terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Trivium - The Sin And The Sentence (CD-2017)

Trivium - The Sin And The Sentence (Cd-2017)

Com Sangue Nos Olhos
Por Trevas


Um dos mais promissores nomes de sua geração, o Trivium tem uma trajetória que lembra a de muitos jogadores de futebol por aí. O quarteto estourou cedo para um sucesso que 99,99% das bandas do globo jamais conhecerão, mas logo sucumbiu à absurda cobrança de que viesse a se tornar um nome capaz de adentrar o panteão imortal onde habitam gigantes como Iron Maiden e Metallica. Ou seja, apesar das vendagens sempre boas, da presença constante em festivais de ponta com certo destaque e do reconhecimento mundial, o Trivium parece sempre ser visto como aquele jogador de quem se espera um título de melhor do mundo.


Os imberbes moleques do Trivium, num passado nem tão distante assim

Bom lembrar que, a despeito da longa estrada e dos oito álbuns lançados, os membros do Trivium acabaram de adentrar a casa dos 30, e ainda tem muito a errar e acertar. E para o novo disco, o quarteto resolver corrigir o que parece ser considerado, veladamente, um erro de estratégia. O nome desse erro? Silence In The Snow (ver resenha na Cripta), o polêmico, mesmo que comercialmente bem-sucedido, disco anterior. Ainda que nenhum de seus membros diga a palavra “arrependimento”, fica claro ao lermos as entrevistas da banda que Silence não era exatamente o passo certo na hora certa. Gravado no momento em que Matt Heafy tentava redescobrir sua voz após um segundo e grave colapso nas cordas vocais, Silence foi inteiramente feito para se adequar a uma forma limpa de cantar. Os companheiros de longa data Corey Beaulieu (guitarra) e Paolo Gregoletto (baixo) se viram numa encruzilhada para compor material desse tipo. E os dois admitiram à Metal Hammer que consideram ter apressado em muito a finalização das composições daquele disco. E Matt, esse parecia desconectado da banda. Um acaso do destino recolocaria Matt de volta ao jogo. Com o relançamento de Ember To Inferno em uma edição especial, choveram matérias na imprensa onde músicos até mais velhos que os rapazes do Trivium mostravam o quanto o surgimento da banda havia mexido com o cenário de seu tempo. Heafy se viu surpreso e se sentiu pela primeira vez em muito tempo desafiado a vencer suas limitações físicas e enfim entregar um disco que mostre efetivamente todo o poder de fogo que se espera do quarteto. O produtor escolhido para a façanha, um declarado fã, Josh Wilbur (Gojira, Korn, Lamb Of God). Vamos então a The Sin And The Sentence.

Matt Heafy - hora de reencontrar a voz... e o tesão pela banda?

O Disco

The Sin And The Sentence, a música, é de uma ferocidade que já põe por terra qualquer pedaço de cinismo que pudesse existir nesse escriba em relação à recuperação da banda. A letra, por Paolo, é bem atual, e faz um paralelo entre a caça às bruxas de outrora com nossa sanha por julgamento de erros alheios nas mídias sociais. O novo membro, o baterista Alex Bent já diz aqui ao que veio, descendo a marreta em trechos claramente influenciados por bandas de Black Metal (estilo de quem Matt é sabidamente fã). Um ótimo início com um futuro clássico.



Beyond Oblivion (ver vídeo) começa igualmente violenta, com Bent deixando seu cartão de visitas e Matt urrando a plenos pulmões antes da música descer o tempo e assumir um estilo que parece cruzar ferocidade prometida ao senso melódico do trabalho anterior. Outro ótimo momento.



Other Worlds é bem mais calma e melodiosa. Uma canção boa, mas talvez um pouco perto do padrão de canções mais tranquilas de boa parte das bandas de Metalcore. Melhor se sai a igualmente grudenta The Heart Of Your Hate (ver vídeo), presença certa no set da turnê vindoura.


Como que para quebrar a carga melódica das duas faixas anteriores, Betrayer já começa a todo vapor, com as guitarras e bateria fazendo novamente referências pontuais ao Black Metal. As guitarras, aliás, são um show à parte no disco, temos dobras em profusão, além de solos inspiradíssimos de Heafy e Corey. A produção deixa a sonoridade bem menos mecanizada do que o habitual para bandas atuais, e o disco não deve incomodar os ouvidos mais “troos”, não.


Em seguida temos as duas contribuições de Matt Heafy para o disco. Originalmente composta sob encomenda para outra banda de metal moderno (não, ele não cita nomes), The Wretchedness Inside é uma pedrada grooveada e urrada, que cede espaço para o baixo de Paolo brilhar no mix. Já Endless Night, que surgiu também de uma encomenda de música feita por terceiros, é bem mais comercial e traz uma letra que versa sobre o estresse pós-traumático que aflige muitos veteranos de guerra.

Trivium, agora balzakium, enxergando vermelho

Sever the Hand traz a agressividade de volta à bolachinha, com alguns momentos puramente Thrash e muitas guitarras inspiradas. E como que para provar que o equilíbrio entre melodia e peso tentado no disco anterior pode sim jogar a favor da banda, somos apresentados à simples e excelente Beauty In the Sorrow.




The Revanchist, o épico do disco, desfila com maestria referências a vários subgêneros dentro do metal, inclusive aí um refrão delicioso que bem poderia ter sido escrito para o Paradise Lost. Para terminar o disco de maneira emblemática, foi escolhida a poderosa Thrown Into the Fire (ver vídeo), repleta de vocais e solos virulentos que fazem um contraponto à polidez excessiva de Silence In the Snow.




Veredito da Cripta

The Sin And The Sentence é a resposta perfeita àqueles que torceram o nariz para os dois trabalhos anteriores. Violento em alguns momentos, equilibrado em outros tantos, e extremamente inspirado, o novo disco não é só um dos melhores do ano, mas também um dos grandes momentos da carreira dos jovens veteranos da Flórida. Que venham ao Brasil!


NOTA: 9,52


Visite o The Metal Club
Gravadora: Roadrunner Records (importado).
Pontos positivos: composições inspiradas, peso e melodia em equilíbrio
Pontos negativos: uma hora de música pode ser muito para se consumir de uma vez só
Para fãs de: Killswitch Engage, Bullet For My valentine
Classifique como: Metalcore, Modern Metal, Heavy Metal



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