quinta-feira, 1 de junho de 2017

Thunder – Rip It Up (Cd-2017)

Thunder - Rip It Up (Cd-2017)

Rabugice Inspirada
Por Trevas

Quem tem acompanhado a carreira dos britânicos do Thunder sabe bem que o sucesso do disco de retorno, Wonder Days (de 2015) pegou a todos de surpresa, principalmente os membros da banda, que já não tinham grandes esperanças em reviver o breve momento mainstream que alcançaram na década de 1990. Claro que toda vez que uma banda lança um disco acima da média acaba por criar uma expectativa de repetir o feito. E por vezes isso gera uma desconfortável pressão. Com os ombros carregados dessa pressão, os veteranos fizeram um singelo e contraditório pacto: o de não repetir a fórmula que deu certo em Wonder Days. Segundo o vocalista Daniel Bowes afirmou em entrevista à Classic Rock, Wonder Days celebrava a nostalgia. E a banda não quer ser somente nostálgica, quer também mostrar que tem futuro e não só passado.

Vamos à peleja, então...


Os velhinhos rabugentos na foto promocional da turnê do Reino Unido - 2017


A Zepelliana No One Gets Out Alive já joga em nossa cara a cristalina e bem pensada produção do disco, bem caprichada, mesmo. A música é honesta e consegue entreter, mas tal como a faixa título que vem em seguida, não chega a empolgar.




Mas a “ode invertida” à curtição nos bastidores do show business She Likes the Cocaine coloca o disco definitivamente nos trilhos – uma faixa midtempo que cresce ainda mais com a deliciosa adição de elementos vocais gospel totalmente contraditórios à excelente letra, um efeito sutil de sarcasmo britânico que nos faz lembrar que estamos lidando com uma banda inteligente.




A balada Right From the Start chega aos ouvidos para lembrar também que, a despeito da voz não necessariamente bela, Bowes tem um poder de interpretação admirável. Feeling puro que faz a faixa, simples em sua essência, se tornar um dos pontos do disco. Ah, e Luke Morley e Ben Matthews definitivamente estão à anos luz de serem guitarristas tecnicamente invejáveis, mas o belíssimo solo ao final da música mostra que isso pouco importa quando se tem bom gosto e criatividade.





Shakedown vem com uma carga de modernidade em seu refrão, contrastando com a sua levada de bateria repleta de cowbell, cortesia do preciso e simples Harry James (sempre jogando para o time), e com a malandragem old school da voz de Bowes. Heartbreak Hurricane eleva o nível da bolachinha ao máximo, com um ótimo arranjo (que cozinha bacana a dessa banda) realçando a beleza da linha melódica, com Daniel soando em alguns momentos como o brilhante Klaus Meine. Excelente.




O baixo pulsante de Chris Childs e um belo Hammond criam o clima de pub esfumaçado perfeito para que voz e solos bem pensados façam da bluesy In Another Life mais uma pequena pérola Thunderiana. Impressionante como arranjos fazem milagres. De um momento para outro somos jogados do pub esfumaçado para uma canção tipicamente AOR anos 1980. Mas a ótima The Chosen One passa longe de soar ultrapassada, graças aquela pegada encardida que sempre diferenciou o Thunder de boa parte das insípidas bandas do hard de sua época.


The Enemy Inside tem um clima mais para cima, a despeito do peso de sua letra, uma característica típica da banda, de usar a intenção de uma música como um acentuador de seu inteligente sarcasmo. Uma faixa menor dentro do alto padrão do disco, mas que de certa forma contribui como um certo “alívio cômico” depois de uma sequência de faixas densas. O clima rocker prossegue na bacana Tumbling Down e seu riff que parece andar em círculos. O clima de desesperança e humor negro embutido nas letras do disco tem seu ápice na balada There’s Always A Loser, que remete aos momentos mais soul de Paul Rodgers nos primeiros (e mais inspirados) discos do Bad Company.



Saldo Final

A intenção do Thunder em não repetir a fórmula de Wonder Days se mostra muito mais sutil do que o esperado, já que musicalmente o que temos aqui é o mais puro Hard encardido de outrora. A diferença é muito mais temática: se o disco anterior funcionava como uma celebração ao passado, Rip It Up parece muito mais um exercício de desesperança perante um presente repleto de nuvens escuras. Mas como já pontuei anteriormente, a banda se utiliza muito bem de seu humor tipicamente britânico. O resultado é um disco rabugentamente bonito e bem feito, que demora um pouquinho para engrenar, mas quando o faz, acaba por garantir um daqueles trabalhos para figurar em listas de melhores do ano dentro do estilo. Altamente recomendado.


NOTA: 8,49



Gravadora: ear Music (Importado)
Pontos positivos: inteligente e com belos arranjos e ótimas melodias
Pontos negativos: contraindicado a quem tem alergia a sarcasmo
Para fãs de: Deep Purple, Free, Bad Company
Classifique como: hard Rock, Blues Rock, Classic Rock













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