Cerveja,
Psicodelia e Rock & Roll
Texto e fotos por Trevas
Véspera do meu dia de
decrepitude, pego o rumo ao Rio de Janeiro, para comemorar em grande estilo ao
som dos retro-rockers suecos do Graveyard. Confesso que jamais
acreditei ter a oportunidade de assistir os caras em território Tupiniquim,
então foi uma imensa surpresa quando a cervejaria Hocus Pocus anunciou a banda no cast da edição 2019 de seu Hocus Pocus Festival. A cervejaria,
além de alguns dos melhores rótulos do país, sempre buscou inspiração na
psicodelia e no rock esfumaçado, tendo até mesmo estampado o Thijs van Leer (do Focus) em sua famosa Magic
Trap. E os festivais costumam contar com grandes nomes do estilo, seja
daqui ou lá de fora (ano passado trouxeram os alemães do Kadavar). O evento, que presenciei pela primeira vez, também traz
como atração obrigatória o lançamento de novos rótulos, uma companhia perfeita
para o som de qualidade. Vamos avaliar aqui primeiramente a estrutura do
festival, depois partindo para os quitutes sonoros.
A
Estrutura
O espaço escolhido
para a edição 2019 foi o BCO Space
Makers. Um simpático pátio aberto situado a menos de uma quadra da Rodoviária Novo Rio, de frente para o Terminal Rodoviário Padre Henrique Otte.
Ou seja, o acesso é para lá de tranquilo. Já do lado de dentro, confesso que
fui tomado de um misto de sensações. Não havia almoçado, minhas lombrigas
estavam saltitando ferozmente, e as opções de comida eram parcas. Três barracas
apostando em sanduíches, fritas e tapioca. Tudo muito gostoso, verdade, mas com
preços incompatíveis com as pequenas porções servidas.
Belos exemplares, precinhos nem tanto |
Ah, e as cervejas? Acho que a Hocus
Pocus é absolutamente incapaz de produzir uma cerveja boazinha. É tudo bom
para caralho. Superlativo mesmo. Mas o que não isenta o festival de falhas
também nesse quesito. Primeiramente, o preço: o chope do rótulo mais barato
custava R$ 14 (por 300ml, não havia opção de 500ml), o que está bem justo para
o alto padrão de qualidade. Mas os preços chegavam até R$ 24 por 100ml de um
dos rótulos. Muita coisa para quem vai passar algumas (muitas) horas por lá e
pretende explorar os vários (e inspirados) sabores. E, para piorar a situação,
fomos prontamente informados de que não seria permitido conceder as famosas
provinhas. Confesso que achei uma decisão no mínimo pouco simpática, além de
incomum para eventos cervejísticos. Outro problema (menor) foi a concentração
do pagamento e da retirada das biritas no mesmo local, o que ocasionou um certo
engarrafamento e desencontro de gente que nunca sabia se a fila era para pagar
ou para pegar sua cervejinha. Em contrapartida, os banheiros químicos estavam
bem situados e foram suficientes para o tamanho do público. E até onde vi, se
mantiveram em ótimas condições de uso até o fim.
Acho que as cervejinhas já tinham feito estrago |
No palco, majestoso, já havia uma passagem de som em curso, e cara,
nesse aspecto tudo estava perfeito. Som alto e cristalino, logo o primeiro show
começou. E com as lombrigas satisfeitas, e após goles de belezuras do naipe de Prometheus Rising, Elephants’ Graveyard e O
Louco, me entreguei de vez à falência hepática e financeira e a diversão
enfim começou.
Psilocibina
O nome já indica uma
viagem induzida por psicotrópicos. E que viagem. O Power Trio aposta em um
som instrumental inspiradíssimo e que se vale de um virtuosismo que nunca soa
gratuito, muito menos enfadonho. Um show caprichado calcado no disco de
estreia, lançado ano passado. (NOTA:
8,00)
Psilocibina: ótimo show, só não tente falar o nome da banda bêbado |
Auramental
O quarteto, que também
aposta em uma proposta musical instrumental (e espacial), se utilizou do
Festival para o lançamento de seu trabalho de estreia. E a resposta não poderia
ter sido melhor. O público assistia atentamente ao som, menos calcado no
virtuosismo que a banda anterior, mas ainda mais lisérgico e climático. Mais um
grande show que ajudou a tornar a atmosfera do evento ainda mais bacana (NOTA: 8,00)
Auramental...tipo, literalmente |
Graveyard
Debaixo de lufadas de
gelo seco, o quarteto sueco começa seu show já com um de seus clássicos, Hisingen Blues, mostrando que não estão para brincadeira. A reação do
público no refrão mostra de cara que o jogo estava ganho, mas Goliath, outro Hit, vem logo em seguida
e aprendemos então que os caras não iriam afrouxar a marcação nem que o placar
fosse uma sonora goleada.
Não, o show não foi em Petrópolis |
Alternando clássicos de seus aclamados quatro trabalhos iniciais com
músicas de seu disco de retorno (a banda chegou a anunciar o fim das atividades
em 2016) num ritmo praticamente ininterrupto, que não deixava os fãs sequer
respirar, o Graveyard fez a mágica
de transportar todo o festival para algum ano entre 1968 e 1974. Joakim Nilsson reinou absoluto, seja com sua voz ríspida ou com sua
guitarra destilando riffs mais vintages que sua bisavó, mal abrindo os olhos e
mantendo a comunicação com o público ao mínimo. O restante da banda não fica
atrás, todos tocando com garra e precisão impressionantes. Em alguns shows a
falta de comunicação pode causar um distanciamento, mas definitivamente não foi
o caso aqui, e quando a banda rapidamente se retirou após a primeira parte do
set, a plateia gritou a plenos pulmões pelo retorno.
Joakim, não o da padaria |
O retorno contou com Low,
emendada com a porrada Zeppeliana
clássica Ain’t Fit To Live Here (que
abre o colossal Hisingen Blues) e preparando o terreno para uma
apoteótica rendição da não menos apoteótica The Siren, talvez uma das melhores canções já criadas pela cena Retro-Rocker. Sorrisos e agradecimentos
econômicos, mas honestos, são vislumbrados, o Graveyard se retira de campo. E a sonora goleada prevista realmente
se fez. Excelente (NOTA: 10)
Os tarados do Set List |
Fim
Do Evento:
Tão logo os shows
terminaram, a produção fez um telão descer na frente do palco. A ideia?
Projetar o último capítulo de Game Of
Thrones. Uma bela sacada da produção. Foi bacana ver aquela penca de gente
ébria e pacata sentando no chão, todos juntos como grandes amigos (membros de
todas as bandas inclusive), vibrando com o destino de seus personagens
favoritos. Um toque final de humanidade e camaradagem para coroar um evento que
se fez bastante divertido, a despeito dos defeitos. Que venha a edição 2020!
Droga! Nao fui!
ResponderExcluirPerdeu! Foi muito bom!
ExcluirAbraço
T