segunda-feira, 28 de março de 2016

Nordic Union – Nordic Union (Cd-2016)


Nordic Union
Vikings Fazem Boa Farofa de Alce
Por Trevas

O dono da Italiana Frontiers Records deve brincar de análise combinatória com os músicos mais proeminentes da atual cena Hard/AOR mundial. A quantidade de projetos de supergrupos que ele consegue gerar certamente suplantam nossa capacidade de absorver o resultado final. E convenhamos, com essa avalanche de lançamentos parecidos, nem sempre o resultado final presta. Esse Nordic Union me colocou a pulga atrás da orelha por trazer uma junção pouco provável de dois músicos nórdicos: o enrugado vocalista Ronnie Atkins, que há décadas carrega a instituição dinamarquesa de Heavy/Power Metal Pretty Maids nas costas se juntando ao sueco Erik Martensson, vocalista e multi-instrumentista da melhor banda de AOR moderna, o Eclipse. A junção parece mais estranha no papel, mas cabe ressaltar que uma das características que tornam o Pretty Maids uma banda com sonoridade bem própria é justamente a capacidade incomum em unir o típico Power Metal Europeu com AOR sem que isso soe forçado.

Ronnie Enrugatkins
O projeto ganha alguns pontos ao contar com composições próprias da dupla, fugindo a regra dos últimos lançamentos da Frontiers, nos quais os supergrupos de proveta se fazem valer de repertório fabricado por compositores de aluguel. Fácil de explicar: Erik é justamente um dos compositores de aluguel onipresentes nas obras da gravadora italiana. 

Erik comemorando seu 789 lançamento pela Frontiers...em um ano...
The War Has Begun começa (dã) exatamente como era de se esperar, uma perfeita mistura entre o Power/AOR do Pretty Maids com o AOR moderno do Eclipse. A voz de Ronnie é inimitável (se bem que o Hansi Kusch bem tentou no passado) e a faixa de trabalho Hipocrisy (ver vídeo) com seu refrão absurdamente grudento já nos entrega que estamos diante de um dos bons exemplares da Frontiers. Cabe ressaltar que completam o grupo o baterista Magnus Ulfstedt (ex Eclipse, Talisman e grande elenco) e diversos guitarristas convidados nos solos (E.g. Thomas Larson do Glenn Hughes e Fredrik Folkare do Unleashed).



O clima da produção aqui lembra bastante o do primeiro disco de outro supergrupo, o WET, do qual Erik faz parte. Um clássico, então a referência é boa, certo? Ok, mas nem sempre a coisa funciona tão bem: Wide Awake é qualquer coisa que já ouvimos antes nos trabalhos recentes do Pretty Maids e a baladinha Every Heartbeat tem açúcar em quantidade suficiente para tornar um mamute diabético.

Dinamarca x Suécia
Por sorte When Death Is Calling (ver vídeo), uma espécie de The Cult-encontra-Power Metal, puxa o nível lá para cima, seguida pela também muito boa 21 Guns. A ótima Falling é Eclipse puro com a voz rascante de Mr. Atkins no comando e The Other Side é a mais rocker do material. Todas grudentas como piche.



Point Of No Return (vídeo) é bem Pretty Maids e mantém o nível lá no alto. Infelizmente a dupla não estava lá muito inspirada para baladas e True Love Awaits You é um xarope de proporções homéricas. Para nossa sorte a dupla resolveu terminar os serviços com a boa Go, um hard moderno e honesto. Algumas versões do disco contam ainda com uma rendição acústica para When Death Is Calling, um material ok, mas que não vale a busca por edições limitadas.


Saldo Final

A expertise de Ronnie Atkins com o material mais AOR do Pretty Maids casou bastante bem com o super poder de Erik Martensson em compor faixas extremamente grudentas e viciantes. Diria ainda mais, a voz rascante de Ronnie torna o material ainda mais bacana, evitando que as músicas comecem a enjoar, o que é praxe em bandas de AOR. Uma junção incomum e que possivelmente nunca vai ver a luz dos palcos (como é usual em se tratando dos supergrupos da Frontiers), mas que já pode se gabar de ter gerado um rebento para lá de bacana. Um disco curto e viciante.

NOTA: 84

Para fãs de: Pretty Maids, Eclipse e trabalhos de AOR moderno
Fuja se: tens alergia a farofa

Classifique como: AOR/Hard Rock

quinta-feira, 24 de março de 2016

Iron Maiden + Anthrax + The Raven Age (HSBC Arena, 17/03/2016)


Poster da Turnê de 2016






Bah, os infortúnios dessa existência. Sabe quando você tem noção de que um show vai ser imperdível e que deveria fazer de tudo para comparecer ao mesmo, mas ao mesmo tempo o universo parece conspirar para que você fracasse em sua missão. Pois bem, esse foi o caso com o show do Iron. Por sorte, um grande amigo e Maidenmaníaco, Señor Freddy Krill, biólogo e professor de respeito (sic), tornou-se o enVIADO especial da Cripta nas longínquas terras da Barra da Tijuca, e nos contou o que aconteceu por lá. resta agradecer ao cabrunco (e à Srta Claudia Speroto) e passar um pouco mais de gelol nos meus doloridos cotovelos. 
Divirtam-se!

Trevas


INTRO: ENFIM, CHEGOU NOSSA VEZ!!!
(texto por Freddy Krill, fotos por Krill e Claudia Speroto)

Desde que o “The Book of Souls” foi lançado, em setembro/2015, que a expectativa criada por uma nova turnê por estas plagas só fazia aumentar. Enfim, sai o anúncio oficial: a 11ª passagem da Donzela pelo Brasil está CONFIRMADA! Começou a vender? Compramos! Seria meu 10º show (só não estive presente ao épico concerto do Rock in Rio de 1985)...   


Nota do Trevas: o equivalente Krillzístico do Santo Graal
A banda resolveu enveredar por um caminho muito progressivo, desde o “Dance of Death”. Composições longas, complexas e de difícil palatabilidade (por vezes) arrefeceram aquele entusiasmo juvenil pela minha banda predileta.
The Book of Souls” não fugiu a essa “nova” regra... É Iron Maiden, mas não é “aquele” Iron Maiden de antanho... Enfim... Sem muitas digressões...
Depois de toda a zika (com bastante trocadilho) envolvendo a perna sul-americana da turnê (Ed Force One avariado no Chile; Eddie levando um tombo no palco na Argentina), CHEGOU O DIA!!! Como tudo aqui na terra de Big Foot “tá tranquilo, tá favorável”, no mesmo dia a Barra teria Simply Red (no redivivo Metropolitan) e Wesley Safadão (no Barra Music). Aquele trânsito, maravilhoso por ele, foi tornado ainda mais gostoso pelas obras olímpicas... Alternativa? Sair muito cedo de casa! Após um curto trajeto Tijuca-Barra de 1:35h pela Linha Amarela, chegamos!!! Estacionamento fácil, mas um curral insano, onde todos eram separados de acordo com sua lotação, para serem reunidos na rampa de acesso e separados DE NOVO lá em cima...

Praticamente um senhor de idade, pagando esse "Kong" (foto por Claudia Speroto)
THE RAVEN AGE: Nada como ser filho do homem...

Originalmente previsto para iniciar às 19h, eram ainda 18:48h quando o THE RAVEN AGE, banda de George Harris, filho caçula do “The Boss” adentrou o palco. De cara, o baterista Jai Patel inicia uma surra impiedosa nos surdos, enquanto rolava a intro no background. A banda entra e... A impressão era estar num show do famigerado Avenged Sevenfold!!! Tá certo que não há novidades no metal, mas... Aquela batida pesada e pegajosa, que não empolga nem dá vontade de botar pra correr do palco...O vocalista Michael Burrough (que veio com um visual de Jack Bauer - felizmente não foram 24h de show!) canta bem, de verdade. George na guitarra solo é muito eficiente! Seu parceiro Dan Wright e o baixista Matt Cox mostram que a banda tem MUITO potencial, mas precisa urgentemente encontrar um norte! Um set curto, com menos de 30 minutos de duração, em que tocaram seu EP (auto-intitulado) na íntegra (mais uma música), que agradou as meninas e os fãs-não-tão-troos-de-coração-de-melão...Lauren Harris nos deu o Richie Faulkner. Talvez eles façam melhor daqui para frente...



- Nota: 6,5. 

- Indicado para: quem curte A7X. 

- Fuja se: você não admite nepotismo e/ou “meritocracia”. 

E~D: Dan Wright-Michael Burrough-Jai Patel
E~D: George Harris-Jai Patel-Matt Cox-Dan Wright
ANTHRAX: Baixei o “For All Kings” só pra irritar o Scott Ian…

Quando estiveram por aqui, não consegui ir. Sempre por captação deficiente de ativos voláteis no mercado financeiro... Mas dessa vez não escaparam! Após uma rápida preparação, eram 19:50h quando os bacilos mais extremos do thrash pisaram o palco! Pra começar, entra o onipresente John Dette na bateria, substituindo o operado/convalescente Charlie Benante (que sofre de síndrome do túnel do carpo... ÓTIMO para um baterista!). Antes de qualquer coisa, e por dever de justiça: TOCA MUITO!!! Aliás, ele detém o recorde mundial de se apresentar com o Anthrax e o Slayer NA MESMA NOITE!!!... Estrearam o novo guitarrista solo Jonathan Donais, absolutamente preciso!
Isto posto, vamos ao show: começam logo mandando três petardos absolutos: Caught In A Mosh, Got The Time e Antisocial!!! Suores heteros rolaram pelas minhas vistas... Scott Ian, cada vez mais careca e barbudo... Frank Bello, cada vez mais insano e ritmado... Joey Belladona (O VOCALISTA do Anthrax! – sorry Neil Turbin, John Bush & Dan Nelson...), cada vez mais com o cabelo parecendo arame... Seguiram mandando Fight ‘em ‘til You Can’t (do Worship Music, originalmente gravado pelo Nelson mais bizarro citado acima...), Evil Twin (do novo For All Kings), Medusa (Spreading the Disease) e Breathing Lightning (For All Kings). Para encerrar, o mega clássico Indians, em que alguns mosh-pits foram abertos, para desespero de velhos rock’n’rollers presentes na Arena... Faltaram Madhouse e I Am The Law, mas não se pode ter tudo... Prometeram voltar em 2017 para um show completo...
-    Nota: 9,0.
-    Indicado para: bangers velhos, senis e decrépitos como eu.
-    Fuja se: você queria estar no Barra Music.





An-fuckin-thrax!!!!!
Caught In A Moooosh
IRON MAIDEN: OLÊ, OLÊ, OLÊ, OLÊ…

À medida que se via o palco sendo preparado, aumentavam a expectativa e o “amassation of the wicked”... Black Sabbath & AC/DC rolando baixinho no som da Arena tornavam o clima mais elétrico. Até que, às 21:15h... DOCTOR DOCTOR entra rugindo nas caixas! Todo Maidenmaníaco SABE que (1) Esta música prenuncia a entrada da Besta; (2) Steve Harris morre de raiva de não tê-la composto; (3) Steve Harris morre de raiva de ter colocado o Blaze para cantá-la...



Tensão máxima... O palco é liberado dos panos que cobrem os adereços... Um templo Maia surge. Sobre a bateria, uma pira começa a soltar fumaça... É a deixa para um etéreo Bruce Dickinson iniciar If Eternity Should Fail quase Acapella... Se alguém tinha dúvidas de que o câncer descoberto após as gravações do novo disco (quem mandou botar a boca onde DEVIA???) teria detonado sua voz... Nada! Confira no vídeo:






Na sequência vem a mais rápida e enérgica do “Book”: Speed Of Light, seguida por uma belíssima (e cada vez mais indispensável) Children Of The Damned, em que o duo Smith / Dickinson prova ser IMPRESCINDÍVEL à Donzela! Tears Of A Clown homenageia Robin Williams, enquanto The Red And The Black mostra um vigor ao vivo insuspeito na gravação!
The Trooper (uma das eternas do set) e Powerslave (meu mega clássico absoluto!) provam que o passar dos anos em nada tirou seu brilho, peso e adoração por parte dos fãs!
(Uma bandeira Brasileira é atirada no palco. Bruce a pega, abre, diz que a tem visto muito na CNN e que “espera que os ‘bad guys’ se fodam, quem quer que sejam”... Difícil saber por quem começar... Os ‘good guys’ certamente estão entre os ‘worse guys’... O Tempora, O Mores...).
Death Or Glory é muito boa, mas poderia ter dado lugar a outra mais antiga... (The Evil That Men Do ou Killers... Sempre vou esperando por esta última... Sei que não rolará, mas vai que...). Daí vem a faixa título e, como dito por Bruce, a “última do disco novo que tocaremos”... Uma daquelas faixas destinadas a virar clássico eterno, que depois dessa turnê nem eles sabem se voltará a ser apresentada... Hora do Eddie no palco (sem tombos!) e Bruce Dickinson: Vocalista, Historiador, Esgrimista, Piloto Profissional de aviões comerciais e Cirurgião Cardíaco:


Pausa. Um sino começa a tocar junto ao dedilhado de Dave Murray. Hallowed Be Thy Name chegou! É de longe a minha predileta do “Number”. Bruce se enforca cenograficamente sobre a bateria, surrando os pratos com a corda durante o solo e regendo um extático e abarrotado HSBC Arena. Nunca mais a tirem do set, seus putos!!!
Fear Of The Dark é aquela que digo não aguentar mais... Junto com The Trooper e The Number Of The Beast, está em TODO set, de todas as turnês... Faço beicinho, digo que não canto / pulo mais, mas... Ôô.. ôôôôôô... ôôôôôô...
Iron Maiden traz o segundo Eddie. Hino absoluto.


Profusa distribuição de brindes. Após segundos de intervalo, aquela voz cavernosa proclama “Woe to You, O Earth and Sea (…)” enquanto um Capetão inflável sobe no fundo do palco. É hora de The Number Of The Beast:


Blood Brothers segue após um discurso de Bruce, proclamando que “Impérios se levantam, mas sempre caem! O que permanece são os laços de sangue, porque nós somos Irmãos de Sangue!”. Certamente uma das melhores do Brave New World, e muito bem recebida por um público já cansado, mas disposto a mais!
So, understand... Don’t waste your timeWasted Years fecha de forma improvável o show, após quase duas horas ininterruptas! Sorrisos, agradecimentos, fotos, palhetas, peles, munhequeiras, baquetas, tudo voa… E voltamos para casa certos de mais um espetáculo que só senhores sessentões (quase todos) sabem proporcionar.
Bruce Dickinson é Bruce Dickinson, Dave Murray é Dave Murray. Sem mais. Adrian Smith é a cola que une a banda. O melhor e mais técnico dos guitarristas, melódico e absolutamente preciso nas composições, linhas base e solos. Simples assim... Janick Gers? Claro... Está lá! Neste show fez muito menos presepada... Rodou a guitarra nos braços, jogou pro alto, pegou... Zoou o Eddie... O de sempre... Mas nos solos... PQP... O “Ovelha bem nascido” DEBULHOU como NUNCA vi!!!... Steve Harris, com seus 60 completos e cabelos escuros tal qual um adolescente cavalga as quatro cordas, corre de um lado pro outro, faz backing vocal... O HEAVY METAL SÓ MORRERÁ COM ELE!!! Lemmy & Dio Live Forever!!! Nicko McBrain é o enfermo de sempre! Técnico e preciso, mas lamentavelmente cada vez mais lento, compensando com doses cavalares de mão de pedra na bateria.
UP THE IRONS!!!!
-    Nota: 10,0.
-    Indicado para: UP THE IRONS!!!!
-    Fuja se: UP THE IRONS!!!!
Setlist: http://www.setlist.fm/setlist/iron-maiden/2016/hsbc-arena-rio-de-janeiro-brazil-7bf0c238.html

NT: Os The Airumeidi!!!
NT: Filhodopínton, recuperadíssimo!!
NT: o show é tão bom que o Capiroto em pessoa vem prestigiar
NT: e aí, babou com o visual do novo palco?
NT: nosso enVIADO especial em seu momento groupie assanhada (foto por "Rédibênzi Desconhecido")

quarta-feira, 16 de março de 2016

The Temperance Movement – White Bear (Cd-2016)

The Temperance Movement - White Bear (Cd-2016)
Urso Branco Abstêmio Sacode O Esqueleto
Por Trevas

Prólogo: beba com moderação

Bom, geralmente começo minhas resenhas sobre um disco falando um pouco sobre a história da banda. No caso do Temperance Movement, não há muito a falar. A banda teve início nos idos de 2011, quando o vocalista escocês Phil Campbell (não, não é o galês do Motörhead) se juntou aos guitarristas Luke Potashnick e Paul Sayer. Logo encontraram sua cozinha no ex-baixista do Jamiroquai Nick Fyffe e no baterista australiano Damon Wilson. Todos fissurados pela sonoridade do rock e R&B do final dos anos 1960/início dos anos 1970, acordaram trilhar esse caminho. O nome da banda, esquisito e complicado de falar para os tupiniquins aqui, é uma irônica referência a um movimento de origem nos idos de 1820, que apregoava o combate ao uso de bebidas alcóolicas através de campanhas e sanções de leis que limitassem a produção e venda desses produtos.



A banda lançou um ep em 2012, sendo rapidamente catapultada a sensação pelas revistas especializadas. Chegou inclusive a apresentar três faixas do ep ao vivo na Sunflower Jam (evento musical beneficente de grande porte que costuma envolver grandes nomes da música britânica), no magnífico Royal Albert Hall. Contratada pela Earache, lançou em 2013 seu primeiro disco, uma pedrada homônima que rendeu convites para abrir dois shows do Rolling Stones. Ou seja, dá para perceber que, tal qual os colegas americanos do Rival Sons, o TM tem um início de carreira meteórico e para lá de promissor. Como dizem por aí que o segundo disco de uma banda é sempre um desafio, esse White Bear foi anunciado sob imensa expectativa. Vamos checar a bolachinha, ora pois!

O Urso Branco

Three Bulleits (ver vídeo) abre o disco já apontando o forte dos britânicos: um blues rock envenenado circa 1969, com riffs diretos e a voz rascante de Phil Campbell ditando linhas melódicas e refrães que fariam Paul Rodgers sorrir o maior dos sorrisos.


Get Yourself Free (ver vídeo) tem aquele ritmo algo suingado e um refrão que fará a alegria das viúvas do grande Black Crowes. A pleasant Peace I Feel é uma daquelas power ballads sessentistas com uma mistura de música grudenta e estrutura de jam com leves toques psicodélicos, num belo exemplo de arranjo cuidadoso em uma música supostamente simples. Aliás, talvez a diferença desse disco para o primeiro resida na produção intencionalmente menos vintage, mas que em nenhum momento transforma a bolachinha em algo pasteurizado e inócuo.


Modern Massacre (ver vídeo) é uma paulada Retro-Rock com veia punk calcada principalmente no talento vocal de Mr. Campbell, um vocalista à moda antiga (pitadas de Bon Scott são claramente percebidas). Battle Lines é um blues rock encardido e dançante e a faixa título traz um pouco de Led à mistura em uma power ballad bacana.


Oh Lorraine (ver vídeo) tem um riff viciante e é tão grudenta que apenas a produção nova em folha faz você acreditar que não se trata de um clássico dos anos 1970. Magnify é um pouco sem graça, mas a curta e algo psicodélica The Sun and Moon Roll Around Too Soon logo volta a trazer a diversão ao ouvinte. A bolachinha encerra seus parcos 39 minutos com a melancólica I Hope I’m Not Losing My Mind, deixando nossos ouvidos querendo mais.


The Temperance Movement 2016
Saldo Final

Tal qual os estadunidenses do Rival Sons, os britânicos do Temperance Movement engrandecem o movimento do Retro Rock com obras certeiras que tem como grande trunfo agradar tanto aos nostálgicos quanto aos neófitos. Altamente recomendado para qualquer fã de rock em seu estado mais puro.

NOTA: 87

Indicado para:
Fãs da fase Black Crowes, Rival Sons, Blues Pills, Free, Bad Company.

Fuja se:
Você só digere coisas modernas

Classifique como: Blues Rock, Retro-Rock, Classic Rock

domingo, 13 de março de 2016

Picture + Tygers Of Pan Tang – 10.03.2016 (Teatro Odisseia – Rio de Janeiro/RJ)



Somewhere Back in Time
Texto, vídeo e fotos: Trevas

Em 2014 alguns poucos cariocas sortudos tiveram o prazer de presenciar uma mágica viagem de volta aos anos 1980, capitaneada por um trio de ouro: Metalmorphose, Picture e Grim Reaper. Uma noite inesquecível cujos detalhes você pode conferir aqui na Cripta!

Quase dois anos depois, no mesmo palco, temos a promessa de uma nova noite repleta de metal e nostalgia. Dessa vez com a presença dos holandeses do Picture, assessorados por outro combo oitentista, diretamente da NWOBHM, o atualmente cult e outrora quase mainstream, Tygers Of Pan Tang. Tão logo o Line Up foi anuciado, garanti meu ingresso e parti para o abraço!

Jogo do 1 erro: alguém sabe dizer o que tem de errado aí nesse letreiro?
Picture

A casa estava com um bom público, a despeito de se tratar de um evento de meio de semana. Mas melhor ainda, o público presente sabia muito bem o que esperar, não tinha sequer um só cabrunco não disposto a banguear.  Como da última vez, o Picture abriu o show com a ótima Griffons Guard The Gold. E daí para a frente foi uma avalanche de um Heavy Metal tradicional veloz e grudento, ornamentado com ótimos riffs, a voz característica de Pete Lovell e uma cozinha para lá de azeitada. Pudera, é composta por nada menos que os dois membros fundadores da banda. Laurens Bakker parece saído diretamente de um asilo, mas toca bateria com uma violência incrível, inclusive com bumbos duplos não muito comuns à bandas da época. O repertório é absolutamente perfeito e nada depois de 1985 foi tocado. Poderia reclamar que a banda deveria ter prestigiado os bacanas e recentes Warhorse e Old Dogs, New Tricks, mas estava ocupado demais bangueando feito um retardado. O vigor dos velhinhos é tão impressionante que gerou um daqueles momentos inesquecíveis: na música Bombers, o baixista da formação original, Rinus Vreugdenhil desceu ao meio da mesma e tocou o restante misturado ao público, bangueando com um sorriso no rosto enquanto um festival de selfies se criava como um redemoinho tecnológico ao redor de um fóssil vivo de uma era que infelizmente não volta mais. Quer dizer, volta sim, ao menos para quem se habilitar a pegar a máquina do tempo que é um show do Picture. Perfeito (NOTA 10).


Picture em ação
Tygers Of Pan Tang

Seria praticamente impossível para o Tygers bater o show do Picture. Certo. Mas que bom que em nenhum momento os caras abriram mão de tentar. Com um Line Up contendo apenas um membro da formação original (o guitarrista Rob Weir) rodeado de (não tão) novos talentos, os britânicos fizeram um set para lá de enérgico, mas que ao contrário do set dos contemporâneos holandeses, não relegou a segundo plano seus lançamentos pós retorno. O italiano Jacopo Meille é o estereótipo do latino descacetado. Repleto de caras e bocas e imenso carisma, interpreta material de todas as fases com desenvoltura. Mas infelizmente seu alcance vocal e carisma são proporcionais à irritabilidade causada pelo seu timbre. Ao meio do show confesso que já não me encontrava tão empolgado assim. Mas em relação ao material apresentado, imagino que poucos tenham algo a reclamar: Hellbound (ver vídeo), Paris By Air, Love Potion Number 9, Don’t Touch Me There e muitas outras foram executadas com precisão cirúrgica. Enfim, um show preciso e cheio de energia que serviu como um bom encerramento para mais uma incrível noite de nostalgia metálica (NOTA 8).



Tygers Of Pan Tang com tarantela

quinta-feira, 10 de março de 2016

Megadeth - Dystopia (Cd-2016)

Megadeth - Dystopia (Cd-2016)
Kiko, Kiko, Rarará!!!
Por Trevas

Dave Mustaine é um monstro sagrado do Heavy Metal. É também chiliquento e um criador inveterado de polêmicas. E o background que precedeu a gestação do novo disco é um clássico capítulo na turbulenta história da banda. Membros da ex-melhor formação do Megadeth (palavras do patrão) ficam sabendo por terceiros que não fazem mais parte dos planos do Ruivo Hering. Uma tentativa de reunião da formação clássica ocorre por debaixo dos panos. A tentativa fracassa retumbantemente (ó, que surpresa). Megadave é obrigado a traçar um plano B. O plano B inclui a adição dos virtuoses Chris Adler (Lamb Of God, bateria) e Kiko Loureiro (brasuca e guitarrista do Angra) à longa lista de membros da história da banda. A nova formação é anunciada pelo patrão como sendo a melhor em todos os tempos (caras, ele diz isso para todas...). Enfim, filme ruim e repetido. Mas Megadave, além de um mala é um cara talentoso. E cercado de outros caras talentosos, será que o resultado poderia ficar ruim? É com esse espírito que fui conferir Dystopia, produzido pelo boca de croissant e apresentado com uma inspirada arte gráfica.

Distopia Decifrada

The Threat is Real (ver vídeo) é um começo promissor para o novo Megadeth, faixa virulenta Mid Tempo, com ótimos riffs e solos. O refrão, esse parece saído de algum trabalho recente do Testament, o que não é nada ruim. A voz de Mustaine está grave e mais gasta do que nunca, e na verdade isso tem até um efeito positivo, já que aquela coisa meio esganiçada que afastou muito fã de metal da banda acaba diminuída.


Já a faixa título (ver vídeo), essa não tem nem um segundo que não soe como Megadeth clássico, e tem gente achando sua estrutura uma tentativa de refazer Hangar 18. O fato é que ela parece saída de algum disco hipotético entre Countdown e Youthanasia. Ah, e quem tinha dúvidas se Kiko Loureiro poderia se adaptar ao estilo Thrasher da banda (confesso, meu caso), certamente deixou a mesma de lado com essa faixa, já que sua reta final é praticamente uma invejável orgia guitarrística.



Bom, Fatal Illusion (ver vídeo) é o típico Megadeth encarando seu principal problema: uma faixa repleta de ótimos solos e riffs, mas que simplesmente vai do nada ao lugar algum. Dispensável. Aqui parece que Megadave resolveu dar espaço aos outros colegas, com Ellefson tendo seu momento solo e a bateria rolo compressor de Chris Adler quebrando tudo. Uma pena que a sonoridade da bateria seja tão mecânica.


Death From Within é boa e pesada, com um refrão que remete e muito ao Megadeth de Countdown. A dobradinha Bullet To the Brain e Post American World (primeira das composições a contar com a criatividade de Kiko na bolachinha) são corretas e tem seus momentos, mas não apresentam nada que impressione. A co-participação de Kiko nas composições continua com Posionous Shadows (com um piano, vejam só) e Conquer or Die!, a melhor delas - uma ótima faixa instrumental com bela introdução acústica.

Ruivo Hering, Kiko e grande elenco
Lying In State é marcada pela pressão da bateria de Adler, mais um caso onde o instrumental salva o Megadeth da mediocridade. The Emperor é boa e é o único momento do disco que nos faz lembrar da existência de trabalhos mais rocker da banda, como 13 e Supercollider. Como nesse último, a bolachinha se encerra com um cover, dessa vez para o razoável punk rock Foreign Policy, do Fear.

Saldo Final

Como tem sido usual nos tempos de hoje, a campanha de promoção do novo disco de uma banda mainstream é viral e cercada de superlativos. Você é levado a acreditar que estará com um clássico em mãos muito antes do disco sequer estar mixado. E não foi diferente com Dystopia. Não, não é o melhor disco do Megadeth desde Rust In Peace. Countdown e Youthanasia certamente estão alguns degraus acima das pretensões da nova bolachinha para se tornar um clássico. Mas tampouco estamos diante de um disco medíocre. Megadave e sua nova trupe nos entregaram um trabalho muito bom, bem melhor que os últimos dois discos dos estadunidenses, mas no máximo no nível de Endgame.  O que, convenhamos, está para lá de bom e quer dizer algo muito melhor do que o metallica vem fazendo desde o século passado, só para alimentar picuinhas, heheeh. Ah, e Kiko e Adler, esses chutaram solenemente as bundas dos descrentes. Agora sobra a curiosidade de ver essa parceria ser repetida, ao vivo e em mais um grande disco.

NOTA: 82

Indicado para:
Fãs da fase Countdown to Extinction/Youthanasia da banda.
Fuja se:
Você é uma Metalliquete inveterada

Classifique como: Thrash Metal, Heavy Metal

terça-feira, 8 de março de 2016

The Night Flight Orchestra - Skyline Whispers (Cd-2015)

The Night Flight Orchestra - Skyline Whispers
Tire As Polainas do Armário!
Por Trevas

Não é mistério nenhum que Bjorn “Speed” Strid, do Soilwork, tem uma quedinha por AOR. Basta ouvir a melodia dos excelentes refrães de sua banda principal para sacar isso. O mais bacana é que ele e o guitarrista e colega de Soilwork David Andersson resolveram criar um projeto que justamente homenageia essas influências. Melhor ainda, ao invés de apenas fazer covers das bandas da era áurea do AOR, resolveram compor músicas que se enquadram perfeitamente no estilo. Para isso cooptaram o ex baixista do Mercyful Fate, Sharlee D’Angelo e outros camaradas da cena metálica nórdica, em um projeto de amigos.

Não, Strid não pode mais cultivar Mullets de verdade, mas ninguém pode privar o cara de ter os mullets na alma
Internal Affairs, primeiro trabalho dos caras, obteve uma reação surpreendente por parte da mídia especializada, e os amigos foram inclusive compelidos a fazer uma aparição ao vivo, no Sweden Rock Fest de 2014.

Internal Affairs, o primeiro disco
Na surdina, a patota se reuniu de novo para gravar um segundo episódio para a brincadeira que deu certo. Novamente lançado pelo selo italiano Coroner Records, Skyline Whispers tem uma das piores capas já vistas, mas que faz todo o sentido do mundo, pois casa com a estética Kitsch (traduzindo: brega-chique) da era em que a música da banda poderia se encaixar.

A ótima Sail On (ver vídeo) abre o disco e você fica com a certeza de que ela foi composta e produzida em algum estúdio obscuro no ano de 1978. Mr. Strid mostra toda sua maestria com as vozes limpas, o que não é novidade nenhuma para os fãs de Soilwork.


Living For The Nighttime (ver vídeo) confirma a estética AOR encontra Classic Rock que encontra Disco Music, algo como os discos do Foghat, os primeiros do Foreigner e congêneres. Os arranjos são bem caprichados e os refrães, cara, como são grudentos. E tem aquela aura de rock com influências da Disco Music, muito comum à época. Pense em People Of The South Wind, do Kansas e Down Down do BTO, por exemplo. Você fica com a impressão de que se não ouviu as músicas antes numa rádio nos anos 1980, certamente deveria ter ouvido. 


Os momentos mais classic rock ficam ao encargo de All the Ladies e Lady Jane. E há espaço até mesmo para vestígios de Prog Rock circa 1978, como em The Heather Reports e Spanish Ghosts. Mas é no “AOR de raiz” que a sonoridade do disco se ancora, como mostram as ótimas Stiletto e I Ain’t Old, I Ain’t Young. E se você está em dúvida se os caras trouxeram influências de suas bandas principais para a bolachinha, te digo que não há um segundo sequer aqui que dê indício de que se trata de um monte de músicos que vivem e estilos extremos dentro do metal. É tudo muito vintage em Skyline Whispers.


Saldo Final
Quisera que todos os projetos paralelos do mundo do rock fossem tão divertidos quanto esse Night Flight Orchestra, Skyline Whispers é um deleite para qualquer um que ao menos tenha uma quedinha pelo início do AOR, o mais brega dos subgêneros do rock. Um disco tão bacana que bem poderia ter adentrado minha listinha de melhores do ano que passou. Coloque seu collant e suas polainas e vá malhar e suar seu mullet ao som dos suecos kitsch!

NOTA: 90

Indicado para:
Fãs do AOR “de raiz” e classic rock do fim dos anos 1970, início dos anos 1980: Foreigner, Journey, Foghat, BTO...

Fuja se:
Você nunca usou um mullet nem polainas

Classifique como: AOR/ Retro Rock