sábado, 31 de maio de 2014

Crowdfunding – de Marillion e Ginger até o Super Peso Brasil!



O Crowdfunding, traduzido livremente como Financiamento Coletivo, é uma iniciativa bastante difundida lá fora. Segue abaixo trecho da descrição encontrada na nem sempre confiável Wiikipedia para o assunto:

“Consiste na obtenção de capital para iniciativas de interesse coletivo através da agregação de múltiplas fontes de financiamento, em geral pessoas físicas interessadas na iniciativa. O termo é muitas vezes usado para descrever especificamente ações na Internet com o objetivo de arrecadar dinheiro para artistas, entre outros.

É usual que seja estipulada uma meta de arrecadação que deve ser atingida para que o projeto seja viabilizado. Caso os recursos arrecadados sejam inferiores à meta, o projeto não é financiado e o montante arrecadado volta para os doadores.

Um aspecto comum a iniciativas de crowdfunding é a concessão de recompensas aos financiadores, em escala proporcional à grandeza do incentivo concedido. As recompensas estão de certa forma associadas ao objetivo final, mas isso não é necessariamente uma obrigação.”

O financiamento coletivo ainda é muito pouco difundido em nossa cultura, com a polêmica exceção da campanha Criança Esperança. Mas lá fora existem muitos exemplos de artistas que obtém bons resultados com iniciativas do gênero. Resolvi escrever sobre o assunto, no primeiro post da Cripta produzido nesse estilo, por conta da corajosa campanha Super Peso Brasil, lançada essa semana com a finalidade de financiar um baita produto - fruto do evento de mesmo nome realizado ano passado, que reuniu cinco bandas pioneiras do Metal Brasuca.

Bom, entrarei em detalhes mais a frente. Vou começar colocando dois casos que exemplificam bem como esse tipo de iniciativa pode ser uma ótima saída para os grupos (e fãs!) de rock no atual cenário de reinvenção da música como produto. Lá vamos nós!!

O Crowdfunding e o Rock – dois exemplos de sucesso!

Marillion – pioneirismo recompensado
Final dos anos 1990, o Marillion, que vivera dias de glória nos anos 1980, passava por dias de vacas magras. O neoprog praticado pela banda andava tão fora de moda quanto os mullets. O início do boom da pirataria e do download ilegal pareciam ser a pá de cal sobre a outrora carreira brilhante dos britânicos. Sem apoio da gravadora (EMI) para realizar a perna americana da turnê de promoção do bom This Strange Engine (1997), a banda revolucionou e lançou sua primeira iniciativa de Crowdfunding: os fãs estadunidenses foram incitados a financiar a turnê. A meta, R$60.000. A recompensa: ingressos e merchandise personalizado. A turnê, nomeada The Fund Tour aconteceu e nada mais foi o mesmo para o Marillion...

O Crowdfunding reinventou a carreira do Marillion
A iniciativa foi um sucesso tão grande que serviu de pilar para reconstrução da carreira da banda. Em 2001, nova iniciativa foi lançada: os fãs encomendariam o futuro disco do Marillion, ainda não produzido, com um ano de antecedência. A recompensa: o nome nos agradecimentos do encarte e a garantia de um cd bônus trazendo material que não se faria disponível comercialmente em nenhum outro lugar. Os fãs que contribuíram com uma parcela maior teriam suas fotos num painel exposto na arte do encarte. A campanha, que resultou no disco Anoraknophobia (2001) foi um sucesso tão grande que chamou a atenção das gravadoras. A banda comprovou ser um produto atraente mesmo em tempos de crise do mercado fonográfico. Tendo então assinado um contrato vantajoso com uma das gravadoras interessadas, o Marillion recuperado financeiramente, abriu mão de novas ações, ao menos por enquanto.

Anoraknophobia - um rebento do Financiamento Coletivo
Ginger – do fundo do poço ao infinito e além!

Ginger, guitarrista, vocalista e compositor pouco conhecido em terreno tupiniquim, viveu dias de glória no Reino Unido capitaneando o combo rocker Wildhearts.  Banda de carreira errática, muito por culpa do abuso de substâncias e pelas dificuldades que Ginger, de origem proletária nos subúrbios de Newcastle, encontrou em lidar com a fama repentina, o Wildhearts alternou momentos de produtividade e sucesso com outros de ostracismo e até mesmo longos hiatos em suas atividades.


                                                     

Tendo enfrentado anos de vício e depressão por conta da derrocada de sua carreira, Ginger, agora um pacato pai de família, com muitas contas a pagar e um emprego “normal”, sentia muita falta de ser criativo. Longe dos holofotes, com o filme queimado na indústria musical e sem um tostão para financiar sua música, Ginger continuava a compor e gravar em seu equipamento amador nas horas vagas. Como uma espécie de terapia, entrou em redes sociais e passou a interagir com os fãs de seu passado musical. Aos poucos descobriu que tinha muito mais fãs por aí do que imaginava. Teve então a ideia de acionar o Pledgemusic e lançar uma campanha em prol de financiar seu novo disco solo. A contar com o material composto, ainda inacabado e em qualidade amadora, Ginger apostou na produção de um álbum triplo.  Não custava arriscar, certo? Ele não tinha nada a perder.

Ginger saúda o milagre do Crowdfunding
O que ninguém esperava é que a campanha fosse se tornar um sucesso arrebatador. A meta inicial foi suplantada em tempo recorde em 555%, que, aliás, se tornou o título do trabalho. O montante arrecadado somou cerca de 250.000 doletas! O disco triplo, lançado em 2011, foi rapidamente catapultado ao 9º lugar nas paradas do Reino Unido. O sucesso da campanha foi replicado por Ginger mais uma vez, recolocando o artista de volta ao mapa musical britânico e causando a ressurreição do Wildhearts.

555%
A Iniciativa Super Peso Brasil

O Super Peso Brasil foi um evento realizado em novembro de 2013, um show histórico reunindo cinco dos pioneiros do Metal Brasileiro (cantado em português): Stress, Metalmorphose, Taurus, Centúrias e Salário Mínimo. O show, que contou com diversas participações especiais, foi um sucesso de público e crítica (ver resenha do site Whiplash aqui).

Poster do evento
Baseado na resposta positiva ao evento foi lançada, através do Site Catarse,  uma iniciativa de Financiamento Coletivo visando a confecção de um CD+DVD cobrindo alguns dos melhores momentos do evento. Serão disponibilizadas três músicas do show de cada banda (incluindo todas as participações especiais), mais o momento do evento que contou com todos os músicos em cima do palco. Para a produção do material, foi estipulada uma meta de arrecadação de R$44.100, no período de quarenta dias. A qualidade do material a ser produzido pode ser conferida no vídeo da campanha (ver aqui).

Super Peso Brasil com todos os participantes (Foto por Kubo Metal)
As formas de financiamento e respectivas recompensas são bem variadas, desde pacotes simples incluindo apenas o combo CD/DVD até outros mais completos incluindo camisetas e photobooks em referência ao evento. Existe inclusive a opção de dois pacotes voltados exclusivamente para distribuidores. Tão logo foi lançada a campanha, fui lá contribuir. Quem gosta das bandas em questão não deve perder tempo e nem ter medo, e dou aqui alguns bons motivos para tal:

1. O CD/DVD resultante não estará disponível para comercialização fora do projeto;
2. A qualidade do material será espetacular, a tomar pelo vídeo da campanha;
3. As recompensas são bastante justas e condizentes com o montante investido para cada pacote;
4. Caso o projeto venha a fracassar em obter o montante inicialmente estipulado, o dinheiro que você investiu será prontamente devolvido, não havendo risco de perda do mesmo.

Segue abaixo o link para a iniciativa!!!


Resta agora torcer pelo sucesso desta corajosa iniciativa. E que esse caminho, ainda marginalizado por aqui, seja seguido por outras bandas e projetos artísticos, dando aos fãs a bela possibilidade de se tornar mecenas para aqueles que nos proporcionam tantos momentos bacanas.

Abraços
Trevas


2 comentários:

  1. Acho a iniciativa muito válida! Contribuí para os discos do Água Brava e da Dorsal Atlântica, mas vejo UM problema: este fato de o produto estar à disposição APENAS de quem participa... o Água Brava ainda vende o deles, mas a Dorsal, não e, a julgar pelo post, este também não sairá... O que estimula AINDA MAIS a pirataria... Creio que os artistas, que enxergaram um ótimo filão, com tais posturas estão dando um tiro nos pés... Enfim, a conferir...

    Jundas.

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    1. Krill
      Concordo com seu ponto de vista com uma ressalva: acho legal o fator exclusividade para os participantes, entretanto acredito que a exclusividade deveria vir em relação a algum bônus: o produto final com disco bônus ou algum outro atrativo a mais para os participantes em relação a versão a ser comercializada. Acho que é um tipo de iniciativa ainda pouco utilizada por aqui e que suscita muitas dúvidas. Por isso mesmo acho bastante válido que se discuta bastante o tema.
      Grande abraço
      Trevas

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