Para os malucos(as) que como eu tem prazer em destrinchar as histórias que permeiam a trilha sonora que escolhemos para nossas vidas. E quantas histórias interessantes se escondem em cada esquina desse vasto mundo do rock! Vocês encontrarão por aqui resenhas de shows, discos, livros, dvds (blu-rays) e notícias comentadas sobre o mundo do rock. Espero que vocês gostem e visitem sempre ou eventualmente. Eu, certamente, me divertirei muito escrevendo aqui.
O dono da Italiana Frontiers Records deve brincar de análise combinatória com os
músicos mais proeminentes da atual cena Hard/AOR mundial. A quantidade de
projetos de supergrupos que ele consegue gerar certamente suplantam nossa
capacidade de absorver o resultado final. E convenhamos, com essa avalanche de
lançamentos parecidos, nem sempre o resultado final presta. Esse NordicUnion me colocou a pulga atrás da orelha por trazer uma junção
pouco provável de dois músicos nórdicos: o enrugado vocalista RonnieAtkins, que há décadas carrega a instituição dinamarquesa de Heavy/Power
Metal PrettyMaids nas costas se juntando ao sueco ErikMartensson,
vocalista e multi-instrumentista da melhor banda de AOR moderna, o Eclipse. A junção parece mais estranha
no papel, mas cabe ressaltar que uma das características que tornam o PrettyMaids uma banda com sonoridade bem própria é justamente a
capacidade incomum em unir o típico Power Metal Europeu com AOR sem que isso
soe forçado.
Ronnie Enrugatkins
O
projeto ganha alguns pontos ao contar com composições próprias da dupla,
fugindo a regra dos últimos lançamentos da Frontiers,
nos quais os supergrupos de proveta se fazem valer de repertório fabricado por
compositores de aluguel. Fácil de explicar: Erik é justamente um dos compositores de aluguel onipresentes nas
obras da gravadora italiana.
Erik comemorando seu 789 lançamento pela Frontiers...em um ano...
TheWar Has Begun começa (dã) exatamente
como era de se esperar, uma perfeita mistura entre o Power/AOR do PrettyMaids com o AOR moderno do Eclipse.
A voz de Ronnie é inimitável (se bem
que o HansiKusch bem tentou no passado) e a faixa de trabalho Hipocrisy (ver
vídeo) com seu refrão absurdamente grudento já nos entrega que estamos diante
de um dos bons exemplares da Frontiers.
Cabe ressaltar que completam o grupo o baterista MagnusUlfstedt (ex
Eclipse, Talisman e grande elenco) e
diversos guitarristas convidados nos solos (E.g. ThomasLarson do GlennHughes e FredrikFolkare do Unleashed).
O
clima da produção aqui lembra bastante o do primeiro disco de outro supergrupo,
o WET, do qual Erik faz parte. Um clássico, então a referência é boa, certo? Ok, mas
nem sempre a coisa funciona tão bem: WideAwake é qualquer coisa que já
ouvimos antes nos trabalhos recentes do PrettyMaids e a baladinha EveryHeartbeat tem açúcar em quantidade suficiente para tornar um mamute
diabético.
Dinamarca x Suécia
Por
sorte WhenDeathIsCalling (ver vídeo), uma espécie de TheCult-encontra-Power Metal, puxa o nível lá para cima, seguida pela
também muito boa 21Guns. A ótima Falling é Eclipse puro
com a voz rascante de Mr. Atkins no
comando e TheOtherSide é a mais
rocker do material. Todas grudentas como piche.
Point
Of No Return (vídeo) é bem Pretty Maids e mantém o nível lá no alto.
Infelizmente a dupla não estava lá muito inspirada para baladas e True Love
Awaits You é um xarope de proporções homéricas. Para nossa sorte a dupla
resolveu terminar os serviços com a boa Go, um hard moderno e honesto. Algumas
versões do disco contam ainda com uma rendição acústica para When Death Is
Calling, um material ok, mas que não vale a busca por edições limitadas.
Saldo Final
A expertise de Ronnie Atkins com o material mais AOR
do Pretty Maids casou bastante bem
com o super poder de Erik Martensson
em compor faixas extremamente grudentas e viciantes. Diria ainda mais, a voz
rascante de Ronnie torna o material
ainda mais bacana, evitando que as músicas comecem a enjoar, o que é praxe em
bandas de AOR. Uma junção incomum e que possivelmente nunca vai ver a luz dos
palcos (como é usual em se tratando dos supergrupos da Frontiers), mas que já pode se gabar de ter gerado um rebento para
lá de bacana. Um disco curto e viciante.
NOTA: 84
Para fãs de: Pretty Maids,
Eclipse e trabalhos de AOR moderno
Bah, os infortúnios dessa existência. Sabe quando você tem noção de que um show vai ser imperdível e que deveria fazer de tudo para comparecer ao mesmo, mas ao mesmo tempo o universo parece conspirar para que você fracasse em sua missão. Pois bem, esse foi o caso com o show do Iron. Por sorte, um grande amigo e Maidenmaníaco, Señor Freddy Krill, biólogo e professor de respeito (sic), tornou-se o enVIADO especial da Cripta nas longínquas terras da Barra da Tijuca, e nos contou o que aconteceu por lá. resta agradecer ao cabrunco (e à Srta Claudia Speroto) e passar um pouco mais de gelol nos meus doloridos cotovelos.
Divirtam-se!
Trevas
INTRO:
ENFIM, CHEGOU NOSSA VEZ!!!
(texto por Freddy Krill, fotos por Krill e Claudia Speroto)
Desde
que o “The Book of Souls” foi lançado, em setembro/2015, que a
expectativa criada por uma nova turnê por estas plagas só fazia aumentar.
Enfim, sai o anúncio oficial: a 11ª passagem da Donzela pelo Brasil está
CONFIRMADA! Começou a vender? Compramos! Seria meu 10º show (só não estive
presente ao épico concerto do Rock in Rio de 1985)...
Nota do Trevas: o equivalente Krillzístico do Santo Graal
A
banda resolveu enveredar por um caminho muito progressivo, desde o “Dance
of Death”. Composições longas, complexas e de difícil palatabilidade
(por vezes) arrefeceram aquele entusiasmo juvenil pela minha banda predileta.
“The
Book of Souls” não fugiu a essa “nova” regra... É Iron Maiden, mas não
é “aquele” Iron Maiden de antanho... Enfim... Sem muitas digressões...
Depois de toda a zika
(com bastante trocadilho) envolvendo a perna sul-americana da turnê (Ed Force
One avariado no Chile; Eddie levando um tombo no palco na Argentina), CHEGOU O
DIA!!! Como tudo aqui na terra de Big
Foot “tá tranquilo, tá favorável”, no mesmo dia a Barra teria Simply Red
(no redivivo Metropolitan) e Wesley Safadão (no Barra Music). Aquele trânsito,
maravilhoso por ele, foi tornado ainda mais gostoso pelas obras olímpicas... Alternativa?
Sair muito cedo de casa! Após um curto trajeto Tijuca-Barra de 1:35h pela Linha
Amarela, chegamos!!! Estacionamento fácil, mas um curral insano, onde todos
eram separados de acordo com sua lotação, para serem reunidos na rampa de
acesso e separados DE NOVO lá em cima...
Praticamente um senhor de idade, pagando esse "Kong" (foto por Claudia Speroto)
THE
RAVEN AGE: Nada como ser filho do homem...
Originalmente
previsto para iniciar às 19h, eram ainda 18:48h quando o THE RAVEN AGE, banda de
George Harris, filho caçula do “The Boss” adentrou o palco. De cara, o
baterista Jai Patel inicia uma surra impiedosa nos surdos, enquanto rolava a intro no background. A banda entra e... A impressão era estar num show do
famigerado Avenged Sevenfold!!! Tá certo que não há novidades no metal, mas... Aquela
batida pesada e pegajosa, que não empolga nem dá vontade de botar pra correr do
palco...O vocalista Michael Burrough (que veio com um visual de Jack Bauer - felizmente não foram 24h de show!) canta bem, de verdade. George na guitarra solo é muito eficiente! Seu parceiro Dan Wright e o baixista Matt Cox mostram que a banda tem MUITO potencial, mas precisa urgentemente encontrar um norte! Um set curto, com menos de 30 minutos de duração, em que tocaram seu EP (auto-intitulado) na íntegra (mais uma música), que agradou as meninas e os fãs-não-tão-troos-de-coração-de-melão...Lauren Harris nos deu o Richie Faulkner. Talvez eles façam melhor daqui para frente...
- Nota: 6,5.
- Indicado para: quem curte A7X.
- Fuja se: você não admite nepotismo e/ou “meritocracia”.
ANTHRAX:
Baixei o “For All Kings” só pra irritar o Scott Ian…
Quando
estiveram por aqui, não consegui ir. Sempre por captação deficiente de ativos
voláteis no mercado financeiro... Mas dessa vez não escaparam! Após uma rápida
preparação, eram 19:50h quando os bacilos mais extremos do thrash pisaram o
palco! Pra começar, entra o onipresente John Dette na bateria, substituindo o
operado/convalescente Charlie Benante (que sofre de síndrome do túnel do
carpo... ÓTIMO para um baterista!). Antes de qualquer coisa, e por dever de
justiça: TOCA MUITO!!! Aliás, ele detém o recorde mundial de se apresentar com
o Anthrax e o Slayer NA MESMA NOITE!!!... Estrearam o novo guitarrista solo
Jonathan Donais, absolutamente preciso!
Isto
posto, vamos ao show: começam logo mandando três petardos absolutos: Caught In A Mosh, Got The Time e Antisocial!!!
Suores heteros rolaram pelas minhas vistas... Scott Ian, cada vez mais careca e
barbudo... Frank Bello, cada vez mais insano e ritmado... Joey Belladona (O VOCALISTA do Anthrax! – sorry Neil
Turbin, John Bush & Dan Nelson...), cada vez mais com o cabelo parecendo
arame... Seguiram mandando Fight ‘em ‘til
You Can’t (do Worship Music, originalmente gravado pelo Nelson mais bizarro
citado acima...), Evil Twin (do novo For
All Kings), Medusa (Spreading
the Disease) e Breathing
Lightning (For All Kings). Para encerrar, o mega clássico Indians, em que alguns mosh-pits foram abertos, para desespero
de velhos rock’n’rollers presentes na
Arena... Faltaram Madhouse e I Am The Law, mas não se pode ter
tudo... Prometeram voltar em 2017 para um show completo...
-Nota:
9,0.
-Indicado
para: bangers velhos, senis e
decrépitos como eu.
À
medida que se via o palco sendo preparado, aumentavam a expectativa e o “amassation of the wicked”... Black
Sabbath & AC/DC rolando baixinho no som da Arena tornavam o clima mais
elétrico. Até que, às 21:15h... DOCTOR DOCTOR entra rugindo nas caixas! Todo
Maidenmaníaco SABE que (1) Esta
música prenuncia a entrada da Besta; (2) Steve Harris morre de raiva de não
tê-la composto; (3) Steve Harris morre de raiva de ter colocado o Blaze para
cantá-la...
Tensão máxima... O palco é liberado dos panos que cobrem os adereços... Um templo Maia surge. Sobre a bateria, uma pira começa a soltar fumaça... É a deixa para um etéreo Bruce Dickinson iniciar If Eternity Should Fail quase Acapella... Se alguém tinha dúvidas de que o câncer descoberto após as gravações do novo disco (quem mandou botar a boca onde DEVIA???) teria detonado sua voz... Nada! Confira no vídeo:
Na
sequência vem a mais rápida e enérgica do “Book”: Speed Of Light, seguida por uma belíssima (e cada vez mais
indispensável) Children Of The Damned,
em que o duo Smith / Dickinson prova ser IMPRESCINDÍVEL à Donzela! Tears Of A Clown homenageia Robin
Williams, enquanto The Red And The Black
mostra um vigor ao vivo insuspeito na gravação!
The Trooper (uma
das eternas do set) e Powerslave (meu
mega clássico absoluto!) provam que o passar dos anos em nada tirou seu brilho,
peso e adoração por parte dos fãs!
(Uma
bandeira Brasileira é atirada no palco. Bruce a pega, abre, diz que a tem visto
muito na CNN e que “espera que os ‘bad
guys’ se fodam, quem quer que sejam”... Difícil saber por quem começar...
Os ‘good guys’ certamente estão entre
os ‘worse guys’... O Tempora, O Mores...).
Death Or Glory é muito boa, mas poderia ter dado lugar a outra mais antiga... (The Evil That Men Do ou Killers... Sempre vou esperando por esta última... Sei que não rolará, mas vai que...). Daí vem a faixa título e, como dito por Bruce, a “última do disco novo que tocaremos”... Uma daquelas faixas destinadas a virar clássico eterno, que depois dessa turnê nem eles sabem se voltará a ser apresentada... Hora do Eddie no palco (sem tombos!) e Bruce Dickinson: Vocalista, Historiador, Esgrimista, Piloto Profissional de aviões comerciais e Cirurgião Cardíaco:
Pausa.
Um sino começa a tocar junto ao dedilhado de Dave Murray. Hallowed Be Thy Name chegou! É de longe a minha predileta do “Number”.
Bruce se enforca cenograficamente sobre a bateria, surrando os pratos com a
corda durante o solo e regendo um extático e abarrotado HSBC Arena. Nunca mais a
tirem do set, seus putos!!!
Fear Of The Dark é aquela
que digo não aguentar mais... Junto com The
Trooper e TheNumber Of The Beast, está em TODO set, de todas as turnês... Faço
beicinho, digo que não canto / pulo mais, mas... Ôô.. ôôôôôô... ôôôôôô...
Iron Maiden traz o segundo Eddie. Hino absoluto.
Profusa distribuição de brindes. Após segundos de intervalo, aquela voz cavernosa proclama “Woe to You, O Earth and Sea (…)” enquanto um Capetão inflável sobe no fundo do palco. É hora de The Number Of The Beast:
Blood Brothers segue
após um discurso de Bruce, proclamando que “Impérios se levantam, mas sempre
caem! O que permanece são os laços de sangue, porque nós somos Irmãos de
Sangue!”. Certamente uma das melhores do Brave New World, e muito bem
recebida por um público já cansado, mas disposto a mais!
So, understand... Don’t waste
your time… Wasted Years
fecha de forma improvável o show, após quase duas horas ininterruptas! Sorrisos,
agradecimentos, fotos, palhetas, peles, munhequeiras, baquetas, tudo voa… E
voltamos para casa certos de mais um espetáculo que só senhores sessentões
(quase todos) sabem proporcionar.
Bruce
Dickinson é Bruce Dickinson, Dave Murray é Dave Murray. Sem mais. Adrian Smith
é a cola que une a banda. O melhor e mais técnico dos guitarristas, melódico e
absolutamente preciso nas composições, linhas base e solos. Simples assim... Janick
Gers? Claro... Está lá! Neste show fez muito menos presepada... Rodou a
guitarra nos braços, jogou pro alto, pegou... Zoou o Eddie... O de sempre...
Mas nos solos... PQP... O “Ovelha bem nascido” DEBULHOU como NUNCA vi!!!...
Steve Harris, com seus 60 completos e cabelos escuros tal qual um adolescente
cavalga as quatro cordas, corre de um lado pro outro, faz backing vocal... O HEAVY METAL SÓ MORRERÁ COM ELE!!! Lemmy &
Dio Live Forever!!! Nicko McBrain é o enfermo de sempre! Técnico e preciso, mas
lamentavelmente cada vez mais lento, compensando com doses cavalares de mão de pedra
na bateria.
Bom, geralmente começo minhas resenhas sobre um
disco falando um pouco sobre a história da banda. No caso do Temperance Movement, não há muito a
falar. A banda teve início nos idos de 2011, quando o vocalista escocês Phil Campbell (não, não é o galês do Motörhead) se juntou aos guitarristas Luke Potashnick e Paul Sayer. Logo encontraram sua cozinha no ex-baixista do Jamiroquai
Nick Fyffe e no baterista
australiano Damon Wilson. Todos
fissurados pela sonoridade do rock e R&B do final dos anos 1960/início dos
anos 1970, acordaram trilhar esse caminho. O nome da banda, esquisito e complicado
de falar para os tupiniquins aqui, é uma irônica referência a um movimento de
origem nos idos de 1820, que apregoava o combate ao uso de bebidas alcóolicas
através de campanhas e sanções de leis que limitassem a produção e venda desses
produtos.
A banda lançou um ep em 2012,
sendo rapidamente catapultada a sensação pelas revistas especializadas. Chegou
inclusive a apresentar três faixas do ep ao vivo na Sunflower Jam (evento musical beneficente de grande porte que
costuma envolver grandes nomes da música britânica), no magnífico Royal Albert Hall. Contratada pela Earache, lançou em 2013 seu primeiro
disco, uma pedrada homônima que rendeu convites para abrir dois shows do Rolling Stones. Ou seja, dá para
perceber que, tal qual os colegas americanos do Rival Sons, o TM tem um início
de carreira meteórico e para lá de promissor. Como dizem por aí que o segundo
disco de uma banda é sempre um desafio, esse White Bear foi anunciado sob imensa expectativa. Vamos checar a
bolachinha, ora pois!
O Urso Branco
Three
Bulleits (ver
vídeo) abre o disco já apontando o forte dos britânicos: um blues rock
envenenado circa 1969, com riffs diretos e a voz rascante de Phil Campbell ditando linhas melódicas
e refrães que fariam Paul Rodgers sorrir
o maior dos sorrisos.
Get Yourself Free (ver vídeo) tem aquele ritmo algo suingado e um
refrão que fará a alegria das viúvas do grande Black Crowes. A pleasant
Peace I Feel é uma daquelas power ballads sessentistas com uma mistura de
música grudenta e estrutura de jam com leves toques psicodélicos, num belo
exemplo de arranjo cuidadoso em uma música supostamente simples. Aliás, talvez a
diferença desse disco para o primeiro resida na produção intencionalmente menos
vintage, mas que em nenhum momento transforma a bolachinha em algo pasteurizado
e inócuo.
Modern Massacre (ver vídeo) é uma paulada Retro-Rock com veia
punk calcada principalmente no talento vocal de Mr. Campbell, um vocalista à moda antiga (pitadas de Bon Scott são claramente percebidas). Battle Lines é um blues rock encardido e dançante e a faixa título
traz um pouco de Led à mistura em uma power ballad bacana.
Oh Lorraine (ver vídeo) tem um riff viciante e é tão grudenta
que apenas a produção nova em folha faz você acreditar que não se trata de um
clássico dos anos 1970. Magnify é um
pouco sem graça, mas a curta e algo psicodélica The Sun and Moon Roll Around Too Soon logo volta a trazer a diversão
ao ouvinte. A bolachinha encerra seus parcos 39 minutos com a melancólica I Hope I’m Not Losing My Mind, deixando
nossos ouvidos querendo mais.
The Temperance Movement 2016
Saldo Final
Tal qual os estadunidenses do Rival Sons, os britânicos do Temperance Movement engrandecem o
movimento do Retro Rock com obras certeiras que tem como grande trunfo agradar
tanto aos nostálgicos quanto aos neófitos. Altamente recomendado para qualquer
fã de rock em seu estado mais puro.
NOTA: 87
Indicado
para:
Fãs
da fase Black Crowes, Rival Sons, Blues Pills, Free, Bad Company.
Fuja
se:
Você
só digere coisas modernas
Classifique
como: Blues Rock, Retro-Rock, Classic Rock
Em
2014 alguns poucos cariocas sortudos tiveram o prazer de presenciar uma mágica
viagem de volta aos anos 1980, capitaneada por um trio de ouro: Metalmorphose,
Picture e Grim Reaper. Uma noite inesquecível cujos detalhes você pode conferir
aqui na Cripta!
Quase dois anos
depois, no mesmo palco, temos a promessa de uma nova noite repleta de metal e
nostalgia. Dessa vez com a presença dos holandeses do Picture, assessorados por
outro combo oitentista, diretamente da NWOBHM, o atualmente cult e outrora
quase mainstream, Tygers Of Pan Tang. Tão logo o Line Up foi anuciado, garanti
meu ingresso e parti para o abraço!
Jogo do 1 erro: alguém sabe dizer o que tem de errado aí nesse letreiro?
Picture
A
casa estava com um bom público, a despeito de se tratar de um evento de meio de
semana. Mas melhor ainda, o público presente sabia muito bem o que esperar, não
tinha sequer um só cabrunco não disposto a banguear. Como da última vez, o Picture abriu o show com
a ótima Griffons Guard The Gold. E daí para a frente foi uma avalanche de um
Heavy Metal tradicional veloz e grudento, ornamentado com ótimos riffs, a voz
característica de Pete Lovell e uma cozinha para lá de azeitada. Pudera, é
composta por nada menos que os dois membros fundadores da banda. Laurens Bakker
parece saído diretamente de um asilo, mas toca bateria com uma violência
incrível, inclusive com bumbos duplos não muito comuns à bandas da época. O
repertório é absolutamente perfeito e nada depois de 1985 foi tocado. Poderia
reclamar que a banda deveria ter prestigiado os bacanas e recentes Warhorse e
Old Dogs, New Tricks, mas estava ocupado demais bangueando feito um retardado.
O vigor dos velhinhos é tão impressionante que gerou um daqueles momentos
inesquecíveis: na música Bombers, o baixista da formação original, Rinus
Vreugdenhil desceu ao meio da mesma e tocou o restante misturado ao público,
bangueando com um sorriso no rosto enquanto um festival de selfies se criava
como um redemoinho tecnológico ao redor de um fóssil vivo de uma era que
infelizmente não volta mais. Quer dizer, volta sim, ao menos para quem se
habilitar a pegar a máquina do tempo que é um show do Picture. Perfeito (NOTA
10).
Seria
praticamente impossível para o Tygers bater o show do Picture. Certo. Mas que
bom que em nenhum momento os caras abriram mão de tentar. Com um Line Up
contendo apenas um membro da formação original (o guitarrista Rob Weir) rodeado
de (não tão) novos talentos, os britânicos fizeram um set para lá de enérgico,
mas que ao contrário do set dos contemporâneos holandeses, não relegou a
segundo plano seus lançamentos pós retorno. O italiano Jacopo Meille é o
estereótipo do latino descacetado. Repleto de caras e bocas e imenso carisma,
interpreta material de todas as fases com desenvoltura. Mas infelizmente seu
alcance vocal e carisma são proporcionais à irritabilidade causada pelo seu
timbre. Ao meio do show confesso que já não me encontrava tão empolgado assim.
Mas em relação ao material apresentado, imagino que poucos tenham algo a
reclamar: Hellbound (ver vídeo), Paris By Air, Love Potion Number 9, Don’t
Touch Me There e muitas outras foram executadas com precisão cirúrgica. Enfim, um
show preciso e cheio de energia que serviu como um bom encerramento para mais
uma incrível noite de nostalgia metálica (NOTA 8).
Dave
Mustaine é
um monstro sagrado do HeavyMetal. É também chiliquento e um
criador inveterado de polêmicas. E o background que precedeu a gestação do novo
disco é um clássico capítulo na turbulenta história da banda. Membros da
ex-melhor formação do Megadeth
(palavras do patrão) ficam sabendo por terceiros que não fazem mais parte dos
planos do Ruivo Hering. Uma tentativa de reunião da formação clássica ocorre
por debaixo dos panos. A tentativa fracassa retumbantemente (ó, que surpresa). Megadave é obrigado a traçar um plano
B. O plano B inclui a adição dos virtuoses ChrisAdler (LambOfGod, bateria) e KikoLoureiro (brasuca e
guitarrista do Angra) à longa lista
de membros da história da banda. A nova formação é anunciada pelo patrão como
sendo a melhor em todos os tempos (caras, ele diz isso para todas...). Enfim,
filme ruim e repetido. Mas Megadave,
além de um mala é um cara talentoso. E cercado de outros caras talentosos, será
que o resultado poderia ficar ruim? É com esse espírito que fui conferir Dystopia, produzido pelo boca de
croissant e apresentado com uma inspirada arte gráfica.
Distopia Decifrada
The
Threat is Real (ver
vídeo) é um começo promissor para o novo Megadeth,
faixa virulenta Mid Tempo, com ótimos riffs e solos. O refrão, esse parece
saído de algum trabalho recente do Testament,
o que não é nada ruim. A voz de Mustaine
está grave e mais gasta do que nunca, e na verdade isso tem até um efeito
positivo, já que aquela coisa meio esganiçada que afastou muito fã de metal da
banda acaba diminuída.
Já
a faixa título (ver vídeo), essa não tem nem um segundo que não soe como Megadeth clássico, e tem gente achando
sua estrutura uma tentativa de refazer Hangar 18. O fato é que ela parece saída
de algum disco hipotético entre Countdown
e Youthanasia. Ah, e quem tinha
dúvidas se KikoLoureiro poderia se adaptar ao estilo Thrasher da banda (confesso,
meu caso), certamente deixou a mesma de lado com essa faixa, já que sua reta
final é praticamente uma invejável orgia guitarrística.
Bom,
FatalIllusion (ver vídeo) é o típico Megadeth encarando seu principal problema: uma faixa repleta de
ótimos solos e riffs, mas que simplesmente vai do nada ao lugar algum.
Dispensável. Aqui parece que Megadave
resolveu dar espaço aos outros colegas, com Ellefson tendo seu momento solo e a bateria rolo compressor de
Chris Adler quebrando tudo. Uma pena que a sonoridade da bateria seja tão
mecânica.
Death From Within é boa e pesada, com um refrão que remete e
muito ao Megadeth de Countdown. A dobradinha Bullet To the Brain e Post American World (primeira das
composições a contar com a criatividade de Kiko
na bolachinha) são corretas e tem seus momentos, mas não apresentam nada que
impressione. A co-participação de Kiko
nas composições continua com Posionous
Shadows (com um piano, vejam só) e Conquer
or Die!, a melhor delas - uma ótima faixa instrumental com bela introdução
acústica.
Ruivo Hering, Kiko e grande elenco
LyingInState é marcada pela pressão da bateria
de Adler, mais um caso onde o instrumental salva o Megadeth da mediocridade. TheEmperor é boa e é o único momento do
disco que nos faz lembrar da existência de trabalhos mais rocker da banda, como
13 e Supercollider. Como nesse último, a bolachinha se encerra com um
cover, dessa vez para o razoável punk rock ForeignPolicy, do Fear.
Saldo Final
Como tem sido usual nos tempos de
hoje, a campanha de promoção do novo disco de uma banda mainstream é viral e cercada
de superlativos. Você é levado a acreditar que estará com um clássico em mãos
muito antes do disco sequer estar mixado. E não foi diferente com Dystopia. Não, não é o melhor disco do Megadeth desde RustInPeace. Countdown e Youthanasia
certamente estão alguns degraus acima das pretensões da nova bolachinha para se
tornar um clássico. Mas tampouco estamos diante de um disco medíocre. Megadave e sua nova trupe nos
entregaram um trabalho muito bom, bem melhor que os últimos dois discos dos
estadunidenses, mas no máximo no nível de Endgame.
O que, convenhamos, está para lá de bom
e quer dizer algo muito melhor do que o metallica vem fazendo desde o século
passado, só para alimentar picuinhas, heheeh. Ah, e Kiko e Adler, esses
chutaram solenemente as bundas dos descrentes. Agora sobra a curiosidade de ver
essa parceria ser repetida, ao vivo e em mais um grande disco.
NOTA: 82
Indicado
para:
Fãs
da fase Countdown to Extinction/Youthanasia da banda.
Não é mistério nenhum que Bjorn “Speed” Strid,
do Soilwork, tem uma quedinha por AOR. Basta ouvir a melodia dos excelentes
refrães de sua banda principal para sacar isso. O mais bacana é que ele e o guitarrista
e colega de Soilwork David Andersson resolveram criar um projeto que justamente
homenageia essas influências. Melhor ainda, ao invés de apenas fazer covers das
bandas da era áurea do AOR, resolveram compor músicas que se enquadram
perfeitamente no estilo. Para isso cooptaram o ex baixista do Mercyful Fate,
Sharlee D’Angelo e outros camaradas da cena metálica nórdica, em um projeto de
amigos.
Não, Strid não pode mais cultivar Mullets de verdade, mas ninguém pode privar o cara de ter os mullets na alma
Internal
Affairs, primeiro trabalho dos caras, obteve uma reação surpreendente por parte
da mídia especializada, e os amigos foram inclusive compelidos a fazer uma
aparição ao vivo, no Sweden Rock Fest de 2014.
Internal Affairs, o primeiro disco
Na surdina, a patota se reuniu de
novo para gravar um segundo episódio para a brincadeira que deu certo.
Novamente lançado pelo selo italiano Coroner Records, Skyline Whispers tem uma
das piores capas já vistas, mas que faz todo o sentido do mundo, pois casa com
a estética Kitsch (traduzindo: brega-chique) da era em que a música da banda
poderia se encaixar.
A ótima Sail On (ver vídeo) abre o disco e você
fica com a certeza de que ela foi composta e produzida em algum estúdio obscuro
no ano de 1978. Mr. Strid mostra toda sua maestria com as vozes limpas, o que
não é novidade nenhuma para os fãs de Soilwork.
Living
For The Nighttime (ver vídeo) confirma a estética AOR encontra Classic Rock que
encontra Disco Music, algo como os discos do Foghat, os primeiros do Foreigner
e congêneres. Os arranjos são bem caprichados e os refrães, cara, como são
grudentos. E tem aquela aura de rock com influências da Disco Music, muito
comum à época. Pense em People Of The South Wind, do Kansas e Down Down do BTO,
por exemplo. Você fica com a impressão de que se não ouviu as músicas antes
numa rádio nos anos 1980, certamente deveria ter ouvido.
Os momentos
mais classic rock ficam ao encargo de All the Ladies e Lady Jane. E há espaço
até mesmo para vestígios de Prog Rock circa 1978, como em The Heather Reports e
Spanish Ghosts. Mas é no “AOR de raiz” que a sonoridade do disco se ancora,
como mostram as ótimas Stiletto e I Ain’t Old, I Ain’t Young. E se você está em
dúvida se os caras trouxeram influências de suas bandas principais para a
bolachinha, te digo que não há um segundo sequer aqui que dê indício de que se
trata de um monte de músicos que vivem e estilos extremos dentro do metal. É
tudo muito vintage em Skyline Whispers.
Saldo Final
Quisera que todos os projetos
paralelos do mundo do rock fossem tão divertidos quanto esse Night Flight
Orchestra, Skyline Whispers é um deleite para qualquer um que ao menos tenha
uma quedinha pelo início do AOR, o mais brega dos subgêneros do rock. Um disco
tão bacana que bem poderia ter adentrado minha listinha de melhores do ano que
passou. Coloque seu collant e suas polainas e vá malhar e suar seu mullet ao som
dos suecos kitsch!
NOTA: 90
Indicado
para:
Fãs
do AOR “de raiz” e classic rock do fim dos anos 1970, início dos anos 1980:
Foreigner, Journey, Foghat, BTO...