O Crowdfunding, traduzido livremente
como Financiamento Coletivo, é uma iniciativa bastante difundida lá fora. Segue
abaixo trecho da descrição encontrada na nem sempre confiável Wiikipedia para o
assunto:
“Consiste na obtenção de capital
para iniciativas de interesse coletivo através da agregação de múltiplas fontes
de financiamento, em geral pessoas físicas interessadas na iniciativa. O termo
é muitas vezes usado para descrever especificamente ações na Internet com o objetivo
de arrecadar dinheiro para artistas, entre outros.
É usual que seja estipulada uma meta
de arrecadação que deve ser atingida para que o projeto seja viabilizado. Caso
os recursos arrecadados sejam inferiores à meta, o projeto não é financiado e o
montante arrecadado volta para os doadores.
Um aspecto comum a iniciativas de
crowdfunding é a concessão de recompensas aos financiadores, em escala
proporcional à grandeza do incentivo concedido. As recompensas estão de certa
forma associadas ao objetivo final, mas isso não é necessariamente uma obrigação.”
O financiamento coletivo ainda é
muito pouco difundido em nossa cultura, com a polêmica exceção da campanha
Criança Esperança. Mas lá fora existem muitos exemplos de artistas que obtém
bons resultados com iniciativas do gênero. Resolvi escrever sobre o assunto, no
primeiro post da Cripta produzido nesse estilo, por conta da corajosa campanha
Super Peso Brasil, lançada essa semana com a finalidade de financiar um baita
produto - fruto do evento de mesmo nome realizado ano passado, que reuniu cinco
bandas pioneiras do Metal Brasuca.
Bom, entrarei em detalhes mais a frente. Vou
começar colocando dois casos que exemplificam bem como esse tipo de iniciativa
pode ser uma ótima saída para os grupos (e fãs!) de rock no atual cenário de
reinvenção da música como produto. Lá vamos nós!!
O
Crowdfunding e o Rock – dois exemplos de sucesso!
Marillion
– pioneirismo recompensado
Final dos anos 1990, o Marillion, que vivera
dias de glória nos anos 1980, passava por dias de vacas magras. O neoprog praticado
pela banda andava tão fora de moda quanto os mullets. O início do boom da
pirataria e do download ilegal pareciam ser a pá de cal sobre a outrora carreira
brilhante dos britânicos. Sem apoio da gravadora (EMI) para realizar a perna
americana da turnê de promoção do bom This Strange Engine (1997), a banda
revolucionou e lançou sua primeira iniciativa de Crowdfunding: os fãs estadunidenses
foram incitados a financiar a turnê. A meta, R$60.000. A recompensa: ingressos
e merchandise personalizado. A turnê, nomeada The Fund Tour aconteceu e nada
mais foi o mesmo para o Marillion...
O Crowdfunding reinventou a carreira do Marillion |
A iniciativa foi um sucesso tão grande que
serviu de pilar para reconstrução da carreira da banda. Em 2001, nova iniciativa
foi lançada: os fãs encomendariam o futuro disco do Marillion, ainda não
produzido, com um ano de antecedência. A recompensa: o nome nos agradecimentos
do encarte e a garantia de um cd bônus trazendo material que não se faria
disponível comercialmente em nenhum outro lugar. Os fãs que contribuíram com
uma parcela maior teriam suas fotos num painel exposto na arte do encarte. A
campanha, que resultou no disco Anoraknophobia (2001) foi um sucesso tão grande
que chamou a atenção das gravadoras. A banda comprovou ser um produto atraente
mesmo em tempos de crise do mercado fonográfico. Tendo então assinado um
contrato vantajoso com uma das gravadoras interessadas, o Marillion recuperado
financeiramente, abriu mão de novas ações, ao menos por enquanto.
Anoraknophobia - um rebento do Financiamento Coletivo |
Ginger – do fundo do poço ao infinito
e além!
Ginger, guitarrista, vocalista e compositor pouco
conhecido em terreno tupiniquim, viveu dias de glória no Reino Unido capitaneando
o combo rocker Wildhearts. Banda de
carreira errática, muito por culpa do abuso de substâncias e pelas dificuldades
que Ginger, de origem proletária nos subúrbios de Newcastle, encontrou em lidar
com a fama repentina, o Wildhearts alternou momentos de produtividade e sucesso
com outros de ostracismo e até mesmo longos hiatos em suas atividades.
Tendo enfrentado anos de vício e depressão por
conta da derrocada de sua carreira, Ginger, agora um pacato pai de família, com
muitas contas a pagar e um emprego “normal”, sentia muita falta de ser criativo.
Longe dos holofotes, com o filme queimado na indústria musical e sem um tostão
para financiar sua música, Ginger continuava a compor e gravar em seu
equipamento amador nas horas vagas. Como uma espécie de terapia, entrou em
redes sociais e passou a interagir com os fãs de seu passado musical. Aos
poucos descobriu que tinha muito mais fãs por aí do que imaginava. Teve então a
ideia de acionar o Pledgemusic e lançar uma campanha em prol de financiar seu novo
disco solo. A contar com o material composto, ainda inacabado e em qualidade
amadora, Ginger apostou na produção de um álbum triplo. Não custava arriscar, certo? Ele não tinha
nada a perder.
Ginger saúda o milagre do Crowdfunding |
O que ninguém esperava é que a campanha fosse se
tornar um sucesso arrebatador. A meta inicial foi suplantada em tempo recorde
em 555%, que, aliás, se tornou o título do trabalho. O montante arrecadado
somou cerca de 250.000 doletas! O disco triplo, lançado em 2011, foi
rapidamente catapultado ao 9º lugar nas paradas do Reino Unido. O sucesso da
campanha foi replicado por Ginger mais uma vez, recolocando o artista de volta
ao mapa musical britânico e causando a ressurreição do Wildhearts.
555% |
A
Iniciativa Super Peso Brasil
O Super Peso Brasil foi um evento realizado em
novembro de 2013, um show histórico reunindo cinco dos pioneiros do Metal
Brasileiro (cantado em português): Stress, Metalmorphose, Taurus, Centúrias e Salário
Mínimo. O show, que contou com diversas participações especiais, foi um sucesso
de público e crítica (ver resenha do site Whiplash aqui).
Poster do evento |
Baseado na resposta positiva ao evento foi
lançada, através do Site Catarse, uma
iniciativa de Financiamento Coletivo visando a confecção de um CD+DVD cobrindo
alguns dos melhores momentos do evento. Serão disponibilizadas três músicas do
show de cada banda (incluindo todas as participações especiais), mais o momento
do evento que contou com todos os músicos em cima do palco. Para a produção do
material, foi estipulada uma meta de arrecadação de R$44.100, no período de quarenta dias. A qualidade do material a ser produzido pode ser conferida no vídeo da
campanha (ver aqui).
Super Peso Brasil com todos os participantes (Foto por Kubo Metal) |
As formas de financiamento e
respectivas recompensas são bem variadas, desde pacotes simples incluindo
apenas o combo CD/DVD até outros mais completos incluindo camisetas e
photobooks em referência ao evento. Existe inclusive a opção de dois pacotes
voltados exclusivamente para distribuidores. Tão logo foi lançada a campanha,
fui lá contribuir. Quem gosta das bandas em questão não deve perder tempo e nem
ter medo, e dou aqui alguns bons motivos para tal:
1. O CD/DVD resultante não estará
disponível para comercialização fora do projeto;
2. A qualidade do material será
espetacular, a tomar pelo vídeo da campanha;
3. As recompensas são bastante
justas e condizentes com o montante investido para cada pacote;
4. Caso o projeto venha a fracassar
em obter o montante inicialmente estipulado, o dinheiro que você investiu será
prontamente devolvido, não havendo risco de perda do mesmo.
Segue abaixo o link para a iniciativa!!!
Resta agora torcer pelo sucesso desta corajosa
iniciativa. E que esse caminho, ainda marginalizado por aqui, seja seguido por
outras bandas e projetos artísticos, dando aos fãs a bela possibilidade de se
tornar mecenas para aqueles que nos proporcionam tantos momentos bacanas.
Abraços
Trevas
Acho a iniciativa muito válida! Contribuí para os discos do Água Brava e da Dorsal Atlântica, mas vejo UM problema: este fato de o produto estar à disposição APENAS de quem participa... o Água Brava ainda vende o deles, mas a Dorsal, não e, a julgar pelo post, este também não sairá... O que estimula AINDA MAIS a pirataria... Creio que os artistas, que enxergaram um ótimo filão, com tais posturas estão dando um tiro nos pés... Enfim, a conferir...
ResponderExcluirJundas.
Krill
ExcluirConcordo com seu ponto de vista com uma ressalva: acho legal o fator exclusividade para os participantes, entretanto acredito que a exclusividade deveria vir em relação a algum bônus: o produto final com disco bônus ou algum outro atrativo a mais para os participantes em relação a versão a ser comercializada. Acho que é um tipo de iniciativa ainda pouco utilizada por aqui e que suscita muitas dúvidas. Por isso mesmo acho bastante válido que se discuta bastante o tema.
Grande abraço
Trevas