domingo, 1 de março de 2020

Graspop Metal Meeting 2019: Parte II – Os Shows



Olá Criptomaníacos!! 
Nessa segunda postagem sobre o GMM, farei um breve apanhado dos 36 shows assistidos ao longo dos 3 dias de festival. 
Por show assistido e avaliado, consideramos aquele que conseguimos presenciar por pelo menos metade de sua duração prevista. 
Se contarmos os pedaços de 10/15 minutos que assistimos ao longo desses dias, o número cresceria bastante.
As fotos e pequenos vídeos são meus e da Dressa, e servem apenas para tentar dar uma vaga noção visual da coisa, já que celulares são péssimos para esse tipo de registro. 
E claro que demos preferência a curtir as apresentações ao invés de registrar as mesmas de maneira porca.
Divirtam-se
Trevas


21.06.19 - SEXTA (11 shows assistidos)

Os calouros aqui calcularam mal o deslocamento para o festival, o que nos fez perder o Death Angel, escalado para a infeliz hora do almoço. Nossa primeira parada acabou por ser o Crowbar, no palco Marquee. Foi um bom começo, Kirk Windstein e sua trupe desfilaram seus acordes monolíticos com maestria (NOTA: 8,00). Ainda conseguimos assistir duas músicas do caos eletrônico virulento do Combichrist antes de encarar Glenn Hughes e suas releituras dos clássicos do Purple num show inesperadamente mediano (NOTA: 6,00).

Crowbar - mais pesado que fimose de cachalote
Retornando ao Marquee, dessa vez para o assombroso e para lá de pesado show do Candlemass com Leif de volta ao batente trazendo a tiracolo o excelente Johan Längqvist, vocalista que gravou Epicus Doomicus Metallicus. Realmente épico, Doom bagarai e destruidor (NOTA: 10).

Candlemass, espetacular e de volta às origens
Num dos palcos principais, o metal moderno do Architects levantou o público de maneira tão esfuziante que me senti até um pouco culpado por não conseguir ver nada demais no som dos caras (NOTA: 7,00). Após alguns minutos do viajante e original Cult Of Luna, era vez de comprovar o quanto o Anthrax funciona bem ao vivo. Mesmo com som embolado e Belladonna longe da boa forma vocal, o som dos caras em festival levanta até defunto (NOTA: 9,00).

Caught In A Mosh! Anthrax detonando! 
Um dos shows mais esperados pela gente, o Lynyrd Skynyrd demorou a esquentar. Ainda assim, um show que tem Saturday Night Special e Free Bird não pode ser um fracasso. Vide a contagiante rodinha de coroas dançando em Sweet Home Alabama (NOTA: 7,50). Se os sulistas pareciam algo deslocados, os suecos do Amon Amarth estavam na sala de casa. Com um show pesado, tecnicamente perfeito e cheio de pirotecnias, mostraram que hoje em dia são os headliners perfeitos para festivais do tipo. Vide a lotação do empolgado público de frente para o palco (NOTA: 10).







Perfeição técnica é o que vimos também na apresentação do Within Temptation. Com uma produção de fazer inveja a qualquer banda que não seja o Rammstein, destilaram clássicos de seu período mais sinfônico misturados ao metal moderno de agora. O ponto alto da noite foi ver um verdadeiro viking, torso desnudo no frio, cantando a plenos pulmões Ice Queen. Nos debulhamos em gargalhadas, para então recebermos um merecido olhar de reprovação do grandalhão, que logo voltou a exibir seus dotes líricos. Um belo show (NOTA:8,50) Era hora do último show do Slayer na Bélgica. Um dos eventos mais esperados do festival, a apresentação do quarteto contou com uma produção de palco caprichada e muita, mas muita pirotecnia. O repertório está matador e Gary Holt trouxe um algo a mais para a dinâmica do show, mas não fosse o clima criado pela grandiosidade visual, que nos transporta para algum lugar no inferno, novamente ficaria com a impressão de que a banda é um pouco burocrática no palco (NOTA: 8,00). No acampamento, madrugada adentro só se ouviria uma coisa, urros de “SLAAAAAYEEEEERRR”.

Slayer levando sua capirotagem pela última vez em território belga
22.06.19 - SÁBADO (10 shows assistidos)

Começamos na hora do almoço, com a belíssima apresentação do Cellar Darling. Anna Murphy é uma vocalista e multi-instrumentista brilhante e a banda é um raro caso do estilo que não se vale de absolutamente nada pré-gravado. Excelente (NOTA: 9,00).

Ainda esbarramos com o final da apresentação do Gloryhammer, banda piada de Power Metal que surpreendentemente mostra um poderio absurdo nos palcos. Fica para uma próxima. Impressionante também o pouco que vimos do Ne Obliviscaris, que parece conjurar o próprio som de alguma outra dimensão, uma dimensão sombria e pesada. Os suecos do Hammerfall podem ser mega xaropes, mas imaginei que seu som pudesse soar divertido no ambiente de um festival. Até cantei junto uma ou outra música dos simpáticos bangers, mas a plateia não pareceu tão convencida assim (NOTA: 7,00).

Compenetrados
Muito melhor se saiu o fenômeno Lzzy Hale e seu Halestorm. Aguados em estúdio, os estadunidenses destroem ao vivo, capitaneados por uma das vozes mais fortes da história do rock (NOTA: 9,00). Após um pequeno relance no não muito impressionante show do Grand Magus, era hora de Nergal e sua trupe no palco principal. E o Behemoth fez justiça a sua fama, um show verdadeiramente infernal e pesado (NOTA: 9,00). Tempos atrás parecia que o Trivium conquistaria o mundo, mas a carreira dos caras nunca atingiu o ápice esperado. Mas não é por falta de trabalho, com um show tecnicamente excelente na parte instrumental, os caras se movem tanto no palco que microfones eram colocados em toda a extensão do mesmo. Uma apresentação repleta de carisma e energia (NOTA:8,50).

Muitos cadeirantes no evento, alguns deles gozaram de belos crowdsurfings
De volta aos palcos menores, nossa primeira escolha de sofia: estávamos nas primeiras fileiras da apoteótica apresentação do Clutch, com um Neil Fallon endiabrado comandando a plateia como um pastor do inferno, os estadunidenses destilavam um clássico atrás do outro (NOTA: 10,00). Infelizmente deixamos o show na reta final pois não podíamos perder uma das derradeiras apresentações do UFO antes do encerramento da carreira. O septuagenário Phil Mogg parece um pouco cansado, e logo se percebe que a aposentadoria vem em boa hora, mas o show tem tanto clássico por minuto que acaba valendo o esforço (NOTA: 8,00). A noite não dormida cobrou seu preço, acabamos por abandonar o festival mais cedo e perdemos bandas como Krokus, King Diamond, Demons & Wizards, Disturbed, Lamb Of God e Slipknot. As três últimas pudemos escutar do acampamento, assim como a reação da plateia. Ao que parece, shows destruidores. Era hora de recuperar as baterias para o último dia.

Domingo com sol a pino e os dois na primeira fila para o FM


23.06.19 - DOMINGO (15 shows assistidos)

Nosso domingo começou bem cedo, e direto da primeira fila de um dos palcos principais, com uma aula impecável de AOR com os veteranos britânicos do FM, comandados pela bela e cristalina voz de Steve Overland (NOTA:9,00). Bem menos impressionante foi o show seguinte, dos postulantes a nova sensação do Classic Rock Inglorious. Definitivamente falta algo aos ingleses, e o afetado e talentoso Nathan James ainda precisa comer muito Fish & Chips para atingir o nível que acha já ter (NOTA: 6,50).


Outro combo britânico na fila, fomos conferir os ogros do Orange Goblin no Marquee. O gigante Ben Ward e sua trupe fazem um show poderoso e vibrante, e nos divertimos pulando abraçados a um cabrunco que parecia ter lambido um sapo lisérgico (NOTA:9,00). Ainda deu tempo de pegar a metade final do Deadland Ritual, supergrupo que reúne gente do quilate de Geezer Butler, Steve Stevens e Matt Sorum. Capitaneados pelo pouco inspirado vocalista Franky Perez, a banda fez o provável show mais murcho de todo o festival. Uma apresentação morta a ponto de conseguir não levantar a galera nem com War Pigs, música que geralmente salva da derrota qualquer banda cover do planeta. Uma lástima (NOTA: 4,00).

Ih, é a banda da minha camisa ó!


Mudando um pouco o clima, fomos conferir o show do Delain, que seria o último com a formação contando com duas guitarras (uma despedida curiosamente silenciosa da demissionária gnominha espoleta Merel Bechtold). Um show bacana que levantou a plateia com hits grudentos, mas fica claro que os holandeses ainda precisam trilhar muita estrada para chegar perto dos patrícios do Within Tempattion ou dos finlandeses do Nightwish (NOTA: 7,50).

Mesmo durante o início do show do Delain, era visível e impressionante o deslocamento de boa parte do público presente no festival para o outro palco principal. O que só comprova o estrondoso sucesso dos franceses do Gojira em território europeu. E que show. Com peso e musicalidade surreais e uma postura de quem sabe que vai destruir tudo, os irmãos Duplantier foram responsáveis pela maior profusão de rodinhas, Crowd Surfing e afins em todo o festival. Ao final de pouco mais de uma hora, a banda se despede, e o baterista Mario vai ao microfone agradecer e atestar ter perdido alguns quilos na apresentação. Nós também, Mario, nós também (NOTA: 9,50).

Pernas pedindo arrego, hora de dosar as energias
Igualmente destruidora foi a apresentação dos suecos do In Flames. Trazendo a bela adição de Chris Broderick na segunda guitarra e contando com algumas surpresas antigas (Pinball Map e Colony) e muita simpatia, fizeram um set de arrepiar os fãs de todas as fases da carreira dos caras (NOTA: 9,50). Uma breve checada no aparentemente imponente show do Insomnium antes do encontro com tio Coverdale e seu novo Whitesnake. Novo entre mil aspas. O repertório permanece o de sempre (só trocam as faixas do disco atual), mas a destreza dos músicos compensa a repetição. Claro que se você pode chiar do tom abissal no qual as músicas são tocadas e do fato de um show de uma hora contar com solos individuais e intervenções instrumentais, ambos artifícios voltados a preservar a combalida voz do tio, que até que estava num bom dia. Divertido e previsível, como sempre (NOTA: 8,00). Já eram 19:00 da noite, mas o céu de verão estava límpido, com o sol castigando a galera. Após conferir alguns minutos do final estrondoso do show do Possessed, sentados na grama para testemunhar Rob Zombie fazer uma apresentação impressionantemente divertida, com direito até a uma ótima versão para Helter Skelter (NOTA: 9,00). Nunca havíamos visto o Def Leppard em ação. E cara, que decepção. Tecnicamente perfeito, o show tomava forma repleto dos hits radiofônicos que catapultaram os ingleses ao Mainstream. Mas é tudo feito de maneira tão burocrática que faz até o “chá das cinco” parecer um evento com mais atitude. Morno demais (NOTA: 6,00).

Cervejinha belga + Coverdale = previsível e bom
Fugimos para o Eluveitie, mas a lotação do Marquee e o calor infernal nos levaram mesmo ao palco onde se apresentava o Kvelertak. Eu tinha muita curiosidade de conferir o sexteto de Death’n’Roll, com suas músicas repletas de referência de tudo o que é era do rock cantadas em norueguês. E que sorte que o destino nos levou até ali, os caras fizeram um dos shows mais perfeitos do festival. E o público pequeno, logo se transformou em uma multidão. A grande maioria não fazia ideia do que esperar do som dos caras, mas a força de uma banda que, além de proficiência técnica, ainda termina com o vocalista (novo na turma) e dois dos três guitarristas fazendo crowdsurfing ao longo das músicas não pode ser menosprezada. Ao final dos 50 minutos do repertório, os noruegueses deixavam umas 5.000 pessoas embasbacadas para trás, certamente tendo convertido boa parte desses em novos fãs incondicionais (NOTA: 10).


Pausa para o lanche, retornamos a um dos palcos principais e temos uma grata surpresa. O Sabaton é absurdamente popular por lá. Sim a multidão que se amontoa de frente para o palco é impressionante, mas mais impressionante ainda é a desenvoltura com que a banda lida com isso. Em poucos minutos de show e umas 40.000 cabeças cantam e dançam sem parar os hinos quase caricatos dos suecos. A banda também faz por merecer. Os caras não param um segundo e Joakin pode ser um vocalista limitado, mas tem um carisma e simpatia tão grandes que você acaba o show jurando que ainda vai tomar uma cerveja com o grandalhão. Isso sem contar que, arames farpados, sacos de areia, um coral de 20 cabruncos vestidos com uniformes da primeira guerra mundial e um tanque de guerra de verdade estão ali no palco, em meio a explosões e pirotecnias variadas, criando um clima que raramente se vê por aí. Um show monumental e que tem como um grande trunfo não se levar a sério por um instante sequer (NOTA: 10).

KVELERTAK!!!
Era chegada a hora do ultimo Headliner do festival. You Wanted The Best, You’ve Got The Best. The Hottest Band In The World…KISS! Você pode até não gostar do quarteto mascarado estadunidense, mas eles sempre foram o padrão que norteia toda e qualquer banda que preza pelo espetáculo. E a banda faz sua despedida oficial nessa turnê (se bem que anunciam isso sem cumprir o prometido tem bem uns 20 anos pelo menos), então a expetativa era de uma experiência audiovisual impressionante. E realmente o palco é impressionante. Pirotecnias e teatralidade a mil. Uma pena que a banda simplesmente já não esteja à altura de sua reputação. Paul Stanley está com a voz tão cacarecada que consegue irritar os ouvidos até nas várias falas entre as músicas. Sim, o cara está desafinando até falando. Mas ao menos se esforça, conduzindo a banda com vigor impressionante para a idade. Uma pena que seus colegas pareçam tão desinteressados, em especial Gene, cansado como aquele motorista de ônibus no final da última jornada do dia. O repertório, algo previsível, ainda assim deveria soar delicioso. Mas não soa. A sensação de que efetivamente uma das lendas vivas do rock esgotou sua força vital parece ter consumido o público, já cansado dos três intensos dias, que respondia contidamente e de maneira mais respeitosa do que realmente empolgada. Talvez devessem ter pendurado as chuteiras alguns anos atrás, quem assistir a banda pela primeira vez nessa turnê jamais terá a verdadeira noção do que foram até um passado não muito distante (NOTA: 6,00). Íamos deixando o festival antes do fim da apresentação do Kiss, mas pelo caminho ouvimos um som destruidor. Entramos no Marquee no exato momento em que Jeff Walker bradava sarcasticamente ao parco público presente na apresentação do Carcass: “ parabéns a você que está nos assistindo, pois você definitivamente não é um poser”! A provocação aos fãs do Kiss poderia parecer exagerada e deselegante, mas o show do Carcass responde em campo. Um final devastador para nossa longa e fantástica jornada num dos maiores festivais do planeta (NOTA: 9,00).

Kiss e seu melancólico adeus




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