sábado, 24 de junho de 2017

Michael Schenker – Michael Schenker Fest Live (Blu-Ray – 2017)

Michael Schenker Fest 
O Baile da terceira Idade do Alemão
Por Trevas


Prólogo - Into the Arena

A arena lotada de comportados senhores de meia idade se levanta por um breve momento, cada qual buscando com os olhos por seu ídolo num palco ainda à penumbra. Percebem rapidamente que Searching For Freedom está ali somente em espírito, no som mecânico, que termina num fade out anticlimático. A banda desajeitadamente toma seu lugar, Michael Schenker assume o posto de frontman para anunciar animadamente a instrumental Into The Arena, e aí você se lembra o que tanto os nipônicos procuravam: um dos maiores guitarristas da história do rock, em uma de suas melhores fases técnicas, abrindo uma noite de sonhos para os fãs de sua errática carreira. Sim, temos o genioso gênio teutônico reunindo na mesma noite três vocalistas de fases distintas de sua carreira, cercado de ex-membros de encarnações diferentes do Michael Schenker Group. Tudo devidamente registrado, em formatos diferentes. Aqui será analisada a edição em Blu-Ray.

Detalhes do Blu-Ray

Capítulo Gary Barden

Gary Barden é o primeiro dos vocalistas a encarar os holofotes. E aí já temos uma pequena pista de que talvez a ideia da junção fique melhor no papel do que na prática. Uma lenta e algo desajeitada versão de Attack of the Mad Axeman mostra um Barden que se não compromete, também fica longe de empolgar. Os problemas com o set também dão as caras nesse momento. Com apenas cinco números a realizar com Barden, o porquê de termos a mediana Victim Of Illusion representada enquanto On and On, Are You Ready To Rock e Lost Horizons ficam de fora, me parece um mistério. Cry For The Nations ganha uma rendição bem caprichada, que nos faz ter aquele lampejo do poderio que representava o MSG no início dos anos 1980. Eu disse ali em cima que Mr. Barden não compromete? Sorry, falei cedo demais. Em Let Sleeping Dogs Lie sua performance é muito ruim, arruinando parcialmente uma das faixas mais emblemáticas daquela encarnação da banda. Armed And Ready também já não soa tão bem com nosso simpático vocalista, mas a energia dispensada na performance faz com que isso seja deixado de lado. Gary se despede abraçado ao patrão. Ficamos na espera que o segundo ato seja melhor.





Capítulo Graham Bonnet

Após uma ótima execução de Coast to Coast, instrumental composta por Michael para Lovedrive, do Scorpions, chega a hora de Graham Bonnet. Talvez o momento mais esperado do set, tendo em vista que o excêntrico vocalista conseguiu ser mandado embora da banda antes de fazer sua estreia nos palcos após lançar o excelente Assault Attack. Graham, cada vez mais parecido com o humorista Golias, já chega chegando: fazendo barulhos para testar a altura de sua voz, sem se importar disso aparecer no filme, faz o sinal para que aumentem sua voz. Então bem próximo dos 70 anos de idade, sua performance é curiosa, parece a todo momento que irá sair do tom ou falhar bizarramente, mas incrivelmente acerta muito mais do que erra (ah, sim erra também, fique bem claro). Sua presença é absolutamente magnética, é praticamente impossível descolar os olhos daquele estranho senhor de terno e gravata que, mesmo sem gostar nem um pouco de rock pesado, viveu seus poucos momentos de sucesso na carreira atado a esse nicho musical. Assault Attack, uma música para lá de complicada para qualquer cantor desse planeta ficou muito boa, e Desert Song, uma das melhores faixas de todo o material do MSG, ficou absolutamente linda, a despeito da dancinha supostamente sexy do rotundo e para lá de simpático Chris Glen. Chris, em conjunto com Ted Mckenna traz uma cozinha correta e sólida para o show. O outro membro fixo vem da era McAuley, Steve Mann, dividindo a segunda guitarra e os teclados com a competência e discrição necessários. A comercial Dancer fecha o capítulo Bonnet, com auxílio dos outros dois vocalistas nos backing vocals, uma ajuda bem-vinda ao nosso herói da terceira idade. Se o primeiro ato havia sido apenas ok, o segundo, divertido ainda que imperfeito, subiu bastante a qualidade da apresentação.




Capítulo Robin McAuley

A fantástica instrumental Captain Nemo faz as vezes de interseção entre os atos dessa vez, e confesso que não sabia o que esperar da apresentação com Robin McAuley, já que o material de sua era pendia muito mais para um Hard Rock festeiro e farofento e também pouco eu sabia sobre o que o canadense andava fazendo e como andaria sua voz atualmente. Robin, cuja idade está no meio do caminho entre os oito anos que separam Graham (o mais velho) de Gary (o mais novo) está em muito melhor forma que seus colegas. Com o visual que se esperaria de um cantor de rock pesado, Robin desfila com maestria entre números de sua fase (quando a banda atendia por McAuley Schenker Group) que tem como trunfo quase nunca figurarem nos repertórios do guitarrista alemão. Se This Is My heart e Love is Not a Game podem não fazer falta aos ouvidos dos fãs mais “troo”, acredito que seja impossível a qualquer ser vivo que curta hard/Heavy passar incólume à excelente e vigorosa Save Yourself, número em que Michael Schenker prova que seus dias de dificuldades técnicas fomentadas pelo abuso de substâncias ficaram bem para trás. De longe o melhor momento da noite. Schenker, aliás, pode ser doido, mas de bobo não tem nada. Foi exatamente Robin sua escolha para trabalhar nos clássicos do UFO Shoot Shoot e Rock Bottom, antes dos outros vocalistas voltarem para finalizar a festa com uma rendição algo bagunçada de Doctor Doctor.





Imagem e Som

Sem grandes arroubos visuais na produção de palco uma iluminação burocrática e cortes e edição para lá de comportados, o registro visual do show é correto. Há câmeras suficientes para garantir um produto de qualidade. A imagem é cristalina a maior parte do tempo, ficando desagradavelmente granulada nos momentos mais escuros, mas como estes são raros, não chega a ser um grande incômodo. Se visualmente o show é apenas correto, sonoramente o material é um tremendo desbunde. Ao menos no modo LPCM Stereo, já que não possuo equipamento para a mixagem em 5.1 disponível no Blu-Ray. Todos os instrumentos estão muito bem representados no mix e com um punch considerável. Não há tanto da plateia durante as músicas, é verdade, mas nesse caso fica claro que se deve muito mais ao comportamento padrão do silenciosamente devoto público nipônico. Ah, e uma curiosidade: todas as falhas técnicas, seja dos cantores, da banda ou até mesmo do patrão (sim, poucas, mas existem) foram mantidas na mixagem. Acho pouco provável que existam overdubs, o que me parece uma escolha acertada.


Material Bônus

O Blu-Ray ainda traz uma sequência de curtos capítulos documentando o evento, desde a saída de Osaka para Tóquio, mostrando a passagem de som, a expectativa dos fãs e cenas de bastidores. Enfim, o bônus que se esperaria de qualquer show lançado no formato Home Video (mas que nem sempre se faz presente). Ah, não há legendas em nenhuma língua e o inglês de parte da galera é bem esquisito. Boa sorte.


Saldo Final

Um cínico bem poderia achincalhar com propriedade o show aqui retratado, seja pela forma física de alguns dos envolvidos, seja pelas limitações técnicas impostas pela idade dos mesmos. Mas o que realmente importa é que sete músicos sessentões, entre erros e acertos, proporcionaram uma noite divertida e emocionante para uma arena abarrotada. E seja em cima do palco, seja na plateia, ao final do show não se viu nada além de sorrisos. Isso diz tudo o que você precisa saber.


NOTA: 8,00



Lançamento: Inakustik (importado)
Pontos positivos: Schenker em plena forma tirando poeira de algumas pérolas da sua discografia e revendo amigos
Pontos negativos: Gary Barden não anda lá muito inspirado e algumas escolhas do repertório não agradam.   
Para fãs de: Michael Schenker em geral
Classifique como: Hard Rock, Heavy Metal  














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