segunda-feira, 26 de junho de 2017

Striker – Striker (Cd-2017)

Striker (Cd - 2017)



Honrando a NWOTHM
Por Trevas

Geralmente quando uma banda que já tem alguns discos lançados solta no mercado um trabalho homônimo, passa a ideia ou de que se trata de um disco definitivo, ou de que ele representa uma reinvenção do que a banda fez até então. Lançado meio na surdina, o quinto Full Length dos canadenses mais prolíficos da NWOTHM me pegou de surpresa, e pela arte de capa simples e bacana que remete a demo tapes de eras passadas, imaginei que viria alguma coisa diferente por aí...




Apesar da capa evocar os primórdios do Heavy Metal, o som segue por uma vertente anos à frente, quando a NWOBHM resolvera americanizar seu formato consagrado para alçar maiores voos comerciais. Longe de ser uma crítica, já que quando a fórmula funciona, rende músicas fantásticas, como Former Glory, que abre o disco.






Aquela pegada à lá Anthrax que permeou a já clássica Underground, aparece aqui em Pass me By, mas dessa vez errando feio o alvo. Desnecessária, ainda termina com uma emulação de groove metal sem sal. Para nossa sorte o Metal “Final dos Anos 1980” retorna com um tributo ao Lemmy chamado Born To Lose (ver vídeo).





Cheating Death é uma curta instrumental que prepara o terreno para a ótima Shadows in The Night, com a guitarra frenética de Tim Brown, o baixo pulsante de William Wallace e a bateria rolo compressor de Adam Brown ganhando seus momentos de destaque. O vocal do ótimo Dan Cleary (que aqui também ataca de produtor) está soando melhor que nunca, agora quase sem gritinhos desnecessários e muito mais sólido e preocupado somente em criar boas melodias. A continuar nessa evolução, Dan vai se firmar soberano como o melhor vocalista dessa geração NWOTHM.


Blame Canada! Striker 2017


O ano de 1988 aparece muito bem representado na ótima Rock the Night com suas 789 toneladas de reverb e seu grudento refrão. Over The Top traz um pouco de modernidade à mistura, mas logo o ótimo refrão nos transporta de volta ao passado. Freedom’s Call, com sua levada de pirata, mantém o nível, que só cai um pouco com a Speed Metal (e pouco inspirada) Curse of the Dead. Nem tudo funciona às mil maravilhas, entretanto. A produção de Dan deixa o som um pouco saturado, algo que nem a mixagem do famoso Fredrik Nordström conseguiu salvar. O estrago só não é maior por que as músicas são no geral muito boas e a duração do disco é de apenas 33 minutos. Na edição limitada temos duas faixas bônus. Uma cover respeitosa e bacana para Desire, do Ozzy, e Heart of a Lion, lado B do Judas Priest que ganha uma rendição bem fraca.


Saldo Final

Salvo o problema com a produção, Striker, o disco, é uma bela continuação do trabalho que os canadenses vem apresentando. Longe dos exageros de outros colegas da NWOTHM, Striker, a banda, vem se tornando minha favorita da cena. Espero que no próximo disco os caras aliem suas ótimas composições à experiência de um produtor que saiba trabalhar melhor seu som. Ainda assim, um ótimo disco.


NOTA: 8,53


Lançamento: Avalon (importado)
Pontos positivos: ótimos solos e vocais, músicas contagiantes
Pontos negativos: a produção deixou o som saturado demais.  
Para fãs de: Cloven Hoof, Iron Maiden, Riot
Classifique como: Heavy Metal






sábado, 24 de junho de 2017

Michael Schenker – Michael Schenker Fest Live (Blu-Ray – 2017)

Michael Schenker Fest 
O Baile da terceira Idade do Alemão
Por Trevas


Prólogo - Into the Arena

A arena lotada de comportados senhores de meia idade se levanta por um breve momento, cada qual buscando com os olhos por seu ídolo num palco ainda à penumbra. Percebem rapidamente que Searching For Freedom está ali somente em espírito, no som mecânico, que termina num fade out anticlimático. A banda desajeitadamente toma seu lugar, Michael Schenker assume o posto de frontman para anunciar animadamente a instrumental Into The Arena, e aí você se lembra o que tanto os nipônicos procuravam: um dos maiores guitarristas da história do rock, em uma de suas melhores fases técnicas, abrindo uma noite de sonhos para os fãs de sua errática carreira. Sim, temos o genioso gênio teutônico reunindo na mesma noite três vocalistas de fases distintas de sua carreira, cercado de ex-membros de encarnações diferentes do Michael Schenker Group. Tudo devidamente registrado, em formatos diferentes. Aqui será analisada a edição em Blu-Ray.

Detalhes do Blu-Ray

Capítulo Gary Barden

Gary Barden é o primeiro dos vocalistas a encarar os holofotes. E aí já temos uma pequena pista de que talvez a ideia da junção fique melhor no papel do que na prática. Uma lenta e algo desajeitada versão de Attack of the Mad Axeman mostra um Barden que se não compromete, também fica longe de empolgar. Os problemas com o set também dão as caras nesse momento. Com apenas cinco números a realizar com Barden, o porquê de termos a mediana Victim Of Illusion representada enquanto On and On, Are You Ready To Rock e Lost Horizons ficam de fora, me parece um mistério. Cry For The Nations ganha uma rendição bem caprichada, que nos faz ter aquele lampejo do poderio que representava o MSG no início dos anos 1980. Eu disse ali em cima que Mr. Barden não compromete? Sorry, falei cedo demais. Em Let Sleeping Dogs Lie sua performance é muito ruim, arruinando parcialmente uma das faixas mais emblemáticas daquela encarnação da banda. Armed And Ready também já não soa tão bem com nosso simpático vocalista, mas a energia dispensada na performance faz com que isso seja deixado de lado. Gary se despede abraçado ao patrão. Ficamos na espera que o segundo ato seja melhor.





Capítulo Graham Bonnet

Após uma ótima execução de Coast to Coast, instrumental composta por Michael para Lovedrive, do Scorpions, chega a hora de Graham Bonnet. Talvez o momento mais esperado do set, tendo em vista que o excêntrico vocalista conseguiu ser mandado embora da banda antes de fazer sua estreia nos palcos após lançar o excelente Assault Attack. Graham, cada vez mais parecido com o humorista Golias, já chega chegando: fazendo barulhos para testar a altura de sua voz, sem se importar disso aparecer no filme, faz o sinal para que aumentem sua voz. Então bem próximo dos 70 anos de idade, sua performance é curiosa, parece a todo momento que irá sair do tom ou falhar bizarramente, mas incrivelmente acerta muito mais do que erra (ah, sim erra também, fique bem claro). Sua presença é absolutamente magnética, é praticamente impossível descolar os olhos daquele estranho senhor de terno e gravata que, mesmo sem gostar nem um pouco de rock pesado, viveu seus poucos momentos de sucesso na carreira atado a esse nicho musical. Assault Attack, uma música para lá de complicada para qualquer cantor desse planeta ficou muito boa, e Desert Song, uma das melhores faixas de todo o material do MSG, ficou absolutamente linda, a despeito da dancinha supostamente sexy do rotundo e para lá de simpático Chris Glen. Chris, em conjunto com Ted Mckenna traz uma cozinha correta e sólida para o show. O outro membro fixo vem da era McAuley, Steve Mann, dividindo a segunda guitarra e os teclados com a competência e discrição necessários. A comercial Dancer fecha o capítulo Bonnet, com auxílio dos outros dois vocalistas nos backing vocals, uma ajuda bem-vinda ao nosso herói da terceira idade. Se o primeiro ato havia sido apenas ok, o segundo, divertido ainda que imperfeito, subiu bastante a qualidade da apresentação.




Capítulo Robin McAuley

A fantástica instrumental Captain Nemo faz as vezes de interseção entre os atos dessa vez, e confesso que não sabia o que esperar da apresentação com Robin McAuley, já que o material de sua era pendia muito mais para um Hard Rock festeiro e farofento e também pouco eu sabia sobre o que o canadense andava fazendo e como andaria sua voz atualmente. Robin, cuja idade está no meio do caminho entre os oito anos que separam Graham (o mais velho) de Gary (o mais novo) está em muito melhor forma que seus colegas. Com o visual que se esperaria de um cantor de rock pesado, Robin desfila com maestria entre números de sua fase (quando a banda atendia por McAuley Schenker Group) que tem como trunfo quase nunca figurarem nos repertórios do guitarrista alemão. Se This Is My heart e Love is Not a Game podem não fazer falta aos ouvidos dos fãs mais “troo”, acredito que seja impossível a qualquer ser vivo que curta hard/Heavy passar incólume à excelente e vigorosa Save Yourself, número em que Michael Schenker prova que seus dias de dificuldades técnicas fomentadas pelo abuso de substâncias ficaram bem para trás. De longe o melhor momento da noite. Schenker, aliás, pode ser doido, mas de bobo não tem nada. Foi exatamente Robin sua escolha para trabalhar nos clássicos do UFO Shoot Shoot e Rock Bottom, antes dos outros vocalistas voltarem para finalizar a festa com uma rendição algo bagunçada de Doctor Doctor.





Imagem e Som

Sem grandes arroubos visuais na produção de palco uma iluminação burocrática e cortes e edição para lá de comportados, o registro visual do show é correto. Há câmeras suficientes para garantir um produto de qualidade. A imagem é cristalina a maior parte do tempo, ficando desagradavelmente granulada nos momentos mais escuros, mas como estes são raros, não chega a ser um grande incômodo. Se visualmente o show é apenas correto, sonoramente o material é um tremendo desbunde. Ao menos no modo LPCM Stereo, já que não possuo equipamento para a mixagem em 5.1 disponível no Blu-Ray. Todos os instrumentos estão muito bem representados no mix e com um punch considerável. Não há tanto da plateia durante as músicas, é verdade, mas nesse caso fica claro que se deve muito mais ao comportamento padrão do silenciosamente devoto público nipônico. Ah, e uma curiosidade: todas as falhas técnicas, seja dos cantores, da banda ou até mesmo do patrão (sim, poucas, mas existem) foram mantidas na mixagem. Acho pouco provável que existam overdubs, o que me parece uma escolha acertada.


Material Bônus

O Blu-Ray ainda traz uma sequência de curtos capítulos documentando o evento, desde a saída de Osaka para Tóquio, mostrando a passagem de som, a expectativa dos fãs e cenas de bastidores. Enfim, o bônus que se esperaria de qualquer show lançado no formato Home Video (mas que nem sempre se faz presente). Ah, não há legendas em nenhuma língua e o inglês de parte da galera é bem esquisito. Boa sorte.


Saldo Final

Um cínico bem poderia achincalhar com propriedade o show aqui retratado, seja pela forma física de alguns dos envolvidos, seja pelas limitações técnicas impostas pela idade dos mesmos. Mas o que realmente importa é que sete músicos sessentões, entre erros e acertos, proporcionaram uma noite divertida e emocionante para uma arena abarrotada. E seja em cima do palco, seja na plateia, ao final do show não se viu nada além de sorrisos. Isso diz tudo o que você precisa saber.


NOTA: 8,00



Lançamento: Inakustik (importado)
Pontos positivos: Schenker em plena forma tirando poeira de algumas pérolas da sua discografia e revendo amigos
Pontos negativos: Gary Barden não anda lá muito inspirado e algumas escolhas do repertório não agradam.   
Para fãs de: Michael Schenker em geral
Classifique como: Hard Rock, Heavy Metal  














terça-feira, 13 de junho de 2017

Curtas: Code Orange + Vírus + Rainbow

Curtas: Code Orange + Vírus + Rainbow
Olá, Guardiões da Cripta!

As Curtas da Cripta de hoje representam uma novidade aqui no Blog. Conforme a indústria musical sofre para encontrar alternativas à quase inexistente vendagem de material físico, torna-se cada vez mais comum para os artistas apostarem num formato que funcionou muito bem nos anos 1950/1960 – o Single. Como minha intenção é a de não perder nenhum lançamento das bandas que gosto, venho aqui pela primeira vez fazer avaliação de músicas nesse formato. Mais precisamente, trago aqui os dois primeiros singles do Rainbow redivivo e o fenomenal novo trabalho dos camaradas do Vírus.

Para fechar o trio de Curtas, temos também a primeira resenha para uma demo feita aqui na Cripta. Um caso bem especial, trata-se da banda de um amigo querido que tem muito tempo mora lá na terra do Schweinsteiger.

Espero que vocês curtam as novidades, uma ótima semana a todos!

Trevas  


Code Orange - Demo 02

Code Orange – Demo 02 (Demo - 2017)

Welcome to the Show!!!

Primeira demo a ser resenhada aqui na Cripta, Demo 02 é o novo cartão de visitas do combo alemão de Ingolstadt. Formado em 2007, o Code Orange não deve ser confundido com o grupo de Punk/Metalcore homônimo estadunidense que surgiria um ano depois. O som deles tem até pitadas de um Punk Rock em alguns momentos, mas o negócio aqui é um Hard Rock com doses de Heavy Metal.

Code Orange, o original.

Com nove faixas e pouco mais de 35 minutos, Demo 02 apresenta músicas gravadas em épocas e situações diferentes, o que gera também resultados diferentes. A visceral Welcome to the Show inaugura os trabalhos com um Sleaze contagiante guiado por bons riffs, uma cozinha bem rocker (ao encargo da baixista Pam Walter e do batera Benedikt Utz que funcionam sempre bem aqui), e um bom refrão que conta até com gang vocals muito bem encaixados. O vocalista, o Brasileiro Diego José de Calazans, encarna muito bem o estilo daquelas vozes do final dos anos 1980 aqui (soando até como o Axl Rose, em alguns momentos). Talvez seja um dos grandes destaques, junto com a paulada crítica de Blood, White and Blue, a contagiante Children of the Night e da virulenta Life’s A Bitch. Quando a banda flerta com o Punk, também diverte bastante, como nas urgentes Insecure e Sunny Days. O material apresenta uma qualidade de gravação bem bacana para uma Demo, no encarte constando agradecimentos aos engenheiros de som que ajudaram os teutônicos a obter o bom resultado.




Claro que nem tudo funciona à perfeição. Diego se sai muito bem quando canta agressivamente, mas nos vocais mais limpos ainda precisa encontrar sua voz e zona de conforto, indo muito bem em Children of the Night, nem tanto em The Capitulation e em An Angel Isn’t Better Than A Man, por exemplo. Os guitarristas Andre Eichmann e Alexander Mosen funcionam muito bem nas bases, com riffs inspirados e boas ideias, mas ainda precisam desenvolver melhor alguns solos. Mas são apenas detalhes, no geral a banda funciona muito bem e tem o que é mais importante, boas ideias...e determinação. Um promissor cartão de visitas, que venha logo o primeiro disco.






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Vírus - Povo do Céu 

Vírus – Povo do céu (Single – 2017)

Contágio Inspirador

Um dia considerada uma das mais promissoras bandas dentre as pioneiras do metal brasuca, a paulista Vírus parecia fadada a viver apenas na memória daqueles que bateram suas cabeças pela primeira vez diante de pérolas como Batalha no Setor Antares ou Matthew Hopkins no primeiro SP Metal. Por um longo tempo os únicos registros fonográficos da banda, datados de 1984, os dois sons clássicos ganharam companhia com a ótima Sacrifício, lançada meses atrás. E agora acabam de ganhar mais uma ilustre parceira.


Del Ciello, Piu e Flávio no Manifesto em 2017,  pelas lentes de Ricardo Ferreira (Roadie Crew)
Povo do céu, single produzido por Conrado Ruther e Luiz Fernando Vieira em conjunto com a própria banda, traz aquela sonoridade marcante e única daquelas duas faixas direto para 2017, mas com um belo toque setentista. O toque setentista, amplificado pelo estilo Blackmoriano de Fernando Piu, casa perfeitamente com a voz marcante de Flávio Ferb, que com brilhante interpretação de sua letra (evocando Erik Von Danniken) cria uma aura mística contagiante. Falei em contágio? Então, a cadenciada faixa faz justiça ao mote “Contagiometal” da banda, gruda no ouvido, contando com performances para lá de empolgantes do restante da banda, com RT Renato na guitarra, Lucio Del Ciello na bateria e Déio no baixo. E não posso deixar de mencionar a arte de capa do single, bonita demais e feita pelo próprio vocalista. Resta aos fãs do bom heavy metal em português torcer para que o primeiro disco da banda finalmente veja a luz do dia! Excelente! 



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Rainbow - I Surrender

Rainbow – I Surrender + Land Of Hope And Glory  (Singles - 2017)

Now What?!

Ok, ok, sei que tem muita gente me xingando por conta da resenha para o novo e horroroso disco do Purple. Entendam, se é ruim é ruim. E infelizmente isso vale para os primeiros lançamentos de estúdio do redivivo Rainbow. Blackmore continua imprevisível e lelé da cuca. O defendi quando ele optou por deixar o titio segunda divisão Joe Lynn Turner de fora da nova encarnação da banda, optando pela voz mais heavy metal do chileno Ronnie Romero. Uma voz muito mais voltada para o material da era Dio. Porra, aí vai Ritchie e resolve apresentar como primeira gravação da nova formação uma versão para a cover I Surrender, uma das mais xaroposas composições da fase mais xaroposa da banda. E o que é pior, a qualidade de gravação parece algo caseira, em especial o som da bateria e dos teclados. Ronnie se sai bem, assim como o patrão, mas sua escolha não faz muito sentido para esse tipo de som. Menos sentido ainda faz o segundo single, Land of Hope and Glory, uma versão instrumental modorrenta de um número clássico que sempre encerra as apresentações da banda, tocada no som mecânico. Nada que Blackmore não pudesse fazer rodeado de moças vestidas de fadas renascentistas junto ao Blackmore’s Night, o que é no mínimo, intrigante. Joe Lynn Turner deve estar se mijando de rir. E Blackmore, dentro de seu estranho senso de humor, talvez esteja rindo junto. Um péssimo recomeço.






















domingo, 11 de junho de 2017

Deep Purple – InFinite (Cd-2017)


Deep Purple - InFinite
Hora de Dar Tchau?
Por Trevas


Prólogo – Trevas, Blackmore, Morse e a Montanha Russa

Vamos ser honestos aqui, caros Criptomaníacos...Deep Purple foi, durante muito tempo, minha banda favorita. Mais precisamente durante os anos 1990, quando efetivamente me tornei fanático por Rock e comecei a descobrir os clássicos. Eu simplesmente ficava vidrado com a bateria diferente de Ian Paice, com o Hammond do eterno Jon Lord...mas era o som da guitarra de Ritchie Blackmore que me encantava mais. O mago dodói das ideias tinha um jeito de tocar que não parecia nada que eu já tinha visto ou ouvido (apesar de ter gerado uma horda de imitadores, o mais famoso o sueco, também maluco, Malmsteen). Blackmore fez despertar em mim a vontade de ser músico, como guitarrista. Infelizmente nunca tive talento e obstinação necessários para tocar guitarra decentemente. Acabei por acidente virando vocalista. Então, chegamos ao ponto crítico para preparar vossos espíritos para o que vem a seguir nesta resenha: quando o Purple anunciou a saída de Blackmore, lá no meio dos anos 1990, fiquei horrorizado. Mas minha adoração por Blackmore não era suficiente para me tornar surdo a material sem ele, não. Come Taste The Band é um puta disco, e conta com o saudoso Bolin, de estilo diverso demais do Ritchie, na guitarra. À época pouco ou nada conhecia do substituto, um redneck chamado Steve Morse. Até ligar os pontos: descobri que ele era responsável pelo pior disco de outra de minhas bandas favoritas, o péssimo Power, do Kansas. Aí a luz amarela acendeu. Mas ainda assim, fui encarar o disco vindouro, Purpendicular, de peito aberto. E até que gostei. Longe de ser um discaço, era melhor do que coisas como House of Blue Light e Slaves and Masters, bombas feitas sob a batuta de meu falível herói.


Purple em 1971, para muitos, o auge

Assisti o Purple nessa turnê, e mesmo diante do meu fascínio em poder ver uma das minhas bandas favoritas, não pude deixar de notar três coisas: 1. Gillan estava ficando péssimo ao vivo, 2. Morse podia ser bem técnico, mas seu som e meus ouvidos não casavam. 3. O Purple estava começando a soar como outra banda.

Discos vieram, cada um soando menos Purple e menos interessante aos meus ouvidos. Assisti a banda por mais duas vezes, até entender que ao menos para mim, a magia havia morrido. E por falar em morrer, foi com imenso desgosto que recebi a chocante notícia de que a banda seguiria seu caminho mesmo após o falecimento de Jon Lord. Purple sem Blackmore já me soa perigoso. Sem Lord também, é o equivalente a um Black Sabbath sem Tony Iommi. Simplesmente não faz sentido seguir sem os compositores de 97% do material clássico da banda. Me entristeci pela decisão de Ian Paice e Glover. Mas é um direito deles. Vida que segue.

Jon Lord, 1973. A alma da banda.

Bom, apaguei a banda da minha vida, até que esbarrei com uma cópia do então disco novo Now What!? Resolvi, sei lá por que cargas d’agua comprar a bolachinha. Soava como qualquer outra coisa, inclusive como a errática carreira solo de Gillan, até mesmo soava em momentos como um pastiche de ELP. Tudo, menos Purple. Se tornou a bomba do ano para mim. Me desfiz daquilo. Agora, escuto que a dobradinha com o produtor Bob Ezrin se repetiria, dessa vez num suposto disco de despedida. Somente por acreditar na tão falada despedida, resolvi escutar InFinite. E lá vamos nós...


O Fim de Uma Era?

Bom, entre ouvir o disco, escrever o esboço da resenha e ter coragem de publicar a mesma, esbarrei com duas boas entrevistas. Nelas, Gillan admite à Classic Rock e à Roadie Crew que a despedida da banda é uma farsa. Uma estratégia de marketing capitaneada pela gravadora, que inclusive, é a responsável pelo enganoso título. Um título bacana, que combina com a belíssima capa e arte gráfica. As únicas coisas que justificam a existência do que vem a seguir.

Time For Bedlam abre o disco. Primeira faixa de trabalho, me soou péssima à época do lançamento do Lyric Video (ver abaixo). Com o tempo acho que acostumei. Não, está longe de ser boa ou até mesmo razoável, mas ganha pontos por tentar soar única e relevante, o que infelizmente não acontece muito no restante do álbum.



Aí voltamos à dura realidade do Purple de 1994 para cá, Hip Boots é aquele rockinho para lá de safado, com mais um riff genérico de mr. Morse. Mas temos Don Airey e Bob Ezrin pode não saber o que fazer com o direcionamento do som do Purple, mas não é bobo, então afundou as guitarras no mix e deixou o teclado brilhar disco adentro.

All I Got Is You, outra das faixas de trabalho (ver vídeo abaixo), inicia com um tom algo melancólico e um trabalho interessante de Airey. Aqui Gillan até que não soa irritante como tem sido costume, mas os riffs qualquer nota de Morse falham em tornar a música algo além de agradável.



One Night In Vegas segue a toada da mediocridade. Fosse em outros tempos, com muita sorte serviria de lado B de um single não muito inspirado do Purple. Seria demais pedir por um bom riff? Em se tratando de Steve Morse, sim. O cara tem tanto rock no sangue quanto um Porquinho da Índia. A falta de inspiração é tamanha que fica até me peguei checando se a fraca Get Me Out Of Here já não havia tocado antes no disco...

Deep Purple 2017...colocando nossos ouvidos numa fria...
E então The Surprising chega, me trazendo uma grande...erh, surpresa...Sim, Gillan me presenteia, ao menos em parte da Power Ballad, com uma interpretação bem bacana. Não é uma faixa magistral, jamais a colocaria numa coletânea óctupla dos caras, e o maldito Ezrin novamente deixou o Purple soar em alguns momentos como uma banda progressiva pau mole, mas assim como Time For Bedlam, a música acaba por se salvar por ao menos tentar soar diferente.


Daí é ladeira abaixo. Jonny’s band tem uma bela introdução que parece chupada do Kansas. O que até cairia bem, mas logo Steve puxa mais um de seus brilhantes riffs feitos de água de chuchu e temos um rockinho para lá de fraco na extensa coleção recente do Purple. On Top Of The World começa e novamente não tenho muita certeza se já não ouvi essa mesma faixa no Bananas, ou no Abandon, ou em ambos. Não irrita e nem empolga, apenas passa sem mudar sua vida. Em Birds of Prey Steve Morse ao menos sai um pouco do piloto automático, só comprovando que ele se sai melhor quando não finge ter as manhas para o rock and roll. O que mata aqui é o arranjo das vozes, daqueles que marcaram o Gillan recente, anasalado e pentelho. Fico feliz por estar chegando ao fim da jornada. Tolinho. Me foge à compreensão como uma banda veterana e um produtor experiente deixam entrar em uma gravação oficial uma hecatombe nuclear que é essa desnecessária versão para a já muito batida Roadhouse Blues, do Doors. Gillan parece estar cantando de pura sacanagem, Morse definitivamente não funciona e nem mesmo Don Airey parece estar à vontade. Me pergunto se Ian Paice não sofreu seu AVC após escutar o resultado final. Uma das piores covers já feitas.  


Saldo Final

Por mais medíocre que o trabalho pós Purpendicular do Deep Purple se mostrasse, ainda existia em mim uma mínima fagulha de esperança que em seu suposto grito final a banda pudesse heroicamente mostrar redenção. Tolice pura. O segundo rebento da parceria com Bob Ezrin traz mais um apanhado de ideias desinteressantes e momentos constrangedores que fazem desse um dos piores discos da extensa discografia do Purple, uma (in)digna companhia aos igualmente ruins House of Blue Light, Slaves & Masters e Now What naquele canto empoeirado de nossa estante de CDs. Torço que o fim da banda não seja realmente pura estratégia de marketing. Triste, muito triste. 



NOTA: 5,19


Gravadora: Hellion (nacional)
Pontos positivos: Bela arte gráfica e Bob Ezrin traz sua habitual qualidade no som
Pontos negativos: músicas fracas e um guitarrista que parece ter preguiça de compor um riff de rock marcante 
Para fãs de: Ian Gillan Band em seus momentos mais soporíferos e tarados por Steve Morse
Classifique como: Rock de velho broxa























quinta-feira, 1 de junho de 2017

Thunder – Rip It Up (Cd-2017)

Thunder - Rip It Up (Cd-2017)

Rabugice Inspirada
Por Trevas

Quem tem acompanhado a carreira dos britânicos do Thunder sabe bem que o sucesso do disco de retorno, Wonder Days (de 2015) pegou a todos de surpresa, principalmente os membros da banda, que já não tinham grandes esperanças em reviver o breve momento mainstream que alcançaram na década de 1990. Claro que toda vez que uma banda lança um disco acima da média acaba por criar uma expectativa de repetir o feito. E por vezes isso gera uma desconfortável pressão. Com os ombros carregados dessa pressão, os veteranos fizeram um singelo e contraditório pacto: o de não repetir a fórmula que deu certo em Wonder Days. Segundo o vocalista Daniel Bowes afirmou em entrevista à Classic Rock, Wonder Days celebrava a nostalgia. E a banda não quer ser somente nostálgica, quer também mostrar que tem futuro e não só passado.

Vamos à peleja, então...


Os velhinhos rabugentos na foto promocional da turnê do Reino Unido - 2017


A Zepelliana No One Gets Out Alive já joga em nossa cara a cristalina e bem pensada produção do disco, bem caprichada, mesmo. A música é honesta e consegue entreter, mas tal como a faixa título que vem em seguida, não chega a empolgar.




Mas a “ode invertida” à curtição nos bastidores do show business She Likes the Cocaine coloca o disco definitivamente nos trilhos – uma faixa midtempo que cresce ainda mais com a deliciosa adição de elementos vocais gospel totalmente contraditórios à excelente letra, um efeito sutil de sarcasmo britânico que nos faz lembrar que estamos lidando com uma banda inteligente.




A balada Right From the Start chega aos ouvidos para lembrar também que, a despeito da voz não necessariamente bela, Bowes tem um poder de interpretação admirável. Feeling puro que faz a faixa, simples em sua essência, se tornar um dos pontos do disco. Ah, e Luke Morley e Ben Matthews definitivamente estão à anos luz de serem guitarristas tecnicamente invejáveis, mas o belíssimo solo ao final da música mostra que isso pouco importa quando se tem bom gosto e criatividade.





Shakedown vem com uma carga de modernidade em seu refrão, contrastando com a sua levada de bateria repleta de cowbell, cortesia do preciso e simples Harry James (sempre jogando para o time), e com a malandragem old school da voz de Bowes. Heartbreak Hurricane eleva o nível da bolachinha ao máximo, com um ótimo arranjo (que cozinha bacana a dessa banda) realçando a beleza da linha melódica, com Daniel soando em alguns momentos como o brilhante Klaus Meine. Excelente.




O baixo pulsante de Chris Childs e um belo Hammond criam o clima de pub esfumaçado perfeito para que voz e solos bem pensados façam da bluesy In Another Life mais uma pequena pérola Thunderiana. Impressionante como arranjos fazem milagres. De um momento para outro somos jogados do pub esfumaçado para uma canção tipicamente AOR anos 1980. Mas a ótima The Chosen One passa longe de soar ultrapassada, graças aquela pegada encardida que sempre diferenciou o Thunder de boa parte das insípidas bandas do hard de sua época.


The Enemy Inside tem um clima mais para cima, a despeito do peso de sua letra, uma característica típica da banda, de usar a intenção de uma música como um acentuador de seu inteligente sarcasmo. Uma faixa menor dentro do alto padrão do disco, mas que de certa forma contribui como um certo “alívio cômico” depois de uma sequência de faixas densas. O clima rocker prossegue na bacana Tumbling Down e seu riff que parece andar em círculos. O clima de desesperança e humor negro embutido nas letras do disco tem seu ápice na balada There’s Always A Loser, que remete aos momentos mais soul de Paul Rodgers nos primeiros (e mais inspirados) discos do Bad Company.



Saldo Final

A intenção do Thunder em não repetir a fórmula de Wonder Days se mostra muito mais sutil do que o esperado, já que musicalmente o que temos aqui é o mais puro Hard encardido de outrora. A diferença é muito mais temática: se o disco anterior funcionava como uma celebração ao passado, Rip It Up parece muito mais um exercício de desesperança perante um presente repleto de nuvens escuras. Mas como já pontuei anteriormente, a banda se utiliza muito bem de seu humor tipicamente britânico. O resultado é um disco rabugentamente bonito e bem feito, que demora um pouquinho para engrenar, mas quando o faz, acaba por garantir um daqueles trabalhos para figurar em listas de melhores do ano dentro do estilo. Altamente recomendado.


NOTA: 8,49



Gravadora: ear Music (Importado)
Pontos positivos: inteligente e com belos arranjos e ótimas melodias
Pontos negativos: contraindicado a quem tem alergia a sarcasmo
Para fãs de: Deep Purple, Free, Bad Company
Classifique como: hard Rock, Blues Rock, Classic Rock