Fogo
Nada Fátuo
Por Trevas
Vamos lá. O headbanger mais sisudo e
tradicionalista pode odiar a banda e vomitar o quanto quiser, mas terá que
afogar as mágoas abraçadinho com seu LP
do Eternal Champion diante de um fato inconteste: O Rammstein se tornou uma das maiores bandas de Heavy Metal da história.
Na ativa com seu Metal Industrial único e polêmico desde 1994,
o quinteto teutônico é bem econômico em termos de lançamentos de estúdio, e
esse novo trabalho (autointitulado) apareceu nas lojas para quebrar um hiato de
nada menos que 10 anos sem um disco de inéditas. E esse tempo todo sem um disco
de estúdio não fez que a marca perdesse força, pelo contrário: o disco figurou
em número 1 em vendagem em nada menos que 9 países na Europa. Abocanhou dois
discos de platina na Alemanha natal em pouco menos de 2 meses (com mais de
400.000 cópias vendidas) e é o primeiro trabalho do combo teutônico a alcançar
o TOP 10 da Billboard, um feito e
tanto se considerarmos que os Estadunidenses costumam ser imensamente
refratários à arte em outra língua que não o inglês.
E aí, o que vamos queimar hoje? |
A força do Rammstein em muito se deve à reputação
da banda ao vivo. Um espetáculo tão grandioso que empalidece até monstros
sagrados do entretenimento, como Kiss
e Iron Maiden. Então é tiro e queda, a vida dos caras se baseia num ciclo
de lançar um CD e passar três ou
quatro anos levando esse espetáculo a arenas ao redor do globo. Mas se engana
quem pensa que esse Modus Operandi do Rammstein é uma unanimidade entre seus membros. A eterna acusação
de que o grupo não passa de uma atração circense com roupagem polêmica e som
pesado, mas previsível, costuma incomodar bastante. Tanto que, na turnê
passada, no meio do show os caras migravam de seu palco High Tech para um
pequeno palanque em meio à multidão, para execução de alguns números sem as
pirotecnias e afins. E findada a turnê, Richard
Z Kruspe, guitarrista e único dos caras que costuma falar (e muito) com a
imprensa, afirmou não ver motivos para lançar um novo trabalho. Após anos em
que se especulou se a banda iria um dia retornar, o tal rebento foi anunciado. Kruspe afirmou que dessa vez a havia
uma meta clara para o disco: mostrar um Rammstein
despido da grandiosidade, focando nas composições. A capa simples, com o
fósforo emblemático, vende a ideia. Segundo o guitarrista, será como ouvir um Rammstein 3D, em termos de feeling.
Tá bom.
Vamos deixar de
lenga-lenga ouvir o que os esquisitões tem a dizer.
Uma das trocentas edições de Rammstein, o disco |
Deutschland, faixa que abre o
disco, foi também a primeira a ser lançada. Seu portentoso clipe, uma
superprodução repleta de referências à história da Alemanha, é dos melhores que
já vi. A música é quase um monumento ao Heavy
Metal Industrial vigoroso e monolítico dos primeiros trabalhos da banda.
Ao contrário do conteúdo de sua contraparte cinemática, sua produção é simples
e sem tantas camadas. Como prometera Kruspe,
a banda se despiu. Mas isso não significa um descuido técnico. Podemos ter
menos camadas e detalhes que o habitual para o discos do Rammstein, mas o som é absurdamente pesado e cristalino.
E se a faixa de abertura pode dar a impressão de que o quinteto fincaria
suas pesadas botas no Metal, o
segundo single, Radio chega para nos
confundir. Absurdamente grudento, carrega em seu DNA de origem o Synthpop
dos anos 1980/1990 (ainda que o peso esteja ali).
E essas referências ao Synthpop
transparecem de maneira ainda mais clara em Ausländer (outro single, e uma letra que podia bem estar numa
música Glam Metal dos anos 1980, se perdesse a inteligência, claro). Outras
faixas investem num Rammstein que
remete aos primórdios, mas com adições estilísticas novas: vide o coro sacro em
Zeig Dich e os teclados psicodélicos na irresistível Weit Weg.
A produção, primeira a não contar com o comando de Jacob Hellner, é
surpreendentemente orgânica. A voz de Till
nunca soou tão desesperada. O que salta aos ouvidos na pesada e claustrofóbica Puppe, onde ele grita o refrão de
maneira agoniante, emulando a psicopatia do personagem da letra (uma criança
perturbada que desconta sua frustração por ser deixada sozinha pela tutora/irmã,
que sai para se prostituir, mutilando uma boneca – típico Till Lindemann) e na
beleza acústica de Diamant (com o
impagável romantismo: “você brilha e é bela feito um diamante, mas é só uma
pedra”). Outro ponto central da produção é que quem acompanha o protagonismo de
Till dessa vez é a cozinha. O novo
disco traz o melhor som de baixo e bateria que os caras já conseguiram. E ouvir
um som orgânico de bateria desse num disco de Industrial é para lá de bacana.
Quem assina essas mudanças estéticas na produção é Olsen Involtini,
parceiro de Kruspe no projeto
paralelo Emigrate.
Com a estética do “menos é mais”, o quinteto ganhou foco, caprichando bastante
nas composições. Até aquelas que aparentemente nada trazem de novo ao bestiário
Rammsteiniano soam deliciosas, como Sex, Was Ich Liebe, Tattoo e Hallomann. Outro
acerto foi o de não ceder à tentação de lançar um disco muito longo depois de
tanto tempo sem gravar. Com parcos 46 minutos de duração (e as tradicionais 11
músicas), Rammstein é cirúrgico e
denso. Um dos melhores discos de 2019, que também ameaça se tornar um dos
favoritos dos fãs dentro da discografia da banda. (NOTA: 9,44)
https://www.themetalclub.com/ |
Gravadora: Universal Music (importado)
Prós: Um Rammstein “orgânico” centrado em
grandes composições
Contras: Levou 10 anos para ver a luz do
dia...
Classifique como: Metal Industrial
Para
Fãs de: Killing Joke, Lindemann, Emigrate