Para os malucos(as) que como eu tem prazer em destrinchar as histórias que permeiam a trilha sonora que escolhemos para nossas vidas. E quantas histórias interessantes se escondem em cada esquina desse vasto mundo do rock! Vocês encontrarão por aqui resenhas de shows, discos, livros, dvds (blu-rays) e notícias comentadas sobre o mundo do rock. Espero que vocês gostem e visitem sempre ou eventualmente. Eu, certamente, me divertirei muito escrevendo aqui.
Geralmente quando uma
banda que já tem alguns discos lançados solta no mercado um trabalho homônimo,
passa a ideia ou de que se trata de um disco definitivo, ou de que ele
representa uma reinvenção do que a banda fez até então. Lançado meio na
surdina, o quinto FullLength dos canadenses mais prolíficos
da NWOTHM me pegou de surpresa, e
pela arte de capa simples e bacana que remete a demo tapes de eras passadas,
imaginei que viria alguma coisa diferente por aí...
Apesar
da capa evocar os primórdios do HeavyMetal, o som segue por uma vertente
anos à frente, quando a NWOBHM
resolvera americanizar seu formato consagrado para alçar maiores voos
comerciais. Longe de ser uma crítica, já que quando a fórmula funciona, rende
músicas fantásticas, como FormerGlory, que abre o disco.
Aquela pegada à lá Anthrax
que permeou a já clássica Underground,
aparece aqui em Pass me By, mas
dessa vez errando feio o alvo. Desnecessária, ainda termina com uma emulação de
groovemetal sem sal. Para nossa sorte o Metal “Final dos Anos 1980”
retorna com um tributo ao Lemmy
chamado BornToLose (ver vídeo).
CheatingDeath é uma curta instrumental que prepara o terreno para a ótima Shadowsin The Night, com a guitarra frenética de TimBrown, o baixo
pulsante de WilliamWallace e a bateria rolo compressor de Adam Brown ganhando seus momentos de
destaque. O vocal do ótimo DanCleary (que aqui também ataca de
produtor) está soando melhor que nunca, agora quase sem gritinhos desnecessários
e muito mais sólido e preocupado somente em criar boas melodias. A continuar
nessa evolução, Dan vai se firmar
soberano como o melhor vocalista dessa geração NWOTHM.
Blame Canada! Striker 2017
O
ano de 1988 aparece muito bem representado na ótima Rock the Night com suas 789 toneladas de reverb e seu grudento refrão. Over
The Top traz um pouco de modernidade à mistura, mas logo o ótimo refrão
nos transporta de volta ao passado. Freedom’s
Call, com sua levada de pirata, mantém o nível, que só cai um pouco com a SpeedMetal (e pouco inspirada) Curse
of the Dead. Nem tudo funciona às mil maravilhas, entretanto. A produção de
Dan deixa o som um pouco saturado, algo
que nem a mixagem do famoso FredrikNordström conseguiu salvar. O estrago
só não é maior por que as músicas são no geral muito boas e a duração do disco
é de apenas 33 minutos. Na edição limitada temos duas faixas bônus. Uma cover
respeitosa e bacana para Desire, do Ozzy, e Heart of a Lion, lado B do Judas
Priest que ganha uma rendição bem fraca.
Saldo Final
Salvo
o problema com a produção, Striker,
o disco, é uma bela continuação do trabalho que os canadenses vem apresentando.
Longe dos exageros de outros colegas da NWOTHM,
Striker, a banda, vem se tornando
minha favorita da cena. Espero que no próximo disco os caras aliem suas ótimas
composições à experiência de um produtor que saiba trabalhar melhor seu som. Ainda
assim, um ótimo disco.
NOTA: 8,53
Lançamento: Avalon
(importado)
Pontos positivos: ótimos
solos e vocais, músicas contagiantes
Pontos negativos: a
produção deixou o som saturado demais.
A arena lotada de
comportados senhores de meia idade se levanta por um breve momento, cada qual
buscando com os olhos por seu ídolo num palco ainda à penumbra. Percebem
rapidamente que SearchingForFreedom está ali somente em espírito, no som mecânico, que termina
num fade out anticlimático. A banda desajeitadamente toma seu lugar, MichaelSchenker assume o posto de frontman
para anunciar animadamente a instrumental Into
The Arena, e aí você se lembra o que tanto os nipônicos procuravam: um dos
maiores guitarristas da história do rock, em uma de suas melhores fases
técnicas, abrindo uma noite de sonhos para os fãs de sua errática carreira.
Sim, temos o genioso gênio teutônico reunindo na mesma noite três vocalistas de
fases distintas de sua carreira, cercado de ex-membros de encarnações
diferentes do Michael Schenker Group.
Tudo devidamente registrado, em formatos diferentes. Aqui será analisada a
edição em Blu-Ray.
Detalhes do Blu-Ray
Capítulo Gary Barden
Gary Barden é o primeiro dos vocalistas a encarar os
holofotes. E aí já temos uma pequena pista de que talvez a ideia da junção
fique melhor no papel do que na prática. Uma lenta e algo desajeitada versão de
Attack of the Mad Axeman mostra um Barden que se não compromete, também
fica longe de empolgar. Os problemas com o set também dão as caras nesse
momento. Com apenas cinco números a realizar com Barden, o porquê de termos a mediana Victim Of Illusion representada enquanto On and On, Are You Ready To
Rock e Lost Horizons ficam de
fora, me parece um mistério. Cry For The
Nations ganha uma rendição bem caprichada, que nos faz ter aquele lampejo
do poderio que representava o MSG no
início dos anos 1980. Eu disse ali em cima que Mr. Barden não compromete? Sorry, falei cedo demais. Em LetSleepingDogsLie sua performance é muito ruim,
arruinando parcialmente uma das faixas mais emblemáticas daquela encarnação da
banda. Armed And Ready também já não
soa tão bem com nosso simpático vocalista, mas a energia dispensada na
performance faz com que isso seja deixado de lado. Gary se despede abraçado ao patrão. Ficamos na espera que o segundo
ato seja melhor.
Capítulo Graham Bonnet
Após uma ótima
execução de Coast to Coast,
instrumental composta por Michael
para Lovedrive, do Scorpions, chega a hora de Graham Bonnet. Talvez o momento mais
esperado do set, tendo em vista que o excêntrico vocalista conseguiu ser
mandado embora da banda antes de fazer sua estreia nos palcos após lançar o
excelente AssaultAttack. Graham, cada vez mais parecido com o humorista Golias, já chega
chegando: fazendo barulhos para testar a altura de sua voz, sem se importar
disso aparecer no filme, faz o sinal para que aumentem sua voz. Então bem
próximo dos 70 anos de idade, sua performance é curiosa, parece a todo momento
que irá sair do tom ou falhar bizarramente, mas incrivelmente acerta muito mais
do que erra (ah, sim erra também, fique bem claro). Sua presença é
absolutamente magnética, é praticamente impossível descolar os olhos daquele
estranho senhor de terno e gravata que, mesmo sem gostar nem um pouco de rock
pesado, viveu seus poucos momentos de sucesso na carreira atado a esse nicho
musical. AssaultAttack, uma música para lá de
complicada para qualquer cantor desse planeta ficou muito boa, e DesertSong, uma das melhores faixas de todo o material do MSG, ficou absolutamente linda, a
despeito da dancinha supostamente sexy do rotundo e para lá de simpático ChrisGlen. Chris, em conjunto
com TedMckenna traz uma cozinha correta e sólida para o show. O outro
membro fixo vem da era McAuley, SteveMann, dividindo a segunda guitarra e os teclados com a competência e
discrição necessários. A comercial Dancer
fecha o capítulo Bonnet, com auxílio
dos outros dois vocalistas nos backing vocals, uma ajuda bem-vinda ao nosso
herói da terceira idade. Se o primeiro ato havia sido apenas ok, o segundo, divertido
ainda que imperfeito, subiu bastante a qualidade da apresentação.
Capítulo Robin McAuley
A fantástica
instrumental CaptainNemo faz as vezes de interseção entre
os atos dessa vez, e confesso que não sabia o que esperar da apresentação com RobinMcAuley, já que o material de sua era pendia muito mais para um HardRock festeiro e farofento e também pouco eu sabia sobre o que o
canadense andava fazendo e como andaria sua voz atualmente. Robin, cuja idade está no meio do
caminho entre os oito anos que separam Graham
(o mais velho) de Gary (o mais novo)
está em muito melhor forma que seus colegas. Com o visual que se esperaria de
um cantor de rock pesado, Robin desfila com maestria entre números de sua fase
(quando a banda atendia por McAuleySchenkerGroup) que tem como trunfo quase nunca figurarem nos repertórios do
guitarrista alemão. Se ThisIsMyheart e Love is Not a Game podem não fazer falta aos ouvidos dos fãs mais
“troo”, acredito que seja impossível a qualquer ser vivo que curta hard/Heavy
passar incólume à excelente e vigorosa Save
Yourself, número em que Michael
Schenker prova que seus dias de dificuldades técnicas fomentadas pelo abuso
de substâncias ficaram bem para trás. De longe o melhor momento da noite. Schenker, aliás, pode ser doido, mas de
bobo não tem nada. Foi exatamente Robin
sua escolha para trabalhar nos clássicos do UFOShootShoot e RockBottom, antes dos
outros vocalistas voltarem para finalizar a festa com uma rendição algo
bagunçada de DoctorDoctor.
Imagem e Som
Sem
grandes arroubos visuais na produção de palco uma iluminação burocrática e
cortes e edição para lá de comportados, o registro visual do show é correto. Há
câmeras suficientes para garantir um produto de qualidade. A imagem é
cristalina a maior parte do tempo, ficando desagradavelmente granulada nos
momentos mais escuros, mas como estes são raros, não chega a ser um grande
incômodo. Se visualmente o show é apenas correto, sonoramente o material é um
tremendo desbunde. Ao menos no modo LPCMStereo, já que não possuo
equipamento para a mixagem em 5.1 disponível no Blu-Ray. Todos os instrumentos estão muito bem representados no mix
e com um punch considerável. Não há tanto da plateia durante as músicas, é
verdade, mas nesse caso fica claro que se deve muito mais ao comportamento
padrão do silenciosamente devoto público nipônico. Ah, e uma curiosidade: todas
as falhas técnicas, seja dos cantores, da banda ou até mesmo do patrão (sim,
poucas, mas existem) foram mantidas na mixagem. Acho pouco provável que existam
overdubs, o que me parece uma
escolha acertada.
Material Bônus
O
Blu-Ray ainda traz uma sequência de
curtos capítulos documentando o evento, desde a saída de Osaka para Tóquio,
mostrando a passagem de som, a expectativa dos fãs e cenas de bastidores. Enfim,
o bônus que se esperaria de qualquer show lançado no formato HomeVideo (mas que nem sempre se faz presente). Ah, não há legendas em
nenhuma língua e o inglês de parte da galera é bem esquisito. Boa sorte.
Saldo Final
Um
cínico bem poderia achincalhar com propriedade o show aqui retratado, seja pela
forma física de alguns dos envolvidos, seja pelas limitações técnicas impostas
pela idade dos mesmos. Mas o que realmente importa é que sete músicos
sessentões, entre erros e acertos, proporcionaram uma noite divertida e
emocionante para uma arena abarrotada. E seja em cima do palco, seja na
plateia, ao final do show não se viu nada além de sorrisos. Isso diz tudo o que
você precisa saber.
NOTA: 8,00
Lançamento:
Inakustik (importado)
Pontos
positivos: Schenker em plena forma tirando poeira de algumas pérolas da sua
discografia e revendo amigos
Pontos
negativos: Gary Barden não anda lá muito inspirado e algumas escolhas do
repertório não agradam.
As
Curtas da Cripta de hoje representam uma novidade aqui no Blog. Conforme a
indústria musical sofre para encontrar alternativas à quase inexistente
vendagem de material físico, torna-se cada vez mais comum para os artistas
apostarem num formato que funcionou muito bem nos anos 1950/1960 – o Single. Como
minha intenção é a de não perder nenhum lançamento das bandas que gosto, venho
aqui pela primeira vez fazer avaliação de músicas nesse formato. Mais
precisamente, trago aqui os dois primeiros singles do Rainbow redivivo e o fenomenal novo trabalho dos camaradas do Vírus.
Para
fechar o trio de Curtas, temos também a primeira resenha para uma demo feita
aqui na Cripta. Um caso bem
especial, trata-se da banda de um amigo querido que tem muito tempo mora lá na
terra do Schweinsteiger.
Espero
que vocês curtam as novidades, uma ótima semana a todos!
Trevas
Code Orange - Demo 02
Code Orange – Demo 02
(Demo - 2017)
Welcome to the Show!!!
Primeira demo a ser
resenhada aqui na Cripta, Demo 02 é o novo cartão de visitas do combo alemão de
Ingolstadt. Formado em 2007, o CodeOrange não deve ser confundido com o grupo de Punk/Metalcore homônimo estadunidense que surgiria um ano depois. O som deles tem até pitadas de um PunkRock em alguns momentos, mas o negócio
aqui é um HardRock com doses de HeavyMetal.
Code Orange, o original.
Com nove faixas e pouco mais de 35 minutos, Demo 02 apresenta músicas
gravadas em épocas e situações diferentes, o que gera também resultados
diferentes. A visceral Welcome to the
Show inaugura os trabalhos com um Sleaze
contagiante guiado por bons riffs, uma cozinha bem rocker (ao encargo da baixista PamWalter e do batera BenediktUtz que funcionam sempre bem aqui), e um bom refrão que conta até
com gangvocals muito bem encaixados. O vocalista, o Brasileiro Diego José de Calazans, encarna muito
bem o estilo daquelas vozes do final dos anos 1980 aqui (soando até como o AxlRose, em alguns momentos). Talvez seja um dos grandes destaques,
junto com a paulada crítica de Blood,
White and Blue, a contagiante Children
of the Night e da virulenta Life’s A
Bitch. Quando a banda flerta com o Punk, também diverte bastante, como nas
urgentes Insecure e SunnyDays. O material apresenta uma qualidade de gravação bem bacana
para uma Demo, no encarte constando
agradecimentos aos engenheiros de som que ajudaram os teutônicos a obter o bom
resultado.
Claro que nem tudo funciona à perfeição. Diego se sai muito bem quando canta agressivamente, mas nos vocais
mais limpos ainda precisa encontrar sua voz e zona de conforto, indo muito bem
em Children of the Night, nem tanto
em The Capitulation e em An Angel Isn’t Better Than A Man, por
exemplo. Os guitarristas Andre Eichmann
e Alexander Mosen funcionam muito
bem nas bases, com riffs inspirados e boas ideias, mas ainda precisam
desenvolver melhor alguns solos. Mas são apenas detalhes, no geral a banda
funciona muito bem e tem o que é mais importante, boas ideias...e determinação.
Um promissor cartão de visitas, que venha logo o primeiro disco.
Um dia considerada
uma das mais promissoras bandas dentre as pioneiras do metal brasuca, a paulista Vírus parecia fadada a viver apenas na
memória daqueles que bateram suas cabeças pela primeira vez diante de pérolas
como Batalha no Setor Antares ou Matthew Hopkins no primeiro SP Metal. Por um longo tempo os únicos
registros fonográficos da banda, datados de 1984, os dois sons clássicos ganharam
companhia com a ótima Sacrifício,
lançada meses atrás. E agora acabam de ganhar mais uma ilustre parceira.
Del Ciello, Piu e Flávio no Manifesto em 2017, pelas lentes de Ricardo Ferreira (Roadie Crew)
Povo do céu, single produzido
por ConradoRuther e LuizFernandoVieira em conjunto com a própria banda, traz aquela sonoridade
marcante e única daquelas duas faixas direto para 2017, mas com um belo toque
setentista. O toque setentista, amplificado pelo estilo Blackmoriano de FernandoPiu, casa perfeitamente com a voz
marcante de Flávio Ferb, que com
brilhante interpretação de sua letra (evocando Erik Von Danniken) cria uma aura mística contagiante. Falei em
contágio? Então, a cadenciada faixa faz justiça ao mote “Contagiometal” da banda, gruda no ouvido, contando com performances
para lá de empolgantes do restante da banda, com RTRenato na guitarra, LucioDelCiello na bateria e Déio no baixo. E não posso deixar de
mencionar a arte de capa do single, bonita demais e feita pelo próprio
vocalista. Resta aos fãs do bom heavy metal em português torcer para que o
primeiro disco da banda finalmente veja a luz do dia! Excelente!
Rainbow – I Surrender + Land
Of Hope And Glory (Singles - 2017)
Now What?!
Ok, ok, sei que tem
muita gente me xingando por conta da resenha para o novo e horroroso disco do Purple. Entendam, se é ruim é ruim. E
infelizmente isso vale para os primeiros lançamentos de estúdio do redivivo Rainbow. Blackmore continua imprevisível e lelé da cuca. O defendi quando
ele optou por deixar o titio segunda divisão JoeLynnTurner de fora da nova encarnação da
banda, optando pela voz mais heavy metal do chileno RonnieRomero. Uma voz
muito mais voltada para o material da era Dio.
Porra, aí vai Ritchie e resolve
apresentar como primeira gravação da nova formação uma versão para a cover ISurrender,
uma das mais xaroposas composições da fase mais xaroposa da banda. E o que é
pior, a qualidade de gravação parece algo caseira, em especial o som da bateria
e dos teclados. Ronnie se sai bem,
assim como o patrão, mas sua escolha não faz muito sentido para esse tipo de
som. Menos sentido ainda faz o segundo single, Land of Hope and Glory, uma versão instrumental modorrenta de um
número clássico que sempre encerra as apresentações da banda, tocada no som
mecânico. Nada que Blackmore não
pudesse fazer rodeado de moças vestidas de fadas renascentistas junto ao Blackmore’s Night, o que é no mínimo,
intrigante. Joe Lynn Turner deve
estar se mijando de rir. E Blackmore,
dentro de seu estranho senso de humor, talvez esteja rindo junto. Um péssimo
recomeço.
Prólogo – Trevas,
Blackmore, Morse e a Montanha Russa
Vamos ser honestos
aqui, caros Criptomaníacos...Deep Purple
foi, durante muito tempo, minha banda favorita. Mais precisamente durante
os anos 1990, quando efetivamente me tornei fanático por Rock e comecei a
descobrir os clássicos. Eu simplesmente ficava vidrado com a bateria diferente
de Ian Paice, com o Hammond do eterno JonLord...mas era o som
da guitarra de RitchieBlackmore que me encantava mais. O mago
dodói das ideias tinha um jeito de tocar que não parecia nada que eu já tinha
visto ou ouvido (apesar de ter gerado uma horda de imitadores, o mais famoso o
sueco, também maluco, Malmsteen). Blackmore fez despertar em mim a
vontade de ser músico, como guitarrista. Infelizmente nunca tive talento e
obstinação necessários para tocar guitarra decentemente. Acabei por acidente
virando vocalista. Então, chegamos ao ponto crítico para preparar vossos
espíritos para o que vem a seguir nesta resenha: quando o Purple anunciou a saída de Blackmore,
lá no meio dos anos 1990, fiquei horrorizado. Mas minha adoração por Blackmore não era suficiente para me
tornar surdo a material sem ele, não. ComeTasteTheBand é um puta
disco, e conta com o saudoso Bolin, de
estilo diverso demais do Ritchie, na guitarra. À época pouco ou nada conhecia
do substituto, um redneck chamado SteveMorse. Até ligar os pontos: descobri
que ele era responsável pelo pior disco de outra de minhas bandas favoritas, o
péssimo Power, do Kansas. Aí a luz amarela acendeu. Mas ainda
assim, fui encarar o disco vindouro, Purpendicular,
de peito aberto. E até que gostei. Longe de ser um discaço, era melhor do que
coisas como House of Blue Light e SlavesandMasters, bombas
feitas sob a batuta de meu falível herói.
Purple em 1971, para muitos, o auge
Assisti
o Purple nessa turnê, e mesmo diante
do meu fascínio em poder ver uma das minhas bandas favoritas, não pude deixar
de notar três coisas: 1. Gillan
estava ficando péssimo ao vivo, 2. Morse
podia ser bem técnico, mas seu som e meus ouvidos não casavam. 3. O Purple estava começando a soar como outra
banda.
Discos vieram, cada
um soando menos Purple e menos
interessante aos meus ouvidos. Assisti a banda por mais duas vezes, até
entender que ao menos para mim, a magia havia morrido. E por falar em morrer,
foi com imenso desgosto que recebi a chocante notícia de que a banda seguiria
seu caminho mesmo após o falecimento de JonLord. Purple sem Blackmore já me soa perigoso. Sem Lord também,
é o equivalente a um BlackSabbath sem TonyIommi. Simplesmente
não faz sentido seguir sem os compositores de 97% do material clássico da banda.
Me entristeci pela decisão de IanPaice e Glover. Mas é um direito deles. Vida que segue.
Jon Lord, 1973. A alma da banda.
Bom,
apaguei a banda da minha vida, até que esbarrei com uma cópia do então disco
novo Now What!? Resolvi, sei lá por
que cargas d’agua comprar a bolachinha. Soava como qualquer outra coisa,
inclusive como a errática carreira solo de Gillan,
até mesmo soava em momentos como um pastiche de ELP. Tudo, menos Purple.
Se tornou a bomba do ano para mim. Me desfiz daquilo. Agora, escuto que a
dobradinha com o produtor Bob Ezrin
se repetiria, dessa vez num suposto disco de despedida. Somente por acreditar
na tão falada despedida, resolvi escutar InFinite.
E lá vamos nós...
O Fim de Uma Era?
Bom,
entre ouvir o disco, escrever o esboço da resenha e ter coragem de publicar a
mesma, esbarrei com duas boas entrevistas. Nelas, Gillan admite à ClassicRock e à RoadieCrew que a
despedida da banda é uma farsa. Uma estratégia de marketing capitaneada pela
gravadora, que inclusive, é a responsável pelo enganoso título. Um título
bacana, que combina com a belíssima capa e arte gráfica. As únicas coisas que
justificam a existência do que vem a seguir.
TimeForBedlam abre o disco. Primeira faixa de
trabalho, me soou péssima à época do lançamento do LyricVideo (ver abaixo).
Com o tempo acho que acostumei. Não, está longe de ser boa ou até mesmo
razoável, mas ganha pontos por tentar soar única e relevante, o que
infelizmente não acontece muito no restante do álbum.
Aí
voltamos à dura realidade do Purple
de 1994 para cá, HipBoots é aquele rockinho para lá de
safado, com mais um riff genérico de mr. Morse.
Mas temos DonAirey e BobEzrin pode não saber o que fazer com o
direcionamento do som do Purple, mas
não é bobo, então afundou as guitarras no mix e deixou o teclado brilhar disco
adentro.
All I Got Is You, outra das faixas de
trabalho (ver vídeo abaixo), inicia com um tom algo melancólico e um trabalho
interessante de Airey. Aqui Gillan até que não soa irritante como
tem sido costume, mas os riffs qualquer nota de Morse falham em tornar a música algo além de agradável.
One Night In Vegas segue a toada da
mediocridade. Fosse em outros tempos, com muita sorte serviria de lado B de um
single não muito inspirado do Purple.
Seria demais pedir por um bom riff? Em se tratando de SteveMorse, sim. O cara
tem tanto rock no sangue quanto um Porquinho da Índia. A falta de inspiração é
tamanha que fica até me peguei checando se a fraca Get Me Out Of Here já não havia tocado antes no disco...
Deep Purple 2017...colocando nossos ouvidos numa fria...
E
então The Surprising chega, me
trazendo uma grande...erh, surpresa...Sim, Gillan
me presenteia, ao menos em parte da Power Ballad, com uma interpretação bem
bacana. Não é uma faixa magistral, jamais a colocaria numa coletânea óctupla dos
caras, e o maldito Ezrin novamente
deixou o Purple soar em alguns
momentos como uma banda progressiva pau mole, mas assim como TimeForBedlam, a música
acaba por se salvar por ao menos tentar soar diferente.
Daí
é ladeira abaixo. Jonny’s band tem
uma bela introdução que parece chupada do Kansas.
O que até cairia bem, mas logo Steve
puxa mais um de seus brilhantes riffs feitos de água de chuchu e temos um
rockinho para lá de fraco na extensa coleção recente do Purple. On Top Of The World
começa e novamente não tenho muita certeza se já não ouvi essa mesma faixa no Bananas, ou no Abandon, ou em ambos. Não irrita e nem empolga, apenas passa sem
mudar sua vida. Em Birds of Prey Steve
Morse ao menos sai um pouco do piloto automático, só comprovando que ele se
sai melhor quando não finge ter as manhas para o rock and roll. O que mata aqui
é o arranjo das vozes, daqueles que marcaram o Gillan recente, anasalado e pentelho. Fico feliz por estar chegando
ao fim da jornada. Tolinho. Me foge à compreensão como uma banda veterana e um
produtor experiente deixam entrar em uma gravação oficial uma hecatombe nuclear
que é essa desnecessária versão para a já muito batida RoadhouseBlues, do Doors. Gillan parece estar cantando de pura sacanagem, Morse definitivamente não funciona e
nem mesmo DonAirey parece estar à vontade. Me pergunto se IanPaice não sofreu seu
AVC após escutar o resultado final. Uma das piores covers já feitas.
Saldo Final
Por
mais medíocre que o trabalho pós Purpendicular
do DeepPurple se mostrasse, ainda existia em mim uma mínima fagulha de
esperança que em seu suposto grito final a banda pudesse heroicamente mostrar
redenção. Tolice pura. O segundo rebento da parceria com BobEzrin traz mais um
apanhado de ideias desinteressantes e momentos constrangedores que fazem desse
um dos piores discos da extensa discografia do Purple, uma (in)digna companhia aos igualmente ruins Houseof Blue Light, Slaves & Masters e NowWhat naquele canto
empoeirado de nossa estante de CDs. Torço que o fim da banda não seja realmente
pura estratégia de marketing. Triste, muito triste.
NOTA: 5,19
Gravadora:
Hellion (nacional)
Pontos
positivos: Bela arte gráfica e Bob Ezrin traz sua habitual qualidade no som
Pontos
negativos: músicas fracas e um guitarrista que parece ter preguiça de compor um
riff de rock marcante
Para
fãs de: Ian Gillan Band em seus momentos mais soporíferos e tarados por Steve
Morse
Quem
tem acompanhado a carreira dos britânicos do Thunder sabe bem que o sucesso do disco de retorno, WonderDays (de 2015) pegou a todos de surpresa, principalmente os membros
da banda, que já não tinham grandes esperanças em reviver o breve momento mainstream que alcançaram na década de
1990. Claro que toda vez que uma banda lança um disco acima da média acaba por criar
uma expectativa de repetir o feito. E por vezes isso gera uma desconfortável
pressão. Com os ombros carregados dessa pressão, os veteranos fizeram um
singelo e contraditório pacto: o de não repetir a fórmula que deu certo em WonderDays. Segundo o vocalista DanielBowes afirmou em entrevista à ClassicRock, WonderDays celebrava a nostalgia. E a banda
não quer ser somente nostálgica, quer também mostrar que tem futuro e não só
passado.
Vamos à peleja,
então...
Os velhinhos rabugentos na foto promocional da turnê do Reino Unido - 2017
A ZepellianaNoOneGetsOutAlive já joga em
nossa cara a cristalina e bem pensada produção do disco, bem caprichada, mesmo.
A música é honesta e consegue entreter, mas tal como a faixa título que vem em
seguida, não chega a empolgar.
Mas a “ode invertida” à curtição nos bastidores do showbusinessSheLikestheCocaine coloca o disco definitivamente
nos trilhos – uma faixa midtempo que
cresce ainda mais com a deliciosa adição de elementos vocais gospel totalmente contraditórios
à excelente letra, um efeito sutil de sarcasmo britânico que nos faz lembrar que
estamos lidando com uma banda inteligente.
A balada RightFromtheStart chega aos
ouvidos para lembrar também que, a despeito da voz não necessariamente bela, Bowes tem um poder de interpretação
admirável. Feeling puro que faz a faixa, simples em sua essência, se tornar um
dos pontos do disco. Ah, e LukeMorley e BenMatthews
definitivamente estão à anos luz de serem guitarristas tecnicamente invejáveis,
mas o belíssimo solo ao final da música mostra que isso pouco importa quando se
tem bom gosto e criatividade.
Shakedown vem com uma carga de
modernidade em seu refrão, contrastando com a sua levada de bateria repleta de cowbell, cortesia do preciso e simples HarryJames (sempre jogando para o time), e com a malandragem oldschool da voz de Bowes. HeartbreakHurricane eleva o nível da bolachinha ao máximo, com um ótimo
arranjo (que cozinha bacana a dessa banda) realçando a beleza da linha
melódica, com Daniel soando em
alguns momentos como o brilhante KlausMeine. Excelente.
O baixo pulsante de ChrisChilds e um belo Hammond criam o clima de pub esfumaçado perfeito para que voz e
solos bem pensados façam da bluesyInAnotherLife mais uma pequena pérola Thunderiana. Impressionante como
arranjos fazem milagres. De um momento para outro somos jogados do pub
esfumaçado para uma canção tipicamente AOR
anos 1980. Mas a ótima TheChosenOne passa longe de soar ultrapassada, graças aquela pegada
encardida que sempre diferenciou o Thunder
de boa parte das insípidas bandas do hard de sua época.
TheEnemyInside tem um clima mais para cima,
a despeito do peso de sua letra, uma característica típica da banda, de usar a
intenção de uma música como um acentuador de seu inteligente sarcasmo. Uma
faixa menor dentro do alto padrão do disco, mas que de certa forma contribui
como um certo “alívio cômico” depois de uma sequência de faixas densas. O clima
rocker prossegue na bacana TumblingDown e seu riff que
parece andar em círculos. O clima de desesperança e humor negro embutido nas
letras do disco tem seu ápice na balada There’sAlwaysALoser, que remete aos
momentos mais soul de PaulRodgers nos primeiros (e mais inspirados) discos do BadCompany.
Saldo Final
A
intenção do Thunder em não repetir a
fórmula de WonderDays se mostra muito mais sutil do que
o esperado, já que musicalmente o que temos aqui é o mais puro Hard encardido
de outrora. A diferença é muito mais temática: se o disco anterior funcionava
como uma celebração ao passado, RipItUp
parece muito mais um exercício de desesperança perante um presente repleto de
nuvens escuras. Mas como já pontuei anteriormente, a banda se utiliza muito bem
de seu humor tipicamente britânico. O resultado é um disco rabugentamente
bonito e bem feito, que demora um pouquinho para engrenar, mas quando o faz,
acaba por garantir um daqueles trabalhos para figurar em listas de melhores do
ano dentro do estilo. Altamente recomendado.
NOTA: 8,49
Gravadora: ear Music
(Importado)
Pontos positivos: inteligente
e com belos arranjos e ótimas melodias
Pontos negativos: contraindicado
a quem tem alergia a sarcasmo
Para fãs de: Deep Purple,
Free, Bad Company
Classifique como: hard Rock, Blues Rock, Classic
Rock