domingo, 11 de junho de 2017

Deep Purple – InFinite (Cd-2017)


Deep Purple - InFinite
Hora de Dar Tchau?
Por Trevas


Prólogo – Trevas, Blackmore, Morse e a Montanha Russa

Vamos ser honestos aqui, caros Criptomaníacos...Deep Purple foi, durante muito tempo, minha banda favorita. Mais precisamente durante os anos 1990, quando efetivamente me tornei fanático por Rock e comecei a descobrir os clássicos. Eu simplesmente ficava vidrado com a bateria diferente de Ian Paice, com o Hammond do eterno Jon Lord...mas era o som da guitarra de Ritchie Blackmore que me encantava mais. O mago dodói das ideias tinha um jeito de tocar que não parecia nada que eu já tinha visto ou ouvido (apesar de ter gerado uma horda de imitadores, o mais famoso o sueco, também maluco, Malmsteen). Blackmore fez despertar em mim a vontade de ser músico, como guitarrista. Infelizmente nunca tive talento e obstinação necessários para tocar guitarra decentemente. Acabei por acidente virando vocalista. Então, chegamos ao ponto crítico para preparar vossos espíritos para o que vem a seguir nesta resenha: quando o Purple anunciou a saída de Blackmore, lá no meio dos anos 1990, fiquei horrorizado. Mas minha adoração por Blackmore não era suficiente para me tornar surdo a material sem ele, não. Come Taste The Band é um puta disco, e conta com o saudoso Bolin, de estilo diverso demais do Ritchie, na guitarra. À época pouco ou nada conhecia do substituto, um redneck chamado Steve Morse. Até ligar os pontos: descobri que ele era responsável pelo pior disco de outra de minhas bandas favoritas, o péssimo Power, do Kansas. Aí a luz amarela acendeu. Mas ainda assim, fui encarar o disco vindouro, Purpendicular, de peito aberto. E até que gostei. Longe de ser um discaço, era melhor do que coisas como House of Blue Light e Slaves and Masters, bombas feitas sob a batuta de meu falível herói.


Purple em 1971, para muitos, o auge

Assisti o Purple nessa turnê, e mesmo diante do meu fascínio em poder ver uma das minhas bandas favoritas, não pude deixar de notar três coisas: 1. Gillan estava ficando péssimo ao vivo, 2. Morse podia ser bem técnico, mas seu som e meus ouvidos não casavam. 3. O Purple estava começando a soar como outra banda.

Discos vieram, cada um soando menos Purple e menos interessante aos meus ouvidos. Assisti a banda por mais duas vezes, até entender que ao menos para mim, a magia havia morrido. E por falar em morrer, foi com imenso desgosto que recebi a chocante notícia de que a banda seguiria seu caminho mesmo após o falecimento de Jon Lord. Purple sem Blackmore já me soa perigoso. Sem Lord também, é o equivalente a um Black Sabbath sem Tony Iommi. Simplesmente não faz sentido seguir sem os compositores de 97% do material clássico da banda. Me entristeci pela decisão de Ian Paice e Glover. Mas é um direito deles. Vida que segue.

Jon Lord, 1973. A alma da banda.

Bom, apaguei a banda da minha vida, até que esbarrei com uma cópia do então disco novo Now What!? Resolvi, sei lá por que cargas d’agua comprar a bolachinha. Soava como qualquer outra coisa, inclusive como a errática carreira solo de Gillan, até mesmo soava em momentos como um pastiche de ELP. Tudo, menos Purple. Se tornou a bomba do ano para mim. Me desfiz daquilo. Agora, escuto que a dobradinha com o produtor Bob Ezrin se repetiria, dessa vez num suposto disco de despedida. Somente por acreditar na tão falada despedida, resolvi escutar InFinite. E lá vamos nós...


O Fim de Uma Era?

Bom, entre ouvir o disco, escrever o esboço da resenha e ter coragem de publicar a mesma, esbarrei com duas boas entrevistas. Nelas, Gillan admite à Classic Rock e à Roadie Crew que a despedida da banda é uma farsa. Uma estratégia de marketing capitaneada pela gravadora, que inclusive, é a responsável pelo enganoso título. Um título bacana, que combina com a belíssima capa e arte gráfica. As únicas coisas que justificam a existência do que vem a seguir.

Time For Bedlam abre o disco. Primeira faixa de trabalho, me soou péssima à época do lançamento do Lyric Video (ver abaixo). Com o tempo acho que acostumei. Não, está longe de ser boa ou até mesmo razoável, mas ganha pontos por tentar soar única e relevante, o que infelizmente não acontece muito no restante do álbum.



Aí voltamos à dura realidade do Purple de 1994 para cá, Hip Boots é aquele rockinho para lá de safado, com mais um riff genérico de mr. Morse. Mas temos Don Airey e Bob Ezrin pode não saber o que fazer com o direcionamento do som do Purple, mas não é bobo, então afundou as guitarras no mix e deixou o teclado brilhar disco adentro.

All I Got Is You, outra das faixas de trabalho (ver vídeo abaixo), inicia com um tom algo melancólico e um trabalho interessante de Airey. Aqui Gillan até que não soa irritante como tem sido costume, mas os riffs qualquer nota de Morse falham em tornar a música algo além de agradável.



One Night In Vegas segue a toada da mediocridade. Fosse em outros tempos, com muita sorte serviria de lado B de um single não muito inspirado do Purple. Seria demais pedir por um bom riff? Em se tratando de Steve Morse, sim. O cara tem tanto rock no sangue quanto um Porquinho da Índia. A falta de inspiração é tamanha que fica até me peguei checando se a fraca Get Me Out Of Here já não havia tocado antes no disco...

Deep Purple 2017...colocando nossos ouvidos numa fria...
E então The Surprising chega, me trazendo uma grande...erh, surpresa...Sim, Gillan me presenteia, ao menos em parte da Power Ballad, com uma interpretação bem bacana. Não é uma faixa magistral, jamais a colocaria numa coletânea óctupla dos caras, e o maldito Ezrin novamente deixou o Purple soar em alguns momentos como uma banda progressiva pau mole, mas assim como Time For Bedlam, a música acaba por se salvar por ao menos tentar soar diferente.


Daí é ladeira abaixo. Jonny’s band tem uma bela introdução que parece chupada do Kansas. O que até cairia bem, mas logo Steve puxa mais um de seus brilhantes riffs feitos de água de chuchu e temos um rockinho para lá de fraco na extensa coleção recente do Purple. On Top Of The World começa e novamente não tenho muita certeza se já não ouvi essa mesma faixa no Bananas, ou no Abandon, ou em ambos. Não irrita e nem empolga, apenas passa sem mudar sua vida. Em Birds of Prey Steve Morse ao menos sai um pouco do piloto automático, só comprovando que ele se sai melhor quando não finge ter as manhas para o rock and roll. O que mata aqui é o arranjo das vozes, daqueles que marcaram o Gillan recente, anasalado e pentelho. Fico feliz por estar chegando ao fim da jornada. Tolinho. Me foge à compreensão como uma banda veterana e um produtor experiente deixam entrar em uma gravação oficial uma hecatombe nuclear que é essa desnecessária versão para a já muito batida Roadhouse Blues, do Doors. Gillan parece estar cantando de pura sacanagem, Morse definitivamente não funciona e nem mesmo Don Airey parece estar à vontade. Me pergunto se Ian Paice não sofreu seu AVC após escutar o resultado final. Uma das piores covers já feitas.  


Saldo Final

Por mais medíocre que o trabalho pós Purpendicular do Deep Purple se mostrasse, ainda existia em mim uma mínima fagulha de esperança que em seu suposto grito final a banda pudesse heroicamente mostrar redenção. Tolice pura. O segundo rebento da parceria com Bob Ezrin traz mais um apanhado de ideias desinteressantes e momentos constrangedores que fazem desse um dos piores discos da extensa discografia do Purple, uma (in)digna companhia aos igualmente ruins House of Blue Light, Slaves & Masters e Now What naquele canto empoeirado de nossa estante de CDs. Torço que o fim da banda não seja realmente pura estratégia de marketing. Triste, muito triste. 



NOTA: 5,19


Gravadora: Hellion (nacional)
Pontos positivos: Bela arte gráfica e Bob Ezrin traz sua habitual qualidade no som
Pontos negativos: músicas fracas e um guitarrista que parece ter preguiça de compor um riff de rock marcante 
Para fãs de: Ian Gillan Band em seus momentos mais soporíferos e tarados por Steve Morse
Classifique como: Rock de velho broxa























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