Redeemer Of souls |
The Priest Is Back!!!!
Por Trevas
Prólogo: O Ocaso de Uma Lenda do Metal
Final de 2012. Rob Halford, então com 61 anos,
enfrenta o momento que havia adiado por anos a fio, uma perigosa cirurgia em
sua coluna.
O Metal God convivera herculeamente por quase
duas décadas com uma hérnia de disco bastante séria, a compressão de seu nervo
ciático se agravando ano após ano, ocasionando dores lancinantes que limitaram
seus movimentos mais básicos, transformando sua performance nos palcos em um
simulacro robótico do Halford de
outrora. Durante a Epitaph Tour, o
problema se agravara ao ponto de limitar até mesmo uma simples caminhada.
Halford sobreviveu noite após noite da turnê fazendo shows de duas horas de
duração com a ajuda de uma bengala e um cetro, devidamente disfarçados de complementos
dos figurinos extravagantes do vocalista.
Halford e sua bengala com James Hetfield |
Os riscos da operação eram
bastante grandes, Rob poderia ficar
paraplégico ou até mesmo morrer, mas a dor era tamanha que a escolha pareceu
fácil. A cirurgia foi um sucesso. O tempo de recuperação, assustadores 12
meses, parte deles confinado a uma cadeira de rodas. Tempo suficiente para Rob se acostumar com a ideia de
pendurar em definitivo suas pesadas botas.
Mas a sensação de vitória sobre
as limitações físicas impostas pela idade e o confronto com a própria ideia de
mortalidade apenas revigoraram os brios do Metal God. “O Heavy metal é imortal,
mas infelizmente aqueles que criam as músicas não são agraciados com tal dádiva”,
filosofou Rob para a Classic Rock Magazine. O tempo restante
é curto, e seria bobagem não aproveitá-lo ao máximo. E Rob respirou e viveu o Heavy metal diariamente até agora, e assim
escolheu o fazer pelo restante do tempo que lhe sobrar.
Em paralelo, Ian Hill e Glenn Tipton
passam esse ano sabático tentando, sem sucesso, se adaptar a um mundo sem Judas Priest. Mas a aposentadoria da
cena musical, que atraiu irrevogavelmente o fundador da banda, KK Downing, hoje um biliardário
empresário do ramo do Golfe, não conquistou seus ex-companheiros.
Os três membros mais antigos da atual formação
do Judas (o que aconteceu com Scott
Travis nesse período é uma incógnita, para variar) voltaram então suas
esperanças para um jovem de 30 anos, Richie
Faulkner, o clone rejuvenescido de KK
que salvara a Epitaph Tour. O
prodigioso guitarrista, que fizera a banda soar revigorada nos palcos teria sua
magia testada em uma missão árdua: gravar um disco que fizesse justiça ao
legado de uma das bandas mais emblemáticas da história do rock.
Judas Priest na Epitaph Tour |
O teste
Contratando os serviços de Mike Exeter (produtor dos discos solo de Tony Iommi e do único rebento do Heaven & Hell, além de engenheiro de som de 13, do Black sabbath), a banda se trancou em estúdio em um período de testes.
O resultado, um punhado de canções inicialmente não programadas para ver a luz
do dia, agradou a todos. Certos de que o que quer que produzissem não macularia
a discografia do Judas Priest,
resolveram então partir para as sessões de composição, dessa vez para valer. As
faixas resultantes das sessões de teste terminariam na edição deluxe do novo
disco, como analisarei mais à frente.
Exeter com o Heaven & Hell |
Arte Gráfica
O artista escolhido para trabalhar o conceito de
Redeemer Of Souls foi Mark Wilkinson, famoso pelas capas
clássicas do Marillion, além de já ter
trabalhado com a banda várias vezes anteriormente (em Painkiller e Ram It Down,
com maior destaque). A ideia seria pegar o anjo caído de Sad Wings Of Destiny e transportá-lo a um futuro árido que remete à
destruição vista na capa de Painkiller.
O anjo seria o redentor do título, lutando em meio ao caos em nome da
perpetuação do heavy Metal. Nonsense total, nada mais Judas Priest.
Painkiller, um dos mais famosos trabalhos de Wilkinson |
O disco – faixa a faixa
Vento, chuva e trovoadas nos transportam ao terreno
pós-apocalíptico representado na arte de capa. Rapidamente o riff principal de Dragonaut eclode. Típico Judas, ainda que com uma nova roupagem.
A produção coloca o som bem cru e na cara, uma clara resposta aos excessos de Nostradamus, com Halford sobressaindo na mixagem. Ótima ponte e um refrão diferente,
somados a um belo trabalho de guitarras apostando nos clássicos duelos de solos,
e o início se mostra promissor.
A
faixa título evoca o elo perdido entre Defenders
Of The Faith e Painkiller, caso
a confusa fase Turbo/Ram It Down nunca tivesse existido.
Linhas melódicas perfeitas, solos cativantes, bateria e baixo concisos.
Presença certa nos futuros set lists.
Rob Halford berrando “Valhalla”
em meio a um turbilhão de solos e riffs. Difícil algo soar mais descaradamente
metal que isso, não? Isso acontece na terceira faixa, o épico Halls Of Valhalla, que traz passagens
de guitarra bem diferentes para o padrão Judas, com a levada de bateria de Scott Travis empolgando num dos
melhores momentos do disco. O refrão, ao apostar num enfoque vocal bem cru,
expõe um pouco o desgaste do sexagenário Halford.
Mas o cara continua tendo uma voz e poder de interpretação invejáveis.
Sword Of Damocles apresenta um leve toque celta em suas linhas de
guitarra, mais um dos pequenos detalhes idealizados por Faulkner e que deram uma revigorada no som da banda. Halford mostra música após música estar
com a criatividade em alta, trazendo melodias grudentas, que soam como Judas Priest sem remeter explicitamente
a trabalhos passados. A passagem acústica ao meio da música é exemplo de um dos
grandes diferencias das grandes bandas de outrora, a preocupação com a
dinâmica. Uma de minhas favoritas do disco.
March Of The Damned foi uma das primeiras músicas do novo trabalho liberadas
pela banda, e decepcionou muita gente. É um Heavy Rock grudento que em muito
lembra material do Ozzy Osbourne, em
especial pela interpretação de Rob,
que remete tanto ao estilo do Madman
que chega a assustar. Uma música legal que faz mais sentido dentro do contexto do
álbum do que escutada isoladamente.
Ainda
apostando numa veia Hard/Heavy, temos a excelente Down In Flames. Soando como algo que muito bem poderia ter sido composto
para Defenders Of the Faith/Screaming For Vengeance, fará a
felicidade daqueles que amam o metal da segunda metade dos anos 1980.
Começando
com um trecho acústico que remete a algo do Nostradamus, Hell & back
dá espaço ao baixo pulsante de Ian Hill
e a um riff que evoca o Judas dos
anos 1970.
Infelizmente, o faz sem grande sucesso.
Judas Priest 2014 |
Tal
qual Down In Flames e a faixa
título, Cold Blooded poderia bem
fazer parte de um álbum hipotético situado entre Defenders Of The Faith e Painkiller.
Uma faixa bacana, mas dá a impressão de que falta algo. Tem pinta de Lado B.
O calouro Richie Faulkner |
O
peso retorna em Metalizer, mas a
qualidade não. Riffs cortantes e ótimos solos caem por terra diante de letra e
refrão que soam quase como uma paródia da banda. Diga-se de passagem, no refrão
Rob soa algo como King Diamond...começo a ficar preocupado com o restante do
disco.
Mas
a partir daqui o disco volta ao padrão de qualidade de suas primeiras músicas. Se
Hell & Back havia falhado em ressuscitar
o espírito do Priest setentista, Crossfire o faz com louvor. Ótima
performance de toda a banda, com destaque para as guitarras e para um Halford que mostra mais uma vez que o
tempo pode ter tirado algo de potência e alcance de sua voz, mas que
interpretação e feeling não se perdem jamais.
Secrets Of The Dead é bastante boa e, devido a sua sonoridade, poderia
muito bem estar em Nostradamus. Cadenciada
e sombria, prepara o terreno para a uptempo Battle Cry, reminiscente do lado mais puramente metal do Judas, uma ótima faixa que fará felizes
aqueles que reivindicam o retorno à sonoridade de Painkiller.
O título Beginning Of The End parece brincar com a primeira faixa de 13, do Black Sabbath. Mas a referência limita-se ao título. Trata-se de
uma bela balada que encerra o primeiro disco com majestosa imponência.
Saldo Final
Mais uma vez o Judas Priest encontra forças sabe-se lá
aonde e retorna à ativa revigorado e reinventado. Redeemer Of Souls navega com maestria pelo passado da banda ao
mesmo tempo que traz novos elementos (ainda que sutilmente) ao som clássico do Judas Priest, cortesia de Richie Faulkner. Não é um disco
perfeito e a crueza da produção pode incomodar alguns ouvidos mais exigentes,
mas posso dizer sem medo de errar que se trata do melhor trabalho lançado pelos
britânicos desde o clássico Painkiller.
NOTA:
8,5
Disco bônus
O Segundo disco da edição deluxe
traz cinco faixas curtas e diretas. As mesmas foram compostas e gravadas antes
do restante do material, de maneira descompromissada, com o objetivo de testar
se a química que a nova formação demonstrara nos palcos poderia ser transposta
para o universo árido dos estúdios. O resultado convenceu a todos os envolvidos
com a banda, que resolveu então adiar em definitivo o encerramento das
atividades e escrever mais um capítulo em sua longa história.
Sabiamente a banda resolveu não manter esse
material na gaveta, ainda que o mesmo estilisticamente tenha pouquíssimo em
comum com as músicas da edição regular de Redeemer
Of Souls.
Judas Priest posando para a Classic Rock Magazine |
Snakebite emula a pegada do material de discos como British Steel e Hell Bent For
Leather com maestria. Aquele metal com pitadas de hard rock cativante que
elevou o Priest ao estrelato no início
dos anos 1980. Old school e bem divertida.
Tears Of Blood é mais uma faixa que poderia facilmente ser tomada
como um lado B há muito perdido de Defenders
Of The Faith. Particularmente, gosto bastante dos solos dessa faixa.
Creatures confirma a tendência oitentista do material extra, um
tiro certeiro a despeito da letra para lá de batida (dá para fazer um disco
inteiro com faixas que versam sobre Creatures
Of The Night...).
Bring It On é outra a trazer a chancela Hard/Heavy de meados dos
anos 1980 e o material extra só não ganha medalha de ouro por conta da xaroposa
balada Never Forget, que a despeito
do nome, é para lá de esquecível e remete a coisas de bandecas de hair metal.
Saldo Final
Um disco bônus que faz jus a sua
existência e mostra que a banda teria grandes chances de sucesso caso se
contentasse em produzir um disco com o intuito de emular sua fase de maior
sucesso. Para os saudosistas de plantão, uma sobremesa e tanto.
NOTA:
8
Prós:
Um Judas Priest revigorado e de paz com o passado.
Contras:
Produção bastante direta pode incomodar.
Classifique como: Heavy Metal
Para Fãs de: Heavy metal clássico em geral
Ficha Técnica
Banda: Judas Priest
Origem: ENG
Site Oficial: www.judaspriest.com/
Disco (ano): Redeemer Of Souls – Deluxe Edition (2014)
Mídia: CD Duplo
Lançamento: Sony (Importado, versão nacional simples
disponível)
Faixas (duração): CD 1 - 13 (62’).
CD 2 – 5 (20’43”)
Produção: Mike Exeter
Arte de Capa: Mark Wilkinson
Formação:
Rob Halford – voz;
Glenn Tipton – Guitarra;
Richie Faulkner – Guitarra;
Ian Hill – baixo;
Scott Travis – bateria.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirLembro que quando saiu Redeemer of Souls pela primeira vez, eu ouvi o mais recente álbum do Priest e gostei de quase todas as faixas, só não gostei de "Crossfire" e "Beginning of the End" que pra mim não se encaixavam no contexto original. Quando saiu a edição bônus, decidi ouvir o disco todo novamente mais as 5 faixas bônus, para chegar a uma conclusão efetiva. A conclusão que eu cheguei é que: das 5 faixas bônus, acho "Snakebite" e "Bring it On" um pouco bobinhas, "Tears of Blood" podia muito bem estar no lugar de "Crossfire" por conta de seu peso e velocidade, "Creatures" poderia estar entre "Secrets of the Dead" e "Battle Cry" como décima-segunda faixa do disco original.
ResponderExcluirA grande surpresa das 5 faixa bônus foi a belíssima "Never Forget" (o oposto da depressiva "Beginning of the End"), uma balada majestosa, com uma letra digna do Priest, em homenagem á todos os seus fãs que acompanharam a banda desde o começo. Acho que "Never Forget" poderia muito bem estar no lugar de "Beginning of the End" no tracklist original também, assim teríamos um álbum de 14 faixas ao invés de 13.
Agora o lado negativo desta história toda foi a saída de K.K. Downing, que veio a se aposentar depois. Nada contra o novato Richie Faulkner (ele tá fazendo bem seu papel com o Priest nesta nova fase deles), mas fico imaginando como seria Redeemer of Souls com o K.K. Downing nas guitarras ao invés de seu substituto. Seria maravilhoso como sempre foi desde o começo (tirando a fase "Ripper" e aquela porcaria do "Nostradamus"), mas infelizmente o destino injusto não quis dessa maneira...
Fala, Igor
ExcluirUma pena mesmo o KK ter se aposentado. Mas acho que Faulkner trouxe uma energia necessária para a banda. Só não sei quanto tempo eles ainda aguentam fazendo essa rotina de disco/turnê...a idade chega a todos
Abraço
Trevas
Verdade, amigo! Devemos aceitar o que o destino nos reserva, mesmo em que esta decisão não nos agrade! Abrações pra você também, cara!
ExcluirCorrigindo "a grande surpresa das cinco FAIXAS-bônus..."
Excluir