segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Curtas: Claustrofobia, Oceans Of Slumber, Trees Of Eternity, High Spirits

Claustrofobia, Oceans Of Slumber, Trees Of Eternity, High Spirits


Claustrofobia - Download Hatred (Cd-2016)
Claustrofobia – Download Hatred (Cd-2016)

Ódio Musicado

O sexto disco dos paulistas do Claustrofobia começa de forma avassaladora com a faixa título, que me remeteu aos bons momentos dos mestres poloneses do Vader. A produção absurda do britânico Russ Russell (que já trabalhou com nomes tão variados quanto Napalm Death, New Model Army, Amorphis e...Evil Scarecrow!?!?!?) só veio a melhorar o que já era bastante bom. São dez faixas que alternam entre velocidade e brutalidade frenéticos (Blasphemous Corruption, My Own Victory) e peso mastodôntico cadenciado (Sinking, The Greatest Temptation). Temos ainda alguns convidados especiais, que absolutamente não soam nada gratuitos (Shane Embury, Andreas Kisser e Moyses Kolesne).


Tudo aqui soa coeso e os 40 minutos de música passam voando numa audição brutalmente agradável. Marcus D’Angelo achou um novo parceiro para suas guitarras que estreou com o pé direito (Douglas Prado), e a cozinha formada por Daniel Bonfogo e Caio D’Angelo é das melhores do estilo no Brasil. Como grandes destaques, guardaria a faixa título, a quebrada Inverted Faith e a absurda My Own Victory. A grande maioria do material se encontra na língua de Shakespeare, praticamente o idioma oficial do mundo do metal, mas a bolachinha se encerra de maneira surpreendente com duas músicas em português, a virulenta Curva (com solo do onipresente Andreas Kisser) e a autoexplicativa Paulada (bônus para a edição brasuca). Mais um grande disco do Claustrofobia!


NOTA: 8,36


Pontos positivos: visceral e muito bem feito
Pontos negativos: nada a destacar
Para fãs de: Morbid Angel, Krisiun, Vader
Classifique como: Death Metal/Thrash Metal


Nossos amigos Claustrofóbicos

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Oceans Of Slumber - Winter (Cd-2016)
Oceans Of Slumber – Winter (Cd-2016)

Ecletismo Sorumbático

Quando o Metal Progressivo dos Texanos do Oceans of Slumber tomou de assalto meu aparelho de som, a primeira coisa que saltou aos ouvidos foi a bela e poderosa voz de Cammie Gilbert, um talento raro. A última vez que me mostrei tão impressionado com uma vocalista nova foi quando ouvi Mlny Parzon do Royal Thunder pela primeira vez. E se você já ficou desinteressado pela banda assim que citei Progressivo, pode ficar tranquilo(a), Winter, o disco, vai muito além da xaropagem masturbatória comum do estilo. O que temos aqui é uma mistura de referências que vem de lugares tão distantes quanto Gothic Rock, Death Metal, Doom, Ambient, Folk, Rock Alternativo e tudo o mais que existe no meio. Tudo feito de maneira tão sutil que os ouvidos nunca ficam confusos. Duvida? Assista do vídeo da faixa título aqui embaixo.


Winter é um disco com belos momentos e ocasionalmente bem original, mas está longe da perfeição. Batendo uma hora de duração, a montanha russa de agressividade/calmaria (eles se saem muito melhor nos momentos mais calmos, como a chata e pesada Apologue nos joga na cara) tende a enjoar um pouco. Dá a impressão que a banda por vezes se perde na ambiência e relega a qualidade das composições a um segundo plano. Não que não existam grandes composições, a doce Lullaby, a alternativa Suffer the Bridge (totalmente absolutamente descaradamente Royal Thunder) e a já citada faixa título são muito boas e a cover para Nights In White Satin do Moody Blues ficou melhor que boa parte das outras 789 releituras que a manjada música ganha anualmente. Um disco muito bom de uma banda que, aparadas algumas arestas, ainda pode brindar a gente com trabalhos imperdíveis no futuro.


NOTA: 8,14


Pontos positivos: belos vocais e belos momentos
Pontos negativos: os belos momentos por vezes se diluem em composições não tão boas
Para fãs de: Royal Thunder, The Gathering, Pain Of Salvatiom
Classifique como: Prog Metal

Cammie e sua trupe
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Trees Of Eternity - Hour Of the Nightingale (Cd-2016)

Trees Of Eternity – Hour Of The Nightingale (Cd-2016)

Enya Goes Doom

E por falar em clima soturno e bela voz feminina, esse é o ponto de partida desse Trees Of Eternity, projeto capitaneado pelo guitarrista do Swallow the Sun - Juha Raivio - e pela vocalista Sul-Africana radicada na Suécia, Aleah Stanbridge. Mas se a história do Oceans Of Slumber é de uma banda com um futuro em aberto, aqui resta a tristeza. O projeto nasceu de uma colaboração de Aleah para uma música de um dos discos do STS. Raivio resolveu experimentar algumas alternativas à música e descobriu que a jovem vocalista tinha uma gama de ideias que permeavam o Doom e a New Age sombria. Raivio e Aleah lançaram uma demo em 2013 com o embrião do que seria o primeiro disco. Um contrato com uma gravadora britânica alavancou a parceria e assim Hour foi composto. Mas quis o destino que Aleah nunca chegasse a ver seu sonho realizado: em abril de 2016, um agressivo câncer pôs fim à vida da talentosa cantora.


A gravadora então perdeu o interesse no desenvolvimento do projeto, mas lançar Hour Of The Nightingale se tornou uma questão de honra para Raivio, e em novembro de 2016 o disco viu a luz do dia, lançado por um pequeno selo finlandês. O que escutamos aqui é a mistura exata entre Doom/Gothic Metal e...Enya! A voz sussurrante e bela de Aleah faz das sorumbáticas My Requiem e Eye Of The Night verdadeiras odes ao lado sombrio do mundo. A bela Condemned to Silence é engrandecida pela presença da voz de Mick Moss, do Antimatter. A Million Tears tem um quê de My Dying Bride. Já a faixa título combina luz e sombra de maneira perfeita com pitadas de Ennio Morricone. A ótima The Passage carrega mais um pouco no Doom Metal, como o faz também o matador encerramento com Gallows Bird, contando com a voz imponente de Nick Holmes (Paradise Lost). Uma belíssima homenagem póstuma a um talento que nos deixou cedo demais. Altamente recomendado!


NOTA: 9,06


Pontos positivos: belos vocais e clima sombrio e denso
Pontos negativos: é um disco bem atmosférico e lento, não deve agradar aos amantes da velocidade
Para fãs de: My Dying Bride, The Gathering
Classifique como: Doom Metal, Gothic Metal


Trees of Eternity - Raivio na extrema esquerda, Aleah ao centro. RIP

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High Spirits - Motivator (Cd-2016)
High Spirits – Motivator (Cd-2016)

Exército de Um Homem (Com Mullets) Só

Motivator é o terceiro disco de estúdio do grupo estadunidense High Spirits. O som aqui é bastante calcado numa mistura do Heavy Metal da primeira metade dos anos 1980 com algo de AOR. Após uma rápida introdução instrumental somos arremessados a boa Flying High. This Is The Night segue com guitarras que remetem a Thin Lizzy e Foghat e linhas melódicas que não ficariam estranhas nos momentos mais roqueiros dos discos do Foreigner ou Journey. Já Reach for the Glory tem suas guitarras iniciais chupadas de Aces High, com um refrão que esbarra no brega. A produção tem a cara daqueles discos de 1978 a 1983 e salvo alguns timbres nas guitarras que por vezes dão a impressão que algo está fora da afinação, é tudo bastante bem feito.


E aqui cabe uma curiosidade, embora a banda se apresente num formato de quinteto ao vivo, aqui no estúdio é tudo executado pelo multi-instrumentista Chris Black, figura rodada na cena estadunidense. Do You Wanna Be Famous certamente estouraria em alguma rádio rock nos idos de 1984. Haunted By Love é mais uma com aquela cara de single-esquecido de 1984. Aliás, essa é a fórmula que se repete ao longo dos parcos 29 minutos da bolachinha. Mas a despeito de ao longo do percurso ficarmos com aquela impressão que as referências a faixas conhecidas de AOR e Metal beiram o plágio, é tudo tão incrivelmente bem feito e com um ar descompromissado que não vale a pena se agarrar à rabugice. Um deleite para os fãs daquela época em que as bandas da NWOBHM e derivados começaram a polir um pouco mais seu som.


NOTA: 8,00


Pontos positivos: parece um disco perdido de meado dos anos 1980
Pontos negativos: parece um disco perdido de meado dos anos 1980
Para fãs de: NWOBHM, em sua fase mais comercial
Classifique como: NWOBHM, em sua fase mais comercial


Chris Black, ou High Spirits...não, ele não tem Mullet...

sábado, 25 de fevereiro de 2017

Sacred Reich + Exciter (22/02/17 – Teatro Odisseia – Rio de Janeiro/RJ)

Pôster Oficial do Evento
Speed Kings!!!
Texto por Trevas
Fotos (exceto a do ingresso) por Luciana Pires (aqui vai o agradecimento aà ela e à Be Magic!)

Prólogo – Carrrrnaval, festa da Carrrne...

Quarta feira de noite. Lapa. Semana anterior ao carnaval. Um cenário hostil que deveria limitar o público em um evento envolvendo duas bandas que, embora morem nos corações dos Bangers mais experientes, nunca figuraram nem em sonhos no Mainstream ou até mesmo no primeiro escalão do estilo, certo? Errado. Muito errado.


Uhuuu - Um cast improvável! Thanks Scelza & Be Magic
Sacred Reich:

Graças à Odin, quando o Sacred Reich abriu o seu set de 11 músicas com American Way, o Teatro Odisseia já se encontrava abarrotado. Mas quantidade não é qualidade, diria o banger com dor de cotovelo que perdeu o show. Sorry, mané, além de encher a casa, o público cantou cada uma das músicas, deixando o roliço e extremamente simpático Phil Rind com uma aura de colegial que ganhou um beijo da menina mais bonita da turma. E Rind e sua trupe fizeram por onde, cada música sendo tocada com tesão e precisão consideráveis. O som estava perfeito, calando minha habitual rabugice contra a casa de shows carioca. E quando o set chegou à derradeira Surf Nicaragua, sobrou a impressão de que poderíamos assistir ao Sacred Reich madrugada adentro sem cansar. Excelente! (NOTA: 9)

Phil Rind(o) á toa!! (foto por Luciana Pires)

Exciter:

Ver a formação clássica da canadense Exciter sobre um palco é como ligar uma máquina do tempo e voltar décadas na linha histórica do Heavy Metal. Os jovens senhores se vestem e se comportam como se ainda vivessem os anos 1980. Para nossa sorte e deleite, claro. A ferocidade e velocidade com que John Ricci e Allan James atacam seus instrumentos, cheios de pose e com aquela fúria controlada que a experiência trouxe (afinal, garotos com metade da idade deles ficariam moídos com muito menos esforço), só não impressionam mais do que a capacidade de Dan Beehler (clone do Calibos do Fúria de Titãs original) em tocar feito um rolo compressor e ainda por cima berrar com qualidade bastante aceitável.

Dan "Calibos" Beehler descendo a lenha!! (foto por Luciana Pires)

O set é recheado de clássicos e vi muito marmanjo ébrio quase indo ás lágrimas ao poder urrar a plenos pulmões clássicos do Thrash/Speed Metal como I Am The Beast, Pounding Metal e Violence and Force. A reclamar, apenas o corte no set list (ver foto), 5 músicas mais curto do que nos outros shows em território tupiniquim. Mas se faltaram músicas, não faltou empenho. Mais um show matador (NOTA: 9). Parabéns aos produtores, que apostaram alto com esse cast numa semana improvável, mas nos entregaram uma noite memorável. Os bangers cariocas agradecem.

Ricci e James - máquina do tempo metálica! (foto por Luciana Pires)

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Tamuya Thrash Tribe – The Last Of The Guaranis – Edição Especial (2Cds-2016)

Tamuya Thrash Tribe - The Last Of The Guaranis (Cd-2016)

Programa De Índio
Por Trevas

Meu primeiro contato com Tamuya Thrash Tribe (ou TTT) aconteceu de surpresa. Uma grata surpresa, diga-se. Fui ao Vivo Rio em 2012 assistir ao show do Black Label Society, banda de Zakk Wylde. Quando adentrei a casa o TTT já estava no palco, detonando um set curto, mas bem poderoso. Dois anos depois, tive a oportunidade de rever o show dos caras minada pela falta de informações sobre o horário de início do show, que abriu a estrondosa passagem do Amon Amarth pelo Circo Voador. Show perdido, aproveitei para garantir uma cópia do Ep United, primeiro rebento dos cariocas. United é um disco bacana, um bom cartão de visitas de uma promissora banda. Mas quem viu ao menos um pouco de qualquer show dos caras, com seu Thrash Metal + Death Metal Melódico que em muito lembra o dos já citados Vikings suecos, sabia de cara que a banda tinha muito mais a mostrar. E então um dia fui surpreendido pelo anúncio da arte de capa do que seria o disco de estreia, intitulado The Last Of The Guaranis. E sim, tinha cheiro de coisa especial.


Arte Gráfica e Conceito:

O anúncio da impactante arte gráfica, uma belíssima e sombria ilustração da artista plástica Isabelle Araujo, baseada em ideias do vocalista/guitarrista Luciano Vassan e inspirada nos trabalhos do premiado fotógrafo Steve McCurry já mostrava em parte o conceito por detrás do disco. A emblemática capa traduz em uma só imagem o acachapante índice de suicídio entre os povos indígenas, fruto de conflitos por terras onde a cultura e os valores religiosos dos nativos são violentados em prol do lucro do homem branco. The Last Of The Guaranis chafurda tematicamente nas entranhas de alguns desses conflitos desde suas origens, remetendo aos seus desdobramentos na violência urbana que encontramos hoje nas grandes cidades. Forte, não. Mas de boas intenções (e pretensões) o inferno está cheio, e de nada adiantaria o belo conceito se não estivesse acompanhado de uma boa contraparte musical. Para nossa sorte e deleite, a parte musical não fica nem um pouco atrás...

Arte Gráfica da Edição Especial (capa/contracapa)
Música:  

O disco abre mostrando suas raízes, com um hipnótico cântico indígena entoado pelo Coral de Crianças Guarani. Logo somos jogados de um ambiente aparentemente pacífico para o olho de uma tempestade. Nessa tempestade, a dita voz de Nhanderú é expressa pelo trovão, ou como dizem os donos dessa terra, Tupã-Cinunga. Musicalmente o TTT surge como o trovão expresso na letra, matador, uma versão tupiniquim perfeita dos suecos do Amon Amarth. A voz de Luciano Vassan (que escreve boa parte do material e também toca guitarra), inclusive, lembra a de um imberbe Johan Hegg. O apoteótico interlúdio em tupi vem nos lembrar que não estamos nem de longe falando de meros copistas.



O ponto (ou cantiga) de umbanda, Brado de Xangô (na voz da Mãe de Santo Gleyds Granden), faz o perfeito contraponto com a ferocidade de Senzala/Favela. Essa música traz elementos tribais (ao longo do disco, vários percussionistas convidados auxiliam o excelente baterista Bruno Rabello), guitarras que lembram os sons mais pesados do Paradise Lost e letras em inglês e português para fazer a correlação entre o fim da escravatura e o início da favelização e segregação racial aliada ao constante desmerecimento dos valores culturais afrodescendentes. Confesso não ter nenhuma simpatia pelo Marcelo D2, mas sua participação nessa música cai como uma luva, ajudando a criar o clímax de um possível novo clássico do metal nacional. A destacar, a bela produção de Sidney Sohn Jr, que consegue equilibrar a crueza com diversos elementos exóticos que engrandecem em muito o resultado final.

TTT - 2016
The Last Ball Of The Empire é mais direta e tem menos chances de assustar os fãs mais ortodoxos de Metal. As guitarras cortantes de Vassan e Leonardo Emanoel erguidas imponentemente sobre a base monolítica da cozinha formada por Rabello e João Paulo Mugrabi (baixo). Nela sinto pela primeira vez um dos pequenos problemas do disco, a pronúncia do inglês de Vassan. Longe de ser macarrônico, provavelmente só incomodará os muito detalhistas ou os native speakers. Mas esse é um dos poucos pontos que consigo enxergar onde a banda pode evoluir, até por que a qualidade do material é tanta que os mercados internacionais devem estar na programação. A excelente faixa título é outra a trilhar um caminho mais Amon Amarth, com adicionais tribais e alguns momentos meio Dino Cazares na guitarra.


A voz de João Cavalcanti (filho de Lenine e vocalista do Casuarina), dá vida a perfeita Vinte e Cinco, que serve de introdução à Violence And Blood (ver vídeo), numa das melhores fusões música brasileira/Metal que se tem notícia desde Roots do Sepultura. Apoteótica! A Call From Xapuri e Conjuration são muito boas, mas empalidecem um pouco perante o restante do material. O disco se encerra de maneira mais calma, com a balada Urutau’s Cry mostrando que o gogó de Vassan ainda se faz muito mais eficiente nos momentos mais violentos do que nos de maior sutileza. Hàhè’m nos apresenta à bela voz de Zahy Guajajara, naquela que pode ser definida como uma The Great Gig In The Sky, do Pink Floyd, se a mesma fosse cantada em tupi por uma banda de metal. Exótico? Absolutamente. Mas cara, funciona muito bem!


Saldo Final

The Last Of the Guaranis é um ousado trabalho desde sua concepção gráfica até sua execução musical. Acredito piamente que tem muita banda boa no cenário rocker brasileiro colocando nas prateleiras físicas ou digitais uma penca de bons lançamentos. Mas não me lembro a última vez que fiquei tão admirado com um disco de estreia de uma banda de Heavy Metal brasuca como fiquei com este Cd. Só o tempo dirá, mas apostaria sem medo que The Last Of the Guaranis será lembrado no futuro como um dos grandes clássicos de nossa música pesada. Um dos melhores discos desse belo ano para a música pesada que foi 2016!



NOTA: 9,10

Pontos positivos: excelentes integração entre o Metal e música brasileira
Pontos negativos: pode assustar os bangers mais ortodoxos
Para fãs de: Amon Amarth, Sepultura
Classifique como: Melodic Death Metal, Thrash Metal


Bônus da Edição Especial:

Quem comprou o disco antecipadamente pelo Site do TTT recebeu em mãos um belo pacote em formato DVD/Digipack, contendo um encarte caprichado e um segundo Cd. Esse segundo Cd é a versão remasterizada do Ep United, com a cozinha regravada pela formação atual e duas faixas bônus acústicas. Como eu falei no início da resenha, United representou um cartão de visitas bacana do potencial da banda. Mas nem de perto faz frente ao material do novo disco. Ainda assim, um ótimo complemento, ainda mais por conta do formato, que valoriza bastante a bela arte gráfica. Coisa de primeiro mundo.


Capa Original de United

sábado, 18 de fevereiro de 2017

Curtas: Vader, Axel Rudi Pell, Avenged Sevenfold, Crowbar





Curtas: Vader, Axel Rudi Pell, Avenged Sevenfold, Crowbar
Por Trevas

Vader - The Empire
Vader – The Empire (Cd-2016)

Death Imperial

Poucas bandas da idade da polonesa Vader (quase 3 décadas) podem se gabar de ter uma extensa discografia (só de estúdio são 14 discos) que prima por um incrível padrão de qualidade. Os caras simplesmente não tem disco ruim e The Empire está aí para esfregar isso na nossa cara. Se você já havia ficado feliz com a bifa na oreia que é Angels Of Steel, primeira faixa de trabalho, não terá do que reclamar do restante do disco. O que ouvimos aqui é um Death Metal Old School com os tradicionais elementos de Heavy Metal que o líder Piotr (responsável pelas guitarras e voz) sempre fez questão de imputar aos seus sons.


A produção, com imenso punch e ao mesmo tempo imprimindo uma qualidade sonora absurda em meio à desgraceira, merece destaque absoluto. A proficiência de Marek Pajak (guitarras), Tomasz Halicki (baixo) e James Stewart (bateria) junto ao patrão também é impressionante. Mas nem produção nem os músicos seriam suficientes para garantir um jogo ganho e o que realmente vale aqui são as músicas. Prayer To the God Of War carrega nas nuances mais heavy, já Genocidius é uma pedrada nos tímpanos. Feel My Pain é contagiante, e os 33 minutos da bolachinha se encerrariam com imensa ferocidade com a inspirada Send Me Back To Hell. Encerraria. Mas na edição brasileira ainda temos o Ep Iron Times incluso. Descartada a desnecessária repetição de Prayer... e Parabellum, cujas versões no Ep são as mesmas do disco, recebemos de presente duas covers: uma Piesc I Stal, que Piotr gravara em 2006 junto ao Panzer X, e uma respeitosa e matadora rendição para Overkill do...ah, nem preciso dizer, né? Padrão de qualidade Vader- Um puta disco, como sempre!  


NOTA: 8,91


Pontos positivos: visceral e muito bem feito
Pontos negativos: passa rápido demais
Para fãs de: Morbid Angel
Classifique como: Death Metal


Vader 2016 - Troo até a medula
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Crowbar - The Serpent Only Lies
Crowbar – The Serpent Only Lies (Cd-2016)

A Serpente é só Tijolada

Logo no primeiro dos 45 minutos da bolachinha, mais especificamente na entrada da excelente Falling While Rising (ver vídeo), já sabemos o que esperar de Kirk Windstein e sua trupe – uma tijolada Doom/Sludge de respeito. O disco marca o retorno do baixista original após 16 anos de ausência, Todd Strange. O trabalho, 11º rebento do Crowbar, parece querer de certa forma reverenciar os primórdios da banda, quando Todd ainda arcava com os graves, carregando a mão no Doom mais classudo. Plasmic and Pure, por exemplo, é como uma encarnação zumbi do Black Sabbath. Mas as influências de hardcore não foram esquecidas, não. A rápida I Am The Storm é virulenta como pede o estilo.


A produção de Duanne Simoneaux, parceiro de longa data de Kirk (tanto no Crowbar quanto no Down), faz aquele equilíbrio preciso entre a sujeirada necessária para a massa sonora da banda e a clareza nos momentos mais trabalhados, como na excelente e Jerrycantrelliana Surviving The Abyss. A faixa título, que praticamente compila em seus parcos 4 minutos todas as características do Crowbar, já merece ganhar espaço nos sets vindouros. O disco tem lá seus momentos menos inspirados, mas não tem erro – se tua praia é um peso monolítico e sujismundo, vá na fé que tio Kirk sabe das coisas! Recomendo!


NOTA: 8,26


Pontos positivos: peso abissal
Pontos negativos: tem lá duas faixas mais marromenos no caminho 
Para fãs de: Down, Alice In Chains
Classifique como: Sludge, Doom

Pelas barbas do profeta! Kirk e sua trupe, 2016
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Axel Rudi Pell - Game of Sins
Axel Rudi Pell – Game Of Sins (Cd-2016)

Sessão da Tarde

Disco do guitarrista alemão Axel Rudi Pell é que nem filme da sessão da tarde: você geralmente já sabe o que vai acontecer, é clichê para cacete, mas ainda assim, dependendo do estado de espírito, pode divertir sem maiores problemas. Convenhamos, não ia ser agora, no 17º disco de estúdio, que a história iria mudar. A intro desnecessária está ali (dessa vez, com clima circense), a faixa de abertura que você jura já ter ouvido antes (Fire), também. Mas não vamos ser tão chatos, tem também um punhado de boas músicas.



Game Of Sins é um ótimo exemplar do épico obrigatório dos caras, assim como When the World Says Goodbye. E Sons In the Night nos mostra que a banda até consegue ser vigorosa quando quer. Uma pena que eles ainda insistam nas baladas xaropescas de gosto para lá de duvidoso, como a irritante Lost In Love. O mais legal é que a edição nacional, cortesia da Shinigami, traz a excelente releitura para All Along the Watchtower (Bob Dylan, imortalizada pelo Hendrix). Dentro dos trocentos discos iguais do Axel Rudi pell, esse é da leva dos inspirados. Se você é fã, corra e garanta o seu.


NOTA: 8,04


Pontos positivos: mais do mesmo, mas inspirado
Pontos negativos: mais do mesmo 
Para fãs de: Rainbow, Heaven & Earth
Classifique como: Heavy Metal

Axel Rudi Pell - vale a pena ver de novo?
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Avenged Sevenfold - The Stage
Avenged Sevenfold – The Stage (Cd-2016)

Rumo às Estrelas

A banda que os Troozões amam odiar está de volta. E camaradas, vocês podem pensar o que quiser dos estadunidenses, mas os moleques tem colhões de aço. Peitando uma gravadora major, resolveram simplesmente fazer o que parecia impossível nos tempos de discos que vazam meses antes de ir ás prateleiras – lançaram seu novo álbum ás escuras, sem anuncio prévio. Para isso contaram com uma estratégia que envolveu a difusão de inúmeras notícias falsas pela internet, com participação ativíssima do colega e lutador de WWE Chris Jericho (Fozzy), que até mesmo criou um disco fictício apara a banda, Voltaic Oceans (nome adaptado de uma música do the Cult). A estratégia culminou na projeção do logo da banda em pontos diferentes das grandes cidades dos EUA e em um show em cima de um edifício. Durante o show os discos começaram a ser distribuídos às lojas, sem que ninguém se desse conta disso. A estratégia teve um resultado interessante. The Stage vendeu menos da metade do disco anterior na semana de lançamento (atingindo o primeiro lugar da mesma maneira), mas manteve a vendagem no topo por mais semanas do que o normal. De resto, The Stage traz como novidade a estreia de Brooks Wackerman (Bad Religion), na bateria, além de tratar de conceitos baseados em Inteligência artificial e astrofísica. Parece que a garotada cresceu, enfim.



The Stage, o épico que abre o disco e primeira faixa de trabalho, lida com a história de um homem que questiona os desígnios do universo e com a ideia de destino pré-determinado. Uma música excelente, repleta de belos solos e com uma interessante construção que leva a um desfecho apoteótico. Uma abertura incomum, mais um ponto para a audácia dos caras. Paradigm é outra excelente faixa, que mostra o distanciamento do caminho mais Old School do disco anterior, como comprova a não tão legal Sunny Disposition, com seus metais em meio ao caos. God Damn e Creating God são bons libelos antirreligiosos. Angels é uma bela balada, que não aprece chupada do Guns And Roses, vejam só. Simulation começa lenta e se desenvolve numa sequência de altos e baixos, de maneira a lembrar uma evolução dos sons que a banda fazia em City Of Evil. Higher é excelente e mostra o quanto Matt Shadows evoluiu como vocalista, soando bem mais versátil que em seus primórdios com aquele trinado anasalado. Roman Sky traz elementos orquestrais bem casados com a proposta viajante, que fez lembrar algo no novo Nightwish. Fermi Paradox pode ter momentos instrumentais inspirados, mas fica abaixo do restante do disco. E se iniciar um disco com uma faixa de 8 minutos já é meio esquisito, que tal fechar o mesmo com um épico de quase 16? Bom, Exist tem de tudo, solos impressionantes, passagens que remetem ao Metallica antigo, passagens vocais baladescas e discurso de Neil DeGrasse Tyson...certamente não é a obra prima que a banda imaginou, mas tem momentos interessantes. Em suma, um disco tão corajoso quanto a estratégia para seu lançamento. Bola dentro para o A7X!


NOTA: 8,17


Pontos positivos: ambicioso e muito bem tocado
Pontos negativos: um pouco longo demais 
Para fãs de: Iron Maiden, Killswitch Engage
Classifique como: Heavy Metal

Ax7 2016 - a molecada tá ficando cascuda