pecou ao deixar a participação do público quase imperceptível no modo 2.0. No 5.1 isso melhora um bocado, mas ainda deixa a impressão que podiam ter captado a audiência melhor.




Em relação ao vídeo, aí sim uma ressalva. A qualidade não é exatamente ruim, mas em se tratando que estamos entrando com os dois pés na era da alta definição, as imagens com tomadas por vezes granuladas, por vezes embaçadas dão uma cara absolutamente obsoleta a apresentação. E nem podemos dizer ser culpa da época em que foram capturadas as mesmas, já que a apresentação mais antiga aqui data de 2004. Outro dia analisei aqui na Cripta o Blu-Ray do Rory Gallagher e o mesmo foi gravado em 1974, contendo qualidade de imagem por vezes superior à apresentada em Eagles Over Wacken. Para resumir: a qualidade de imagem aqui é por vezes inferior à apresentada pela banda em Saxon Chronichles, filmado no Wacken de 2001. Mas nada que estrague a diversão.




Isso porque a banda está, como sempre, afiadíssima no palco.


Biff Byford, embora pareça cada vez mais uma velha saída de alguma comédia do Monty Python, continua com um gogó privilegiado. Raramente dá aquele “migué” que contemporâneos como Bruce Dickinson usam à exaustão, de afastar o microfone da boca, ou de colocar todos os refrões para o público cantar. Em alguns momentos, chega a assustar a potência e alcance da voz do quase sexagenário Biff. Isso sem contar a sempre contagiante presença de palco do grandalhão e de seu visual totalmente true. Um ícone absolutamente subestimado da história do metal.


A dupla de guitarristas do Saxon desde Unleash The BeastPaul Quinn e Doug Scarratt – é corretíssima. Se não prima pela técnica, mantém viva a tradição da banda de misturar as guitarras dobradas típicas da NWOBHM com uma pegada mais rock and roll. Aliás, talvez um dos grandes diferenciais do Saxon seja exatamente esse clima rock misturado ao metal.

O baixista Nibbs Carter, com a banda desde o renascimento da mesma para o metal, o que ocorreu em 1990, com Solid Ball Of Rock, é bem acima da média dos baixistas tradicionalmente encontrados em bandas do estilo. Mas em nenhum momento compromete sua vigorosa performance com exibicionismo barato, jogando sempre “pro time”.

Ah, e Nigel Glockler, esse não necessita de apresentações. Um dos melhores bateristas do estilo na década de 1980, desde seu retorno parece ter resgatado muito da pegada do Saxon ao vivo. Ah, em algumas músicas de 2004, Fritz Randow também toca e não faz feio.
De resto, cabe ressaltar o clima sempre empolgado do público do Wacken, além da presença de eventuais pirotecnias que ajudam a manter interesse na longa jornada que é assistir o DVD de ponta a ponta.

O DVD traz ainda como extras um Behind The Scenes bacaninha e um inútil Slideshow.



CDS – Glasgow Live

Completando o box, temos dois cds que trazem uma apresentação capturada na íntegra em 2011, na turnê do disco mais recente da banda, o bom Call To Arms (2011).



Com excelente qualidade de gravação, posso repetir aqui todos os adjetivos feitos à performance da banda no DVD resenhado acima sem medo de errar. A grande diferença aqui é que não temos 30 faixas e sim 23 (mais uma introdução), que além de trazer um bom, ainda que menos abrangente, apanhado da carreira da banda, traz três faixas do novo trabalho, como a excelente Hammer Of The Gods, que soa ainda melhor ao vivo.


Saxon nos dias de hoje

Talvez Glasgow Live empalideça um pouco se comparado ao clássico ao vivo The Eagle Has Landed, mas se compráramos esse registro às tentativas frustradas de capturar a banda ao vivo, feitas na década de 1990 e 2000 através dos magrinhos Eagle Has Landed II e III, temos aqui um item que se tornaria obrigatório a qualquer fã da banda, mesmo que lançado em separado do recheadíssimo DVD.


Saldo Final

O Saxon anda se notabilizando por caprichar no conteúdo de seus lançamentos em DVD, e esse Heavy Metal Thunder não deixa mentir.

Mesmo se considerarmos que a versão aqui analisada não é a mais completa, temos aqui um apanhado considerável de material de qualidade (ainda que a qualidade seja maior em termos de som do que imagem).
E esse extenso material não é indicado somente para os iniciados, pois serve também como um excelente primeiro contato para aqueles que porventura tenham curiosidade de conhecer o mundo dessa lenda do metal britânico.

Em suma, uma agradável overdose que não fará mal a ninguém.



NOTA: 9


Ficha Técnica

Banda (Nacionalidade): Saxon (ING)
Título (ano de lançamento): Heavy Metal Thunder Live (2012)

Mídia: DVD + 2CD
Gravadora: EMI (Importado)
Faixas: DVD - 30; CD 1 – 15; CD 2 - 9
Duração: DVD - 177’ ; 2CD – 115’

Rotule como: Heavy Metal

Indicado para: Fãs de Heavy Metal dos anos 1980, fãs de Power Metal.

Passe longe se: Achar esse lance de couro, jeans e motocicletas datado.

3 comentários:

  1. OK, vamos à resenha.

    FIRST OF ALL: DE ONDE você tirou que o Venom é NWOBHM? Eles são (juntamente com Mercyful Fate) os pilares do que se convencionou chamar de Black Metal - Ainda que a tosqueira do som do Venom seja abominada pelos "troooooooooooo" "uuuuurrooooooooo" do estilo mais cavernoso do metal. Bom, minha opinião.

    SECOND TO NONE: Destiny é realmente um disco merda, que dá vergonha alheia. Mas Forever Free está ali juntinho...

    THIRD: Discordo quando você diz que eles se renovaram com "Unleash". Prefiro considerar que eles reencontraram o caminho das pedras em Dogs of War (já é um BOM disco - considerando-se as "pérolas" anteriores... Algo como "Load/Reload" x "Black Album". Novamente, MINHA opinião).

    FOURTH: Nesses DVDs não tem nada com o Jörg Michael na bateria? Se não, uma pena...

    FIFTH: Deve ter sido a emoção. O guitarra é "Scarratt", e não "Sacarratt".

    SIXTH: Purple e Maiden vivem (MUITÍSSIMO BEM, POR SINAL) do seu passado. Não há muitos problemas nisso, mas que já está enchendo a porra do saco as repetições em turnês está. Não me preocupo mais em ir a shows do Purple. Do Maiden ainda vou, devido à minha dependência. Mas que na hora de Fear of the Dark dá vontade de ir ao banheiro, isso dá (só não vou porque senão não consigo voltar para meu posto, duramente conquistado)...

    SEVENTH (son of a seventh son): Nibbs Carter é muito eficiente!

    EIGHTH: você tem sorte. Viu-lhos ao vivo. Eu ainda não.

    NINTH: Se o Biff quiser sair da banda, é só colocar o Laerte no palco com um playback no fundo, que NINGUÉM notará a diferença!

    TENTH: Viu? Sei contar até 10!!!!

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    Respostas
    1. Krillzinho biba do meu coração:
      1. NWOBHM é um termo relacionado a um movimento de ressurgimento do rock pesado no reino Unido. Muitas das bandas relacionadas ao movimento nem são metal no sentido literal (Def Leppard, Demon...), mas fizeram parte do movimento. Lembre-se, o termo Black Metal surgiria ali com o Venom, mas a banda fez parte sim do movimento.

      2. Concordo...Aliás, acho que até escuto mais o Destiny que o Forever Free.

      3. Pode ser, gosto bastante do Dogs. Mas o que quis dizer com o renascimento é que o Unleash teve uma estratégia de marqueting muito mais forte, voltada espertamente ao público que consumia porras como Blind Guardian e congêneres. Ali o Saxon seria apresentado a uma nova geração.

      4. Cara, pode ser que tenha me passado desapercebida alguma música (ele foi um dos 3 bateras que tocaram com a banda no wacken 2004, inclusive). Mas tenho quase certeza que não. Nos créditos aqui do box não consta.

      5. Corrigirei, whahahahahaha

      6. Cara, Purple e Maiden já foram duas de minhas favoritas. Hoje acho que ambas além de não produzir nada de bom, estão uma bosta ao vivo. Parei com as duas. O Iron inclusive, abandonei depois da turnê do Somewhere Back In Time. O Show na apoteose teve o repertório do meu sonho de moleque e abanda tocou como se estivesse sendo obrigada. Não dou mais um centavo para eles (mentira, comprarei o próximo disco, reclamando, mas comprarei...).

      7. Nibbs é muito bom e se empolga ao vivo.

      8. Eu tenho MUITA sorte. Mas acho que ainda dá para vc ver! Se estiver disposto a ir a SP, claro...

      9. WHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHA...CARALHO, é mesmo!!!!!!

      10. Somos os dois únicos biólogos que sabem contar até 10?

      Abracetas
      TRevas

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  2. Pô, pudia te link pra baixa o dvd...

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