segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Paradise Lost – Tragic Idol (2012)



UM NÃO TÃO AMARGO REGRESSO

Prólogo – O complexo de Frankestein


Nascido ao final dos anos 1980, o Paradise Lost é o primogênito e membro mais amplamente conhecido da santa trindade do Doom Metal britânico, que junta ainda os contemporâneos My Dying Bride e o Anathema.  Todas então assinadas com a Peaceville records, marcaram a primeira metade dos anos 1990 com um doom diferenciado, carregado de elementos de death metal.


Paradise Lost nos velhos tempos

O Paradise Lost marcaria seu nome com mais força que as demais ao lançar seu segundo disco, Gothic. Hoje ele pode ser visto como uma obra que beira a tosqueira absoluta, mas naqueles tempos foi um disco inovador, trazendo orquestrações e vocais femininos no meio da podreira depressiva costumeira. Um trabalho que inspirou dezenas de bandas novas a praticar um dos subestilos mais amados e odiados do metal: o Gothic Metal.
A banda continuaria em franca evolução musical, lançando discos cada vez melhores, até atingir o ápice em 1995, com o fenômeno chamado Draconian Times. Segue abaixo clipe para Forever Failure, uma das músicas de trabalho do disco.


Draconian Times é tão superior a tudo o que a banda havia produzido até então que dava a impressão que o monólito de Arthur C. Clarke havia caído no estúdio durante as gravações do disco. Um daqueles trabalhos que transcendem estilos musicais, certamente. Tanto que a banda rapidamente bateu a marca de um milhão de discos vendidos, pairando no Top 10 das paradas alemãs e suecas e, feito mais impressionante ainda – foi alçado diretamente à 16ª posição das paradas britânicas. E isso derrubando gente como: Oasis, Bruce Springsteen, Gary Moore, Elton John, Blur, Radiohead e REM (ver link).


Só que o que parecia ser uma dávida se tornou uma tremenda maldição. A cobrança por um novo êxito comercial tornou-se opressiva. Tal como o monstro de Frankenstein, a criatura lançava uma sombra agourenta sobre o criador. Parte por saber de suas próprias limitações em produzir um novo Draconian Times e parte por estar cansada da superexposição que o álbum gerou, a banda escolheu mudar radicalmente. Abraçando com unhas e dentes o próprio subestilo que ajudou a criar, o Paradise Lost apareceu em 1997 com madeixas curtas, visual gótico de butique e fazendo um som menos metalizado, algo eletrônico e mais depressivo, com o outrora execrado (e hoje Cult) One Second (ver abaixo).


A banda se tornaria uma espécie de versão metal do Depeche Mode, lançando uma seqüência de discos que afastou uma gama de fãs antigos e atraiu um outro tanto. O problema é que ao se prender mais à canções do que ao peso, a banda logo descobriu que estava longe de ser um Depeche Mode – faltava um compositor do quilate de Martin Lee Gore.
Começava então a epopéia do retorno ao metal, mais exatamente com o lançamento do álbum homônimo de 2005.

Desde então a banda vem gradativamente aumentando o peso de suas composições, não sem abandonar completamente os aprendizados de sua fase menos metalizada. O ótimo Faith Divides Us – Death Unites Us (2009) sendo até então o melhor representante desse casamento (ver vídeo abaixo):


Mas ao fazer a turnê comemorativa dos 15 anos da Draconian Road Tour, na qual o PL sintomaticamente tocava o famigerado Best seller na íntegra, os membros da banda passaram a anunciar que o próximo disco de estúdio seria o mais pesado da carreira, pois todos estavam escutando heavy metal como nos primórdios. Greg MacKintosh, um dos guitarristas e líderes dos britânicos, diria em algumas entrevistas que esse seria o álbum que a banda deveria ter feito após o Draconian Times.

Foi então que Tragic Idol chegou às prateleiras, cercado de uma velada expectativa.


Teria a banda exagerado na autopromoção? Ao menos no que se refere ao peso, não mesmo!



Um ídolo trágico e pesado

Trazendo uma arte de capa que em muito lembra o Endtyme dos conterrâneos do Cathedral, Tragic Idol abre com uma faixa que não muda em muito o estilo dos últimos discos da banda, fazendo um cruzamento entre o doom dos tempos passados e a fase gótica dos anos 2000. Uma boa faixa, mas que talvez não tenha sido uma boa escolha para abertura do disco.



A mesma deveria ter ficado a cabo de Crucify, primeira a ser divulgada (ver arquivo do Youtube abaixo) e certamente uma das melhores faixas que a banda produziu recentemente. Pesada e com guitarras que remetem ao Draconian Times e ao Icon (disco de 1993).




Seguindo com mais uma faixa de nome que sugere pulsos cortados, Fear Of Impending Hell traz a banda novamente cruzando os caminhos com maestria – o vocalista Nick Holmes (foto) hoje tem um domínio muito bom sobre sua limitada voz, soando bem tanto nos timbres mais limpos como nos mais rasgados, que outrora lhe renderam o apelido de James Hetfield de Halifax. Excelente refrão, boa faixa.

Nick Holmes quer seu voto!
Honesty In Death acabou por se tornar a faixa de trabalho de Tragic Idol, rendendo um vídeo legal que pode ser visto no link abaixo.  Peso e melodia equilibrados em mais uma faixa que traz boas referências ao passado da banda.


Theories From Another World, a despeito do título ruim, tem um início que beira o death/Black metal. Pesada e contando com os vocais mais rasgados de Nick Holmes em muito tempo, a faixa volta a um tempo bem anterior ao Draconian Times, só que com uma classe que a banda não tinha em seus primórdios.


E se a música anterior soou pesada, mas pouco cativante, In This We Dwell resolve a contenda, soando tão pesada quanto, mas com um refrão contagiante. E o que parecia uma ligeira impressão torna-se uma certeza – a banda não somente fez as pazes com o Draconian Times, como também com todo o background metálico da fase anterior ao mesmo, carregando em riffs de um doom de qualidade.


Paradise Lost - 2012, ainda ajudando você a cortar os pulsos

A rifferama doom continua na boa To The Darkness, como é bom ouvir os belos solos de Greg MacKintosh de volta! E como soam bem gravadas as guitarras base de Aaron Aedy! Steve Edmondson soa efetivo como sempre e o único novato, Adrian Erlandson, parece ter trazido uma pegada renovada para as linhas de bateria. A produção é bastante eficaz, propositalmente menos rebuscada que em tempos mais atuais, o que deixou tudo com uma saudável cara de “ao vivo”.

Chegamos à faixa título, a mais semelhante às faixas de Draconian Times, e talvez por isso mesmo tenha dado o nome ao novo disco. Uma faixa muito boa, por sinal.

Uma levada algo tribal inicia Worth Fighting For, que me fez lembrar de Symbol of Life (2002), um dos melhores trabalhos da fase Depechemodeana da banda. Muito mais de gothic metal do que doom aqui.

Com o perdão do trocadilho, a totalmente doom The Glorious End não chega a ser o final glorioso que a banda prenunciou, mas fecha com alguma classe épica o disco.

Saldo Final
Representando mais um capítulo da retomada da banda as suas raízes metálicas, Tragic Idol traz a tona um doom metal que não faz feio aos lançamentos antigos, em especial por hoje o Paradise Lost contar com uma produção melhor e com músicos que evoluíram bastante. Entretanto, falta algo para que as composições aqui encontradas tornem-se memoráveis.


No que diz respeito às reiteradas referências que a banda faz a um retorno ao Draconian Times, esqueça.



Aqui temos um som que por vezes lembra o clássico-mor da banda, mas que está muito mais próximo ao que veio antes (em maior grau) e depois (em menor grau) do mesmo. Mas fora isso, fique certo de que Tragic Idol fará companhia aos melhores trabalhos dos britânicos e servirá como uma boa trilha sonora enquanto aguardamos uma eventual nova visita do monólito aos estúdios da banda.

NOTA: 8


Ficha Técnica

Banda (Nacionalidade): Paradise Lost (ING)

Título (ano de lançamento): Tragic Idol (2012)

Mídia: CD
Gravadora: Century Media (Importado)
Faixas: 10
Duração: 46’
Faixas:
1. Solitary One; 2. Crucify; 3. Fear Of Impending Hell; 4. Honesty In Death;  5.Theories From Another World; 6. In This We Dwell; 7. To The Darkness; 8. Tragic Idol; 9. Worth Fighting For; 10. The Glorious End

Rotule como: Doom Metal, Gothic Metal
Indicado para: Fãs do velho Paradise Lost.

Passe longe se: Seu disco favorito dos caras for o Host

7 comentários:

  1. Curioso... Nunca os considerei doom. Sempre os incluí na categoria Death. Talvez seja porque me incluo na "gama" dos que vazaram depois do Draconian Times. Voltei, desgostei e vazei de novo...
    Pelo menos tive a oportunidade de os ver no "aquele-que-muda-de-nome-toda-semana-hall" (à época Metropolitan), na segunda edição do Monsters of Rock (1995). E fizeram um showzaço!!! Mas farofa demais engasga! Se é pra ser death, BAIXA O SARRAFO DIREITO, PORRA!!! Deixa o laquê pro Farofa Woman...

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    1. Mr. krill
      Mas a fase Doom é justamente a inicial. Sim, tinham toques death metal, o que tornava a cena diferente da do Trouble, Candlemass e Saint Vitus - que era mais tradicional. Após o Draconian Times, aí sim virou um metal gótico com influências eletrônicas que pode cair ao gosto até mesmo dos fãs de crepúsculo (ok, brincadeirinha, exagerei).
      Ah, também estava no eterno Metropolitan e também achei um baita show.
      MAs acredito que vc vai curtir esse disco novo, dê uma chance. Depois vc me conta o que achou.
      Abracetas
      Trevas

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  2. Se entendi direito o Depeche é uma banda (re)conhecida... Ora, ora, ora... Achava q era meio vista de lado (e com maus olhos) pela galera "rock puro". Ou entendi tudo errado??? rsrs
    De qualquer forma, aprendo muito aqui Sir Trevas! E gostei bem do primeiro video Forever Failure. Achei muito harmonico e muito musical,(apesar da voz beeeeeem mais grave do que estou acostumada!!!!) como meu professor de violao dizia!
    bjs e continue no garimpo!
    obs: aliás, como vc descobre tudo isso???

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    1. Olá, Tercia
      Depeche Mode foi uma das primeiras bandas que ouvi na vida, em minha época pré-rock. Quando era moleque (pois pequeno sempre fui) eu tinha coisa deles em vinil. Mas, antes que o Freddy Krill se manifeste, NÃO SOU GAY!hehe
      O reconhecimento do DM pela galera heavy metal depende do que a pessoa curte mesmo, gosto de quase todos os subestilos do rock e metal e curto bastante coisa do rock-pop gótico. O pessoal que curte coisas como gothic metal e metal industrial 9aquele que mistura um pouco de eletrônica a coisa) costumam gostar bastante do DM.
      Quanto a como descubro essas merdas, muito simples - eu invento!!! hehehe
      Na verdade, escuto e leio sobre rock e pop desde meus 12 anos, então tenho uma porção de livro e revista sobre o assunto. Quando vou escrever uma resenha, dou uma chafurdada nesse material para pentear um pouco o macaco. Mas muita coisa acaba ficando no HD mesmo. Certamente isso faz com que eu esqueça coisas sem importância, como meu CPF e data de nascimento, hehe
      Que bom que vc gosta dessa joça, achei que só o Freddy Krill era masoquista o suficiente para ler, hehe
      Bjos
      Trevas

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  3. Que você é boiolinha por ouvir Depeche Mode não há dúvida! No mínimo, deve curtir Joy Division e The Cure também!

    De mais a mais, Tércia gosta de dizer que faz mil coisas, que está estudando até o cu fazer bico, mas, NA VERDADE, fica o dia inteiro navegando por páginas inúteis (e blogs idem) - OS IGUAIS SE RECONHECEM!

    Fala a verdade. Se não fosse por nós dois, você já teria tomado steinhager com chumbinho e metanol!

    TOCA RAUL E POSTA THIN LIZZY, BAGUAL!!!

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    1. Uiuiui...
      Engana-se, caro Freddy Krill, The Cure é boiola demais até para a minha pessoa!
      E não, não tomaria chumbinho com steinhager (ou com underberg, ugh)- na verdade, se não fossem vcs dois, esse blog se tornaria um lugar perfeito para eu postar minhas senhas de banco, estariam superseguras aqui, hhehehe
      Jundis
      T

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  4. Nem concordo com esse lance do Draconian Times, não, cara. Acho o Icon melhor. Mas vou escutar esse aí com calma, a última vez que ouvi os caras, eles tavam parecendo aquelas porra de música eletrônica, tava ruim a coisa.
    Legal teu blog, mas falta coisa de death e black metal aqui.
    Valeu!
    Henrique Avenger

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