sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Rainbow – Memories In Rock (Box Set – DVD +Blu-Ray + 2Cds – 2016)

Rainbow - Memories In Rock
We Must Be Over The Rainbow, Again!!!
Por Trevas

Prólogo: Mimimi e Dor de Cotovelo

Ritchie Blackmore é um dos músicos mais influentes da história do rock. Compositor de pelo menos 90% do material do Purple até 1993, quando deixou de vez a banda, o cara também nos fez o favor de montar um dos combos mais perfeitos da história do rock quando deixou a banda provisoriamente no meio da década de 1970. O projeto/banda, se chamava Rainbow. Três discos se seguiram com um então pouco conhecido vocalista chamado Ronnie James Dio. Esses três discos se tornaram clássicos quase perfeitos na história do rock.

Rainbow com Cozy Powell e Dio - dream team?
Ah, esqueci só de comentar uma coisa...Blackmore é também reconhecido como um dos caras mais complicados da história do rock. De completo babaca a totalmente maluco e excêntrico, você vai encontrar uma miríade de definições nada bacanas sobre o lendário guitarrista.

Até Eddie tira selfie com Ritchie
Ao tentar angariar o mercado estadunidense, Blackmore acabou abrindo mão dos serviços de Dio em prol de vozes voltadas para o Pop Rock. Com Graham Bonnet lançou um grande disco, Down To Earth e então partiu para uma versão imensamente menos inspirada da banda com o vocalista xarope e peruqueiro Joe Lynn Turner. A banda se arrastou até meados da década de 1980, encerrando as atividades com o retorno do Deep Purple. No meio da década de 1990, Blackmore chegou a reativar o Rainbow, com o escocês Doogie White na voz. Um puta disco se seguiu, mas logo após a turnê (que tive a cagada de conseguir assistir), o Rainbow foi jogado no ostracismo e Ritchie se voltou para um projeto de música de fadinha com sua esposa Candice Night.

Rainbow na década de 1990
Para surpresa de quase todos os seres desse universo, quando nada mais se esperava vindo de Ritchie Blackmore, eis que ela anuncia uma série curta de shows na Alemanha e Inglaterra, com uma formação completamente nova do Rainbow. E aí começou o mimimi. Ah, mas ele só chamou gente desconhecida, ah, fulano tinha que estar nessa, ah, não chamou beltrano.

Deixa eu contar uma coisa para vocês, amiguinhos - O Rainbow nunca foi exatamente uma banda, nunca mesmo.

O Rainbow sempre foi um projeto sinônimo de Ricthie Blackmore. Mais ou menos como o Whitesnake é para David Coverdale. Um canal para o patrão colocar sua criatividade para fora ajudado pelos músicos que bem entender. A maioria também escolhida entre meros "desconhecidos".

Dito isso, Memories In Rock é um lançamento que retrata o primeiro show da polêmica nova encarnação do Rainbow.

Ouvi muita reclamação em especial em relação a escolha do chileno Ronnie Romero como o vocalista desse retorno. Ronnie, vocalista do ótimo combo espanhol Lords of Black (ver resenha aqui) é ainda muito pouco conhecido mundo afora.

Ok, existem milhares de grandes vocalistas que não fariam feio capitaneando o Rainbow. E cada um tem lá seu favorito para o posto. Muitos desses com toneladas de experiência nas costas. Ronnie tem pouco tempo de estrada. Verdade.

Ronnie Romero
Mas o que parece que nenhum dos reclamões gosta de lembrar é que caras como Graham Bonnet, Doogie White e Joe Lynn Turner também não eram figurões mundialmente conhecidos quando foram escolhidos por Blackmore para cantar no Rainbow. Aliás, nem o mestre Dio era um vocalista mundialmente reconhecido até então.  

Escutar gente como os xaropes Mr. Turner e Bonnet chiando do alto de seus cotovelos doloridos que deveriam fazer parte da nova formação?

E, esses mesmos xaropes – que nunca fizeram nada de monstuosamente relevante em suas carreiras antes ou depois do Rainbow, ter a cara de pau de dizer que Ronnie Romero não está no lugar certo?

Vai para a puta que o pariu! O único vocalista que teria o direito de se sentir dono da posição no Rainbow já partiu de nossa dimensão. E Ronnie Dio, do alto de sua sabedoria, nunca o fez. Então, Mr. Turner, vai chupar um canavial de rola! 
Bem-vindo, novo Ronnie.
Vamos enfim começar a avaliação do produto, que de fato é o que interessa:

Apresentação:

Memories In Rock foi lançado em vário formatos: Cd duplo, DVD e Blu-Ray. O que está sendo analisado aqui é o supra sumo nesse caso, o EarBook contendo todos os formatos citados anteriormente. 

Trevas segurando o Box, teclado do note ao fundo para dar noção do tamanho
E cara, o cuidado com o lançamento é para lá de louvável. Os quatro discos, cada um impresso com uma cor diferente, estão alojados na parte interna da contracapa, num estojo feito de material aveludado para não arranhar as bolachinhas. 

Contracapa interna com os disquinhos

O miolo do Earbook é composto por 48 páginas de um papel fosco de alta qualidade recheadas de belas fotos da apresentação principal. A única falha é que a ficha técnica não define quais faixas são retiradas de qual das duas apresentações em solo teutônico.

Vista das páginas do EarBook

Vista das páginas do EarBook

Repertório e Execução:

Vai ter gente, como eu, que iria preferir ouvir mais Rainbow e menos Purple no repertório. Afinal, bem ou mal, o Purple ainda está na ativa e não me faz tanta falta ver mais uma versão de Smoke on the Water ou Highway Star ao vivo. Mas dentro das duas horas e blau de show temos belezuras como Stargazer, Spotlight Kid, Since You’ve Been Gone, Sixteenth Century Greensleeves e Catch The Rainbow. E tudo muito bem executado, obrigado.

O novo Ronnie canta muito, mas muito mesmo, e tem carisma.
Sua performance é perfeita? Não.
Mas não por falta de “pedigree”, talento ou carisma e sim por um motivo inusitado: seu inglês.


O chileno se enrola com as letras em parte das músicas, cantando uma ou outra frase que sequer existe na língua da rainha...confesso que me identifiquei. E esse ponto toca em outra característica desse lançamento: a ausência de retoques em estúdio. A banda certamente ainda está verde nos palcos, e claramente vai se soltando ao longo do show. Os erros acontecem, e foram mantidos na edição, cada nota na trave do patrão, cada erro de inglês do chileno, cada pequeno desencontro no fechar das músicas.


Ah, mas então está tudo errado e o show é uma bosta? Não, o show é surpreendentemente bacana, começa meio desengonçado, mas vai crescendo de tal maneira que chega uma hora que você se pega cantando junto com o público e pulando no meio da sua sala, bêbado e feliz. Felicidade inclusive é o que vemos estampado no rosto do público, no geral composto por uma galera mais velha, mas que demonstra imensa emoção em poder escutar e cantar junto alguns dos maiores clássicos do rock.  


E o resto da trupe? Bob Nouveau é um bom baixista e forma uma dupla interessante com David Keith. A escolha obviamente foi por uma execução mais classic rock e menos incendiária, então você não vai ver a bateria pegando pesado não. Mas Keith está longe de ser um perna de pau das baquetas. Jens Johansson tem uma performance contida, bem menos histriônica do que se esperaria dum virtuose de sua estirpe. E o próprio Blackmore está com uma pegada muito mais leve, tocando exatamente como vem fazendo no Blackmore’s Night. Muito foi falado sobre sua forma técnica e não é por acaso. Aos 71 anos de idade e quase 20 anos afastado do Hard/Heavy, era de se esperar que o homem de preto tivesse perdido ao menos em parte seu poder de fogo. E perdeu sim, mas não tanto quanto era de se esperar. Por vezes as notas ficam na trave, nos momentos que exigem uma maior velocidade na execução, mas no geral o patrão se saiu muito melhor do que o também enferrujado Mr. Page no Celebration Day, por exemplo. Duvida? Então pesque a versão da instrumental Difficult to Cure e tire suas próprias conclusões. E já que falei em Celebration Day do Led, aquele lançamento é um bom comparativo para o que vemos aqui. Um show contagiante a despeito de suas imperfeições.



Vídeo:

Tanto em Blu-Ray quanto em DVD a qualidade de imagem é absurda, límpida mesmo com a profusão de cores da iluminação. As tomadas são bem bonitas alternando entre as mais abertas, nas quais se vê perfeitamente a interação dos músicos e execução de seus instrumentos e outras mais fechadas, se concentrando nas expressões faciais ou imagens mais “poéticas”. Existem tomadas aéreas também, que pegam a reação do público e a beleza dos arredores bucólicos da cidade onde o festival foi realizado. Enfim, em termos de vídeo, não há nada o que reclamar.

Áudio:

Nos Cds tudo ocorre na maior perfeição, áudio límpido e muito bem mixado, com um bom equilíbrio com o som da plateia, o que é parte importante de um lançamento ao vivo. Na mixagem do Blu-ray e DVD, um problema curioso: o som, ainda que perfeito, está bem baixo, tenho que colocar o volume do meu aparelho lá nas alturas se quiser fazer a apresentação soar como um show de rock na minha sala.

Extras

Adoraria ver nos extras os bastidores dos shows ou da seleção dos músicos e ensaios. Mas, infelizmente temos apenas quatro faixas de uma segunda apresentação na Alemanha, sendo que as mesmas são repetecos do repertório principal. As mesmas faixas bônus estão presentes em Cd também e a qualidade em áudio e vídeo seguem o material principal. Ainda que valham a pena por serem execuções bem diferentes, fica aquela sensação de que podiam ter feito um Making Of.


Saldo Final

Memories In Rock traz em um Box Set de alta qualidade direto para nossa sala um show tão histórico quanto imperfeito, com uma banda por vezes algo desajeitada mas que agarrou os clássicos de maneira tão honesta que você se sente parte do evento. E não seria justamente essa a melhor qualidade de um lançamento ao vivo? Resta torcer para novas datas em 2017, quem sabe ao menos uma por aqui no Brasil?


NOTA: 8,00


Pontos positivos: clássicos em profusão em ótima qualidade de som e imagem
Pontos negativos: um Ritchie algo enferrujado e uma banda ainda se encontrando rendem lá mais erros do que o normal  
Para fãs de: Hard/Heavy stentista
Classifique como: Heavy Metal, Classic Rock

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Glenn Hughes – Resonate: Deluxe Edition (Cd + DVD – 2016)

Glenn Hughes - Resonate
Ressoando, Enfim
Por trevas

Prólogo – Glenn, o inseguro
Vamos colocar dessa maneira, se você não faz ideia de quem é Glenn Hughes, gaste um pouco seu tempo no Google e Youtube, depois faça uma sessão de autoflagelação e só então volte aqui, seu herege!!!! Brincadeiras à parte, a despeito das impecáveis credenciais do britânico nas bandas por onde passou, como um artista solo Glenn Hughes trilha um caminho para lá de confuso.

Glenn Hughes (primeiro à esquerda) e uma promissora banda britânica chamada Deep Purple...
Me considero um fã dos discos solo de Mr. Hughes, mas às vezes tenho a forte impressão e que ele mesmo não tem tanta certeza da excelência de seus produtos. A cada lançamento Glenn faz a mesma bobagem, diz à imprensa que o que o disco novo (ou projeto novo/banda nova) é a melhor coisa desde a invenção da batata frita, e que finalmente ele está se encontrando, para esquecer o que veio antes. Aí ele lança o disco e o material é constantemente ignorado em seus shows, sempre inflados de jams em cima de músicas de seu passado no Trapeze e Deep Purple (não que isso seja exatamente ruim). Enfim, parece que Glenn não entende que tem fãs próprios, que curtem o material que ele faz. E não são poucos. Seria falta de confiança? Não sei. Mas parece que essa insegurança permeia a falta de direcionamento dos discos, que por vezes se perdem no equilíbrio entre as referências à música negra e ao rock de quem ele diz ser a voz. 

Glenn, 2016 - cada vez mais parecido com minha sogra...
Enfim, novamente prometendo “o disco que os fãs querem ouvir” e um “trabalho voltado totalmente para o rock, o disco mais pesado que já fez”, Glenn solta seu primeiro trabalho solo em oito anos. Vamos ver se dessa vez nosso amigo cumpriu a promessa...

Ressoando a bolachinha

Heavy começa o disco de maneira...ehr...pesada...dã. Com a bateria de Chad Smith marcando o ritmo como uma marreta, traz o tio Glenn com um miado soul nos versos só para gastar o gogó de maneira visceral em seu refrão simples, direto e eficiente.


My Town é deliciosa, lembrando um bocado o trabalho do California Breed, mas com um Glenn Hughes soando ainda melhor e mais encorpado. Aqui já sentimos a produção e mixagem perfeitos do guitarrista Soren Andersen junto ao exigente patrão. Flow tem um pouco do material moderno do Ozzy em sua estrutura, com um belo upgrade, claro. Destaque para os Hammond muito bem colocado de Lach Doley (Lach Doley Group).


Let It Shine aparece para nos lembrar de que se trata de um disco do Glenn Hughes, uma ótima faixa que sem o peso da produção poderia bem estar num Feel, por exemplo. Steady começa com uma empolgante introdução no hammond e um ritmo que fez lembrar as participações de Hughes nos discos do Guitar Hero John Norum. O refrão baladesco nos pega de surpresa, mas ainda assim a faixa arrebenta.


God of Money é mais sombria do que a maioria das faixas do material, e talvez por isso, é um dos destaques, excelente de cabo a rabo. E o que dizer da atuação de Soren Andersen? How Long traz mais alguns dos grandes riffs que o sueco tira da cartola com facilidade. Parece aquela mistura Funk/hard do Stormbringer, catapultada para os anos 2000. Excelente. 

Glenn rindo da cara de quem duvidou da qualidade do novo disco
Curiosamente, é justo quando Glenn soa mais próximo de seus trabalhos atuais que a bolachinha cai de produção. When I Fall é para lá de mediana, a despeito da produção ter caprichado no arranjo e Landmines, outra com cara do Feel (e que conta até com solo com talkbox), é boa, mas soa um pouco deslocada no contexto. Stumble and Go faz o disco voltar ao nível do início, um rockão excelente nos moldes do California Breed, com belo solo de Soren e bateria marcante de Pontus Egborg. Pontus, aliás, que volta a perder seu posto para Chad justamente no encerramento com a boa e viajante Long Time Gone.






Saldo Final

Dessa vez não dá para acusar o velho Glenn de mais uma infrutífera estratégia e atrapalhada de marketing. Mr. Hughes prometeu e nos entregou: Resonate é seu disco mais pesado. E, mais que isso, realmente é de longe um dos melhores discos de sua extensa carreira. Resta esperar que a repercussão perante crítica e público seja boa o suficiente e que finalmente o britânico finque as esporas nesse nicho. Pois se ele lançar mais discos como esse, vai ser difícil alguém dizer que ele vive do passado.


NOTA: 8,95


Bônus da Edição Deluxe

A bela edição deluxe, lançada no Brasil, conta com um digipack muito bem feito, uma faixa bônus e um DVD contendo dois videoclipes e um making of. A faixa bônus é uma bela balada com violão e cello. Os vídeos do DVD são bacanas, mas nada que valha o esforço. Já o making of é curto e objetivo, mostrado cenas das gravações do disco no estúdio de Soren Anderssen na Dinamarca entremeadas com entrevistas com os envolvidos. Não há legendas, mas Glenn fala um inglês de fácil compreensão, quase didático. Enfim, um material extra bem-vindo, mas longe de ser obrigatório.


Pontos positivos: um disco pesado e muito bem produzido, trazendo Glenn em plena forma
Pontos negativos: faz você pensar por que diabos ele não lança mais discos nessa pegada  
Para fãs de: Hard Rock
Classifique como: Hard Rock, Classic Rock

domingo, 11 de dezembro de 2016

Dee Snider – We Are The Ones (Cd-2016)

Dee Snider - We Are the Ones (Cd-2016)
Dee Goes Modern
Por Trevas

Dee Snider é a voz do Twisted Sister – bom, isso quase todo mundo sabe.  Mas, sem medo de incorrer em algum exagero, posso dizer que mesmo fora dos palcos ele sempre foi também a personificação da traveca louca e perigosa que interpretou durante boa parte de sua carreira. Língua ferina e atitudes tresloucadas sempre fizeram seu estilo, tornando difícil delimitar onde termina o personagem e onde começa o Dee real. We Are the Ones é apenas o terceiro disco solo do estadunidense sessentão, e afora parte do material da estreia com Dont Let The Bastards, Dee nunca apostou num resultado de fácil assimilação. Ao menos não para os fãs do Hard/Heavy encardido de sua banda original. Não ia ser agora que ele ia mudar.

Seria o Jandirão apenas mais um rostinho bonito? 
Para o novo disco, Dee cooptou como aliado o produtor/compositor Damon Ranger. Se você é um fã de Metal, dificilmente saberá que é o cara. Eu também não fazia ideia. Bom, o cara é para lá de premiado, tem nas costas nada mais nada menos que um Oscar e um Grammy, dentre outras dezenas de prêmios. O problema é o teor das obras premiadas, a trilha sonora do sacal Vida de Pi e discos com o mala mor Kanye West não costumam animar muito esse escriba que vos fala. Aqui, além da produção, Damon ainda co-assinou boa parte das composições, além de tocar baixo e guitarra em várias das músicas. Estranho? Sim. Mas não me dei por vencido, fui escutar sem preconceito o novo disquinho do clone da Jandira.

A faixa título é um paraíso Punk Rock, parece até um hino esquecido do Misfits refeito para os novos tempos. A produção é realmente moderna, mas bem encorpada, e Dee soa virulento como sempre, entoando mais um de suas odes aos desajustados desse mundo.


Over Again é rock moderno radiofônico, mas muito bem feito. Close to You nos faz lembrar a fase Dragontown/Brutal Planet do Alice Cooper, sem muito brilho. Já a pop Rule the World é grudenta e excelente, trazendo um Dee cantando mais limpo que no resto do material.


A próxima faixa é a já bastante falada versão voz e piano para We’re Not Gonna Take It. A princípio, odiei a releitura. Não costumo ser muito fã de releituras acústicas para faixas de veia rocker. Mas depois da quarta audição a interpretação bacana de Dee acabou me conquistando. Continuo achando que não era um movimento lá muito necessário, mas ficou bacaninha.


Crazy For Nothing
é um Hard bem típico e, apesar de não ser excelente e da produção atual, não deve assustar os fãs mais tradicionais. Believe é um Poppy Punk que poderia fazer sucesso na trilha sonora da Malhação, tivesse uma voz menos encardida no comando. Head Like a Hole é um Metal Industrial, originalmente composto por Trent Reznor (Nine Inch Nails) que ficaria confortável na voz de Rob Zombie e Marilyn Manson. E convenhamos, se ficaria boa na voz limitada desses caras, fica ainda melhor com um vocalista de verdade. Com refrão inspirado, mostra-se um dos destaques da bolachinha.

Jandirão 2016

Bom, e se você quer odiar esse disco de qualquer jeito, sua faixa é Superhero. Uma josta adocicada tão ruim que poderia bem estar na trilha sonora de algum filme melequento da Disney. Argh!!!! Para encerrar o disco, uma balada algo sombria com a voz de Dee tomando para si o centro das atenções. So What é a própria demonstração da complexidade da personalidade niilista de Mr. Snider. Do cara que confrontou Tipper Gore nos anos 1980, anunciou o apoio ao xenófobo Donald Trump na recente campanha e, durante a própria campanha deu puxão de orelha no candidato, retirando seu apoio, agora ele apoia um grupo de ambientalistas no clipe desta música, um grupo que lutou contra a exploração de um importante aquífero, sofrendo as consequências sob a forma de abuso dos policiais escalados para conter uma pacífica manifestação. Esse é o doido do Dee Snider e o Cd traz parte dessa maluquice aos nossos ouvidos.


Saldo Final

O vocalista afirmou em algumas entrevistas que esse seria um disco que não faria a cabeça dos fãs de Heavy Metal. Bom, We Are The Ones certamente não é o que esperaríamos de um disco do Twisted Sister, mas não assusta tanto assim, lembrando o clima dos discos mais modernos do Alice Cooper e até mesmo o ótimo Live to Win do Paul Stanley.  Não é um disco perfeito e tem lá uns cacarecos no meio, mas no geral me soou bastante divertido e até mesmo viciante. Ponto para o Dee!


NOTA: 8,01


Pontos positivos: extremamente diversificado e com Dee em ótima forma
Pontos negativos: tem uma ou duas porcarias, e a produção pode assustar a velha guarda
Para fãs de: a fase Modern Metal do Alice Cooper e o Live to Win do Paul Stanley
Classifique como: Modern Hard Rock

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Saxon – Let Me Feel Your Power (Box Set – 2Cds + Blu-Ray – 2016)

Saxon - Let Me Feel Your Power
Overdose Saxônica
Por Trevas

Mais um disco do Saxon no mercado, mais uma incessante turnê...e mais um lançamento ao vivo. Dá para reclamar? Se você, como eu, já teve a oportunidade de ver a banda ao vivo, já sabe a resposta – claro que não! O saxon sempre detonou ao vivo, e os anos não fizeram nenhum efeito deletério no show dos caras:

Biff parece um ser mitológico de 789 anos de idade concebido através de CGI, mas canta com vigor e tesão de um moleque de 20. Da mesma forma, chega a ser inacreditável que Nigel Glockler por pouco não partiu desta para a melhor recentemente, tamanha a vontade com que trucida seu kit. Nibbs Carter sempre encontra seu espaço para seu baixo aparecer em meio a fúria dos britânicos e Paul Quinn e Doug Scarratt formam uma das duplas mais perfeitas do estilo, guitarristas competentes e que jogam para o time, sem arroubos de virtuosismo. E toda a crueza e honestidade do show estão refletidos em uma edição sem frescuras e sem retoques. As pequenas imperfeições estão ali e a mixagem não deixa o som com aquela cara de trilha sonora refeita em estúdio. Esse é o padrão que o Saxon já segue a tempos em seus lançamentos ao vivo e não deve causar nenhum estranhamento aos fãs.


O show principal mostra o Saxon abrindo para o Motörhead na Alemanha, em uma arena abarrotada.  O Set de cerca de uma hora explora os clássicos de sempre misturados a sons do bom Battering Ram. E, convenhamos, músicas como Queen of Hearts, Destroyer e The Devil’s Footprints funcionam bastante bem nos palcos, obrigado. Embora seja claro desde o início que todo mundo ali está feliz com a abertura do Saxon, fica óbvio também que boa parte da arena está guardando suas energias para o show principal, a explosão de energia esperada com o set avassalador só efetivamente se mostrando na trilogia clássica final, com Wheels Of Steel, Denin and Leather e Crusader.


Embalagem e apresentação

O pacote, que inclui um Blu-Ray e dois Cds, vem em um bonito Digipack, em formato e especificações absolutamente idênticos aos de Heavy Metal Thunder, que compilava apresentações do Saxon em diferentes edições do Wacken. Ao que parece é o padrão para lançamentos desse tipo feitos pela gravadora alemã UDR. O livreto é bonito e informativo e existem também edições desse lançamento com o vídeo em DVD.


Áudio e Vídeo
Se a banda está soando boa como sempre, o registro em áudio e vídeo já merece alguns senões. A opção pela crueza na mixagem casa perfeitamente com o Metal tradicional da banda, mas o áudio não aparece suficientemente alto e claro como se esperaria em um lançamento em Blu-Ray (embora extremamente satisfatória para sua contraparte nos dois Cds inclusos). A imagem também tem problemas, embora tenhamos câmeras suficientes para tornar o material interessante, elas sofrem com a saturação de cores, em especial o azul e roxo, que dominam a iluminação do show principal. Quando a iluminação ajuda, vemos imagens cristalinas e em alta definição.

Material Bônus
Temos ainda dois outros shows inclusos tanto no Blu-ray quanto nos Cds. De um show em Brighton, temos 3 excelentes lados-B não presentes nos outros dois sets: Eye of the Storm, Requiem e Battalions of Steel. A qualidade de som e imagem é bastante boa (melhor que no show principal do pacote) e deixa a gente com vontade de assistir ao show na íntegra. O segundo show-bônus é o que possui maior repertório, 19 músicas, gravado em Chicago (sendo que destas,16 músicas estão presentes em Cd). Difícil entender o porquê deste show não ser considerado o prato principal do pacote. Um show completo e excelente!


Saldo Final

Mais um pacote ao vivo do Saxon para lá de recheado, que deve atender tanto aos curiosos que querem ter algo representativo dos caras (um Best Of) quanto aos fãs de carteirinha e colecionadores de plantão.


NOTA: 9,00


Pontos positivos: Mais de duas horas de uma das melhores bandas de heavy tradicional em cima dos palcos.
Pontos negativos: Algum material redundante nos sets e problemas com a iluminação no show da Alemanha. É o 789º lançamento ao vivo dos caras.
Para fãs de: Iron maiden, Judas Priest, Motörhead
Classifique como: Heavy Metal

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Fallujah – Dreamless (Cd – 2016)

Fallujah - Dreamless
Viagem ao Mundo Dos Sonhos Robóticos
Por Trevas

A banda californiana Fallujah surgiu em 2007, e brincou durante um tempo com uma sonoridade que pode ser relacionada a cena deathcore. Embora tenha ganho alguma reputação na cena underground, foi só quando passou a adotar elementos atmosféricos que a banda começou a efetivamente encontrar sua voz. O Ep Nomadic foi o primeiro trabalho a trazer um estilo com cara própria. E em 2014, com o lançamento de The Flesh Prevails, o nome Fallujah deixou em definitivo de ser alvo de mera curiosidade, com resenhas excelentes na mídia especializada ao redor do globo e um aumento considerável de propostas para shows.

Fallujah - The Flesh Prevails
Claro que isso também desperta uma imensa pressão para que a banda lance um trabalho que minimamente seja capaz de replicar o frisson do disco anterior. Lançado com uma forte campanha de Marketing para os padrões da cena, com as belíssimas artes de capa do genial Peter Mohrbacher estampadas em dezenas de produtos nas lojas especializadas, Dreamless encara um vasto mar de ouvidos atentos, com muito a provar.


Face of Death abre os trabalhos mostrando bem o que nos espera no restante do álbum. Belos arranjos atmosféricos são repentinamente quebrados por riffs monolíticos em tempos complexos e um trabalho de bateria surrealmente detalhado (pelo autômato Andrew Baird). As melodias de guitarra (cortesia de Brian James e Scott Cairstairs) são o que se esperaria do space rock em seu último update e são bastante bonitas. A voz de Alex Hoffman (também responsável pelos sintetizadores) é de um gutural impressionante, mas frio, parece vinda de um robô com intenções malignas.

A produção de Zack Ohren (Cattle Decapitation, Six Feet Under) deixa o som com uma qualidade absurda, e é responsável direto e louvável pelo fato da massa sonora cheia de detalhes não canse nossos ouvidos numa audição intensa de 55 minutos. E isso se faz muito importante, tendo em vista que Dreamless tem uma unidade de temas tão forte que soa quase como uma única e gigantesca viagem a um universo desconhecido.


Adrenaline é uma pancada na orelha que termina em outro momento etéreo, preparando o terreno para a excelente The Void Alone. Faixa que conta com a perfeita inclusão da angelical voz de Tori Letzler e nos expõe a uma falha na geralmente bem pensada massa sonora dos californianos: a pouca variação das linhas vocais robóticas de Hoffman fazem com que os melhores momentos da bolachinha de longe sejam as passagens instrumentais ou as músicas onde ele contracena com vozes femininas.


Por sorte esses momentos se repetem, como na subsequente (e ótima) Abandon, que consegue soar imensamente épica em pouco mais de quatro minutos, dessa vez contando com Katie Thompson fazendo um contraponto aos urros. 


Scar Queen chega perto de parecer uma música mais normal, com vida própria dentro da sensação de continuidade do álbum, que volta com a etérea e quase completamente instrumental faixa título e, que nos brinda com um descanso na quantidade de informações musicais (e vejam só, dá até espaço para o baixo de Robert Morey) e com mais uma bela participação de Tori e Katie.


A força de Prodigal Son reside em seus belos solos, e Amber Gaze traz uma diversidade bem-vinda nos riffs, dá até para imaginar ela sendo uma releitura Techno metal para alguma música antiga do My Dying Bride, o que é bom e estranho.

Fallujah - não, não são ETs...são só nerds, mesmo
Fidelio é um curto interlúdio com samplers de diálogos e um piano que preparam nossos ouvidos para a monstruosa e complexa Wind For Wings, engrandecida em muito pela participação de Tori e Mike Semesky (Cynic) nas vozes limpas. Les Silences é uma bela instrumental tão carregada na eletrônica que escutada à parte dificilmente alguém relacionaria a uma banda de Heavy Metal. Lacuna encerra o disco de forma apoteótica, com Katie Thompson me fazendo imaginar se não é melhor a banda assumir logo que deve efetivar um(a) segundo(a) vocalista para que coisas bacanas como essa funcionem ao vivo.


Saldo Final

Confesso que tive imensa dificuldade em resenhar Dreamless. Desde a primeira audição eu tive certeza da imensa qualidade do disco. Entretanto, é um trabalho que, por mais moderno que seja, demanda o anacrônico e difícil ato de parar qualquer atividade paralela e se dedicar por completo a sua audição para o disco possa ser apreciado com toda sua miríade de detalhes. Um disco difícil, mas muito bem feito, e que soa recompensador aqueles que decidirem embarcar de corpo e alma em sua estranha viagem a um universo desconhecido.  

NOTA: 9,08

Pontos positivos: disco complexo, pesado e muito bem estruturado, te transporta para um cenário futurista e viajante
Pontos negativos: Hoffman soa algo monocórdio, e as músicas fazem muito mais sentido no contexto do disco do que sozinhas
Para fãs de: Meshuggah, Architects
Classifique como: Progressive Death Metal, Djent, Modern Metal

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Blaze Bayley – Infinite Entanglement (Cd - 2016)

Blaze Bayley - Infinite Entanglement
Um Bom (re)Começo
Por Trevas

Prólogo – Uma verdadeira Montanha Russa

O britânico Bayley Alexander Cooke teve uma década de 1990 bem movimentada: catapultado do underground onde fazia algum sucesso com o Wolfsbane ao estrelato ao substituir o mítico Bruce no Iron Maiden e para ser depois fuzilado pelas críticas e jogado direto ao ostracismo, Blaze (seu nome artístico) poderia muito bem ter sucumbido à sensação de fracasso.

Não o fez. Das cinzas, e amparado por uma boa banda e um baita produtor (Andy Sneap), Blaze lançou uma sequência de álbuns matadores, com destaque para Silicon Messiah e Tenth Dimension. De longe muito melhores do que a média do que a Donzela fez desde o previsível retorno do Bruce.

Blaze, fininho e ainda com cabelo, em sua apresentação como novo vocalista da Donzela
O sucesso comercial não veio junto a aprovação da crítica e por problemas internos que nunca ficaram lá muito claros, Blaze, a banda, se desmanchou em 2007. Mas ainda havia lenha para queimar.  Já usando o nome Blaze Bayley para sua banda, foi lançado o excelente e pesadíssimo The Man that Would Not Die, seguido do bom Promise and Terror.


Novamente a banda se desmancha, sob circunstâncias não explicadas, e dessa vez Blaze decide seguir em frente como um artista solo, se apresentando ao redor do globo com músicos locais. Em estúdio, a decisão não pareceu nada acertada, tendo em vista que The King Of Metal é de longe o pior trabalho do vocalista desde que o pavoroso Virtual XI selou seu destino na maior banda de metal do planeta. Quando, quatro anos depois, é anunciado o ambicioso Infinite Entanglement, parte de uma sequência de discos conceituais, confesso que não fiquei nem um pouco empolgado. Mas vamos ao disco.




A faixa título sobrevive à grandiloquência de seu arranjo (e ao péssimo vídeo, ver acima) e mata a pau, seguida da destruidora A Thousand Years e da feroz Human (ver os vídeos abaixo). Uma sequência que prometia um novo clássico do balofo britânico.




Infelizmente a sequência é quebrada pela constrangedora What Will Come, um pavor em forma de música que traz Blaze desafinando por quase 5 minutos amparado somente por violão e cordas. Ainda bem que Stars are Burning e, especialmente, Solar Winds recolocam o trem de volta aos trilhos.

Blaze sensualizando
Após um curto interlúdio instrumental somos apresentados à boa Calling You Home, seguida da para lá de Maideniana Dark Energy 256. Convenhamos, tivesse o Virtual XI duas ou três faixas desse nível, direta e visceral, e dificilmente a fase Blaze seria lembrada com tanta repulsa pelos fãs.


Quando Independence começou com aquela introdução acústica, senti calafrios diante da lembrança de What Will Come, mas logo a música engrena com peso e grandes momentos, tornando-se um dos destaques do disco. Work of Anger tem aquele andamento clássico das composições do Steve Harris, mas embora promissora, acaba por não alcançar seu potencial devido a um refrão meio genérico.


Saldo Final

Em mais um recomeço na carreira, Blaze conseguiu fabricar um disco que promete uma nova fase repleta de boas ideias. A voz em off ao final do disco pergunta “shall we begin?” Se for para trazer mais discos como esse, a resposta é um sonoro “YES”!

NOTA: 7,94

Pontos positivos: boas canções mostram um Blaze reencontrando seu caminho
Pontos negativos: What Will Come...me dá pesadelos!!!
Para fãs de: Metal tradicional em geral
Classifique como: Heavy Metal