domingo, 21 de abril de 2013

O Reino Sangrento do Slayer - Joel McIver (Livro, 2007)



Escoteiros do Capeta


Difícil falar sobre os subestilos mais extremos do Heavy metal sem citar o Slayer. Uma das bandas mais veneradas da história do rock pesado, o Slayer comeu sorridente uma tigela de sucrilhos de aço com sangue enquanto o baluarte do Thrash Metal (diga-se Metallica) fugia do rótulo na década de 1990 em prol de aceitação comercial. Isso sem nunca perder o status mainstream conquistado sem um pingo de concessão sonora. O Slayer pode ter mudado com os anos, mas nunca ficou realmente mais acessível, ao menos não na concepção habitual da palavra.

Slayer em 1985 - puros? Duvido!
Sempre envolta em polêmicas, chega a ser curioso que a banda mais maléfica do mundo na verdade seja composta por um bando de caras tranqüilos, e talvez nesse ponto resida a força (e também a fraqueza, para alguns) dessa biografia, escrita por Joel McIver em 2007 com versão brasileira editada ano passado.

McIver, redator de revistas como Classic Rock magazine e Metal Hammer Uk, além de autor de dezenas de grandes biografias (E.g.: Glenn Hughes, Black Sabbath, Sex pistols), destacando o Best seller And Justice For All – The Truth About Metallica, tem ao seu lado uma considerável dose de confiabilidade, além de acesso fácil a dezenas de entrevistas com todos os membros do Slayer, realizadas em épocas e situações diferentes (muitas delas conduzidas por ele mesmo).

Essa abordagem profissional e centrada em contar uma boa história sem concessões talvez seja o ponto forte dessa obra, que faz um brevíssimo apanhado da infância dos membros do Slayer, logo enveredando para os primeiros anos de batalha na escalada para se tornar uma das bandas mais esporrentas do planeta.

McIver tietando Bruce Dickinson
O livro é didaticamente dividido em capítulos que refletem períodos de tempo (ex.: 1984-85) ou mais especificamente abordam as condições de gravação de uma das obras (ex.: South Of Heaven). O perfil psicológico de cada membro é traçado parcialmente pelas impressões do autor, parcialmente pelas nossas próprias impressões, possibilitadas pela extensa gama de entrevistas com os caras. E para quem só conhece a banda por suas fotos e postura no palco, irá se surpreender: afora as polêmicas causadas pela língua afiada de Kerry King, a vida do Slayer fora dos palcos tem muito mais de videogames e hobbies exóticos do que propriamente do clichê sexo e drogas. Na verdade, o família Tom Araya e o errático Dave Lombardo foram os únicos que chegaram perto das substâncias ilícitas durante a carreira da banda.

Slayer antes da atual velha briga com Lombardo
Aliás, carreira essa que é totalmente centrada na dupla Tom e Kerry. Jeff, importante criativamente, é um quase eremita. Quando não está na estrada, vive colado com sua esposa (companheira desde o início da banda) assistindo filmes e jogando videogame, sem nunca se envolver com a parte burocrática do Slayer.

Jeff, o eremita
Tom é o boa praça sempre disposto a conversar sobre qualquer assunto, inclusive política e religião. Absolutamente pacífico e até mesmo religioso, suas letras baseadas em serial killers refletem tão somente o gosto de Tom e sua esposa por filmes de terror.

Tom não consegue se livrar do vício - comer metal!
Kerry King é o Slayer. Envolvido 789% em tudo o que se refere à banda, KK respira metal e peida aço. Sua língua ferina reflete sua personalidade assumidamente infantiloide. O cara é fissurado em videogames e gasta boa parte do seu tempo montando excentricidades em sua mansão fortaleza (uma piscina que parece de sangue com fontes que são crânios, por exemplo), onde vive como um eterno adolescente com sua namorada. Por outro lado, é figura fácil em shows de outras bandas, inclusive pequenas bandas, que assiste animadamente em pubs por aí. Apesar de nunca fugir de polêmicas, é tido como um cara bonzinho, cuja atitude de bad boy só assusta aos que não o conhecem a fundo.

Kerry e sua sutil mensagem ao Feliciano
Dave Lombardo, ao contrário, é o péla saco da banda. Segundo várias pessoas que tiveram contato com os caras ao longo da carreira, a lembrança é sempre de um cara afastado de todos, com a vida controlada por uma esposa mandona e geralmente preocupado com “quanto vou levar nessa?”. Curiosamente, pouco tempo depois de ler a biografia, surgiu a notícia do terceiro desligamento de Dave da banda.  Nada surpreendente. Talvez os defensores de Dave tenham outra visão da situação ao ler esse livro. A impressão que fica é a de um grande baterista, mas também um grande bundão.

Dave "mimimi" Lombardo
Mas aos que tem uma visão idealista do Slayer, talvez se surpreendam com a estratégia corporativista que norteia os negócios que envolvem a banda. Que o diga Kevin Shirley, que até hoje briga na justiça com os caras por conta de um episódio narrado com imparcialidade no livro.

A versão brasileira, cortesia de Edições Ideal, é em geral correta, sofrendo de alguns pequenos problemas de tradução e digitação, mas que não chegam a comprometer a leitura.


Saldo Final

Um livro agradável e completo, se você é aficionado pela história do heavy metal, ficará satisfeito com a abordagem de Joel McIver.

Aos que buscam biografias de bandas para refestelar em histórias sobre depravação sexual e drogas, esses devem passar longe. Sim, pois ao final da leitura, chegamos à conclusão que os malvadões do Slayer são na verdade um bando de Escoteiros, a serviço do Capiroto, claro.


NOTA: 8

Ficha Técnica
Título: O Reino Sangrento do Slayer.

Título original: The Bloody Reign Of Slayer

Autor: Joel McIver

Ano: 2012 (edição original em inglês – 2007)

Tradução: Marina Lima

Páginas: 272

Lançamento nacional Edições Ideal

5 comentários:

  1. Boa resenha! Deu vontade de ler! E automaticamente me lembre do DVD Still Reigning, em que o Jeff fica boiolamente fugindo da cortina de sangue... Hahahahaha...

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    1. Mr. Krill:
      No livro cita a situação complicada que foi tocar com a tal chuva de sangue, dizem que a substância utilizada era oleosa e tornava quase impossível tocar decentemente a já quase impossível Raining Blood...
      O livro é legal pacas, centenas de vezes mais legal que a resenha (claro), só que o mesmo pode ser brochante para quem tem uma visão romantizada de como funciona uma banda de sucesso.
      abracetas
      T

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  2. Bacana Trevas! Vou tentar adquirir e (claro) ler em breve. Abração.

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  3. Bacana Trevas! Vou tentar adquirir e (claro) ler em breve. Abração.

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    1. Show! Sou viciado em biografias, mas li tantas seguidas que meio que dei uma cansada.
      Abraço
      T

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