Sacrifício é parar de ouvir
Poucas bandas carregaram (e ainda o fazem) o
estandarte do Metal Britânico com tanta confiabilidade quanto o Saxon. Sua história,
que se confunde com a própria história do renascimento do metal na década de
1980 já fora alvo de um pequeno texto aqui mesmo na Cripta:
O fato é que o efetivo segundo
reinado do Saxon, iniciado com o excelente Unleash The Beast, em 1997, e que
trouxe uma seqüência de grandes álbuns (a saber, Metalhead, Lionheart, Killing
Ground e The Inner Sanctum), embutiu uma então bem vinda carga de Power metal
Europeu na veia dos veteranos.
Em 2009, o razoável Into The
Labirynth deixou claro que a fórmula que salvara o Saxon na década anterior
estava levando a banda à estagnação criativa. A estagnação criativa foi admitida
pelo próprio grupo, que abertamente encarou o disco Call To Arms, de 2011, como
uma tentativa desafiadora de busca às raízes, tanto em termos de composição
quanto de produção. O resultado dividiu opiniões. Alguns adoraram o fato da
banda reavivar a sonoridade que mesclava o heavy metal ao rock mais puro, fator
considerado um dos diferenciais da banda em relação a contemporâneos como Angel
Witch e Iron Maiden. Já os fãs mais novos acusaram a banda de ter perdido poder
de fogo com a nova empreitada.
Saxon 2013: mais velhos, mas ainda usando backdrop do Indiana Jones |
Sacrifice
Os bandolins
entoando uma melodia folk se fundem a belos riffs em uma das melhores faixas
que o Saxon já compôs: Made In Belfast. A letra exalta a força da indústria
naval Irlandesa, que alimentou o império Britânico e sua outrora imbatível
marinha. O clima de exaltação não vem sem uma pontada de crítica social que
revela em muito o sentimento amargo dos Irlandeses em relação a seu papel de
explorados na história das glórias britânicas: “Slaving For The Bosses Boys,
Got To Meet the Deadline Now”.
Warriors
Of The Road é outra homenagem, dessa vez à fórmula 1. A velocidade e estilo
remetem à faixas como 20.000 ft, Stallions Of The Highway e Heavy Metal
Thunder. Puro e clássico Saxon. A ameaça de uma queda de energia no disco
parece iminente quando se escuta uma curta introdução do que parece uma caixa
de música executando uma melodia oriental. Ledo engano, logo somos presenteados
com um trabalho de guitarras fenomenal, cortesia de Doug Scarratt e Paul Quinn.
Aliás, é bem legal notar que a banda se utiliza de um artifício muito comum até
a década de 1990: indicar no encarte qual dos guitarristas é responsável por
qual solo. Solo de guitarra, por sinal, é a maneira que a banda escolheu para
introduzir outro petardo, Stand Up And Fight, o tradicional e batido hino “nunca
deixe de lutar pelos seus sonhos”, cantado de forma tão apaixonada por Biff “Monocelha”
Byford que é impossível não perdoar o clichê.
O ritmo do disco cai com Walking The Steel, faixa
que evoca relatos dos homens que trabalharam na reconstrução do local onde
outrora estiveram as torres gêmeas. Evocando a faceta mais hard do Saxon, a
faixa não acerta em cheio como as anteriores, embora não seja exatamente ruim. Sua
maior qualidade é a de evidenciar o alto padrão da cozinha formada pelos
subestimados Nigel Glockler (bateria) e Nibbs Carter (baixo), uma das melhores
duplas de qualquer banda de heavy em sua vertente mais tradicional na história,
diria eu. O heavy tradicional com ótimos arranjos de guitarra retorna na lupina
Night Of The Wolf, simplesmente fantástica.
NOTA: 9
Biff Byford, por sinal, é um cara
que merece um parágrafo à parte. Biff nos presenteia com um de seus melhores
trabalhos, em uma performance crua e quase sem efeitos, dando a forte impressão
que sua voz não envelheceu nada nesses 35 anos de carreira. Uma pena que raramente
seja lembrado ao lado de mestres como Dio, Brice DiCkinson e Rob Halford. Seu trabalho
na produção também é digno de nota, Sacrifice soa mais orgânico que os últimos
trabalhos, mas com um punch fenomenal. Creio que a mão de Andy Sneap na mixagem
tenha contribuído um bocado para a excelente sonoridade do disco.
Biff mostra que ainda tem muita lenha a queimar |
Wheels Of Terror, talvez por sua
temática belicosa, talvez pela mão de Andy Sneap, soa um bocado como a fase
atual do ressurreto Accept, o que não é nada mal! Novamente com ótimas idéias da
dupla Doug Scarratt e Paul Quinn, essa faixa foi a primeira do novo disco a ser
adotada no set list da banda ao vivo. Não é minha favorita, mas certamente tem
muita qualidade.
O hard/heavy
retorna na apenas legalzinha Standing In A Queue, que encerra dignamente os
parcos, mas bem aproveitados 39 minutos de duração de Sacrifice.
Saldo Final
Apesar das intenções divulgadas
de retorno às origens, Sacrifice não soa como um disco datado. Com ótima canções,
produção impecável, a tradicional competência de seus músicos e uma boa dose de
clichês, o Saxon criou uma obra que nos remete aos clássicos da NWOBHM muito
mais pela abordagem direta e honesta do que pela sonoridade.
Um dos melhores lançamentos de
estúdio da banda, absolutamente viciante e que certamente ganhará um espacinho
nas listas de final de ano dos fãs de um metal mais simples. Discaço!
Ficha Técnica
Banda (Nacionalidade): Saxon
(ING)
Título (ano de lançamento): Sacrifice (2013)
Mídia: CD
Gravadora: EMI (Importado)
Faixas: 10
Duração: 39’
Rotule como: Heavy Metal
Indicado para: Fãs de Heavy Metal
tradicional.
Passe longe se: seu negócio for
assistir à reprise do pavoroso Loolapalooza.
Também curti deveras esta bolacha. Saxon cansou de errar a mão e agora faz o mais trivial, que não cansa...
ResponderExcluirEles colocaram á disposição uma faixa bônus. O nome é Luck of the Draw. Mantém bem o clima do disco como um todo.
Jundas.
Mr. Krill
ExcluirNão acho que eles tenham errado tanto a mão assim (diria que erraram menos do que o primo rico Iron Maiden, por exemplo). Afora o péssimo Forever Free, curto até os farofas do tio monocelha e sua turma (sim, até o Destiny, hehe).
Não sabia da faixa bônus, vou procurar no entube.
abracetas
T