Thunder - Rip It Up (Cd-2017) |
Rabugice Inspirada
Por
Trevas
Quem
tem acompanhado a carreira dos britânicos do Thunder sabe bem que o sucesso do disco de retorno, Wonder Days (de 2015) pegou a todos de surpresa, principalmente os membros
da banda, que já não tinham grandes esperanças em reviver o breve momento mainstream que alcançaram na década de
1990. Claro que toda vez que uma banda lança um disco acima da média acaba por criar
uma expectativa de repetir o feito. E por vezes isso gera uma desconfortável
pressão. Com os ombros carregados dessa pressão, os veteranos fizeram um
singelo e contraditório pacto: o de não repetir a fórmula que deu certo em Wonder Days. Segundo o vocalista Daniel
Bowes afirmou em entrevista à Classic Rock, Wonder Days celebrava a nostalgia. E a banda
não quer ser somente nostálgica, quer também mostrar que tem futuro e não só
passado.
Vamos à peleja,
então...
Os velhinhos rabugentos na foto promocional da turnê do Reino Unido - 2017 |
A Zepelliana No One
Gets Out Alive já joga em
nossa cara a cristalina e bem pensada produção do disco, bem caprichada, mesmo.
A música é honesta e consegue entreter, mas tal como a faixa título que vem em
seguida, não chega a empolgar.
Mas a “ode invertida” à curtição nos bastidores do show business She Likes the Cocaine coloca o disco definitivamente
nos trilhos – uma faixa midtempo que
cresce ainda mais com a deliciosa adição de elementos vocais gospel totalmente contraditórios
à excelente letra, um efeito sutil de sarcasmo britânico que nos faz lembrar que
estamos lidando com uma banda inteligente.
A balada Right From the Start chega aos
ouvidos para lembrar também que, a despeito da voz não necessariamente bela, Bowes tem um poder de interpretação
admirável. Feeling puro que faz a faixa, simples em sua essência, se tornar um
dos pontos do disco. Ah, e Luke Morley e Ben Matthews
definitivamente estão à anos luz de serem guitarristas tecnicamente invejáveis,
mas o belíssimo solo ao final da música mostra que isso pouco importa quando se
tem bom gosto e criatividade.
Shakedown vem com uma carga de
modernidade em seu refrão, contrastando com a sua levada de bateria repleta de cowbell, cortesia do preciso e simples Harry James (sempre jogando para o time), e com a malandragem old school da voz de Bowes. Heartbreak Hurricane eleva o nível da bolachinha ao máximo, com um ótimo
arranjo (que cozinha bacana a dessa banda) realçando a beleza da linha
melódica, com Daniel soando em
alguns momentos como o brilhante Klaus
Meine. Excelente.
O baixo pulsante de Chris Childs e um belo Hammond criam o clima de pub esfumaçado perfeito para que voz e
solos bem pensados façam da bluesy In Another
Life mais uma pequena pérola Thunderiana. Impressionante como
arranjos fazem milagres. De um momento para outro somos jogados do pub
esfumaçado para uma canção tipicamente AOR
anos 1980. Mas a ótima The Chosen One passa longe de soar ultrapassada, graças aquela pegada
encardida que sempre diferenciou o Thunder
de boa parte das insípidas bandas do hard de sua época.
The Enemy
Inside tem um clima mais para cima,
a despeito do peso de sua letra, uma característica típica da banda, de usar a
intenção de uma música como um acentuador de seu inteligente sarcasmo. Uma
faixa menor dentro do alto padrão do disco, mas que de certa forma contribui
como um certo “alívio cômico” depois de uma sequência de faixas densas. O clima
rocker prossegue na bacana Tumbling Down e seu riff que
parece andar em círculos. O clima de desesperança e humor negro embutido nas
letras do disco tem seu ápice na balada There’s
Always A Loser, que remete aos
momentos mais soul de Paul Rodgers nos primeiros (e mais inspirados) discos do Bad Company.
Saldo Final
A
intenção do Thunder em não repetir a
fórmula de Wonder Days se mostra muito mais sutil do que
o esperado, já que musicalmente o que temos aqui é o mais puro Hard encardido
de outrora. A diferença é muito mais temática: se o disco anterior funcionava
como uma celebração ao passado, Rip It Up
parece muito mais um exercício de desesperança perante um presente repleto de
nuvens escuras. Mas como já pontuei anteriormente, a banda se utiliza muito bem
de seu humor tipicamente britânico. O resultado é um disco rabugentamente
bonito e bem feito, que demora um pouquinho para engrenar, mas quando o faz,
acaba por garantir um daqueles trabalhos para figurar em listas de melhores do
ano dentro do estilo. Altamente recomendado.
NOTA: 8,49
Gravadora: ear Music
(Importado)
Pontos positivos: inteligente
e com belos arranjos e ótimas melodias
Pontos negativos: contraindicado
a quem tem alergia a sarcasmo
Para fãs de: Deep Purple,
Free, Bad Company
Classifique como: hard Rock, Blues Rock, Classic
Rock
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