Mastodon - Emperor Of Sand |
Da Maldição à Redenção
Por
Trevas
Muito se fala sobre o
vazio que os dinossauros do Metal deixarão quando suas carreiras finalmente
rumarem ao inevitável ocaso. Vários são os postulantes a um futuro reinado na
cena metálica, e nenhum desses chega perto de alcançar unanimidade. Mas poucas
bandas do Heavy Metal atual conseguem ao menos ganhar respeito da velha guarda
quanto o Mastodon.
E não sem
motivos.
Com uma sonoridade absolutamente idiossincrática e moderna, mas
repleta de elementos prontamente reconhecíveis pelos mais velhos (os constantes
duelos guitarrísticos que remetem a Iron
Maiden e até mesmo Thin Lizzy e os devaneios progressivos e psicodélicos), os estadunidenses
galgaram terreno rumo ao mainstream com discos brilhantes como o visceral Leviathan e o viajante Crack The Skye e com shows
repletos de fúria e destreza musical.
Mastodon atravessando o deserto...2017 |
Os
discos mais recentes da banda (The Hunter, Once More Round the Sun) tentaram
colocar uma rédea no caos musical, mas, talvez por isso mesmo, tenham soado
como versões boas, só que um pouco diluídas, do poderio do quarteto. Ao que
parece a própria banda sentiu isso, prometendo para o novo trabalho um enfoque
mais tresloucado, apostando novamente no formato de disco conceitual para
atingir seu objetivo.
Temática – Uma Banda
Amaldiçoada?
Não é novidade
associar tragédias pessoais às temáticas dos discos do Mastodon. Na verdade, tem sido assim desde que Crack the Skye foi escrito para espiar o peso psicológico que o
suicídio da irmã de Brann, Skye Dailor, deixou no músico. The
Hunter já foi escrito em homenagem
ao irmão de Brent, morto no início
do processo criativo num acidente em uma expedição de caça. Once More Round The Sun já não fora inspirado em nenhuma desgraça, mas sim na luta de Bill para manter sua sobriedade depois
de uma infinidade de tentativas e internações infrutíferas.
Leviathan, dos tempos onde as histórias dos discos do Mastodon eram apenas histórias |
Já
desta vez, a desgraça parece ter se abatido com força na banda. E sob a figura
de um inimigo comum: o câncer. A esposa de Troy
batalhou por sua vida contra um câncer de mama, e saiu vitoriosa. Já as mães de
Brann e Bill não tiveram a mesma sorte. Ambas sucumbiram ao inimigo. Ao
menos, no caso de Bill, a tragédia
colocou à prova sua sobriedade. O mesmo diz que o orgulho de sua mãe no leito
de morte foi ter visto que enfim o filho conseguia encarar o mundo de cara
limpa, e num momento terrível. A banda então resolveu criar uma história que
resumia em metáforas as agruras da terrível doença. O vilão, personificado
sobre a figura do Imperador da Areia, o mocinho, um incauto que é sentenciado à
morte, tendo que vagar pelo deserto para cumprir sua terrível sentença.
Cumpra a Sentença!
A produção vintage de
Brendan O’Brian salta aos ouvidos no
momento que a maldição do Sultão abre o disco, numa mistura de peso,
virtuosismo e psicodelia que consegue condensar todo o espectro da música do Mastodon em uma só faixa. O revezamento
nas limitadas vozes ao longo das músicas contribui bastante para a atmosfera
algo esquizofrênica da banda.
Segundo Brann Dailor, principal voz na “quase
radiofônica” Show Yourself, primeira faixa de trabalho do
disco (ver vídeo), a banda viu que a simbiose com Brendan daria certo no novo
Cd quando ele transformou por absoluto a ideia inicial para essa música. Aliás,
se você acha que o trunfo aqui é o refrão grudento, preste atenção na orgia instrumental
concisa e de grande beleza que ela esconde.
Precious Stones
mostra o amadurecimento Mastodôntico em sua plenitude, as linhas melódicas
tomam nossos ouvidos com a facilidade de uma música da Lady Gaga, mas a
estrutura da música é tão estranha quanto a dos tempos de Leviathan e Remission,
somente mais focada. As harmonias de guitarra aqui são tão clássicas que me
pego voltando até elas o tempo todo.
Steambreather, bem mais viajante e com ótimos solos, traz
mais um dos belos refrões em meio a suas letras algo contemplativas. O trabalho
com os timbres das guitarras nesse disco está fenomenal, cada solo e base
clinicamente pensados a casar com os arranjos.
Sobre o direcionamento do disco, que em algumas entrevistas a banda
garantiu ser mais voltada ao progressivo e aos primórdios de sua carreira, cabe
um capítulo à parte. Sim, o disco tem instrumental para lá de elaborado. Sim,
em alguns pontos isso remete ao passado. Mas não, você não está diante de algo
como Remission ou Leviathan. E, não, isso não é ruim. A
banda evoluiu muito, e com a ajuda de Brendan,
consegue fazer com que a essência seja mantida sem que se abra mão de uma maior
concisão nos temas, que se tornam até acessíveis. Escute a estonteante Roots Remain e diga olhando nos meus olhos que a banda se vendeu (seja lá o que querem dizer com "se vendeu"). Não faz
sentido, certo?
A grosseria da voz de Brent constrói
uma cama de ogridão para o final com a voz de Brann e os devaneios instrumentais de Word to the Wise, mostrando como com os arranjos certos e com uma estrutura bem
pensada, uma música de três minutos pode soar épica para caralho. E como coisas
tão tresloucadas e sujas como Ancient
Kingdom, Clandestiny (com altas doses de psicoledia) ainda assim podem soar
quase radiofônicas? Maturidade aliada a um puta trabalho de produção. Conforme a
história vai se aproximando do fim, aparecem canções como Andromeda (recheada de Beatles)
e Scorpion Breath, com uma dinâmica algo teatral/cinemática.
O
final vem com a bela e apoteótica Jaguar
God. A morte vem, como era esperado
desde o princípio, mas ela na verdade representa transformação e um novo
início, conforme o protagonista assume a forma do Deus Jaguar do título. Ok, isso
pede muito ácido na mente, mas musicalmente é um puta encerramento para um
disco excelente.
Saldo Final
Após
dois discos menores que davam a ideia de uma certa estagnação criativa, eis que
o Mastodon volta com um de seus
melhores trabalhos. E não seria realmente uma ironia do destino se os Deuses do
metal, diante do iminente ocaso dos dinossauros do estilo, viessem a coroar
justamente um gigantesco mamífero pré-histórico? Merecer eles merecem. Um dos
discos do ano!
NOTA:
9,58
Gravadora:
Warner Records (nacional).
Pontos
positivos: idiossincrático e muito bem desenvolvido e produzido
Pontos
negativos: pode soar moderno demais aos bocós Troozistas
Para
fãs de: Kylesa, Baroness
Classifique como: Heavy Metal, Sludge, Prog Metal
A primeira vez q escutei esse "Emperor of Sand" confesso q não me chamou muito a atenção, fiquei até um pouco decepcionado; porém... Aí entra uma história muito pessoal: basicamente todos os discos q mais amo, com exceções, obviamente, não me agradaram logo de cara. Então, qdo uma banda q eu me amarro e q eu sei q tem tantas qualidades me apresenta um disco q, à primeira zoreiada, não me desce muito bem, o alerta liga automaticamente - ou seja, esse disco tem grandes possibilidades de se transformar em muito mais do q eu pude avaliar (ou não) previamente.
ResponderExcluirNessa primeira vez, achei q faltava coesão às músicas com um todo, uma das grandes características do álbuns do Mastodon, o conceito em geral. Me pareceu um disco de músicas aleatórias, q cada um escreveu em momentos diferentes e gravou sem pensar nas outras todas q comporiam o álbum.
Mas na segunda zoreiada a coisa já começou a mudar de figura, principalmente pq comecei a prestar mais atenção nas letras e então percebi q letra e música eram como um livro em q cada capítulo a dinâmica e o ritmo eram muito próprios e formavam um conjunto com o todo, insuspeito e imprevisível.
E aí vieram todos os detalhes, alguns q vc descreveu muito bem; todo o trabalho de guitarras, as camadas e as sutilezas dos arranjos, sem contar os refrões ganchudos e os toques "pop" ou "comerciais", q eu não tenho o menor pudor em dizer q me amarro bagarái! hahahahahaha
Aí, mizifio, a conclusão é a mesma q a sua, mesmo não sendo tão bom qto os melhores, ainda assim está muuuuuito longe de ser ruim, decepcionante ou desprezável. Na realidade, é realmente o tipo de disco q qto mais a gente escuta, mais a gente gosta.
Abração, mizifio!!!
ML
PS: apesar de pré-histórico, o mastodonte é contemporâneo ao surgimento do homem e foi essencial na nossa evolução, por conta da sua carne e de suas presas; ou seja, é parte natural da evolução; nesse caso, nessa analogia, a verdadeira evolução do heavy metal - o gênero com os fãs mais anti-evolução de todo o espectro musical. hehe
Fala, camarada!
ExcluirOlha, demorei tanto para fazer a resenha justamente por que não curti tanto de primeira, nem de segunda, nem de terceira...mas de imediato entendi que havia muita coisa por debaixo do verniz...aí esperei ter mais tempo para ler as letras e escutar os arranjos cuidadosamente. E sem nem forçar, de repente eu já tinha todos os refrães na cabeça e os solos e melodias de guitarras na minha alma. Viciei no disco e a partir daí, resolvi que estava pronto para escrecver sobre o Emperor of Sand.
E acabou, veja só, por se tornar um dos meus discos favoritos deles...
Abração
Trevas