Cartaz Oficial do Evento |
Doom
e Prog Metal numa Noite épica!
Texto por Trevas
Fotos por Daniel Croce, Pablo Coelho e
Trevas
Prólogo,
Trevas e o Fates Warning
Não é todo dia que temos a
oportunidade de realizar um daqueles desejos (sonho é uma palavra meio forte)
de moleque. A perspectiva de finalmente assistir ao Fates Warning ao vivo me
colocou num estágio de ansiedade pré show que não sentia desde que fui a São
Paulo conferir Ritchie Blackmore e sua efêmera encarnação noventista para o
Rainbow.
Não, o Fates Warning nunca
figurou exatamente no rol de minhas bandas favoritas em todos os tempos, mas
sempre ficou alí, na espreita, como que integrante do cast de coadjuvantes de
luxo em quase todos os momentos de minha vida musical.
Lembro até hoje de
meu primeiro contato com o som dos caras, provavelmente em 1993 – aluguei um
disco duplo na Video & Game Center, às cegas. O disco duplo incluía dois
títulos da banda: Awaken The Guardian (1986) e No Exit.(1988). Embora o título
e arte gráfica do primeiro é que tenham me atraído a apostar na banda, foi o
segundo disco que me conquistou de imediato. A assombrosa intro à capella,
seguida da feroz e complexa Anarchy Divine, além de faixas como Silent Cries,
adornadas por um trabalho de guitarra épico e a voz melodiosa de Ray Alder
mostraram um novo reino musical que o imberbe Trevas ainda não conhecia. Nascia
ali o gosto pelo Prog Metal, um subgênero que me acompanhou por anos a fio.
Fates Warning à época de Inside Out |
Desse subgênero, o FW é considerado pioneiro, ao lado do Queensrÿche.
Apesar de seu Prog Metal raramente apresentar características herméticas e
exibicionistas, curiosamente a banda apenas resvalou no Mainstream, tendo sido
relegada ao estatus de Cult, ao contrário do Queensrÿche e do filhote Dream
Theater, que alcançaram invejável sucesso comercial.
No Exit - meu primeiro contato com a banda |
Aos poucos arrebatei todos os títulos dos caras que eu encontrava
(quando minha mesada permitia). E embora tivesse adorado de primeira obras como
Perfect Symmetry e Parallels, foi Inside Out (de 1994) que se tornou meu xodó.
Primeiro disco dos caras que tive a oportunidade de adquirir assim que lançado,
é tido como uma obra menor na carreira da banda, por ter sido a primeira vez em
que o FW repetiu a fórmula em dois trabalhos seguidos. Inside Out é sim uma
espécie de continuação para o bem-sucedido Parallels, embora sabe-se lá por
que, eu me identifique muito mais com a continuação do que com o original.
Inside Out - meu favorito |
Eternamente no meu top 10, Inside Out fez com que, mesmo após eu renegar
o Prog Metal de meu cardápio musical, eu continuasse acompanhando a banda a
cada lançamento.
Overload
Music Fest
A oportunidade de
assistir os caras veio com o Overload Music Fest, primeiro festival organizado
pela produtora homônima. Festival que aqui no Rio apresentou quatro bandas
divididas em dois dias: Alcest e God Is An Astronaut no dia 04 de setembro,
Fates Warning e os noruegueses do Swallow The Sun no dia 05. Coube então ao
escandinavos a abertura do evento numa sexta feira de clima ameno e público
escasso no sempre agradável Teatro Rival.
Folder do Evento |
Swallow
The Sun
Cerca de 100 pessoas estavam
dentro da casa no momento em que teve início o show do STS, a maioria movida
apenas por curiosidade e alguns poucos fãs de fato, que cantavam cada palavra
com fervor.
Aparentando algum nervosismo, o sexteto destilou um set pesado e arrastado, calcado num Doom com
elementos de Death Metal que por vezes parece uma versão competente e moderna
do My Dying Bride (ainda que sem o refinamento das composições dos britânicos).
Apesar de poucos
conhecerem as músicas, o STS conquistou rapidamente o usualmente cético público
Prog Metal, e era comum ver gente perguntando se havia material de merchandise
ou cd dos caras à venda. Ou seja, se a banda tinha como objetivo angariar novos
fãs em território não explorado, seu bom show (de aproximadamente 40 minutos) cumpriu
a missão com louvor.
Let there Be Doom -Swallow The Sun no Rival (por Trevas) |
Fates Warning
A diferença de postura do Fates Warning para outras bandas do estilo
pode ser vista já desde o início do show. Sem muita frescura, os caras sobrem
ao palco, pegam seus instrumentos e já começam a descer a lenha, com a faixa de
abertura do disco atual, a excelente One Thousand Fires. A faixa seguinte, One,
vigorosa e direta, já garantiu o público nas mãos dos americanos.
Fates Warning (Por Pablo) |
A banda atualmente conta
apenas com Ray Alder e o líder Jim Matheos em sua formação fixa, o restante dos
músicos atuando como contratados. Mas engana-se aquele que tirar disso a
conclusão de que a formação atual fica a dever ao passado da banda.
Ray Alder, por Daniel Croce |
O baixista Joey Vera (do
Armored Saint e Anthrax) já toca com os caras desde o final da década de 1990,
sempre mostrando sua competência e pegada no baixo e ajudando Alder nos backing
vocals.
Vera e seu cabelinho Cascão (por Daniel Croce) |
Bobby Jarzombeck (Halford,
Sebastian Bach) tem a hercúlea missão de substituir o monstro Mark Zonder, e o
faz com precisão cirúrgica, replicando cada detalhe dos pratos amalucados das
versões originais, e ainda por cima acrescentando um toque pessoal na pegada e peso.
Uma performance que por si só valeria o show.
Bobby concentrado (por Daniel Croce) |
O virtuoso Michael Abdow é o
caçula da banda e vem substituindo Frank Aresti na atual turnê. O cara, que tem
fuça de garoto ainda, empunha sua guitarra de sete cordas com maestria,
efetuando boa parte dos belos e complexos solos da banda e adaptando para o
instrumento a maioria das passagens de teclado. Uma agradável surpresa.
Abdow, por Daniel Croce |
Os veteranos Matheos
e Alder dispensam maiores apresentações. Jim tem uma pegada e timbre únicos,
marcas registradas do som do FW. Curiosamente restringe sua performance à
maioria das bases e uns poucos solos. Engraçado perceber que ele parece não ter
envelhecido nem um pouco nas últimas décadas, sempre com a mesma carranca
sisuda e a vasta cabeleira cacheada.
Matheos, Vera e Jarzombeck (Por Pablo) |
Ray Alder (sobrenome verdadeiro, Balderrama) também pareceria ter bebido
da mesma fonte da juventude, não tivesse resolvido ostentar uma portentosa
barba grisalha. Sua performance vocal beira a perfeição, embora os agudos
estratosféricos do material de Parallels tenham ficado para trás. Além de ótimo
vocalista, o cara é bastante simpático e tem uma puta presença de palco, algo
raríssimo (muito mesmo) em se tratando do estilo.
Alder comandando o show (por Daniel Croce) |
Diga-se de passagem, o
feeling da banda ao vivo tem muito mais a dever ao Heavy metal do que ao prog.
Apesar da complexidade das músicas, o set nunca passa perto do mero
exibicionismo e o feeling e momento são colocados à frente da perfeição
asséptica que por vezes contamina as bandas de Prog metal.
O set escolhido se ateve ao
material de Perfect Symmetry em diante, com ao menos uma canção de cada disco presente
no show.
Point Of View, Life In Still
Water e a épica The Eleventh Hour representaram Parallels, fazendo muito
marmanjo berrar a plenos pulmões. Through Different Eyes foi a estrela de
Perfect Symmetry. O novo álbum, além da abertura, foi representado por Firefly
(cantada por todos) e I Am. FWX se fez presente com a quase pop
Another Perfect Day. Já a música-disco A Pleasant Shade Of Gray teve quatro de
suas partes executadas (como elas soam melhor ao vivo, hein?).
Matheos, o dono da bola (por Daniel Croce) |
Talvez o único ponto
razoavelmente fora da curva tenha sido Pieces Of Me, que se não é ruim, fica a
dever ao restante do repertório. Monument (de Inside Out) fechou a primeira
parte do set, e o encore veio com uma versão um pouco editada para a bela Still
Remains (de Disconnected), totalizando uma hora e quarenta de espetáculo.
Público e banda se despedem
um do outro em êxtase, cada qual torcendo em seu íntimo que outra noite dessas
não demore tanto a se repetir.
P.s.: De negativo,
apenas o pouco público. E nesse caso, mando um recado aos fãs de Prog Metal que
se estapeiam para ver o soporífero show do Dream Theater: façam um favor a si
mesmos, chafurdem na discografia do Fates Warning e da próxima vez assistam os
caras. Já vi o DT em ação por três vezes em palcos e eras diferentes e o FW
engole os caras com farinha. Como se diz no Facefuck: “Fica a dica”.
Acho prog coisa de bicha enrustida, mas o fates até que respeito, assim como o queensryche lá dos primeiros discos.
ResponderExcluirAquele cara que cantava lá no spectre e awaken tá na banda?
Danilo Z.
Olá, Danilo
ExcluirJá fui fã do estilo, mas entendo o que quer dizer. Muitas das boas ideias dessas bandas acabam se perdendo em toneladas de exibicionismo gratuito. Punhetagem que costuma atrair a garotada juvenil. felizmente nem todas as bandas sofrem desse mal, citaria o FW e o Threshold como bons exemplos.
Sempre preferi o FW por causa da pouco uso de teclados. Acho tecladeira um porre.
E para responder tua pergunta: não. John Arch foi o cantor dos três primeiros discos. O segundo vocalista da banda, Ray Alder, é quem está no posto até hoje.
John Arch voltou à ativa e gravou um ep e um puta disco com o Jim Matheos. Se você gostava do cara, vale uma conferida.
Abraço
Trevas
Legal demais a resenha! Mas não teve "Into the Black" no set não. Abraço! Bruno Sa
ResponderExcluirOlá, Bruno
ExcluirObrigado pelo elogio e pelo toque, realmente Into The Black não esteve presente no show! Vou alterar o texto.
Saudações
Trevas