terça-feira, 16 de abril de 2013

Saxon - Sacrifice (2013 - CD)



Sacrifício é parar de ouvir

Prólogo: Voltando às Raízes


Poucas bandas carregaram (e ainda o fazem) o estandarte do Metal Britânico com tanta confiabilidade quanto o Saxon. Sua história, que se confunde com a própria história do renascimento do metal na década de 1980 já fora alvo de um pequeno texto aqui mesmo na Cripta:



O fato é que o efetivo segundo reinado do Saxon, iniciado com o excelente Unleash The Beast, em 1997, e que trouxe uma seqüência de grandes álbuns (a saber, Metalhead, Lionheart, Killing Ground e The Inner Sanctum), embutiu uma então bem vinda carga de Power metal Europeu na veia dos veteranos.

Em 2009, o razoável Into The Labirynth deixou claro que a fórmula que salvara o Saxon na década anterior estava levando a banda à estagnação criativa. A estagnação criativa foi admitida pelo próprio grupo, que abertamente encarou o disco Call To Arms, de 2011, como uma tentativa desafiadora de busca às raízes, tanto em termos de composição quanto de produção. O resultado dividiu opiniões. Alguns adoraram o fato da banda reavivar a sonoridade que mesclava o heavy metal ao rock mais puro, fator considerado um dos diferenciais da banda em relação a contemporâneos como Angel Witch e Iron Maiden. Já os fãs mais novos acusaram a banda de ter perdido poder de fogo com a nova empreitada.

Parcialmente satisfeito com o retorno às raízes de Call To Arms, Biff Byford resolve continuar a busca pela essência do Metal à Lá Saxon, mas coma energia que marcara clássicos como 20.000 Feet, Motorcicle Man e Heavy Metal Thunder. Fã de punk e do metal mais simples e direto, Biff assume a produção do novo disco, deixando a mixagem ao encargo do renomado Andy Sneap (Accept, Nevermore, Megadeth, Testament...). O resultado buscado: o álbum mais forte e direto que o velho Saxon poderia compor, atualizado aos tempos atuais.

Saxon 2013: mais velhos, mas ainda usando backdrop do Indiana Jones 

Sacrifice

Confesso que a desinteressante e climática introdução não me atraiu nem um pouco. Não chega a ser uma encheção deliberada de lingüiça, já que não dura mais que um minuto e meio. Talvez seu único mérito seja o de servir como “a calmaria antes da tempestade”, tempestade essa que toma nossos ouvidos de assalto sob a forma da faixa título (ver clipe abaixo), nos moldes do material encontrado em Metalhead.


Os bandolins entoando uma melodia folk se fundem a belos riffs em uma das melhores faixas que o Saxon já compôs: Made In Belfast. A letra exalta a força da indústria naval Irlandesa, que alimentou o império Britânico e sua outrora imbatível marinha. O clima de exaltação não vem sem uma pontada de crítica social que revela em muito o sentimento amargo dos Irlandeses em relação a seu papel de explorados na história das glórias britânicas: “Slaving For The Bosses Boys, Got To Meet the Deadline Now”.

Warriors Of The Road é outra homenagem, dessa vez à fórmula 1. A velocidade e estilo remetem à faixas como 20.000 ft, Stallions Of The Highway e Heavy Metal Thunder. Puro e clássico Saxon. A ameaça de uma queda de energia no disco parece iminente quando se escuta uma curta introdução do que parece uma caixa de música executando uma melodia oriental. Ledo engano, logo somos presenteados com um trabalho de guitarras fenomenal, cortesia de Doug Scarratt e Paul Quinn. Aliás, é bem legal notar que a banda se utiliza de um artifício muito comum até a década de 1990: indicar no encarte qual dos guitarristas é responsável por qual solo. Solo de guitarra, por sinal, é a maneira que a banda escolheu para introduzir outro petardo, Stand Up And Fight, o tradicional e batido hino “nunca deixe de lutar pelos seus sonhos”, cantado de forma tão apaixonada por Biff “Monocelha” Byford que é impossível não perdoar o clichê.





Biff Byford, por sinal, é um cara que merece um parágrafo à parte. Biff nos presenteia com um de seus melhores trabalhos, em uma performance crua e quase sem efeitos, dando a forte impressão que sua voz não envelheceu nada nesses 35 anos de carreira. Uma pena que raramente seja lembrado ao lado de mestres como Dio, Brice DiCkinson e Rob Halford. Seu trabalho na produção também é digno de nota, Sacrifice soa mais orgânico que os últimos trabalhos, mas com um punch fenomenal. Creio que a mão de Andy Sneap na mixagem tenha contribuído um bocado para a excelente sonoridade do disco.

Biff mostra que ainda tem muita lenha a  queimar






O ritmo do disco cai com Walking The Steel, faixa que evoca relatos dos homens que trabalharam na reconstrução do local onde outrora estiveram as torres gêmeas. Evocando a faceta mais hard do Saxon, a faixa não acerta em cheio como as anteriores, embora não seja exatamente ruim. Sua maior qualidade é a de evidenciar o alto padrão da cozinha formada pelos subestimados Nigel Glockler (bateria) e Nibbs Carter (baixo), uma das melhores duplas de qualquer banda de heavy em sua vertente mais tradicional na história, diria eu. O heavy tradicional com ótimos arranjos de guitarra retorna na lupina Night Of The Wolf, simplesmente fantástica.


Wheels Of Terror, talvez por sua temática belicosa, talvez pela mão de Andy Sneap, soa um bocado como a fase atual do ressurreto Accept, o que não é nada mal! Novamente com ótimas idéias da dupla Doug Scarratt e Paul Quinn, essa faixa foi a primeira do novo disco a ser adotada no set list da banda ao vivo. Não é minha favorita, mas certamente tem muita qualidade.
 O hard/heavy retorna na apenas legalzinha Standing In A Queue, que encerra dignamente os parcos, mas bem aproveitados 39 minutos de duração de Sacrifice.


Saldo Final

Apesar das intenções divulgadas de retorno às origens, Sacrifice não soa como um disco datado. Com ótima canções, produção impecável, a tradicional competência de seus músicos e uma boa dose de clichês, o Saxon criou uma obra que nos remete aos clássicos da NWOBHM muito mais pela abordagem direta e honesta do que pela sonoridade.

Um dos melhores lançamentos de estúdio da banda, absolutamente viciante e que certamente ganhará um espacinho nas listas de final de ano dos fãs de um metal mais simples. Discaço!


NOTA: 9



Ficha Técnica
Banda (Nacionalidade): Saxon (ING)

Título (ano de lançamento): Sacrifice (2013)

Mídia: CD

Gravadora: EMI (Importado)

Faixas: 10

Duração: 39’

Rotule como: Heavy Metal

Indicado para: Fãs de Heavy Metal tradicional.

Passe longe se: seu negócio for assistir à reprise do pavoroso Loolapalooza.


2 comentários:

  1. Também curti deveras esta bolacha. Saxon cansou de errar a mão e agora faz o mais trivial, que não cansa...

    Eles colocaram á disposição uma faixa bônus. O nome é Luck of the Draw. Mantém bem o clima do disco como um todo.

    Jundas.

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    1. Mr. Krill
      Não acho que eles tenham errado tanto a mão assim (diria que erraram menos do que o primo rico Iron Maiden, por exemplo). Afora o péssimo Forever Free, curto até os farofas do tio monocelha e sua turma (sim, até o Destiny, hehe).
      Não sabia da faixa bônus, vou procurar no entube.
      abracetas
      T

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