Trivium - The Sin And The Sentence (Cd-2017) |
Com
Sangue Nos Olhos
Por Trevas
Um dos mais promissores
nomes de sua geração, o Trivium tem
uma trajetória que lembra a de muitos jogadores de futebol por aí. O quarteto
estourou cedo para um sucesso que 99,99% das bandas do globo jamais conhecerão,
mas logo sucumbiu à absurda cobrança de que viesse a se tornar um nome capaz de
adentrar o panteão imortal onde habitam gigantes como Iron Maiden e Metallica. Ou seja, apesar das
vendagens sempre boas, da presença constante em festivais de ponta com certo
destaque e do reconhecimento mundial, o Trivium
parece sempre ser visto como aquele jogador de quem se espera um título de melhor
do mundo.
Os imberbes moleques do Trivium, num passado nem tão distante assim |
Bom lembrar que, a despeito da longa estrada e dos oito álbuns lançados,
os membros do Trivium acabaram de
adentrar a casa dos 30, e ainda tem muito a errar e acertar. E para o novo
disco, o quarteto resolver corrigir o que parece ser considerado, veladamente,
um erro de estratégia. O nome desse erro? Silence
In The Snow (ver resenha na Cripta),
o polêmico, mesmo que comercialmente bem-sucedido, disco anterior. Ainda que
nenhum de seus membros diga a palavra “arrependimento”, fica claro ao lermos as
entrevistas da banda que Silence não
era exatamente o passo certo na hora certa. Gravado no momento em que Matt Heafy tentava redescobrir sua voz após um segundo e grave colapso
nas cordas vocais, Silence foi
inteiramente feito para se adequar a uma forma limpa de cantar. Os companheiros
de longa data Corey Beaulieu (guitarra) e Paolo Gregoletto (baixo) se viram numa encruzilhada para compor material
desse tipo. E os dois admitiram à Metal
Hammer que consideram ter apressado
em muito a finalização das composições daquele disco. E Matt, esse parecia desconectado da banda. Um acaso do destino
recolocaria Matt de volta ao jogo. Com o relançamento de Ember To Inferno em uma edição especial,
choveram matérias na imprensa onde músicos até mais velhos que os rapazes do Trivium mostravam o quanto o surgimento
da banda havia mexido com o cenário de seu tempo. Heafy se viu surpreso e se sentiu pela primeira vez em muito tempo
desafiado a vencer suas limitações físicas e enfim entregar um disco que mostre
efetivamente todo o poder de fogo que se espera do quarteto. O produtor escolhido
para a façanha, um declarado fã, Josh
Wilbur (Gojira, Korn, Lamb Of God). Vamos então a The Sin And The Sentence.
Matt Heafy - hora de reencontrar a voz... e o tesão pela banda? |
O
Disco
The Sin And The Sentence, a música, é de uma
ferocidade que já põe por terra qualquer pedaço de cinismo que pudesse existir
nesse escriba em relação à recuperação da banda. A letra, por Paolo, é bem atual, e faz um paralelo
entre a caça às bruxas de outrora com nossa sanha por julgamento de erros
alheios nas mídias sociais. O novo membro, o baterista Alex Bent já diz aqui ao
que veio, descendo a marreta em trechos claramente influenciados por bandas de Black Metal (estilo de quem Matt
é sabidamente fã). Um ótimo início com um futuro clássico.
Beyond Oblivion (ver vídeo) começa igualmente violenta, com Bent deixando seu cartão de visitas e Matt urrando a plenos pulmões antes da
música descer o tempo e assumir um estilo que parece cruzar ferocidade prometida
ao senso melódico do trabalho anterior. Outro ótimo momento.
Other Worlds é bem mais calma e melodiosa. Uma canção boa, mas talvez um
pouco perto do padrão de canções mais tranquilas de boa parte das bandas de Metalcore. Melhor se sai a igualmente
grudenta The Heart Of Your Hate (ver
vídeo), presença certa no set da
turnê vindoura.
Como que para quebrar a carga melódica das duas faixas anteriores, Betrayer já começa a todo vapor, com as
guitarras e bateria fazendo novamente referências pontuais ao Black Metal. As guitarras, aliás, são um show à parte no disco, temos
dobras em profusão, além de solos inspiradíssimos de Heafy e Corey. A produção
deixa a sonoridade bem menos mecanizada do que o habitual para bandas atuais, e
o disco não deve incomodar os ouvidos mais “troos”, não.
Em seguida temos as duas contribuições de Matt Heafy para o disco.
Originalmente composta sob encomenda para outra banda de metal moderno (não,
ele não cita nomes), The Wretchedness
Inside é uma pedrada grooveada e
urrada, que cede espaço para o baixo de Paolo
brilhar no mix. Já Endless Night, que surgiu também de uma encomenda de música feita por
terceiros, é bem mais comercial e traz uma letra que versa sobre o estresse pós-traumático
que aflige muitos veteranos de guerra.
Trivium, agora balzakium, enxergando vermelho |
Sever the Hand traz a agressividade
de volta à bolachinha, com alguns momentos puramente Thrash e muitas guitarras inspiradas. E como que para provar que o
equilíbrio entre melodia e peso tentado no disco anterior pode sim jogar a
favor da banda, somos apresentados à simples e excelente Beauty In the Sorrow.
The Revanchist, o épico do disco, desfila com maestria referências a
vários subgêneros dentro do metal, inclusive aí um refrão delicioso que bem
poderia ter sido escrito para o Paradise
Lost. Para terminar o disco de
maneira emblemática, foi escolhida a poderosa Thrown Into the Fire (ver vídeo), repleta de vocais e solos virulentos que fazem um
contraponto à polidez excessiva de Silence
In the Snow.
Veredito
da Cripta
The
Sin And The Sentence é a resposta perfeita àqueles que torceram o
nariz para os dois trabalhos anteriores. Violento em alguns momentos,
equilibrado em outros tantos, e extremamente inspirado, o novo disco não é só
um dos melhores do ano, mas também um dos grandes momentos da carreira dos
jovens veteranos da Flórida. Que venham ao Brasil!
NOTA: 9,52
Visite o The Metal Club |
Gravadora:
Roadrunner Records (importado).
Pontos
positivos: composições inspiradas, peso e melodia em equilíbrio
Pontos
negativos: uma hora de música pode ser muito para se consumir de uma vez só
Para
fãs de: Killswitch Engage, Bullet For My valentine
Classifique como: Metalcore, Modern Metal, Heavy
Metal
Nenhum comentário:
Postar um comentário