quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Rival Sons – Feral Roots (CD-2019)




Sanha Feral
Por Trevas

“Não fazíamos ideia de quanto mundo estava precisando de uma banda de Rock.” Essa frase, proferida pelo vocalista do Rival Sons, o impressionante Jay Buchanan exemplifica o quanto os próprios músicos ainda se surpreendem com o sucesso obtido pela banda, desde que Pressure & Time (segundo trabalho e estreia de Jay) passou a receber resenhas elogiosas ao redor do globo em 2011. E como o mundo precisa, Jay! Em especial quando essa banda de rock nos presenteia com discaços como Great Western Valkyrie e Hollow Bones!

Rival Sons, caminhando por 1969 em pelo 2019

O esperado sexto álbum de estúdio dos retro-rockers californianos do Rival Sons foi precedido por Do Your Worst, um rockão direto e radiofônico que também é o responsável por abrir com maestria o repertório do Cd, primeiro lançamento do quarteto pela Atlantic Records.



De cara percebe-se que a dobradinha da banda com o produtor Dave Cobb atingiu um grau de simbiose que beira a perfeição. Faixas como Sugar On The Bone soam vivas como se estivéssemos sentados num banco dentro da sala de ensaios de um estúdio caro com os músicos tocando. E o disco equilibra bastante bem um lado mais rockeiro, que além das duas já citadas afeta também canções como as espetaculares Back In The Woods, Stood By Me e Too Bad com um lado mais calmo e experimental.



Esse lado mais experimental e calmo (que para alguns críticos remete ao caminho trilhado décadas antes pelo Led Zeppelin III) está explicito em belezuras quase folk como Look Away, All Directions e a faixa título. Ainda há espaço para flertes com elementos de reggae (Imperial Joy), Gospel (Shooting Stars) e eletrônica (a totalmente The Cult End Of Forever), enriquecendo o já bem estabelecido Classic Rock de uma das melhores bandas da atualidade. Um discaço ao mesmo tempo simples e bastante sofisticado. Facilmente um dos melhores trabalhos do ano (NOTA: 9,46)




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Gravadora: Atlantic Records (importado)
Prós: ótima produção, músicas excelentes
Contras: absolutamente nada
Classifique como: Retro Rock, Classic Rock
Para Fãs de: Montrose, Led Zeppelin, The Cult

sábado, 21 de setembro de 2019

Sammy Hagar & The Circle – Space Between (CD-2019)



Sammy & Seus Mijoetes
Por Trevas

Sammy Hagar é incansável. Próximo de completar 72 bem vividos verões, o cabelo de miojo não precisaria mexer mais um músculo sequer para viver bem ainda que sobrevivesse por mais 200 anos. Desde seu debut fonográfico com o lendário primeiro disco do Montrose, Sammy fez fortuna com sua carreira solo, pulou dela para capitanear a fase comercialmente mais opulenta do Van Halen, nesse interim virou um barão das tequilas (só a venda de sua marca de Tequilas para uma gigante do ramo garantiu a bagatela de 100 milhões de doletas), montou outra marca de rum e é dono de dezenas de casas noturnas e restaurantes premiados. Então quando parecia ter se contentado em usar sua banda de festas (os Waboritas) para produzir descompromissados discos solo, voltou a estourar as paradas de sucesso com o surpreendente supergrupo Chickenfoot. Como a logística para juntar as quatro partes dessa banda se tornou complexa demais, criou então o tal The Circle. No cast, Jason Bonham (filho “du hômi”), Michael Anthony (o baixo e voz salvadora do Diamond Dave no Van Halen), Sammy e seu escudeiro dos Waboritas, Vic Johnson. Os shows iam de vento em popa, disputados e lotados, com clássicos da carreira solo, Montrose, Chickenfoot e VH. Mas Sammy queria mais, e com essa trupe resolve então gravar um disco de inéditas. Seu 27º da carreira, e primeiro conceitual. A temática, o distanciamento das relações humanas no mundo atual, centrando no papel dicotômico que o dinheiro (ou falta dele) tem nesse fenômeno.

Uma tarde qualquer em uma mansão em Cabo San Lucas
Mas Space Between começa morno que só. The Devil Came To Philly e Full Circle Jam se sucedem com estranhos fade-outs, dando sempre a impressão de vinhetas mal aproveitadas que preparam o terreno para algo maior e mais impressionante. Algo que nunca vem exatamente a acontecer...Can’t Hang já parece mais uma música completa, bacana, mas aquém do que se esperaria do time.


Ah, falando do time, é claro que a musicalidade aqui não é de baixo nível. Sammy aos 71 está com sua voz intacta, somente menos histriônica que no passado. Jason Bonham e Michael Anthony formam uma baita cozinha. Vic Johnson é um bom guitarrista, ainda que sempre me deixe a impressão de que tem menos capacidade que o próprio patrão em seus tempos de guitar-hero. A produção de Jaimeson Durr, com Sammy e Vic é cristalina, bem pés no chão, com a clara intenção de soar como um disco de rock simples. E é isso mesmo que Space Between entrega. Wide Open Space é uma daquelas baladas típicas de Sammy, mas definitivamente não uma das mais inspiradas. E nem as letras puxam tudo para o alto, convenhamos. A coisa melhora consideravelmente com a realmente boa e vigorosa Free Man, um Classic Rock vitaminado com toques de modernidade ao estilo do primeirão do Chickenfoot.


Bottom Line e No Worries devolvem a triste sensação do desperdício de ideias em faixas que nem servem bem como vinhetas nem como canções completas. Sammy precisou então regurgitar o riff virulento de I’ve Got The Fire para acordar a trupe, na excelente Trust Fund Baby. Segundo Sammy, uma maneira de fazer justiça ao fato de Montrose nunca ter creditado a ele a música original. Bom, Montrose ganhou citação como co-autor aqui, nesta que é de longe a melhor coisa em todo o disco.



Daí para frente, temos a esquecível Affirmation e o círculo fechando com Hey Hey, nos levando de volta à ideia da abertura, comprovando que definitivamente Space Between não vai mesmo a lugar algum. Ah, e como o tema central das letras gira em torno de dinheiro, faça-se um favor e não desperdice o seu com essa pouquíssimo inspirada bolachinha (NOTA: 6,54)

Visite o the Metal Club
Gravadora: BMG Records (importado)
Prós: ótima produção, algumas ideias perdidas
Contras: o disco nunca deslancha
Classifique como: Hard Rock, Classic Rock
Para Fãs de: Montrose, Sammy Hagar, Chickenfoot


domingo, 15 de setembro de 2019

Curtas: Memoriam, Fates Warning, Enforcer & Conception







Memoriam – Requiem For Mankind (CD-2019)

Terceira Batalha Vencida

Três discos em três anos é um feito e tanto para os tempos modernos, ainda mais quando se trata de uma banda formada por veteranos da cena Death. Mas é exatamente esse o prolífico caminho trilhado pelo supergrupo britânico, uma espécie de coalisão entre os baluartes Benediction e Bolt Thrower. Se o monumental disco de estreia nos presenteou com uma sonoridade que refletia a mistura das bandas de origem com uma improvável e bem-vinda dose de Doom, o segundo rebento, The Silent Vigil, apostou em uma atmosfera menos inspirada, mais crua e direta. 



O novo disco, com lançamento nacional pela Shinigami Records, parece apostar na fusão desses dois mundos distintos. A produção de Russ Russell (Amorphis, At The Gates, Claustrofobia) definitivamente corrige o problema do antecessor e Shell Shock abre o trabalho com a energia esperada, seguida da indefectível Undefeated. A aura Death Old School remete em muito o que se esperaria do Bolt Thrower nos dias de hoje, com os latidos de Karl Willets soando tão virulentos quanto no passado. Há temas de guitarra (por Scott Fairfax) que fazem menção ao Doom, mas de maneira menos opressora que no disco de estreia. Ainda que careça de algum destaque individual passível de figurar como novo clássico da cena, difícil imaginar que algum fã do estilo possa se decepcionar ao terminar a audição dos 48 minutos de Requiem For Mankind (NOTA: 8,42)   


Gravadora: Shinigami Records (nacional)
Prós: pesado e denso
Contras: fica aquém do disco de estreia
Classifique como: Death Metal
Para Fãs de: Bolt Thrower

Guerra, você não sabe o que é guerra!
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Fates Warning – Live Over Europe (2CDs-2018)

Uma Aula Dos Veteranos do Prog Metal

Exatos 20 anos após Still Life, os veteranos pioneiros do Prog Metal lançam seu segundo trabalho ao vivo de carreira (Awaken the Guardian Live está mais para um álbum comemorativo, juntando inclusive ex-membros de outra era em detrimento da banda atual). A decisão de fazer desse belo Digibook duplo um apanhado de várias apresentações da digressão Europeia para o magistral Theories Of Flight me deixou com a pulga atrás da orelha. Soaria o novo trabalho como um corte e cola desorientado, sem aquela sensação de continuidade que é uma das mágicas de um bom show?


Bom, bastaram três faixas do primeiro disco para aplacar minha desconfiança: com o bruxo Jens Bogren cuidando da mixagem, não teve erro. Além da homogeneidade ao longo dos 136 minutos (e 23 faixas) de Live Over Europe, o que temos aqui é uma amostra fidedigna da força do quinteto estadunidense ao vivo. Ao contrário da murchidão que afeta 99% das bandas de Prog Metal ao vivo, o Fates Warning soa aqui com uma energia e vitalidade invejáveis, muito mais reminiscentes do metal do que do progressivo, bem que se diga. Misturando magistralmente faixas do novo trabalho com clássicos e Lados B, Live Over Europe se mostra um dos melhores registros ao vivo de um subgênero que costuma soar bem melhor em estúdio (NOTA: 10)

Gravadora: Inside Out (importado)
Prós: um ao vivo bem...vivo!
Contras: duas horas e blau de prog metal podem ser demais
Classifique como: Prog Metal
Para Fãs de: Queensrÿche, Conception  

Conta mais sobre essa história de que banda de Prog Metal ao vivo não tem energia...
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Enforcer – Zenith (CD-2019)

Farofa Speed Com Laquê

Um dos destaques absolutos da NWOTHM, o quarteto sueco Enforcer chega a seu quinto trabalho de estúdio enfrentando pela primeira vez uma saraivada de críticas. Pudera, logo de cara somos confrontados com Die For The Devil, faixa de trabalho que deve muito mais a bandas como WASP ou Motley Crüe do que ao Speed Metal Old School que se esperaria dos caras. A polêmica aumenta ainda mais quando se chega a Regrets, um xarope de groselha com chorume tão ruim que faria o Michael Sweet se morder de inveja por não ter composto isso antes para seu hediondo Stryper. Mas, convenhamos, de resto até que o disco não é assim tão distante do que o Enforcer fez no passado quanto andam alardeando por aí.



Zenith Of The Black Sun faz justiça ao posto de faixa título, Searching For You reascende a veia Speed, só que com um refrão mais radiofônico. Mesma coisa para End Of A Universe. Sail On tem toques de progressivo nos riffs e Forever We Worship The Dark faz bem a fusão entre o lado épico e a farofagem. A produção de Olaf e Jonas Wikstrand pode não ser o que há de mais caprichado, mas serve bem ao cenário “oitentista” escolhido. Olaf continua com seu vocal miado, mas cada vez mais contido nos exageros agudos, o que ajuda na palatabilidade do material. Enfim, Zenith pode até não ser a paulada esperada pelos fãs, mas há de se admitir que sua atmosfera mais polida e os flertes cada vez mais presentes com o Hard até que rendem uma diversão honesta. (NOTA: 7,31)

Gravadora: Shinigami Records (nacional)
Prós: divertido
Contras: a mistura tendendo demais para o Hard pode afastar muita gente
Classifique como: Hard Rock, Heavy Metal
Para Fãs de: WASP, Motley Crüe, Skullfist

Motlenforcer
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Conception – My Dark Symphony (EP-2018)

Re:torno Por:re:ta

Uma das bandas mais enigmáticas de seu tempo, a norueguesa Conception sumiu sem grande alarde, deixando para trás um quarteto de discos únicos. Seu último suspiro se deu com o brilhante e revolucionário Flow, que no distante ano de 1997 já antecipara boa parte dos maneirismos multidisciplinares que o Heavy Metal assumiria mais para frente. Roy Khan ainda carregaria seus vocais melancólicos para salvar o Kamelot da mesmice por um bom tempo antes de ser acometido por um misterioso chamado religioso. Tore Ostby faria um disco seminal (Burn The Sun) com o Ark. Mas logo os dois sumiriam de cena, parecendo fadados ao mesmo ostracismo que enterrara o Conception nas areias do tempo. Qual não foi minha surpresa (e felicidade) ao ouvir a notícia do retorno do quarteto, em uma bem-sucedida campanha de Crowdfunding para confecção de um single e um EP de retorno? Checando a bolachinha, fico ainda mais abismado pelo quanto que Flow soa atual: My Dark Symphony parece soerguer exatamente do horizonte deixado por seu primo distante.



Re:Conception prepara um terreno melancólico e futurista para a bela Grand Again. A sutileza de cada peça no arranjo de faixas aparentemente simples dando a pista do por que o Conception era tão único. Tore continua caprichando em timbres e num minimalismo que me lembra a maturidade de Jim Matheos do Fates Warning. Roy reina supremo, com seu vocal tão imitado ultimamente. Como todos os trabalhos que vieram antes, My Dark Symphony cresce a cada audição, mas soa como um retorno deliciosamente triunfal àqueles que gostam de um Prog Metal inteligente, longe do método “melancia no pescoço” de um Dream Theater. Só fica aqui a reclamação pela não inclusão da bela Feather Moves no EP. Ainda assim, um retorno belo e sombrio! (NOTA: 8,63)

Gravadora: Conception Sound Factory (importado)
Prós: soturno, belo e atemporal
Contras: por que não um disco completo?
Classifique como: Metal Progressivo
Para Fãs de: Fates Warning, Devin Townsend Project

Pastor Khan e seu rebanho






quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Soundgarden – Live From The Artists Den (Blu-Ray – 2019)



The Knights of the Soundtable Last Ride
Por Trevas

O Grunge nunca existiu. Sorry. Usaram um termo para colocar no mesmo balaio bandas tão díspares quanto um Nirvana, com sua agressividade Punk suja e até mesmo algo tosca, e um Soundgarden, com sua releitura algo soturna e bem pesada para o Rock dos anos 1970. E essa afirmativa não se trata em absoluto de um mero revanchismo de “Metaleiro”, não. Os próprios fãs de Heavy Metal mais instruídos já viram esse filme antes, mais especificamente com a famosa New Wave Of British Heavy Metal, uma cena que somente existiu nos jornais e revistas, mas nunca na vida real. Dito isso, temos em mãos o esperado registro ao vivo de uma das apresentações mais icônicas da banda, lançado de maneira póstuma (Cornell tirou sua própria vida em maio de 2017) em uma pletora de formatos, cada um mais apetitoso que o outro aos olhos dos colecionadores. Após flertar por um tempo com o Box Deluxe (somente para ver a realidade de um dólar acima de R$4,00 me esmagar de volta à minha insignificância), acabei por comprar a edição em Blu-Ray. O que não é nada mal, temos aqui nada mais nada menos que 29 canções, espalhadas em quase duas horas e meia de show. Ah, e somadas à meia hora de extras. Ao menos em termo de quantidade, não se pode reclamar nem um pouco. Resta saber se a qualidade está à altura da expectativa criada junto aos fãs.

O belo (e caro) Box Set
O show, realizado em fevereiro de 2013, foi transmitido ao vivo pela TV, mais um bem-sucedido capítulo da série Live From The Artists Den. A série promove shows especiais de artistas consagrados para um público restrito. A casa escolhida, o Wiltern, proporciona um cenário interessante. E está claramente forrada de fãs que realmente amam a banda, que por isso mesmo aposta num longo repertório, alternando clássicos, faixas do então recente King Animal (que soam bem melhores no palco, diga-se) e lados B tão obscuros quanto bacanas.



A performance da banda é vigorosa e repleta de dinâmica, com aquele ar de banda setentista que sempre separou o Soundgarden de seus contemporâneos. Chris Cornell é um daqueles talentos que serão lembrados décadas após sua partida, mas o restante do quarteto demonstra uma concisão e perícia respeitáveis. A Guitarra “gorda” de Thayl (em boa parte do set dividida com o próprio Cornell) destilando riffs encorpados, com o auxílio de uma cozinha para lá de forte e certeira (Cameron e Shepherd). Algumas versões são melhores que suas contrapartes de estúdio, outras nem tanto, mas todas tem vida e cara próprias, algo indispensável para um bom registro ao vivo.



A imagem na edição em Blu-Ray é perfeita. A edição, comportada, mas eficiente. E as tomadas são mais artísticas do que se esperaria de uma (geralmente burocrática) transmissão ao vivo. A iluminação é bela e o telão de fundo, funcional. Sobre o som, temos em mãos uma mixagem cristalina, mas que não perde a mão nem no punch nem naquele senso de urgência que se espera de um show de rock que se preze. Sobre os extras, temos entrevistas com o quarteto, um material que talvez não seja reprisado por muitos, mas fecha com esmero um pacote destruidor de uma das bandas mais idiossincráticas da história do Rock. Obrigatório. (NOTA: 10)



Gravadora: Universal Music (importado)
Prós: excelente show, som e imagem perfeitos
Contras: eu não tenho dinheiro para o Box Set...#xatiado
Classifique como: Heavy Rock
Para Fãs de: Alice In Chains, Black Sabbath


segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Whitesnake – Flesh & Blood (CD-2019)




Do Baú da Serpente Cansada
Por Trevas

O lançamento do 13º disco de estúdio do combo multinacional capitaneado pelo lendário David Coverdale veio cercado de drama, qual uma novela mexicana. Coverdale alardeia aos quatro cantos que esse seria o trabalho definitivo da banda. Coverdale fica muito doente. O lançamento é adiado por meses e meses. Motivo? Não se sabe se foi exatamente a doença do líder do bando ou alguma treta com a gravadora. Enfim, Flesh & Blood é lançado. A capa, uma quase cópia da utilizada num Greatest Hits da banda na década de 1990. O que, confesso, me passou pouca confiança no que viria dali.

Coverdale e seus Jedis
Produzida por Coverdale, Hoekstra e Beach, com assessoria do engenheiro de som Michael McIntyre, a bolachinha começa murcha, com Good To See You Again remetendo a um pouco inspirado Lado B de Slide It In. Gonna Be Alright melhora um pouco a impressão, mas logo somos arremessados na farofesca Shut Up & Kiss Me. Um cacareco reminiscente da era Glam Metal tão genérico que chega a passar vergonha até diante dos piores momentos do Slip Of The Tongue, até então o pior disco da história da banda. Assustador que tenha sido escolhida como faixa de trabalho.



Hey You é bem melhor, ainda que os vocais dos versos me lembrem demais alguma outra música (não descobri qual, quem souber me avise). Bacana também é a Thinlizzyana Always & Forever, que me pregou uma peça num Blind Ear que fiz para a Roadie Crew (ainda a ser publicado). Coverdale sempre foi um mestre na arte das baladas, mas aqui passa longe, muito longe de acertar a mão. Difícil acreditar que When I Think Of You e After All possam melar cuecas e/ou calcinhas em qualquer planeta conhecido dessa galáxia.



Estou soando rabugento? Odiei o disco? Definitivamente não. Os músicos são excelentes, sempre há algo para admirar aqui e ali, e Coverdale ainda soa bem em estúdio. Mas suas novas parcerias nas composições passam longe de fazer justiça ao passado da banda. Beach e Hoekstra são grandes guitarristas, mas parecem atirar para todo o lado nas músicas escritas, na maioria das vezes sem acertar os alvos pretendidos. E nenhum deles consegue assumir o protagonismo como Guitar Hero no posto recém abandonado. Existem bons solos aqui, claro, mas nada que mereça um carimbo de qualidade de gente do quilate de Sykes, Moody, Galley, Vai e Aldrich.



O disco segue com músicas medianas como Trouble Is Your Middle Name, Get Up e a faixa título. Tropeça ainda mais na melecosidade da já citada After All. Mas tem também bons momentos, como em Well I Never (outra a invocar a transição dos anos 1970 para os 1980, possivelmente a melhor do bando), a soturna Heart Of Stone (enfim uma boa balada) e o fechamento inspirado com Sands Of Time. Ainda assim, nenhuma delas parece fadada a se tornar obrigatória nos sets dos shows vindouros. Enfim, Flesh & Blood é um daqueles trabalhos talhados para serem ouvidos como música de fundo, em segundo plano. Uma confortável colcha de retalhos que soa como uma compilação regravada de Lados B de eras diferentes da gloriosa carreira de Coverdale e sua trupe. (NOTA: 7,07)

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Gravadora: Hellion Records (nacional)
Prós: ótima produção, algumas boas faixas
Contras: parece um amontoado de Lados B de diferentes fases da banda
Classifique como: Hard Rock, Classic Rock
Para Fãs de: Foreigner, Eclipse


domingo, 1 de setembro de 2019

Amon Amarth – Berserker (CD-2019)




Mais Uma Pilhagem Bem-Sucedida
Por Trevas

O 11º trabalho de estúdio dos Vikings suecos do Amon Amarth chega num momento em que o quinteto navega seu Drakkar por águas curiosamente plácidas. Desde o lançamento de Twilight Of The Thunder God, em 2008, o que se viu foi o crescimento da banda no cenário, de maneira rápida e improvável. Ao ponto de assinarem com uma Major e se tornarem figuras constantes em qualquer festival do estilo que se preze, geralmente em posição de destaque. Definitivamente nada mal para um bando de grandalhões, hirsutos e feiosos, que usam de um Death Metal Melódico como canal para suas letras versando sobre mitologia nórdica e batalhas Vikings. Após o sucesso comercial (e de crítica) de Jomsviking, um de seus melhores trabalhos, o quinteto resolveu dar uma chacoalhada. Deixando Andy Sneap, o mago-produtor-fetiche de 10 entre 10 bandas de Metal, de lado, buscaram o premiado Jay Ruston (Stone Sour, Killswitch Engage, Anthrax e Meat Loaf) para capitanear as gravações do que viria a ser Berserker. Apesar de usar a lenda dos violentos guerreiros quase sobrenaturais aqui e ali, o disco não é conceitual, mas também não foge à temática padrão da banda. Aliás, o gigante vocalista Johan Hegg refuta que um dia a banda venha a abandonar as letras habituais. Estive pela Europa pouco após o lançamento de Berserker, estampado com destaque em grandes lojas (como a FNAC) e caríssimo mesmo para um lançamento. O disco vendeu que nem água. O show no GRASPOP foi fenomenal, uma superprodução amparada por um set list poderoso, com receptividade surreal por parte da plateia. Berserker figurou no Top 100 em nada mais nada menos que 20 países, repetindo o feito de atingir o topo das paradas alemães, como fizera Jomsviking. As resenhas ao redor do globo, majoritariamente positivas, indicam que a banda acertou seu machado no alvo novamente. Sucesso comercial à parte, lá vai a Cripta averiguar a fúria do alucinado guerreiro nórdico...

Prestobarba? Quer morrer moleque?

O valor alto cobrado pela bolachinha tem lá sua razão de ser, o belo e fino Digipack contém um encarte caprichado, repleto de liner notes explicando a inspiração histórica das letras. Aos primeiros instantes da abertura, com a poderosa Fafner’s Gold, logo se percebe também que Jay foi uma escolha acertada para a produção: um som cristalino e ao mesmo tempo poderoso. A bateria do estreante (em estúdio) Jocke Wallgren bem na cara, e Johan Hegg soando cavernoso como nunca (e esqueça as críticas de malas troozões reclamando de “vocais limpos” no disco, na verdade são alguns pequenos trechos declamados que nunca soam gratuitos). Fafner’s Gold é uma bela e promissora abertura.



Uma das faixas de trabalho, Crack The Sky é um hino Amonamarthiano virulento. Uma belezura midtempo feita para fazer os fãs pularem e cantarem junto à banda seu repetitivo, mas viciante, refrão.



É fácil encontrar por aí Bangers desiludidos com o Amon Amarth. Grande parte das reclamações são originárias da doença babacoide que atinge a ala Troozona dos fãs de Metal: toda vez que uma banda de coração alcança um sucesso grande demais e deixa de ser seu “tesourinho escondido”, a mesma “deixa de prestar”. Mas há sim aqui um fundo de verdade em algumas reclamações. Se outrora a banda se valia de um Death Metal Melódico de verdade, com traços de Metal Tradicional, hoje seu instrumental tem MUITO mais de Metal Tradicional, com os resquícios de Death Metal praticamente residindo no vocal de urso sifilítico de Johan. Mas convenhamos, você precisa ser um chato de galocha para conseguir não curtir uma belezura como a pesada e grudenta Mjolner, Hammer of Thor, um dos destaques do novo disco.



A tribal Shield Wall fez a felicidade da plateia ao vivo, moendo pescoços a torto e a direito, e sua versão em estúdio também bota em sério risco o mobiliário da sala. Valkyria chega e, ainda que boa o suficiente para não comprometer, empolga menos do que o material que a antecedeu.



Raven’s Flight foi a primeira faixa de Berserker a ser apresentada ao público. Pudera, talvez seja a melhor do disco, pesadíssima e forte candidata a clássico absoluto do Amon Amarth. Uma pena que daí para diante o trabalho perca um bocado de sua impressionante força.



E não é exatamente por que exista qualquer música ruim daqui em diante, todas são suficientemente boas para merecer seu espaço no bestiário dos suecos (vide a bela e diferente When Once Again We Can Set Our Sails). Talvez o grande erro da banda (e produtor) tenha sido não saber onde parar. Batendo quase uma hora de música, Berserker é de longe o trabalho mais longo da carreira dos suecos. E com uma produção poderosa, mas que forma uma parede de escudos sonora que pode cansar os ouvidos depois de uns 40 minutos, acaba minando o potencial do que poderia ser o melhor disco de toda a carreira do Amon Amarth. Ainda assim, estamos diante de um trabalho de respeito, que só deve consolidar ainda mais a reputação de um dos novos gigantes da cena. (NOTA: 8,61) 

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Gravadora: Metal Blade/Sony Music (Importado)
Prós: ótima produção, boas músicas
Contras: longo demais, perde força em sua reta final
Classifique como: Melodic Death Metal, Heavy Metal
Para Fãs de: Amorphis, At The Gates, Iron Maiden