Para os malucos(as) que como eu tem prazer em destrinchar as histórias que permeiam a trilha sonora que escolhemos para nossas vidas. E quantas histórias interessantes se escondem em cada esquina desse vasto mundo do rock! Vocês encontrarão por aqui resenhas de shows, discos, livros, dvds (blu-rays) e notícias comentadas sobre o mundo do rock. Espero que vocês gostem e visitem sempre ou eventualmente. Eu, certamente, me divertirei muito escrevendo aqui.
Os
californianos do NightDemon surgiram em 2011, com o explícito
propósito de prestar homenagem à NWOBHM
e seus reflexos ao redor do globo. Com apenas um Ep e um disco completo nas costas, o power trio estadunidense chega
a esse DarknessRemains como uma das mais promissoras bandas da NWOTHM.
Uma curta introdução instrumental
joga Welcome to the Night em nossa
fuça, uma música que poderia ser assinada por gente como Demon ou AngelWitch.
Hallowed Ground melhora ainda mais a bolachinha,
mostrando exatamente o que as melhores bandas da NWOBHM tinham: músicas simples e vigorosas, mas que não abriam mão
de refrões para lá de apelativos, daqueles que você sai cantando já na segunda
ouvida.
O andamento acelera com a curta Maiden
Hell, uma óbvia homenagem à banda de Heavy metal mais influente dos anos
1980. A voz de Jarvis Leatherby (que
também toca baixo e desde 2016 faz parte do Cirith Ungol) é limitada, mas bacana, tão típica das bandas
oitentistas do segundo escalão que perdi um tempão buscando maiores informações
sobre o cara. Não, ele não fez parte de nenhuma banda da NWOBHM, nem tem idade para tal. Armand John Anthony, o guitarrista do trio, tem uma boa pegada e
boas ideias, como podemos ver melhor na boa power ballad Stranger in the Room (que conta até com um Hammond ao fundo).
Power Trio Old School, Night Demon
O
mais legal do Night Demon é que sua vontade
em emular o passado vai tão longe que a banda não se contenta em condensar a NWOBHM em seu estilo, em alguns
momentos dá para perceber claramente que os caras foram lá atrás e beberam
também das fontes que inspiraram seus heróis (há algo de ThinLizzy e UFO aqui e acolá nas partes instrumentais).
O baterista, o bom Dusty Squires, certamente
tem muita influência dos drum heroes dos anos 1970. Esse detalhe faz com que o
material, apesar de não soar obviamente inovador (não é a intenção), também não
se torne meramente derivativo e desinteressante. Não há absolutamente um minuto
desinteressante nos 38 que compõe a bolachinha, que tem ainda como destaques LifeOntheRun , a instrumental Flight of the Manticore e DawnRider.
Saldo Final
O
Night Demon faz em eu segundo disco o equivalente musical para os Headbangers
saudosistas de uma visita de uma rotunda criança a uma bombonière. Uma matadora
aula de como se fazer um Heavy metal para lá de tradicional e sem compromisso
com novidades sem soar chato e datado.
NOTA:
8,84
Gravadora: SPV Steamhammer (importado).
Pontos
positivos: NWOBHM/NWOTHM de primeira
Pontos
negativos: pode incomodar os neófilos
Para
fãs de: Angel Witch, Jaguar, Iron Maiden, Diamond Head
Avatarium foi o péssimo epíteto escolhido pelo sueco LeifEdling para seu primeiro projeto musical pós Candlemass, num passado não tão remoto, quando fora anunciado o
ocaso dos mestres europeus do DoomMetal. Apesar do nome horroroso, a
banda surpreendentemente gravou um disco de estreia espetacular, misturando
elementos do Candlemass com
influências de rock dos anos 1970/60, com o tempero especial da voz bluesy e
potente de Jennie-Ann Smith.
Avatarium, ainda um projeto, com o patrão Leif (primeiro á direita)
Uma
pena que o segundo trabalho, The Girl In
The Raven Mask, lançado em 2015, replicou a fórmula cansada e pouco
inspirada do último disco do Candlemass
(PsalmsFor The Dead). Um disco tão medíocre que caiu em meus ouvidos como
um balde de água gelada. Logo após, Leif
anunciou que continuaria no Avatarium
e no recentemente redivivo Candlemass
somente atuando nos bastidores, devido a sérios problemas de saúde. E quando em
2016 foi anunciado o terceiro trabalho de estúdio do Avatarium, contando apenas com 3 músicas compostas pelo patrão, o
restante guiado pelos outros músicos, me pareceu claro que o projeto ganhara
vida própria, se distanciando cada vez mais de seu idealizador, que dessa vez
centrou seu esforço criativo em um novo projeto, DoomsdayMachine. Fiquei
sem saber o que esperar. E foi com um tremendo ponto de interrogação na minha
cabeça que fui conferir o recém lançado HurricanesAndHalos, que ganhou uma edição nacional pela ShinigamiRecords.
Uriah Heepium?
A bela arte de capa
de ErikRovanperä (que já ilustrara capas do Candlemass e do próprio Avatarium)
são o complemento visual perfeito para o que ouvimos já na arrebatadora entrada
com IntoTheFire/IntotheStorm, faixa que
evoca o que há de melhor no hard/heavy setentista. O hammond de RickardNilsson casando à perfeição com as
guitarras de MarcusJidell (RoyalHunt, Evergrey...). Jidell, aliás, que assina a produção, dando o devido destaque à
estrela da banda, a ótima Jennie-Ann, sua esposa.
Jidell e Jennie-Ann acabam por assinar a grande maioria do material, como as
excelentes The Starless Sleep (ver vídeo)
e Road to Jerusalem, mostrando um
saudável distanciamento do fraco material do disco anterior.
O afastamento de Leif do
processo produtivo do Avatarium
mostra-se ainda mais acertado quando justamente uma de suas contribuições é a
longa e cansativa MedusaChild, que conta com aquela péssima
ideia que vez ou outra permeia gravações de rock de maneira inexplicável, um
horrendo coro de crianças. Para que?????
The Sky At The Bottom
Of The Sea
evoca um belo “corte e cola” de Uriah
Heep e Scorpions (fase Uli John Roth) para devolver a
bolachinha de volta aos trilhos. A delicada When the Breath Turns To Air deixa o andamento do disco respirar
(aff, não resisti), preparando o terreno para a pesada e ótima A Kiss (From the End Of The World). A
faixa título funciona como um curto e viajante epílogo instrumental para os 45
minutos de jornada para dentro do furacão.
Avatarium 2017 - Enfim, uma banda
Saldo Final
Depois
de um decepcionante segundo disco, o Avatarium
enfim se reinventa como banda, se libertando das amarras de LeifEdling e centrando sua força criativa acertadamente no casal Jennie-Ann/Jidell. Um disco que
rescende à décadas passadas e que deve figurar em muita lista de melhores do
ano por aí. Altamente recomendado.
NOTA:
8,58
Gravadora:
Shinigami Records (nacional).
Pontos
positivos: ótimo material, apresentando um novo caminho à banda
Pontos
negativos: as músicas de Leif mostram uma triste estagnação criativa
Para
fãs de: Purson, Uriah Heep, Jess and the Ancient Ones
Classifique como: Doom Metal, Heavy Psych, Retro
Rock, Classic Rock
O 27º disco de
estúdio de AliceCooper vem num momento especial na vida
do shock rocker mais amado do planeta: próximo de completar 70 anos, o
estadunidense está com sua popularidade em dia, e vem participando ativamente
dos maiores festivais do planeta com uma performance que deixa muita gente com
metade de sua idade em suas pantufas de monstrinho. Pensando no grande
bestiário de clássicos que tia Alice
tem em sua coleção, seria compreensível que ela optasse por viver somente das
glórias passadas, não? Não, cá estamos em mais uma parceria com o superprodutor
canadense BobEzrin para mais uma leva de material inédito.
Bob e Alice tramando algo muito, muito malvado...
A
bolachinha, nomeada Paranormal, vem
em formato duplo. O primeiro disco contendo 10 canções inéditas executadas por Alice, convidados ilustres (BillyGibbons, RogerGlover, LarryMullen) e uma
penca de músicos de estúdio. Já a segunda bolachinha tem duas canções inéditas
gravadas pelos sobreviventes da AliceCooperBand original, mais uma meia dúzia de clássicos executados ao vivo
pela banda atual do patrão. O formato me pareceu esquisito numa primeira
análise, veremos mais à frente o veredito. A edição nacional, lançada pela Shinigami, vem num caprichadíssimo
digipack duplo, com encarte em ótimo material. Uma pena que a arte de capa seja
horrenda, lembrando até aquela péssima capa do disco mais atual do Metallica (cuja péssima ideia era
plágio da arte de um disco do Crowbar,
mostrando que o mau gosto é contagioso). Mas como o que importa é a música,
vamos em frente.
DISCO 1:
A faixa título,
primeira música de trabalho, que já havia aparecido em LyricVideo (ver
abaixo), me deu uma tremenda impressão errada do que eu encararia por aqui.
Épica e misteriosa, com uma cara bem moderna, parecia indicar um trabalho
conceitual nos moldes de WelcomeToMyNightmare. A se estranhar, notei de
cara que a banda que gravou a música, com a exceção de TommyHenriksen (guitarra),
não é a formação que excursiona com Alice. Há até RogerGlover (DeepPurple) no baixo. Uma ótima faixa, a despeito da bateria meio disco
de LarryMullen (U2).
Epa, de uma música com características teatrais e bem épica somos
jogados na deliciosa e absolutamente sessentista DeadFlies. Com cara de Who e Hendrix, faz lembrar os primórdios da carreira de tia Alice. E o que falar do rock
psicodélico à lá MonsterMagnet da excelente Fireball, com órgão tocado pelo próprio
BobEzrin? A essa altura do campeonato qualquer fã de rock já ostenta um
sorriso na face. ParanoiacPersonality faz menção à WelcomeToMyNightmare e TheWall em sua
introdução e novamente evoca os primórdios da carreira solo de AliceCooper, mais uma boa música, talvez só um pouco aquém das
anteriores.
Não sou fã das produções exageradas de Mr. Ezrin, e em especial, acho que ele acabou de destruir o que sobrou
do Purple atual. Mas há de se
admitir, Bob consegue canalizar as
ideias teatrais de Alice como poucos
e fez um ótimo trabalho aqui, encontrando um meio termo entre sua
grandiloquência excessivamente polida e uma cara um pouco mais oldschool. Uma pena que as gravações tenham ficado a encargo de uma
série de convidados e músicos de estúdio, ao invés da banda fixa do cantor.
Tia Alice e sua trupe, 2016
FallenInLove é divertida e descompromissada,
e se tem um clima que remete ao ZZTop de sua era MTV, não é à toa, BillyGibbons está aqui. Já DynamiteRoad me fez pensar seriamente que alguém deveria bem ter entregue a
música ao MeatLoaf. PrivatePublicBreakdown é o mais perto que o material da bolachinha chega de soar
chato, mas ainda assim não é de todo ruim. Ah, mas HolyWater, com seu
refrão matador e um naipe de metais muito bem encaixado, acerta na mosca e traz
de volta a vontade de sacudir o esqueleto. E o que dizer dos pouco mais de dois
minutos de Rats? Nada, só tire o
tapete da sala! The Sound Of A fecha
o repertório do disco 1 em inexplicáveis 34 minutos com um clima mais soturno
que acompanha a faixa de abertura.
DISCO 2:
Bom, aqui temos o que
deveria ser a cereja do bolo: as duas músicas construídas para celebrar a
reunião de Alice com os membros sobreviventes da AliceCooperBand, NealSmith (bateria) DennisDunnaway (baixo) e MichaelBruce (Guitarra), que reinaram
absolutos ao lado do falecido GlenBuxton (falecido em 1997) de 1969 até
1973. Primeiro ponto, as duas músicas compostas e gravadas não destoam quase
nada do clima do material do disco 1, difícil entender o por quê foram
separadas. Segundo ponto, essa reunião já havia acontecido em três faixas de Welcome 2 My Nightmare, de 2011.
Difícil entender o furor, já que desde 2015 essa formação prometia um disco
completo. Sobre a qualidade do material, são boas canções, mas nada que mude o
mundo e inferiores a boa parte do material do disco 1. Uma pequena decepção, eu
diria.
Alice Cooper Band: o cheiro de cânfora no momento dessa foto é pungente
Completando
os parcos 38 minutos do disco 2, tempos uma seleção de 6 clássicos do AliceCooper executados pela formação que excursiona com a tia já tem
dois anos, muito bem gravados, obrigado. Bacana, mas nada de excepcional, tendo
em vista a miríade de versões ao vivo das mesmas músicas lançadas ano sim ano
sim.
Saldo Final
A
despeito do formato duplo não dizer muito ao que veio, o material inédito de
paranormal coloca a bolachinha dentro do hall dos grandes discos da discografia
de AliceCooper. Difícil encontrar artistas na cena rocker que ainda
consigam gravar discos tão divertidos e cheios de energia a essa altura da carreira.
Tia Alice é realmente paranormal!
NOTA: 8,66
Gravadora:
Shinigami Records (nacional).
Pontos
positivos: Alice inspirado e bem old school
Pontos
negativos: Difícil entender a opção por dois cds com menos de 80 minutos de
música
Muito se fala sobre o
vazio que os dinossauros do Metal deixarão quando suas carreiras finalmente
rumarem ao inevitável ocaso. Vários são os postulantes a um futuro reinado na
cena metálica, e nenhum desses chega perto de alcançar unanimidade. Mas poucas
bandas do HeavyMetal atual conseguem ao menos ganhar respeito da velha guarda
quanto o Mastodon.
E não sem
motivos.
Com uma sonoridade absolutamente idiossincrática e moderna, mas
repleta de elementos prontamente reconhecíveis pelos mais velhos (os constantes
duelos guitarrísticos que remetem a IronMaiden e até mesmo ThinLizzy e os devaneios progressivos e psicodélicos), os estadunidenses
galgaram terreno rumo ao mainstream com discos brilhantes como o visceral Leviathan e o viajante CrackTheSkye e com shows
repletos de fúria e destreza musical.
Mastodon atravessando o deserto...2017
Os
discos mais recentes da banda (TheHunter, OnceMoreRoundtheSun) tentaram
colocar uma rédea no caos musical, mas, talvez por isso mesmo, tenham soado
como versões boas, só que um pouco diluídas, do poderio do quarteto. Ao que
parece a própria banda sentiu isso, prometendo para o novo trabalho um enfoque
mais tresloucado, apostando novamente no formato de disco conceitual para
atingir seu objetivo.
Temática – Uma Banda
Amaldiçoada?
Não é novidade
associar tragédias pessoais às temáticas dos discos do Mastodon. Na verdade, tem sido assim desde que Crack the Skye foi escrito para espiar o peso psicológico que o
suicídio da irmã de Brann, SkyeDailor, deixou no músico. TheHunter já foi escrito em homenagem
ao irmão de Brent, morto no início
do processo criativo num acidente em uma expedição de caça. OnceMoreRoundTheSun já não fora inspirado em nenhuma desgraça, mas sim na luta de Bill para manter sua sobriedade depois
de uma infinidade de tentativas e internações infrutíferas.
Leviathan, dos tempos onde as histórias dos discos do Mastodon eram apenas histórias
Já
desta vez, a desgraça parece ter se abatido com força na banda. E sob a figura
de um inimigo comum: o câncer. A esposa de Troy
batalhou por sua vida contra um câncer de mama, e saiu vitoriosa. Já as mães de
Brann e Bill não tiveram a mesma sorte. Ambas sucumbiram ao inimigo. Ao
menos, no caso de Bill, a tragédia
colocou à prova sua sobriedade. O mesmo diz que o orgulho de sua mãe no leito
de morte foi ter visto que enfim o filho conseguia encarar o mundo de cara
limpa, e num momento terrível. A banda então resolveu criar uma história que
resumia em metáforas as agruras da terrível doença. O vilão, personificado
sobre a figura do Imperador da Areia, o mocinho, um incauto que é sentenciado à
morte, tendo que vagar pelo deserto para cumprir sua terrível sentença.
Cumpra a Sentença!
A produção vintage de
Brendan O’Brian salta aos ouvidos no
momento que a maldição do Sultão abre o disco, numa mistura de peso,
virtuosismo e psicodelia que consegue condensar todo o espectro da música do Mastodon em uma só faixa. O revezamento
nas limitadas vozes ao longo das músicas contribui bastante para a atmosfera
algo esquizofrênica da banda.
Segundo BrannDailor, principal voz na “quase
radiofônica” ShowYourself, primeira faixa de trabalho do
disco (ver vídeo), a banda viu que a simbiose com Brendan daria certo no novo
Cd quando ele transformou por absoluto a ideia inicial para essa música. Aliás,
se você acha que o trunfo aqui é o refrão grudento, preste atenção na orgia instrumental
concisa e de grande beleza que ela esconde.
PreciousStones
mostra o amadurecimento Mastodôntico em sua plenitude, as linhas melódicas
tomam nossos ouvidos com a facilidade de uma música da LadyGaga, mas a
estrutura da música é tão estranha quanto a dos tempos de Leviathan e Remission,
somente mais focada. As harmonias de guitarra aqui são tão clássicas que me
pego voltando até elas o tempo todo.
Steambreather, bem mais viajante e com ótimos solos, traz
mais um dos belos refrões em meio a suas letras algo contemplativas. O trabalho
com os timbres das guitarras nesse disco está fenomenal, cada solo e base
clinicamente pensados a casar com os arranjos.
Sobre o direcionamento do disco, que em algumas entrevistas a banda
garantiu ser mais voltada ao progressivo e aos primórdios de sua carreira, cabe
um capítulo à parte. Sim, o disco tem instrumental para lá de elaborado. Sim,
em alguns pontos isso remete ao passado. Mas não, você não está diante de algo
como Remission ou Leviathan. E, não, isso não é ruim. A
banda evoluiu muito, e com a ajuda de Brendan,
consegue fazer com que a essência seja mantida sem que se abra mão de uma maior
concisão nos temas, que se tornam até acessíveis. Escute a estonteante RootsRemain e diga olhando nos meus olhos que a banda se vendeu (seja lá o que querem dizer com "se vendeu"). Não faz
sentido, certo?
A grosseria da voz de Brent constrói
uma cama de ogridão para o final com a voz de Brann e os devaneios instrumentais de WordtotheWise, mostrando como com os arranjos certos e com uma estrutura bem
pensada, uma música de três minutos pode soar épica para caralho. E como coisas
tão tresloucadas e sujas como AncientKingdom, Clandestiny (com altas doses de psicoledia) ainda assim podem soar
quase radiofônicas? Maturidade aliada a um puta trabalho de produção. Conforme a
história vai se aproximando do fim, aparecem canções como Andromeda (recheada de Beatles)
e ScorpionBreath, com uma dinâmica algo teatral/cinemática.
O
final vem com a bela e apoteótica JaguarGod. A morte vem, como era esperado
desde o princípio, mas ela na verdade representa transformação e um novo
início, conforme o protagonista assume a forma do Deus Jaguar do título. Ok, isso
pede muito ácido na mente, mas musicalmente é um puta encerramento para um
disco excelente.
Saldo Final
Após
dois discos menores que davam a ideia de uma certa estagnação criativa, eis que
o Mastodon volta com um de seus
melhores trabalhos. E não seria realmente uma ironia do destino se os Deuses do
metal, diante do iminente ocaso dos dinossauros do estilo, viessem a coroar
justamente um gigantesco mamífero pré-histórico? Merecer eles merecem. Um dos
discos do ano!
NOTA:
9,58
Gravadora:
Warner Records (nacional).
Pontos
positivos: idiossincrático e muito bem desenvolvido e produzido
Pontos
negativos: pode soar moderno demais aos bocós Troozistas
Surgida em janeiro de
2016, Memoriam nada mais era do que
uma brincadeira entre amigos, que resolveram se juntar e tocar covers e lembrar
os momentos vividos ao lado de outro recém falecido amigo em comum. Ok, essa
bem poderia ser uma história padrão ao redor do globo, a história de um sem número
de bandas de amigos. E só não o é por que os nomes envolvidos são da nata do
death metal britânico: KarlWilletts (voz) e AndyWhale (bateria) do BoltThrower e ScottFairfax (guitarra) e FrankHealy (baixo), do Benediction.
O amigo falecido, o saudoso MartinKerns, baterista do BoltThrower, cuja morte, em 2015, decretara o fim da banda.
For The Old Men
Para nossa sorte, o projeto
evoluiu rapidamente, deixando os covers de lado para um material próprio que
não nega as origens de seus membros. Tendo feito sua estreia num Ep contendo demos de versões do BoltThrower, agora a banda aparece em seu primeiro FullLength, emoldurado
pela belíssima arte de capa de DanSeagrave, uma das melhores do ano. A
produção ficou ao encargo da banda, com AjeetGill operando a mesa de som e assumindo
a mixagem.
Memoriam, a faixa, é curta e cortante feito uma faca Ginsu
2000. Sua letra é obviamente uma ode ao falecido colega MartinKerns. Seu único
defeito é ser curta demais, preparando o terreno para WarRagesOn, faixa que facilmente poderia
figurar em qualquer clássico do BoltThrower. ReducedtoZero é pesada e densa feito piche, com
uma pegada que beira o Doom em
alguns momentos.
A velocidade dá as caras em partes da virulenta CorruptedSistem, com
aquele reminiscente de hardcore em seu Death
arrasa quarteirão alternando com um groove monstro. A avalanche de riffs e alternância
de andamentos também faz da longa Flatline
um deleite capaz de destroçar os pescoços mais sensíveis. Surrounded (ByDeath) é bem mais direta, um soco no
estômago que não dá muito tempo para respirar (ver vídeo).
Confesso que não sou o maior fã do mundo de vocais guturais, mas em
minha humilde opinião, KarlWilletts deveria servir de padrão para
a grande maioria dos cabruncos que se enveredam a explorar a are perdida dos cookiemonsters. Repleto de sotaque britânico e com um forte ranço punk, Karl consegue urrar com clareza letras
fortes como a de Resistance (ver
vídeo) e trazer algo muito além de interpretação monolítica para a Doom e sorumbática LastWords, com seus
quase nove minutos de existência fonográfica.
Saldo
final
Soturno e denso, pesado feito
um hipopótamo depois da ceia de natal, ForTheFallen é um daqueles discos que chega meio na surdina e que mostra
qualidade suficiente para conquistar um público para além do metal extremo. Se
irá se tornar um clássico, só o tempo dirá, mas posso garantir que estará em
minha infame lista de melhores desse ano. Espetacular.
NOTA:
9,52
Gravadora:
Shinigami Records (nacional).
Pontos
positivos: consegue soar old school e ainda assim ser relevante
Décimo quinto disco
de estúdio do combo teutônico de Heavy Metal liderado pelo guitarrista e clone
do BruceWillisWolfHoffman, The Rise Of Chaos veio ao mundo com a perigosa missão de manter o
altíssimo padrão de qualidade dos três discos anteriores, que proporcionaram um
segundo surto de popularidade junto aos fãs antigos e que angariaram uma
tonelada de novos fãs à banda.
Accept detonando em seu retorno
Só que dessa vez o desafio
ainda se faz maior, já que os colaboradores de longa data HermanFrank e StephanSchwarzmann resolveram abandonar o barco. Para o lugar deles foram
chamados UweLulis (guitarrista que fez fama junto ao GraveDigger) e o
relativamente desconhecido ChristopherWilliams. De resto, temos novamente Tornillo nos vocais, com PeterBaltes no baixo e o patrão nas guitarras e, muito provavelmente (tendo
em vista que não há créditos para as músicas no encarte), assinando as
composições. A produção caiu de novo no colo do mestre AndySneap, uma parceria
que vinha funcionando muito bem até o momento.
Die By the Sword é bem menos
frenética que as faixas de abertura que acostumamos escutar nesse glorioso
retorno. No entanto, o bom refrão e o exímio trabalho de guitarras acabam por
vencer e fazem desta um dos destaques do disco.
Mas a dobradinha que vem a seguir faz a empolgação com o novo disco cair
bastante. HoleIntheHead até tem uma interessante
interpretação BonScottiana nos versos, mas se perde em
um andamento morno e um refrão desinteressante. Já a faixa título, ao que
parece ganhou esse status por que compila o clima distópico que permeia a
maioria das letras do material, uma faixa bem mais ou menos.
Koolaid pode até ter se
inspirado um pouco além da conta em Thunderstruck,
mas é muito mais cativante que suas colegas de repertório, enfim uma boa
música, com o baixo de Baltes e as
boas melodias de Tornillo dando o
tom aqui. NoRegrets é outra boa faixa, com refrão bacana e andamento pesadão.
AnalogMan inicia com o som de uma fita rebobinando e termina com aquele
velho tom de modem discado, para emoldurar uma letra legal, que fará muito
coroa se identificar. Entretanto, a chupada que o pré-refrão dá em BallstotheWall só vem evidenciar que talvez a
banda devesse dar um tempo maior em seus lançamentos. Até faixas legais como What is Done is Done e WorldsColliding tem seu poderio diminuído pela sensação de que a banda
fizera as mesmas músicas de maneira mais inspirada nos discos anteriores.
Accept dessa vez está parecendo aquele meia alemão veterano que não volta para marcar
A produção de AndySneap tentou tornar o produto final menos parecido com seus irmãos
mais velhos, apostando em músicas menos longas, um som um pouco mais dinâmico e
menos pesado e com gang vocals bem mais discretos na mixagem. Mas sem muito
sucesso, CarrytheWeight segue a toada
de músicas apenas boazinhas e os 46 minutos da bolachinha se encerram com a
pouco inspirada RaceToExtinction.
Saldo
Final
The
Rise Of Chaos é um disco legal, se você for um fissurado por
Heavy Metal tradicional, dificilmente se sentirá incomodado com suas dez
faixas. Mas é impossível não notar uma queda criativa em relação aos discos
anteriores. A continuar nesse caminho, periga o Accept se tornar uma pálida imitação de si mesmo, coisa que o gnomo
do UDO já faz a muito tempo em sua
errática carreira solo, diga-se.
NOTA:
7,40
Gravadora:
Shinigami Records (nacional).
Pontos
positivos: Ainda é Accept e tem bons momentos
Pontos
negativos: começa a soar como comida requentada