Para os malucos(as) que como eu tem prazer em destrinchar as histórias que permeiam a trilha sonora que escolhemos para nossas vidas. E quantas histórias interessantes se escondem em cada esquina desse vasto mundo do rock! Vocês encontrarão por aqui resenhas de shows, discos, livros, dvds (blu-rays) e notícias comentadas sobre o mundo do rock. Espero que vocês gostem e visitem sempre ou eventualmente. Eu, certamente, me divertirei muito escrevendo aqui.
“Não fazíamos ideia
de quanto mundo estava precisando de uma banda de Rock.” Essa frase, proferida
pelo vocalista do RivalSons, o impressionante JayBuchanan exemplifica o quanto os próprios músicos ainda se
surpreendem com o sucesso obtido pela banda, desde que Pressure & Time (segundo trabalho e estreia de Jay) passou a receber resenhas
elogiosas ao redor do globo em 2011. E como o mundo precisa, Jay! Em especial quando essa banda de
rock nos presenteia com discaços como Great
Western Valkyrie e Hollow Bones!
Rival Sons, caminhando por 1969 em pelo 2019
O esperado sexto álbum de estúdio dos retro-rockers californianos do RivalSons foi precedido por Do
Your Worst, um rockão direto e radiofônico que também é o responsável por
abrir com maestria o repertório do Cd, primeiro lançamento do quarteto pela AtlanticRecords.
De cara percebe-se que a dobradinha da banda com o produtor Dave Cobb atingiu um grau de simbiose
que beira a perfeição. Faixas como Sugar
On The Bone soam vivas como se estivéssemos sentados num banco dentro da
sala de ensaios de um estúdio caro com os músicos tocando. E o disco equilibra
bastante bem um lado mais rockeiro, que além das duas já citadas afeta também
canções como as espetaculares Back In
The Woods, Stood By Me e Too Bad com um lado mais calmo e
experimental.
Esse lado mais experimental e calmo (que para alguns críticos remete ao
caminho trilhado décadas antes pelo LedZeppelinIII) está explicito em belezuras quase folk como Look Away, All Directions e a faixa título. Ainda
há espaço para flertes com elementos de reggae
(Imperial Joy), Gospel (Shooting Stars)
e eletrônica (a totalmente The Cult End
Of Forever), enriquecendo o já bem estabelecido ClassicRock de uma das
melhores bandas da atualidade. Um discaço ao mesmo tempo simples e bastante
sofisticado. Facilmente um dos melhores trabalhos do ano (NOTA: 9,46)
SammyHagar
é incansável. Próximo de completar 72 bem vividos verões, o cabelo de miojo não
precisaria mexer mais um músculo sequer para viver bem ainda que sobrevivesse
por mais 200 anos. Desde seu debut
fonográfico com o lendário primeiro disco do Montrose, Sammy fez fortuna
com sua carreira solo, pulou dela para capitanear a fase comercialmente mais
opulenta do VanHalen, nesse interim virou um barão das tequilas (só a venda de sua
marca de Tequilas para uma gigante do ramo garantiu a bagatela de 100 milhões
de doletas), montou outra marca de rum e é dono de dezenas de casas noturnas e
restaurantes premiados. Então quando parecia ter se contentado em usar sua
banda de festas (os Waboritas) para
produzir descompromissados discos solo, voltou a estourar as paradas de sucesso
com o surpreendente supergrupo Chickenfoot.
Como a logística para juntar as quatro partes dessa banda se tornou complexa
demais, criou então o tal TheCircle. No cast, JasonBonham (filho “du hômi”), MichaelAnthony (o baixo e voz salvadora do DiamondDave no VanHalen), Sammy e seu
escudeiro dos Waboritas, VicJohnson. Os shows iam de vento em popa, disputados e lotados, com
clássicos da carreira solo, Montrose,
Chickenfoot e VH. Mas Sammy queria
mais, e com essa trupe resolve então gravar um disco de inéditas. Seu 27º da
carreira, e primeiro conceitual. A temática, o distanciamento das relações
humanas no mundo atual, centrando no papel dicotômico que o dinheiro (ou falta
dele) tem nesse fenômeno.
Uma tarde qualquer em uma mansão em Cabo San Lucas
Mas SpaceBetween começa morno que só. TheDevilCameToPhilly
e FullCircleJam se sucedem com
estranhos fade-outs, dando sempre a impressão de vinhetas mal aproveitadas que
preparam o terreno para algo maior e mais impressionante. Algo que nunca vem exatamente
a acontecer...Can’tHang já parece mais uma música
completa, bacana, mas aquém do que se esperaria do time.
Ah, falando do time, é claro que a musicalidade aqui não é de baixo
nível. Sammy aos 71 está com sua voz
intacta, somente menos histriônica que no passado. JasonBonham e MichaelAnthony formam uma baita cozinha. VicJohnson é um bom
guitarrista, ainda que sempre me deixe a impressão de que tem menos capacidade
que o próprio patrão em seus tempos de guitar-hero. A produção de JaimesonDurr, com Sammy e Vic é cristalina, bem pés no chão, com
a clara intenção de soar como um disco de rock simples. E é isso mesmo que SpaceBetween entrega. WideOpenSpace é uma daquelas baladas típicas de Sammy, mas definitivamente não uma das mais inspiradas. E nem as
letras puxam tudo para o alto, convenhamos. A coisa melhora consideravelmente
com a realmente boa e vigorosa FreeMan, um ClassicRock vitaminado
com toques de modernidade ao estilo do primeirão do Chickenfoot.
Bottom Line e NoWorries
devolvem a triste sensação do desperdício de ideias em faixas que nem servem bem
como vinhetas nem como canções completas. Sammy
precisou então regurgitar o riff
virulento de I’ve Got The Fire para
acordar a trupe, na excelente TrustFundBaby. Segundo Sammy, uma
maneira de fazer justiça ao fato de Montrose
nunca ter creditado a ele a música original. Bom, Montrose ganhou citação como co-autor aqui, nesta que é de longe a
melhor coisa em todo o disco.
Daí para frente, temos a esquecível Affirmation
e o círculo fechando com HeyHey, nos levando de volta à ideia da
abertura, comprovando que definitivamente SpaceBetween não vai mesmo a lugar algum.
Ah, e como o tema central das letras gira em torno de dinheiro, faça-se um
favor e não desperdice o seu com essa pouquíssimo inspirada bolachinha (NOTA: 6,54)
Três discos em três
anos é um feito e tanto para os tempos modernos, ainda mais quando se trata de
uma banda formada por veteranos da cena Death.
Mas é exatamente esse o prolífico caminho trilhado pelo supergrupo britânico, uma
espécie de coalisão entre os baluartes Benediction
e BoltThrower. Se o monumental disco de estreia nos presenteou com uma
sonoridade que refletia a mistura das bandas de origem com uma improvável e
bem-vinda dose de Doom, o segundo
rebento, TheSilentVigil, apostou em
uma atmosfera menos inspirada, mais crua e direta.
O novo disco, com lançamento
nacional pela ShinigamiRecords, parece apostar na fusão desses
dois mundos distintos. A produção de RussRussell (Amorphis, At The Gates, Claustrofobia) definitivamente corrige
o problema do antecessor e ShellShock abre o trabalho com a energia
esperada, seguida da indefectível Undefeated.
A aura DeathOldSchool remete em
muito o que se esperaria do BoltThrower nos dias de hoje, com os
latidos de KarlWillets soando tão virulentos quanto no passado. Há temas de
guitarra (por ScottFairfax) que fazem menção ao Doom, mas de maneira menos opressora
que no disco de estreia. Ainda que careça de algum destaque individual passível
de figurar como novo clássico da cena, difícil imaginar que algum fã do estilo
possa se decepcionar ao terminar a audição dos 48 minutos de RequiemForMankind(NOTA: 8,42)
Exatos 20 anos após StillLife, os veteranos pioneiros do ProgMetal lançam seu
segundo trabalho ao vivo de carreira (AwakentheGuardianLive está mais
para um álbum comemorativo, juntando inclusive ex-membros de outra era em
detrimento da banda atual). A decisão de fazer desse belo Digibook duplo um apanhado de várias apresentações da digressão
Europeia para o magistral TheoriesOfFlight
me deixou com a pulga atrás da orelha. Soaria o novo trabalho como um corte e
cola desorientado, sem aquela sensação de continuidade que é uma das mágicas de
um bom show?
Bom, bastaram três faixas do
primeiro disco para aplacar minha desconfiança: com o bruxo JensBogren cuidando da mixagem, não teve erro. Além da homogeneidade ao
longo dos 136 minutos (e 23 faixas) de LiveOverEurope, o que temos aqui é uma amostra fidedigna da força do
quinteto estadunidense ao vivo. Ao contrário da murchidão que afeta 99% das
bandas de ProgMetal ao vivo, o FatesWarning soa aqui com uma energia e
vitalidade invejáveis, muito mais reminiscentes do metal do que do progressivo,
bem que se diga. Misturando magistralmente faixas do novo trabalho com
clássicos e Lados B, LiveOverEurope se mostra um dos melhores registros ao vivo de um subgênero
que costuma soar bem melhor em estúdio (NOTA:
10)
Gravadora: Inside Out (importado)
Prós: um ao vivo bem...vivo!
Contras: duas horas e blau de prog metal
podem ser demais
Classifique como: Prog Metal
Para Fãs de: Queensrÿche, Conception
Conta mais sobre essa história de que banda de Prog Metal ao vivo não tem energia...
Um dos destaques
absolutos da NWOTHM, o quarteto
sueco Enforcer chega a seu quinto
trabalho de estúdio enfrentando pela primeira vez uma saraivada de críticas.
Pudera, logo de cara somos confrontados com DieForTheDevil, faixa de trabalho que deve muito mais a bandas como WASP ou MotleyCrüe do que ao Speed Metal Old School que se esperaria
dos caras. A polêmica aumenta ainda mais quando se chega a Regrets, um xarope de groselha com chorume tão ruim que faria o MichaelSweet se morder de inveja por não ter composto isso antes para seu
hediondo Stryper. Mas, convenhamos,
de resto até que o disco não é assim tão distante do que o Enforcer fez no passado quanto andam alardeando por aí.
Zenith
Of The Black Sun faz justiça ao posto de faixa título, Searching For You reascende a veia Speed, só que com um refrão mais
radiofônico. Mesma coisa para End Of A
Universe. SailOn tem toques de progressivo nos riffs
e Forever We Worship The Dark faz
bem a fusão entre o lado épico e a farofagem. A produção de Olaf e JonasWikstrand pode não
ser o que há de mais caprichado, mas serve bem ao cenário “oitentista”
escolhido. Olaf continua com seu
vocal miado, mas cada vez mais contido nos exageros agudos, o que ajuda na
palatabilidade do material. Enfim, Zenith
pode até não ser a paulada esperada pelos fãs, mas há de se admitir que sua
atmosfera mais polida e os flertes cada vez mais presentes com o Hard até que rendem uma diversão
honesta. (NOTA: 7,31)
Gravadora: Shinigami Records (nacional)
Prós: divertido
Contras: a mistura tendendo demais para o
Hard pode afastar muita gente
Uma das bandas mais
enigmáticas de seu tempo, a norueguesa Conception
sumiu sem grande alarde, deixando para trás um quarteto de discos únicos. Seu
último suspiro se deu com o brilhante e revolucionário Flow, que no distante ano de 1997 já antecipara boa parte dos
maneirismos multidisciplinares que o HeavyMetal assumiria mais para frente. RoyKhan ainda carregaria seus vocais melancólicos para salvar o Kamelot da mesmice por um bom tempo
antes de ser acometido por um misterioso chamado religioso. ToreOstby faria um disco seminal (BurnTheSun) com o Ark. Mas logo
os dois sumiriam de cena, parecendo fadados ao mesmo ostracismo que enterrara o
Conception nas areias do tempo. Qual
não foi minha surpresa (e felicidade) ao ouvir a notícia do retorno do quarteto,
em uma bem-sucedida campanha de Crowdfunding
para confecção de um single e um EP
de retorno? Checando a bolachinha, fico ainda mais abismado pelo quanto que Flow soa atual: MyDarkSymphony parece soerguer exatamente do
horizonte deixado por seu primo distante.
Re:Conception
prepara um terreno melancólico e futurista para a bela GrandAgain. A sutileza
de cada peça no arranjo de faixas aparentemente simples dando a pista do por
que o Conception era tão único. Tore continua caprichando em timbres e
num minimalismo que me lembra a maturidade de JimMatheos do FatesWarning. Roy reina
supremo, com seu vocal tão imitado ultimamente. Como todos os trabalhos que
vieram antes, MyDarkSymphony cresce a cada audição, mas soa como um retorno
deliciosamente triunfal àqueles que gostam de um ProgMetal inteligente,
longe do método “melancia no pescoço” de um DreamTheater. Só fica
aqui a reclamação pela não inclusão da bela FeatherMoves no EP. Ainda assim, um retorno belo e
sombrio! (NOTA: 8,63)
Gravadora: Conception Sound Factory
(importado)
Prós: soturno, belo e atemporal
Contras: por que não um disco completo?
Classifique como: Metal Progressivo
Para Fãs de: Fates Warning, Devin Townsend
Project
O Grunge nunca existiu. Sorry. Usaram um termo para colocar no
mesmo balaio bandas tão díspares quanto um Nirvana,
com sua agressividade Punk suja e até mesmo algo tosca, e um Soundgarden, com sua releitura algo soturna
e bem pesada para o Rock dos anos 1970. E essa afirmativa não se trata em
absoluto de um mero revanchismo de “Metaleiro”, não. Os próprios fãs de HeavyMetal mais instruídos já viram esse filme antes, mais
especificamente com a famosa NewWaveOfBritishHeavyMetal, uma cena que somente existiu nos jornais e revistas, mas
nunca na vida real. Dito isso, temos em mãos o esperado registro ao vivo de uma
das apresentações mais icônicas da banda, lançado de maneira póstuma (Cornell tirou sua própria vida em maio
de 2017) em uma pletora de formatos, cada um mais apetitoso que o outro aos
olhos dos colecionadores. Após flertar por um tempo com o BoxDeluxe (somente para
ver a realidade de um dólar acima de R$4,00 me esmagar de volta à minha insignificância),
acabei por comprar a edição em Blu-Ray. O que não é nada mal, temos aqui nada
mais nada menos que 29 canções, espalhadas em quase duas horas e meia de show.
Ah, e somadas à meia hora de extras. Ao menos em termo de quantidade, não se pode
reclamar nem um pouco. Resta saber se a qualidade está à altura da expectativa
criada junto aos fãs.
O belo (e caro) Box Set
O show, realizado em fevereiro de 2013, foi transmitido ao vivo pela TV,
mais um bem-sucedido capítulo da série Live
From The Artists Den. A série promove shows especiais de artistas
consagrados para um público restrito. A casa escolhida, o Wiltern, proporciona um cenário interessante. E está claramente
forrada de fãs que realmente amam a banda, que por isso mesmo aposta num longo
repertório, alternando clássicos, faixas do então recente KingAnimal (que soam bem
melhores no palco, diga-se) e lados B tão obscuros quanto bacanas.
A performance da banda é vigorosa e repleta de dinâmica, com aquele ar
de banda setentista que sempre separou o Soundgarden
de seus contemporâneos. ChrisCornell é um daqueles talentos que
serão lembrados décadas após sua partida, mas o restante do quarteto demonstra
uma concisão e perícia respeitáveis. A Guitarra “gorda” de Thayl (em boa parte do set dividida com o próprio Cornell) destilando riffs encorpados, com o auxílio de uma
cozinha para lá de forte e certeira (Cameron
e Shepherd). Algumas versões são
melhores que suas contrapartes de estúdio, outras nem tanto, mas todas tem vida
e cara próprias, algo indispensável para um bom registro ao vivo.
A imagem na edição em Blu-Ray é perfeita. A edição, comportada,
mas eficiente. E as tomadas são mais artísticas do que se esperaria de uma
(geralmente burocrática) transmissão ao vivo. A iluminação é bela e o telão de
fundo, funcional. Sobre o som, temos em mãos uma mixagem cristalina, mas que
não perde a mão nem no punch nem
naquele senso de urgência que se espera de um show de rock que se preze. Sobre
os extras, temos entrevistas com o quarteto, um material que talvez não seja reprisado por muitos, mas fecha com esmero um pacote destruidor de uma das bandas mais idiossincráticas da história do Rock. Obrigatório. (NOTA: 10)
Gravadora: Universal Music (importado)
Prós: excelente show, som e imagem
perfeitos
Contras: eu não tenho dinheiro para o Box
Set...#xatiado
O lançamento do 13º disco
de estúdio do combo multinacional capitaneado pelo lendário DavidCoverdale veio cercado de drama, qual uma novela mexicana. Coverdale alardeia aos quatro cantos
que esse seria o trabalho definitivo da banda. Coverdale fica muito doente. O lançamento é adiado por meses e
meses. Motivo? Não se sabe se foi exatamente a doença do líder do bando ou
alguma treta com a gravadora. Enfim, Flesh&Blood é lançado. A capa, uma quase cópia da utilizada num GreatestHits da banda na década de 1990. O que, confesso, me passou pouca
confiança no que viria dali.
Coverdale e seus Jedis
Produzida por Coverdale, Hoekstra e Beach, com assessoria do engenheiro de som MichaelMcIntyre, a
bolachinha começa murcha, com GoodToSeeYouAgain remetendo a um pouco inspirado Lado B de SlideItIn. GonnaBeAlright melhora um pouco a impressão,
mas logo somos arremessados na farofesca ShutUp&KissMe. Um cacareco reminiscente da era GlamMetal tão genérico que chega a passar vergonha até diante dos
piores momentos do SlipOfTheTongue, até então o pior disco da
história da banda. Assustador que tenha sido escolhida como faixa de trabalho.
HeyYou é bem melhor, ainda que os vocais dos versos me lembrem demais
alguma outra música (não descobri qual, quem souber me avise). Bacana também é
a Thinlizzyana Always&Forever, que me pregou uma peça num BlindEar que fiz para a
RoadieCrew (ainda a ser publicado). Coverdale
sempre foi um mestre na arte das baladas, mas aqui passa longe, muito longe de
acertar a mão. Difícil acreditar que WhenI Think Of You e AfterAll possam melar cuecas e/ou calcinhas em qualquer planeta
conhecido dessa galáxia.
Estou soando rabugento? Odiei o disco? Definitivamente não. Os músicos são
excelentes, sempre há algo para admirar aqui e ali, e Coverdale ainda soa bem em estúdio. Mas suas novas parcerias nas
composições passam longe de fazer justiça ao passado da banda. Beach e Hoekstra são grandes guitarristas, mas parecem atirar para todo o
lado nas músicas escritas, na maioria das vezes sem acertar os alvos
pretendidos. E nenhum deles consegue assumir o protagonismo como GuitarHero no posto recém abandonado. Existem bons solos aqui, claro, mas
nada que mereça um carimbo de qualidade de gente do quilate de Sykes, Moody, Galley, Vai e Aldrich.
O disco segue com músicas medianas como TroubleIsYourMiddleName, GetUp e a faixa título. Tropeça ainda mais na melecosidade da já citada
AfterAll. Mas tem também bons momentos, como em WellINever (outra a invocar a transição dos
anos 1970 para os 1980, possivelmente a melhor do bando), a soturna HeartOfStone (enfim uma boa
balada) e o fechamento inspirado com SandsOfTime. Ainda assim, nenhuma delas parece fadada a se tornar
obrigatória nos sets dos shows vindouros. Enfim, Flesh&Blood é um daqueles trabalhos talhados
para serem ouvidos como música de fundo, em segundo plano. Uma confortável
colcha de retalhos que soa como uma compilação regravada de Lados B de eras
diferentes da gloriosa carreira de Coverdale
e sua trupe. (NOTA: 7,07)
O 11º trabalho de
estúdio dos Vikings suecos do AmonAmarth chega num momento em que o
quinteto navega seu Drakkar por
águas curiosamente plácidas. Desde o lançamento de TwilightOfTheThunderGod, em 2008, o
que se viu foi o crescimento da banda no cenário, de maneira rápida e
improvável. Ao ponto de assinarem com uma Major e se tornarem figuras
constantes em qualquer festival do estilo que se preze, geralmente em posição
de destaque. Definitivamente nada mal para um bando de grandalhões, hirsutos e
feiosos, que usam de um DeathMetalMelódico como canal para suas letras versando sobre mitologia
nórdica e batalhas Vikings. Após o sucesso comercial (e de crítica) de Jomsviking, um de seus melhores
trabalhos, o quinteto resolveu dar uma chacoalhada. Deixando AndySneap, o mago-produtor-fetiche de 10 entre 10 bandas de Metal, de
lado, buscaram o premiado JayRuston (StoneSour, KillswitchEngage, Anthrax e MeatLoaf) para capitanear as gravações do que viria a ser Berserker. Apesar de usar a lenda dos violentos
guerreiros quase sobrenaturais aqui e ali, o disco não é conceitual, mas também
não foge à temática padrão da banda. Aliás, o gigante vocalista JohanHegg refuta que um dia a banda venha a abandonar as letras
habituais. Estive pela Europa pouco após o lançamento de Berserker, estampado com destaque em grandes lojas (como a FNAC) e caríssimo mesmo para um
lançamento. O disco vendeu que nem água. O show no GRASPOP foi fenomenal, uma superprodução amparada por um set list
poderoso, com receptividade surreal por parte da plateia. Berserker figurou no Top 100 em nada mais nada menos que 20 países,
repetindo o feito de atingir o topo das paradas alemães, como fizera Jomsviking. As resenhas ao redor do
globo, majoritariamente positivas, indicam que a banda acertou seu machado no
alvo novamente. Sucesso comercial à parte, lá vai a Cripta averiguar a fúria do
alucinado guerreiro nórdico...
Prestobarba? Quer morrer moleque?
O valor alto cobrado pela bolachinha tem lá sua razão de ser, o belo e
fino Digipack contém um encarte
caprichado, repleto de linernotes explicando a inspiração histórica
das letras. Aos primeiros instantes da abertura, com a poderosa Fafner’sGold, logo se percebe também que Jay foi uma escolha acertada para a produção: um som cristalino e
ao mesmo tempo poderoso. A bateria do estreante (em estúdio) JockeWallgren bem na cara, e JohanHegg soando cavernoso como nunca (e
esqueça as críticas de malas troozões reclamando de “vocais limpos” no disco,
na verdade são alguns pequenos trechos declamados que nunca soam gratuitos). Fafner’sGold é uma bela e promissora abertura.
Uma das faixas de trabalho, CrackTheSky é um hino Amonamarthiano
virulento. Uma belezura midtempo
feita para fazer os fãs pularem e cantarem junto à banda seu repetitivo, mas
viciante, refrão.
É fácil encontrar por aí Bangers
desiludidos com o AmonAmarth. Grande parte das reclamações
são originárias da doença babacoide que atinge a ala Troozona dos fãs de Metal:
toda vez que uma banda de coração alcança um sucesso grande demais e deixa de
ser seu “tesourinho escondido”, a mesma “deixa de prestar”. Mas há sim aqui um
fundo de verdade em algumas reclamações. Se outrora a banda se valia de um DeathMetalMelódico de
verdade, com traços de MetalTradicional, hoje seu instrumental tem
MUITO mais de MetalTradicional, com os resquícios de DeathMetal praticamente residindo no vocal de urso sifilítico de Johan. Mas convenhamos, você precisa
ser um chato de galocha para conseguir não curtir uma belezura como a pesada e
grudenta Mjolner, HammerofThor, um dos
destaques do novo disco.
A tribal ShieldWall fez a felicidade da plateia ao
vivo, moendo pescoços a torto e a direito, e sua versão em estúdio também bota
em sério risco o mobiliário da sala. Valkyria chega e, ainda que boa o
suficiente para não comprometer, empolga menos do que o material que a
antecedeu.
Raven’sFlight foi a primeira faixa de Berserker
a ser apresentada ao público. Pudera, talvez seja a melhor do disco, pesadíssima
e forte candidata a clássico absoluto do AmonAmarth. Uma pena que daí para diante
o trabalho perca um bocado de sua impressionante força.
E não é exatamente por que exista qualquer música ruim daqui em diante,
todas são suficientemente boas para merecer seu espaço no bestiário dos suecos
(vide a bela e diferente When Once Again
We Can Set Our Sails). Talvez o grande erro da banda (e produtor) tenha
sido não saber onde parar. Batendo quase uma hora de música, Berserker é de longe o trabalho mais
longo da carreira dos suecos. E com uma produção poderosa, mas que forma uma
parede de escudos sonora que pode cansar os ouvidos depois de uns 40 minutos,
acaba minando o potencial do que poderia ser o melhor disco de toda a carreira
do AmonAmarth. Ainda assim, estamos diante de um trabalho de respeito, que
só deve consolidar ainda mais a reputação de um dos novos gigantes da cena. (NOTA: 8,61)