UM NÃO TÃO AMARGO REGRESSO
Prólogo – O complexo de
Frankestein
Nascido ao final dos anos 1980, o Paradise Lost é o primogênito e membro
mais amplamente conhecido da santa trindade do Doom Metal britânico, que junta ainda os contemporâneos My Dying Bride e o Anathema. Todas então assinadas
com a Peaceville records, marcaram a
primeira metade dos anos 1990 com um doom
diferenciado, carregado de elementos de death metal.
Paradise Lost nos velhos tempos |
O Paradise Lost marcaria seu nome com
mais força que as demais ao lançar seu segundo disco, Gothic. Hoje ele pode ser visto como uma obra que beira a tosqueira
absoluta, mas naqueles tempos foi um disco inovador, trazendo orquestrações e
vocais femininos no meio da podreira depressiva costumeira. Um trabalho que
inspirou dezenas de bandas novas a praticar um dos subestilos mais amados e
odiados do metal: o Gothic Metal.
A banda
continuaria em franca evolução musical, lançando discos cada vez melhores, até
atingir o ápice em 1995, com o fenômeno chamado Draconian Times. Segue abaixo clipe para Forever Failure, uma das músicas de trabalho do disco.
Draconian Times é tão superior a tudo o que a banda havia
produzido até então que dava a impressão que o monólito de Arthur C. Clarke havia caído no estúdio durante as gravações do
disco. Um daqueles trabalhos que transcendem estilos musicais, certamente. Tanto
que a banda rapidamente bateu a marca de um milhão de discos vendidos, pairando
no Top 10 das paradas alemãs e suecas e, feito mais impressionante ainda – foi
alçado diretamente à 16ª posição das paradas britânicas. E isso derrubando
gente como: Oasis, Bruce Springsteen, Gary Moore, Elton John, Blur, Radiohead e REM (ver
link).
Só que
o que parecia ser uma dávida se tornou uma tremenda maldição. A cobrança por um
novo êxito comercial tornou-se opressiva. Tal como o monstro de Frankenstein, a criatura lançava uma
sombra agourenta sobre o criador. Parte por saber de suas próprias limitações
em produzir um novo Draconian Times
e parte por estar cansada da superexposição que o álbum gerou, a banda escolheu
mudar radicalmente. Abraçando com unhas e dentes o próprio subestilo que ajudou
a criar, o Paradise Lost apareceu em
1997 com madeixas curtas, visual gótico de butique e fazendo um som menos
metalizado, algo eletrônico e mais depressivo, com o outrora execrado (e hoje Cult)
One Second (ver abaixo).
A banda se tornaria uma espécie
de versão metal do Depeche Mode,
lançando uma seqüência de discos que afastou uma gama de fãs antigos e atraiu
um outro tanto. O problema é que ao se prender mais à canções do que ao peso, a
banda logo descobriu que estava longe de ser um Depeche Mode – faltava um compositor do quilate de Martin Lee Gore.
Começava então a epopéia do
retorno ao metal, mais exatamente com o lançamento do álbum homônimo de 2005.
Desde então a banda vem gradativamente
aumentando o peso de suas composições, não sem abandonar completamente os
aprendizados de sua fase menos metalizada. O ótimo Faith Divides Us – Death Unites Us (2009) sendo até então o melhor
representante desse casamento (ver vídeo abaixo):
Mas ao fazer a turnê comemorativa
dos 15 anos da Draconian Road Tour,
na qual o PL sintomaticamente tocava o famigerado Best seller na íntegra, os membros da banda passaram a anunciar que
o próximo disco de estúdio seria o mais pesado da carreira, pois todos estavam escutando heavy metal como
nos primórdios. Greg MacKintosh, um
dos guitarristas e líderes dos britânicos, diria em algumas entrevistas que esse
seria o álbum que a banda deveria ter feito após o Draconian Times.
Foi então que Tragic Idol chegou às prateleiras,
cercado de uma velada expectativa.
Teria a banda exagerado na autopromoção? Ao menos
no que se refere ao peso, não mesmo!
Um ídolo trágico e pesado
Trazendo uma arte de capa que em
muito lembra o Endtyme dos
conterrâneos do Cathedral, Tragic Idol abre com uma faixa que não
muda em muito o estilo dos últimos discos da banda, fazendo um cruzamento entre
o doom dos tempos passados e a fase gótica dos anos 2000. Uma boa faixa, mas
que talvez não tenha sido uma boa escolha para abertura do disco.
A mesma deveria ter ficado a cabo de Crucify, primeira a ser divulgada (ver
arquivo do Youtube abaixo) e certamente uma das melhores faixas que a banda
produziu recentemente. Pesada e com guitarras que remetem ao Draconian Times e ao Icon (disco de 1993).
Seguindo
com mais uma faixa de nome que sugere pulsos cortados, Fear Of Impending Hell traz a banda novamente cruzando os caminhos
com maestria – o vocalista Nick Holmes
(foto) hoje tem um domínio muito bom sobre sua limitada voz, soando bem tanto
nos timbres mais limpos como nos mais rasgados, que outrora lhe renderam o
apelido de James Hetfield de
Halifax. Excelente refrão, boa faixa.
Nick Holmes quer seu voto! |
Honesty In Death acabou por se tornar a faixa de trabalho de Tragic Idol, rendendo um vídeo legal que
pode ser visto no link abaixo. Peso e
melodia equilibrados em mais uma faixa que traz boas referências ao passado da
banda.
Theories From Another World, a despeito do título ruim, tem um
início que beira o death/Black metal. Pesada e contando com os vocais mais
rasgados de Nick Holmes em muito
tempo, a faixa volta a um tempo bem anterior ao Draconian Times, só que com uma classe que a banda não tinha em seus
primórdios.
E se a música anterior soou pesada, mas pouco
cativante, In This We Dwell resolve
a contenda, soando tão pesada quanto, mas com um refrão contagiante. E o que
parecia uma ligeira impressão torna-se uma certeza – a banda não somente fez as
pazes com o Draconian Times, como
também com todo o background metálico da fase anterior ao mesmo, carregando em
riffs de um doom de qualidade.
Paradise Lost - 2012, ainda ajudando você a cortar os pulsos |
A rifferama doom continua na boa To The
Darkness, como é bom ouvir os belos solos de Greg MacKintosh de volta! E como soam bem gravadas as guitarras
base de Aaron Aedy! Steve Edmondson soa efetivo como sempre
e o único novato, Adrian Erlandson,
parece ter trazido uma pegada renovada para as linhas de bateria. A produção é
bastante eficaz, propositalmente menos rebuscada que em tempos mais atuais, o
que deixou tudo com uma saudável cara de “ao vivo”.
Chegamos à faixa título, a mais
semelhante às faixas de Draconian Times,
e talvez por isso mesmo tenha dado o nome ao novo disco. Uma faixa muito boa,
por sinal.
Uma levada algo tribal inicia Worth Fighting For, que me fez lembrar
de Symbol of Life (2002), um dos
melhores trabalhos da fase Depechemodeana
da banda. Muito mais de gothic metal
do que doom aqui.
Com o perdão do trocadilho, a
totalmente doom The Glorious End não
chega a ser o final glorioso que a banda prenunciou, mas fecha com alguma
classe épica o disco.
Saldo Final
Representando mais um capítulo da
retomada da banda as suas raízes metálicas, Tragic Idol traz a tona um doom
metal que não faz feio aos lançamentos antigos, em especial por hoje o Paradise Lost contar com uma produção
melhor e com músicos que evoluíram bastante. Entretanto, falta algo para que as
composições aqui encontradas tornem-se memoráveis.
No que diz respeito às reiteradas referências
que a banda faz a um retorno ao Draconian
Times, esqueça.
Aqui temos um som que por vezes lembra o clássico-mor da
banda, mas que está muito mais próximo ao que veio antes (em maior grau) e
depois (em menor grau) do mesmo. Mas fora isso, fique certo de que Tragic Idol fará companhia aos melhores
trabalhos dos britânicos e servirá como uma boa trilha sonora enquanto aguardamos
uma eventual nova visita do monólito aos estúdios da banda.
NOTA: 8
Ficha Técnica
Banda (Nacionalidade): Paradise
Lost (ING)
Título (ano de lançamento): Tragic
Idol (2012)
Mídia: CD
Gravadora: Century Media (Importado)
Faixas: 10
Duração: 46’
Faixas:
1. Solitary One; 2. Crucify; 3. Fear Of
Impending Hell; 4. Honesty In Death; 5.Theories
From Another World; 6. In This We Dwell; 7. To The Darkness; 8. Tragic Idol; 9.
Worth Fighting For; 10. The Glorious End
Rotule como: Doom Metal, Gothic
Metal
Indicado para: Fãs do velho
Paradise Lost.
Passe longe se: Seu disco favorito dos caras for
o Host
Curioso... Nunca os considerei doom. Sempre os incluí na categoria Death. Talvez seja porque me incluo na "gama" dos que vazaram depois do Draconian Times. Voltei, desgostei e vazei de novo...
ResponderExcluirPelo menos tive a oportunidade de os ver no "aquele-que-muda-de-nome-toda-semana-hall" (à época Metropolitan), na segunda edição do Monsters of Rock (1995). E fizeram um showzaço!!! Mas farofa demais engasga! Se é pra ser death, BAIXA O SARRAFO DIREITO, PORRA!!! Deixa o laquê pro Farofa Woman...
Mr. krill
ExcluirMas a fase Doom é justamente a inicial. Sim, tinham toques death metal, o que tornava a cena diferente da do Trouble, Candlemass e Saint Vitus - que era mais tradicional. Após o Draconian Times, aí sim virou um metal gótico com influências eletrônicas que pode cair ao gosto até mesmo dos fãs de crepúsculo (ok, brincadeirinha, exagerei).
Ah, também estava no eterno Metropolitan e também achei um baita show.
MAs acredito que vc vai curtir esse disco novo, dê uma chance. Depois vc me conta o que achou.
Abracetas
Trevas
Se entendi direito o Depeche é uma banda (re)conhecida... Ora, ora, ora... Achava q era meio vista de lado (e com maus olhos) pela galera "rock puro". Ou entendi tudo errado??? rsrs
ResponderExcluirDe qualquer forma, aprendo muito aqui Sir Trevas! E gostei bem do primeiro video Forever Failure. Achei muito harmonico e muito musical,(apesar da voz beeeeeem mais grave do que estou acostumada!!!!) como meu professor de violao dizia!
bjs e continue no garimpo!
obs: aliás, como vc descobre tudo isso???
Olá, Tercia
ExcluirDepeche Mode foi uma das primeiras bandas que ouvi na vida, em minha época pré-rock. Quando era moleque (pois pequeno sempre fui) eu tinha coisa deles em vinil. Mas, antes que o Freddy Krill se manifeste, NÃO SOU GAY!hehe
O reconhecimento do DM pela galera heavy metal depende do que a pessoa curte mesmo, gosto de quase todos os subestilos do rock e metal e curto bastante coisa do rock-pop gótico. O pessoal que curte coisas como gothic metal e metal industrial 9aquele que mistura um pouco de eletrônica a coisa) costumam gostar bastante do DM.
Quanto a como descubro essas merdas, muito simples - eu invento!!! hehehe
Na verdade, escuto e leio sobre rock e pop desde meus 12 anos, então tenho uma porção de livro e revista sobre o assunto. Quando vou escrever uma resenha, dou uma chafurdada nesse material para pentear um pouco o macaco. Mas muita coisa acaba ficando no HD mesmo. Certamente isso faz com que eu esqueça coisas sem importância, como meu CPF e data de nascimento, hehe
Que bom que vc gosta dessa joça, achei que só o Freddy Krill era masoquista o suficiente para ler, hehe
Bjos
Trevas
Que você é boiolinha por ouvir Depeche Mode não há dúvida! No mínimo, deve curtir Joy Division e The Cure também!
ResponderExcluirDe mais a mais, Tércia gosta de dizer que faz mil coisas, que está estudando até o cu fazer bico, mas, NA VERDADE, fica o dia inteiro navegando por páginas inúteis (e blogs idem) - OS IGUAIS SE RECONHECEM!
Fala a verdade. Se não fosse por nós dois, você já teria tomado steinhager com chumbinho e metanol!
TOCA RAUL E POSTA THIN LIZZY, BAGUAL!!!
Uiuiui...
ExcluirEngana-se, caro Freddy Krill, The Cure é boiola demais até para a minha pessoa!
E não, não tomaria chumbinho com steinhager (ou com underberg, ugh)- na verdade, se não fossem vcs dois, esse blog se tornaria um lugar perfeito para eu postar minhas senhas de banco, estariam superseguras aqui, hhehehe
Jundis
T
Nem concordo com esse lance do Draconian Times, não, cara. Acho o Icon melhor. Mas vou escutar esse aí com calma, a última vez que ouvi os caras, eles tavam parecendo aquelas porra de música eletrônica, tava ruim a coisa.
ResponderExcluirLegal teu blog, mas falta coisa de death e black metal aqui.
Valeu!
Henrique Avenger