segunda-feira, 30 de março de 2020

Biff Byford – School Of Hard Knocks (CD-2020)



Bife Com Fritas Do Tio Biff
Por Trevas

Cinquenta anos de carreira musical definitivamente não é para qualquer um. Talvez ciente de que sua longa e prolífica carreira esteja rumando para um fim, Biff Byford, lendário líder e vocalista dos titãs do metal britânico, o Saxon, resolveu enfim centrar esforços em seu primeiro disco solo. A intenção? Fazer uma obra com pitadas de autobiografia, contando com convidados especiais e uma liberdade musical maior do que em seu emprego principal. Amparado pelas dicas do mago Andy Sneap, Biff assumiu a produção da bolachinha, que traz na capa uma ilustração estilizada de uma das paisagens de sua Yorkshire natal, feita por um artista local. A banda de apoio? Fredrik Akesson (Opeth) na guitarra, Christian Lundqvist (The Poodles) na bateria e Gus Macricostas (Battleroar, já tendo sido sub em algumas datas com o próprio Saxon) no baixo.

Biff e sua inconfundível cara de bruxa velha 
Welcome To The Show abre o disco, um Rockão empolgante, mas que, afora a produção mais simples e um pequeno toque de Rock moderno, definitivamente poderia estar em um disco do Saxon. A letra, a primeira das que fazem referência à carreira do vocalista, também não soa diferente do habitual. Fredrick destila um belo solo, ele sim se distanciando da sonoridade que faz no Opeth.


A autobiográfica faixa título chega e confirma o ponto de interrogação na minha cabeça: “por que diabos Biff resolveu gravar músicas que poderiam estar num disco do Saxon?”. É legal, traz Phil Campbell (Motörhead) solando, mas tem a cara de coisa que já ouvimos o grandão cantar antes, lembrando Solid Ball Of Rock. Inquisitor é a primeira pista de que efetivamente há um pouco de linguagem musical diferente no disco, um interlúdio acústico com Biff declamando Edgar Allan Poe e preparando o terreno para a ótima The Pit And The Pendulum. Um épico de sete minutos que fica num meio termo entre algo como Attila The Hun e um Prog Metal. Nela a cozinha é caprichadíssima: o Tio Chico do Metal, Nick Barker (Dimmu Borgir, Testament, Nuclear Assault) atuando ao lado de Nibbs Carter, fiel escudeiro de Byford no Saxon. A mesma dobradinha atua também em Worlds Collide, outra boa canção que não tem por que não estar num disco dos veteranos da NWOBHM.


Biff acaba replicando o som de sua banda principal em outros três números: Hearts Of Steel e Pedal To The Metal no lado mais pesado, Black And White na veia mais Hard Rock.
Mas, ainda que de maneira tímida, o veterano reserva espaço para uma sonoridade mais variada em outros números: nas caprichadas releituras de Scarborough Fair (canção tradicional do norte da Inglaterra que ficou famosa para o resto do mundo com Simon & Garfunkel) e Throw Down The Sword (uma belezura do Wishbone Ash) e na homenagem à esposa com a fraquinha Me And You, que conta com solo de saxofone e cuja melodia nos versos resvala em I Remember You, do Skid Row.


No final das contas, fico com a impressão que School Of Hard Knocks é muito mais uma oportunidade de fazer a limpa no baú antes de uma aposentadoria cada vez mais próxima do que uma necessidade de explorar novos horizontes criativos. O lado bom disso é que fica ainda mais claro o quanto o som do Saxon deve a esse senhor, que acerta mais uma vez na mão na hora de trazer um punhado de boas músicas para nosso deleite. Tão simples e eficiente quanto um bife com fritas. (NOTA:8,36)

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Gravadora: Hellion Records (Nacional)
Prós: boas músicas, produção simples e certeira
Contras: não se afasta muito do que Biff pode fazer no Saxon
Classifique como: Hard Rock, Heavy Metal
Para Fãs de: Saxon

3 comentários:

  1. "Bife com fritas"...
    Não que eu não goste do Saxon; também, sinceramente, confesso que o timbre de voz do Sr. Byford nunca me agradou tanto; porém, ele sempre conseguiu dar conta do recado.
    Mesmo que os primeiros e últimos discos do Saxon sejam realmente ótimos, sempre tive essa sensação de que tanto ele quanto toda a banda (principalmente as formações dos primórdios) estavam num tipo de emprego, tipo, "OK, vamos fazer esse tipo de música, porque tem fãs leais, poderemos seguir carreira com isso e ainda ganhar uma boa grana, conhecer o mundo, etc." - e aí vem você e cita esse "emprego principal"...
    Enfim, escutei o disco outro dia, mas sem muita atenção, mas algumas realmente me fizeram parar pra escutar com vontade ("The Pit and the Pendulum" principalmente) e outras me fizeram "bater cabeça" (de leve, coisa e tals), mas o gosto que ficou foi quase o mesmo de escutar um disco do Saxon.
    É bacana ver os velhinhos ainda se divertindo (Ozzy, Phil Campbell...), chamando os amigos pro churrasco e tals, nem sempre acertam a mão (vide o fuckin' Brittish Lion...) o que, definitivamente, não é o caso aqui. Muito bom disco. Acho que vou gostar mais dele se escutar mais umas vezes - coisa que devo fazer não tão em breve, infelizmente...
    Mais uma ótima resenha, caro amigo!!!
    Abração, mizifio!!!

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    Respostas
    1. Fala, Lacerdão!
      Amo o Saxon e gosto da voz de velha fumante do "Bife"
      vale uma nova jornada esse disco, mas apesar de ser bem bom, me decepcionei ao esperar uma nova faceta musical da titia.
      Realmente acredito que esse disco seja uma tentativa de ir "limpando o baú", Biff está bem perto dos 70 e acabou de sobreviver a um infarto. A mortalidade bate à porta e o cara deve querer limpar a raspa do tacho.
      Sobre ser burocrático, acho que você teve essa impressão vendo um ao vivo da era em que a banda se perdeu tentando entrar no mercado dos EUA. Aquela fase foi esquisita, mas já assisti o Saxon 3 vezes ao vivo e os caras são a banda mais viva da NWOBHM que o dinheiro pode pagar. É sempre um show divertido e cheio de enrgia, visivelmente eles amam o que fazem. Vide que sempre fazem material novo e fazem questão de revitalizar o repertório a cada turnê, enchendo o set de músicas novas e lados B, ao contrário dos Metallicas da vida.
      Abraço
      T

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    2. Na realidade, só fui a um show deles, na época do Crusader (se não me engano no final de 84, porque foi a segunda vez que fui pra Inglaterra) foi até divertido, mas não me empolgou (como diria nosso amigo El Colomba...) - e essa época, provavelmente, foi quando estavam mais populares que nunca. Já vi alguns shows em vídeo, também, e realmente os mais recentes me passaram muito mais "energia".
      Vi esse disco pra baixar e me surpreendeu, por ser um disco solo, mas, sinceramente, não tinha muitas expectativas, principalmente quanto a ser muito diferente do Saxon; achei que, provavelmente, seria muito mais puxado pro hard rock, e nisso não me enganei muito.
      Eu não sabia desse infarto dele.
      Abração!!
      ML

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