quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Night Demon – Darkness Remais (Cd-2017)

Night Demon - Darkness Remains
Wellcome to the...Eighties?
Por Trevas
Os californianos do Night Demon surgiram em 2011, com o explícito propósito de prestar homenagem à NWOBHM e seus reflexos ao redor do globo. Com apenas um Ep e um disco completo nas costas, o power trio estadunidense chega a esse Darkness Remains como uma das mais promissoras bandas da NWOTHM.


Uma curta introdução instrumental joga Welcome to the Night em nossa fuça, uma música que poderia ser assinada por gente como Demon ou Angel Witch.




Hallowed Ground melhora ainda mais a bolachinha, mostrando exatamente o que as melhores bandas da NWOBHM tinham: músicas simples e vigorosas, mas que não abriam mão de refrões para lá de apelativos, daqueles que você sai cantando já na segunda ouvida.


O andamento acelera com a curta Maiden Hell, uma óbvia homenagem à banda de Heavy metal mais influente dos anos 1980. A voz de Jarvis Leatherby (que também toca baixo e desde 2016 faz parte do Cirith Ungol) é limitada, mas bacana, tão típica das bandas oitentistas do segundo escalão que perdi um tempão buscando maiores informações sobre o cara. Não, ele não fez parte de nenhuma banda da NWOBHM, nem tem idade para tal. Armand John Anthony, o guitarrista do trio, tem uma boa pegada e boas ideias, como podemos ver melhor na boa power ballad Stranger in the Room (que conta até com um Hammond ao fundo).

Power Trio Old School, Night Demon

O mais legal do Night Demon é que sua vontade em emular o passado vai tão longe que a banda não se contenta em condensar a NWOBHM em seu estilo, em alguns momentos dá para perceber claramente que os caras foram lá atrás e beberam também das fontes que inspiraram seus heróis (há algo de Thin Lizzy e UFO aqui e acolá nas partes instrumentais). O baterista, o bom Dusty Squires, certamente tem muita influência dos drum heroes dos anos 1970. Esse detalhe faz com que o material, apesar de não soar obviamente inovador (não é a intenção), também não se torne meramente derivativo e desinteressante. Não há absolutamente um minuto desinteressante nos 38 que compõe a bolachinha, que tem ainda como destaques Life On the Run , a instrumental Flight of the Manticore e Dawn Rider.


Saldo Final

O Night Demon faz em eu segundo disco o equivalente musical para os Headbangers saudosistas de uma visita de uma rotunda criança a uma bombonière. Uma matadora aula de como se fazer um Heavy metal para lá de tradicional e sem compromisso com novidades sem soar chato e datado.


NOTA: 8,84
 
Gravadora: SPV Steamhammer (importado).
Pontos positivos: NWOBHM/NWOTHM de primeira
Pontos negativos: pode incomodar os neófilos
Para fãs de: Angel Witch, Jaguar, Iron Maiden, Diamond Head
Classifique como: Heavy Metal


sábado, 23 de setembro de 2017

Avatarium - Hurricanes and Halos (Cd-2017)

Avatarium - Hurricanes and Halos

No Olho do Furacão
Por Trevas

Avatarium foi o péssimo epíteto escolhido pelo sueco Leif Edling para seu primeiro projeto musical pós Candlemass, num passado não tão remoto, quando fora anunciado o ocaso dos mestres europeus do Doom Metal. Apesar do nome horroroso, a banda surpreendentemente gravou um disco de estreia espetacular, misturando elementos do Candlemass com influências de rock dos anos 1970/60, com o tempero especial da voz bluesy e potente de Jennie-Ann Smith.

Avatarium, ainda um projeto, com o patrão Leif (primeiro á direita)

Uma pena que o segundo trabalho, The Girl In The Raven Mask, lançado em 2015, replicou a fórmula cansada e pouco inspirada do último disco do Candlemass (Psalms For The Dead). Um disco tão medíocre que caiu em meus ouvidos como um balde de água gelada. Logo após, Leif anunciou que continuaria no Avatarium e no recentemente redivivo Candlemass somente atuando nos bastidores, devido a sérios problemas de saúde. E quando em 2016 foi anunciado o terceiro trabalho de estúdio do Avatarium, contando apenas com 3 músicas compostas pelo patrão, o restante guiado pelos outros músicos, me pareceu claro que o projeto ganhara vida própria, se distanciando cada vez mais de seu idealizador, que dessa vez centrou seu esforço criativo em um novo projeto, Doomsday Machine. Fiquei sem saber o que esperar. E foi com um tremendo ponto de interrogação na minha cabeça que fui conferir o recém lançado Hurricanes And Halos, que ganhou uma edição nacional pela Shinigami Records.


Uriah Heepium?

A bela arte de capa de Erik Rovanperä (que já ilustrara capas do Candlemass e do próprio Avatarium) são o complemento visual perfeito para o que ouvimos já na arrebatadora entrada com Into The Fire/Into the Storm, faixa que evoca o que há de melhor no hard/heavy setentista. O hammond de Rickard Nilsson casando à perfeição com as guitarras de Marcus Jidell (Royal Hunt, Evergrey...). Jidell, aliás, que assina a produção, dando o devido destaque à estrela da banda, a ótima Jennie-Ann, sua esposa.


Jidell e Jennie-Ann acabam por assinar a grande maioria do material, como as excelentes The Starless Sleep (ver vídeo) e Road to Jerusalem, mostrando um saudável distanciamento do fraco material do disco anterior.



O afastamento de Leif do processo produtivo do Avatarium mostra-se ainda mais acertado quando justamente uma de suas contribuições é a longa e cansativa Medusa Child, que conta com aquela péssima ideia que vez ou outra permeia gravações de rock de maneira inexplicável, um horrendo coro de crianças. Para que?????



The Sky At The Bottom Of The Sea evoca um belo “corte e cola” de Uriah Heep e Scorpions (fase Uli John Roth) para devolver a bolachinha de volta aos trilhos. A delicada When the Breath Turns To Air deixa o andamento do disco respirar (aff, não resisti), preparando o terreno para a pesada e ótima A Kiss (From the End Of The World). A faixa título funciona como um curto e viajante epílogo instrumental para os 45 minutos de jornada para dentro do furacão.

Avatarium 2017 - Enfim, uma banda

Saldo Final

Depois de um decepcionante segundo disco, o Avatarium enfim se reinventa como banda, se libertando das amarras de Leif Edling e centrando sua força criativa acertadamente no casal Jennie-Ann/Jidell. Um disco que rescende à décadas passadas e que deve figurar em muita lista de melhores do ano por aí. Altamente recomendado.


NOTA: 8,58

 
Gravadora: Shinigami Records (nacional).
Pontos positivos: ótimo material, apresentando um novo caminho à banda
Pontos negativos: as músicas de Leif mostram uma triste estagnação criativa
Para fãs de: Purson, Uriah Heep, Jess and the Ancient Ones
Classifique como: Doom Metal, Heavy Psych, Retro Rock, Classic Rock




segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Alice Cooper – Paranormal (2CDs – 2017)

Alice Cooper - Paranormal
Tia Alice: 69 com Tudo em Cima!
Por Trevas

O 27º disco de estúdio de Alice Cooper vem num momento especial na vida do shock rocker mais amado do planeta: próximo de completar 70 anos, o estadunidense está com sua popularidade em dia, e vem participando ativamente dos maiores festivais do planeta com uma performance que deixa muita gente com metade de sua idade em suas pantufas de monstrinho. Pensando no grande bestiário de clássicos que tia Alice tem em sua coleção, seria compreensível que ela optasse por viver somente das glórias passadas, não? Não, cá estamos em mais uma parceria com o superprodutor canadense Bob Ezrin para mais uma leva de material inédito.

Bob e Alice tramando algo muito, muito malvado...

A bolachinha, nomeada Paranormal, vem em formato duplo. O primeiro disco contendo 10 canções inéditas executadas por Alice, convidados ilustres (Billy Gibbons, Roger Glover, Larry Mullen) e uma penca de músicos de estúdio. Já a segunda bolachinha tem duas canções inéditas gravadas pelos sobreviventes da Alice Cooper Band original, mais uma meia dúzia de clássicos executados ao vivo pela banda atual do patrão. O formato me pareceu esquisito numa primeira análise, veremos mais à frente o veredito. A edição nacional, lançada pela Shinigami, vem num caprichadíssimo digipack duplo, com encarte em ótimo material. Uma pena que a arte de capa seja horrenda, lembrando até aquela péssima capa do disco mais atual do Metallica (cuja péssima ideia era plágio da arte de um disco do Crowbar, mostrando que o mau gosto é contagioso). Mas como o que importa é a música, vamos em frente.



DISCO 1:

A faixa título, primeira música de trabalho, que já havia aparecido em Lyric Video (ver abaixo), me deu uma tremenda impressão errada do que eu encararia por aqui. Épica e misteriosa, com uma cara bem moderna, parecia indicar um trabalho conceitual nos moldes de Welcome To My Nightmare. A se estranhar, notei de cara que a banda que gravou a música, com a exceção de Tommy Henriksen (guitarra), não é a formação que excursiona com Alice. Há até Roger Glover (Deep Purple) no baixo. Uma ótima faixa, a despeito da bateria meio disco de Larry Mullen (U2).



Epa, de uma música com características teatrais e bem épica somos jogados na deliciosa e absolutamente sessentista Dead Flies. Com cara de Who e Hendrix, faz lembrar os primórdios da carreira de tia Alice. E o que falar do rock psicodélico à lá Monster Magnet da excelente Fireball, com órgão tocado pelo próprio Bob Ezrin? A essa altura do campeonato qualquer fã de rock já ostenta um sorriso na face. Paranoiac Personality faz menção à Welcome To My Nightmare e The Wall em sua introdução e novamente evoca os primórdios da carreira solo de Alice Cooper, mais uma boa música, talvez só um pouco aquém das anteriores.



Não sou fã das produções exageradas de Mr. Ezrin, e em especial, acho que ele acabou de destruir o que sobrou do Purple atual. Mas há de se admitir, Bob consegue canalizar as ideias teatrais de Alice como poucos e fez um ótimo trabalho aqui, encontrando um meio termo entre sua grandiloquência excessivamente polida e uma cara um pouco mais old school. Uma pena que as gravações tenham ficado a encargo de uma série de convidados e músicos de estúdio, ao invés da banda fixa do cantor.

Tia Alice e sua trupe, 2016


Fallen In Love é divertida e descompromissada, e se tem um clima que remete ao ZZ Top de sua era MTV, não é à toa, Billy Gibbons está aqui. Já Dynamite Road me fez pensar seriamente que alguém deveria bem ter entregue a música ao Meat Loaf. Private Public Breakdown é o mais perto que o material da bolachinha chega de soar chato, mas ainda assim não é de todo ruim. Ah, mas Holy Water, com seu refrão matador e um naipe de metais muito bem encaixado, acerta na mosca e traz de volta a vontade de sacudir o esqueleto. E o que dizer dos pouco mais de dois minutos de Rats? Nada, só tire o tapete da sala! The Sound Of A fecha o repertório do disco 1 em inexplicáveis 34 minutos com um clima mais soturno que acompanha a faixa de abertura.


DISCO 2:

Bom, aqui temos o que deveria ser a cereja do bolo: as duas músicas construídas para celebrar a reunião de Alice com os membros sobreviventes da Alice Cooper Band, Neal Smith (bateria) Dennis Dunnaway (baixo) e Michael Bruce (Guitarra), que reinaram absolutos ao lado do falecido Glen Buxton (falecido em 1997) de 1969 até 1973. Primeiro ponto, as duas músicas compostas e gravadas não destoam quase nada do clima do material do disco 1, difícil entender o por quê foram separadas. Segundo ponto, essa reunião já havia acontecido em três faixas de Welcome 2 My Nightmare, de 2011. Difícil entender o furor, já que desde 2015 essa formação prometia um disco completo. Sobre a qualidade do material, são boas canções, mas nada que mude o mundo e inferiores a boa parte do material do disco 1. Uma pequena decepção, eu diria.

Alice Cooper Band: o cheiro de cânfora no momento dessa foto é pungente 
Completando os parcos 38 minutos do disco 2, tempos uma seleção de 6 clássicos do Alice Cooper executados pela formação que excursiona com a tia já tem dois anos, muito bem gravados, obrigado. Bacana, mas nada de excepcional, tendo em vista a miríade de versões ao vivo das mesmas músicas lançadas ano sim ano sim.


Saldo Final

A despeito do formato duplo não dizer muito ao que veio, o material inédito de paranormal coloca a bolachinha dentro do hall dos grandes discos da discografia de Alice Cooper. Difícil encontrar artistas na cena rocker que ainda consigam gravar discos tão divertidos e cheios de energia a essa altura da carreira. Tia Alice é realmente paranormal!


NOTA: 8,66


Gravadora: Shinigami Records (nacional).
Pontos positivos: Alice inspirado e bem old school
Pontos negativos: Difícil entender a opção por dois cds com menos de 80 minutos de música
Para fãs de: Rock and Roll no geral
Classifique como: Hard Rock, Rock and Roll



quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Mastodon – Emperor Of Sand (Cd-2017)

Mastodon - Emperor Of Sand
Da Maldição à Redenção
Por Trevas

Muito se fala sobre o vazio que os dinossauros do Metal deixarão quando suas carreiras finalmente rumarem ao inevitável ocaso. Vários são os postulantes a um futuro reinado na cena metálica, e nenhum desses chega perto de alcançar unanimidade. Mas poucas bandas do Heavy Metal atual conseguem ao menos ganhar respeito da velha guarda quanto o Mastodon

E não sem motivos. 

Com uma sonoridade absolutamente idiossincrática e moderna, mas repleta de elementos prontamente reconhecíveis pelos mais velhos (os constantes duelos guitarrísticos que remetem a Iron Maiden e até mesmo Thin Lizzy e os devaneios progressivos e psicodélicos), os estadunidenses galgaram terreno rumo ao mainstream com discos brilhantes como o visceral Leviathan e o viajante Crack The Skye e com shows repletos de fúria e destreza musical.


Mastodon atravessando o deserto...2017

Os discos mais recentes da banda (The Hunter, Once More Round the Sun) tentaram colocar uma rédea no caos musical, mas, talvez por isso mesmo, tenham soado como versões boas, só que um pouco diluídas, do poderio do quarteto. Ao que parece a própria banda sentiu isso, prometendo para o novo trabalho um enfoque mais tresloucado, apostando novamente no formato de disco conceitual para atingir seu objetivo.


Temática – Uma Banda Amaldiçoada?

Não é novidade associar tragédias pessoais às temáticas dos discos do Mastodon. Na verdade, tem sido assim desde que Crack the Skye foi escrito para espiar o peso psicológico que o suicídio da irmã de Brann, Skye Dailor, deixou no músico. The Hunter já foi escrito em homenagem ao irmão de Brent, morto no início do processo criativo num acidente em uma expedição de caça. Once More Round The Sun já não fora inspirado em nenhuma desgraça, mas sim na luta de Bill para manter sua sobriedade depois de uma infinidade de tentativas e internações infrutíferas.


Leviathan, dos tempos onde as histórias dos discos do Mastodon eram apenas histórias
Já desta vez, a desgraça parece ter se abatido com força na banda. E sob a figura de um inimigo comum: o câncer. A esposa de Troy batalhou por sua vida contra um câncer de mama, e saiu vitoriosa. Já as mães de Brann e Bill não tiveram a mesma sorte. Ambas sucumbiram ao inimigo. Ao menos, no caso de Bill, a tragédia colocou à prova sua sobriedade. O mesmo diz que o orgulho de sua mãe no leito de morte foi ter visto que enfim o filho conseguia encarar o mundo de cara limpa, e num momento terrível. A banda então resolveu criar uma história que resumia em metáforas as agruras da terrível doença. O vilão, personificado sobre a figura do Imperador da Areia, o mocinho, um incauto que é sentenciado à morte, tendo que vagar pelo deserto para cumprir sua terrível sentença.

  
Cumpra a Sentença!

A produção vintage de Brendan O’Brian salta aos ouvidos no momento que a maldição do Sultão abre o disco, numa mistura de peso, virtuosismo e psicodelia que consegue condensar todo o espectro da música do Mastodon em uma só faixa. O revezamento nas limitadas vozes ao longo das músicas contribui bastante para a atmosfera algo esquizofrênica da banda.



Segundo Brann Dailor, principal voz na “quase radiofônica” Show Yourself, primeira faixa de trabalho do disco (ver vídeo), a banda viu que a simbiose com Brendan daria certo no novo Cd quando ele transformou por absoluto a ideia inicial para essa música. Aliás, se você acha que o trunfo aqui é o refrão grudento, preste atenção na orgia instrumental concisa e de grande beleza que ela esconde.



Precious Stones mostra o amadurecimento Mastodôntico em sua plenitude, as linhas melódicas tomam nossos ouvidos com a facilidade de uma música da Lady Gaga, mas a estrutura da música é tão estranha quanto a dos tempos de Leviathan e Remission, somente mais focada. As harmonias de guitarra aqui são tão clássicas que me pego voltando até elas o tempo todo.

Steambreather, bem mais viajante e com ótimos solos, traz mais um dos belos refrões em meio a suas letras algo contemplativas. O trabalho com os timbres das guitarras nesse disco está fenomenal, cada solo e base clinicamente pensados a casar com os arranjos.



Sobre o direcionamento do disco, que em algumas entrevistas a banda garantiu ser mais voltada ao progressivo e aos primórdios de sua carreira, cabe um capítulo à parte. Sim, o disco tem instrumental para lá de elaborado. Sim, em alguns pontos isso remete ao passado. Mas não, você não está diante de algo como Remission ou Leviathan. E, não, isso não é ruim. A banda evoluiu muito, e com a ajuda de Brendan, consegue fazer com que a essência seja mantida sem que se abra mão de uma maior concisão nos temas, que se tornam até acessíveis. Escute a estonteante Roots Remain e diga olhando nos meus olhos que a banda se vendeu (seja lá o que querem dizer com "se vendeu"). Não faz sentido, certo?





A grosseria da voz de Brent constrói uma cama de ogridão para o final com a voz de Brann e os devaneios instrumentais de Word to the Wise, mostrando como com os arranjos certos e com uma estrutura bem pensada, uma música de três minutos pode soar épica para caralho. E como coisas tão tresloucadas e sujas como Ancient Kingdom, Clandestiny (com altas doses de psicoledia) ainda assim podem soar quase radiofônicas? Maturidade aliada a um puta trabalho de produção. Conforme a história vai se aproximando do fim, aparecem canções como Andromeda (recheada de Beatles) e Scorpion Breath, com uma dinâmica algo teatral/cinemática.




O final vem com a bela e apoteótica Jaguar God. A morte vem, como era esperado desde o princípio, mas ela na verdade representa transformação e um novo início, conforme o protagonista assume a forma do Deus Jaguar do título. Ok, isso pede muito ácido na mente, mas musicalmente é um puta encerramento para um disco excelente.


Saldo Final

Após dois discos menores que davam a ideia de uma certa estagnação criativa, eis que o Mastodon volta com um de seus melhores trabalhos. E não seria realmente uma ironia do destino se os Deuses do metal, diante do iminente ocaso dos dinossauros do estilo, viessem a coroar justamente um gigantesco mamífero pré-histórico? Merecer eles merecem. Um dos discos do ano!


NOTA: 9,58

 
Gravadora: Warner Records (nacional).
Pontos positivos: idiossincrático e muito bem desenvolvido e produzido
Pontos negativos: pode soar moderno demais aos bocós Troozistas
Para fãs de: Kylesa, Baroness
Classifique como: Heavy Metal, Sludge, Prog Metal



domingo, 10 de setembro de 2017

Memoriam – For The Fallen (Cd-2017)

Memoriam - For the Fallen

Ossos do Pescoço Reduzidos A Zero
Por Trevas

Surgida em janeiro de 2016, Memoriam nada mais era do que uma brincadeira entre amigos, que resolveram se juntar e tocar covers e lembrar os momentos vividos ao lado de outro recém falecido amigo em comum. Ok, essa bem poderia ser uma história padrão ao redor do globo, a história de um sem número de bandas de amigos. E só não o é por que os nomes envolvidos são da nata do death metal britânico: Karl Willetts (voz) e Andy Whale (bateria) do Bolt Thrower e Scott Fairfax (guitarra) e Frank Healy (baixo), do Benediction. O amigo falecido, o saudoso Martin Kerns, baterista do Bolt Thrower, cuja morte, em 2015, decretara o fim da banda.

For The Old Men

Para nossa sorte, o projeto evoluiu rapidamente, deixando os covers de lado para um material próprio que não nega as origens de seus membros. Tendo feito sua estreia num Ep contendo demos de versões do Bolt Thrower, agora a banda aparece em seu primeiro Full Length, emoldurado pela belíssima arte de capa de Dan Seagrave, uma das melhores do ano. A produção ficou ao encargo da banda, com Ajeet Gill operando a mesa de som e assumindo a mixagem.


Memoriam, a faixa, é curta e cortante feito uma faca Ginsu 2000. Sua letra é obviamente uma ode ao falecido colega Martin Kerns. Seu único defeito é ser curta demais, preparando o terreno para War Rages On, faixa que facilmente poderia figurar em qualquer clássico do Bolt Thrower. Reduced to Zero é pesada e densa feito piche, com uma pegada que beira o Doom em alguns momentos.




A velocidade dá as caras em partes da virulenta Corrupted Sistem, com aquele reminiscente de hardcore em seu Death arrasa quarteirão alternando com um groove monstro. A avalanche de riffs e alternância de andamentos também faz da longa Flatline um deleite capaz de destroçar os pescoços mais sensíveis. Surrounded (By Death) é bem mais direta, um soco no estômago que não dá muito tempo para respirar (ver vídeo).




Confesso que não sou o maior fã do mundo de vocais guturais, mas em minha humilde opinião, Karl Willetts deveria servir de padrão para a grande maioria dos cabruncos que se enveredam a explorar a are perdida dos cookie monsters. Repleto de sotaque britânico e com um forte ranço punk, Karl consegue urrar com clareza letras fortes como a de Resistance (ver vídeo) e trazer algo muito além de interpretação monolítica para a Doom e sorumbática Last Words, com seus quase nove minutos de existência fonográfica.





Saldo final

Soturno e denso, pesado feito um hipopótamo depois da ceia de natal, For The Fallen é um daqueles discos que chega meio na surdina e que mostra qualidade suficiente para conquistar um público para além do metal extremo. Se irá se tornar um clássico, só o tempo dirá, mas posso garantir que estará em minha infame lista de melhores desse ano. Espetacular.


NOTA: 9,52

 
Gravadora: Shinigami Records (nacional).
Pontos positivos: consegue soar old school e ainda assim ser relevante
Pontos negativos: nada a destacar
Para fãs de: Bolt Thrower, Benediction
Classifique como: Death Metal, Doom Metal



quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Accept – The Rise Of Chaos (Cd-2017)

Accept - The Rise Of Chaos

Chucrute Requentado
Por Trevas

Décimo quinto disco de estúdio do combo teutônico de Heavy Metal liderado pelo guitarrista e clone do Bruce Willis Wolf Hoffman, The Rise Of Chaos veio ao mundo com a perigosa missão de manter o altíssimo padrão de qualidade dos três discos anteriores, que proporcionaram um segundo surto de popularidade junto aos fãs antigos e que angariaram uma tonelada de novos fãs à banda.


Accept detonando em seu retorno

Só que dessa vez o desafio ainda se faz maior, já que os colaboradores de longa data Herman Frank e Stephan Schwarzmann resolveram abandonar o barco. Para o lugar deles foram chamados Uwe Lulis (guitarrista que fez fama junto ao Grave Digger) e o relativamente desconhecido Christopher Williams. De resto, temos novamente Tornillo nos vocais, com Peter Baltes no baixo e o patrão nas guitarras e, muito provavelmente (tendo em vista que não há créditos para as músicas no encarte), assinando as composições. A produção caiu de novo no colo do mestre Andy Sneap, uma parceria que vinha funcionando muito bem até o momento.

Die By the Sword é bem menos frenética que as faixas de abertura que acostumamos escutar nesse glorioso retorno. No entanto, o bom refrão e o exímio trabalho de guitarras acabam por vencer e fazem desta um dos destaques do disco.



Mas a dobradinha que vem a seguir faz a empolgação com o novo disco cair bastante. Hole In the Head até tem uma interessante interpretação Bon Scottiana nos versos, mas se perde em um andamento morno e um refrão desinteressante. Já a faixa título, ao que parece ganhou esse status por que compila o clima distópico que permeia a maioria das letras do material, uma faixa bem mais ou menos.



Koolaid pode até ter se inspirado um pouco além da conta em Thunderstruck, mas é muito mais cativante que suas colegas de repertório, enfim uma boa música, com o baixo de Baltes e as boas melodias de Tornillo dando o tom aqui. No Regrets é outra boa faixa, com refrão bacana e andamento pesadão.




Analog Man inicia com o som de uma fita rebobinando e termina com aquele velho tom de modem discado, para emoldurar uma letra legal, que fará muito coroa se identificar. Entretanto, a chupada que o pré-refrão dá em Balls to the Wall só vem evidenciar que talvez a banda devesse dar um tempo maior em seus lançamentos. Até faixas legais como What is Done is Done e Worlds Colliding tem seu poderio diminuído pela sensação de que a banda fizera as mesmas músicas de maneira mais inspirada nos discos anteriores.



Accept dessa vez está parecendo aquele meia alemão veterano que não volta para marcar

A produção de Andy Sneap tentou tornar o produto final menos parecido com seus irmãos mais velhos, apostando em músicas menos longas, um som um pouco mais dinâmico e menos pesado e com gang vocals bem mais discretos na mixagem. Mas sem muito sucesso, Carry the Weight segue a toada de músicas apenas boazinhas e os 46 minutos da bolachinha se encerram com a pouco inspirada Race To Extinction.

Saldo Final

The Rise Of Chaos é um disco legal, se você for um fissurado por Heavy Metal tradicional, dificilmente se sentirá incomodado com suas dez faixas. Mas é impossível não notar uma queda criativa em relação aos discos anteriores. A continuar nesse caminho, periga o Accept se tornar uma pálida imitação de si mesmo, coisa que o gnomo do UDO já faz a muito tempo em sua errática carreira solo, diga-se.


NOTA: 7,40

  
Gravadora: Shinigami Records (nacional).
Pontos positivos: Ainda é Accept e tem bons momentos
Pontos negativos: começa a soar como comida requentada
Para fãs de: Accept, UDO, AC/DC
Classifique como: Heavy Metal