Oh, Don’t
You Ever, Never Say Die, again!
Maio de 2010.
Ronnie James Dio, outrora o gnomo imortal do
metal, que esbanjava vigor aos 67 anos de idade capitaneando a recentemente bem
sucedida encarnação do Black Sabbath sob a canhestra alcunha Heaven And Hell,
finalmente sucumbia ao câncer que tomara seu corpo de assalto em parcos seis
meses.
Funeral de Dio, nem Rick Rubin, nem Sharon ficaram tocados |
Tony Iommi, arrasado, recapitulou
os então 40 anos de estrada liderando o Black Sabbath em uma estrada repleta de
percalços, com mais baixos que altos para se recordar: parecia que finalmente
tudo chegava ao fim com a passagem de Ronnie. O golpe havia sido forte demais
dessa vez.
Mas quem conhece a história do
Black Sabbath está acostumado a estranhas reviravoltas.
Na manhã seguinte ao funeral de
Dio, Iommi recebe uma ligação de Sharon Osbourne: “Tony, Ozzy quer falar com você”...do
outro lado da linha, o disléxico e gaguejante Ozzy diz estar com saudades da
banda e que queria voltar...
E então o livro mais sombrio da história do rock
ganhou mais um longo (e derradeiro) capítulo...o capítulo de número 13.
Black Sabbath - 13 |
Recapitulando a longa Estrada
para 13
Na verdade, a única condição colocada por Tony
Iommi para o retorno da banda foi que eles só retornariam caso fosse para
gravar um novo disco. Caso não recordem, a banda havia retornado ao final dos
anos 1990 e seguiu uma rotina de participações no Ozzfest, tocando anos a fio o
mesmo repertório, sempre escolhido por Ozzy. Isso causou um esgotamento crescente
e o fim da reunião após o Ozzfest de 2005. E foi esse o motivo dito por Iommi
para que o retorno com Dio, anos depois, fosse feito sob outro nome: “Não
aguento mais tocar iron Man e Paranoid toda noite, tenho quase quarenta anos de
trabalhos gravados e fico preso às mesmas 8 músicas todas as noites, cansei
disso”.
Black Sabbath - Reunion |
Não, esse não era um anseio nunca
discutido com o resto da formação. Desde 2001 a banda havia tentado por cinco
vezes gravar um disco de inéditas. Ao que se saiba (e admitido atualmente pelo
próprio), Ozzy estava com o ego nas alturas com o sucesso do The Osbournes na
TV e colocara todo o tipo de empecilhos para gravar um novo disco com o
Sabbath: sua carreira na TV e discos solo eram então muito mais importantes. A vez
que chegaram mais próximo de tirar o novo disco do papel fora realmente em
2001, sob a batuta do produtor Rick Rubin, que haveria de ser o artífice da
atual tentativa.
A reunião com o Dio, e gravação de novo
material, o ótimo The Devil You Know, arrefecera o ímpeto de Iommi e Geezer,
mas quando então se preparavam para discutir a gravação do novo petardo, o
pequenino gigante passou a sentir dores cada vez mais lancinantes no estômago.
A turnê seguiu sem que Dio consultasse um médico e o resto da história, todos
conhecem.
Heaven And Hell,em 2009 |
Foi
então que Sharon Osbourne, sem esperar o cadáver de Dio esfriar, viu a chance
de Ozzy reparar o erro de 2001. E o telefonema já citado foi feito, e os dados
lançados.
Rick Rubin
O polêmico e excêntrico produtor californiano (cujos
trabalhos incluem boa parte do catálogo de Slayer, além de bons discos de
Danzig, The Cult e outras coisas menos abonadoras) colocou como uma espécie de
meta pessoal gravar o disco com a formação clássica do Black Sabbath. Frustrado
com o insucesso das sessões de 2001, Rubin permaneceu como um eterno carrapato
nos ouvidos de Sharon Osbourne, aproveitando toda e qualquer oportunidade para
levantar a bola da gravação do tão esperado álbum. Com a doença de Ronnie e seu
eminente fim, Rick Rubin, sabedor do pavor que Ozzy andava sentindo com o gosto
da mortalidade amargamente na língua (Ozzy sentiu e muito a morte de Gary
Moore, no mesmo ano), viu ali a grande e talvez última chance de tentar fazer o
disco enfim acontecer.
Sobre os métodos de Rubin, esses são alvo de muitos debates acalorados. Alguns consideram o barbudão genial, outros, um embuste (Corey Taylor do Slipknot já gastou bastante saliva criticando o cara, se é que isso conta). Rubin geralmente passa alguma orientação para abanda, deixa a mesma dias e dias gravando com seus engenheiros e esporadicamente aparece no estúdio, deita que nem um monte de lixo num sofá e escuta o que foi gravado, dizendo o que ficou bom ou o que ficou ruim. Depois disso some de novo e por aí vai. Para o Novo disco do Black Sabbath, sua visão era clara: não queria um disco típico de Metal. O Black Sabbath é a banda mais copiada do estilo, então Rick queria que a banda voltasse à essência de onde tudo havia começado, quando ainda era um pouco mais que uma banda de blues, só que um blues encardido e pesado. Para isso, fez com que os caras escutassem ininterruptamente o primeiro álbum e lutou arduamente para que Ozzy fosse convencido alargar os registros ultra-agudos de seus últimos discos solo.
Sobre os métodos de Rubin, esses são alvo de muitos debates acalorados. Alguns consideram o barbudão genial, outros, um embuste (Corey Taylor do Slipknot já gastou bastante saliva criticando o cara, se é que isso conta). Rubin geralmente passa alguma orientação para abanda, deixa a mesma dias e dias gravando com seus engenheiros e esporadicamente aparece no estúdio, deita que nem um monte de lixo num sofá e escuta o que foi gravado, dizendo o que ficou bom ou o que ficou ruim. Depois disso some de novo e por aí vai. Para o Novo disco do Black Sabbath, sua visão era clara: não queria um disco típico de Metal. O Black Sabbath é a banda mais copiada do estilo, então Rick queria que a banda voltasse à essência de onde tudo havia começado, quando ainda era um pouco mais que uma banda de blues, só que um blues encardido e pesado. Para isso, fez com que os caras escutassem ininterruptamente o primeiro álbum e lutou arduamente para que Ozzy fosse convencido alargar os registros ultra-agudos de seus últimos discos solo.
Rick Rubin e sua proverbial barba |
Bill Ward
Com três quartos do Black Sabbath acordados,
faltava apenas trazer o sempre inconstante Bill Ward para a equação. Dentre afirmações
de Bill sobre um contrato injusto a afirmações de Ozzy e do resto da banda de
que “não podiam esperar mais” ou de que “Bill não tem condições físicas”, de
tudo foi publicado na mídia. O certo é que Bill Ward não irira gravar o disco.
A banda tentou então Ginger Baker, que além de doido de pedra, odeia
abertamente qualquer coisa relacionada ao Heavy metal ( recentemente ele disse
que se soubesse que o cream seria tratado como um dos responsáveis pelo
surgimento do heavy metal, ele jamais teria começado a banda). Com o insucesso
por Baker, Ozzy tentou impor Tommy Clufetos, de sua banda solo. Clufetos foi
rejeitado pelo produtor Rick Rubin, que disse ter o cara perfeito para o posto:
Brad Wilk, baterista do Rage Against The Machine e Audioslave. Brad nunca foi
de fato aceito pela banda, o que fica evidente toda vez que o assunto é tratado
em entrevistas atuais. O baterista que anda excursionando com a banda é
finalmente Tommy Clufetos, como Ozzy queria.
Brad Wilk |
13: O Título e o número
O singelo número 13, escolhido
como título do disco, deve sua origem a um evento muito menos sombrio e
misterioso que poderíamos esperar. Trata-se de uma mera provocação à gravadora,
que desde a assinatura do contrato pressionou a banda quase que semanalmente a
compor “pelo menos 13 novas músicas” para o trabalho. De tanto a gravadora
insistir, os músicos passaram a informalmente chamar o disco de 13, e o nome
pegou. Para pavor de Ozzy, que relatou à Classic Rock: “Sou extremamente supersticioso,
então é justo que eu não esteja exatamente empolgado em dar esse título ao
disco. Toda vez que essa formação se junta, fico esperando uma bomba cair, ou
quem sabe um terremoto nos atingir”.
Obviamente o fator superstição
não passou desapercebido após as reclamações do cantor, mas só vieram a
fortalecer a intenção de nomear o disco com o número 13: a morte de Dio, os
infartos de Bill Ward, o acidente quase fatal de Ozzy em 2003 e agora o câncer
de Iommi, realmente se não fosse por má sorte, então o Black Sabbath não teria
sorte nenhuma.
E 13 ficou, mas só para provocar a gravadora,
Iommi pediu para a banda parar de gravar músicas quando terminaram a décima
segunda. Típico humor britânico.
Enfim, 13 - o disco:
End Of The Beginning toma os alto
falantes de assalto com um que de hecatombe, um riff lento e pesadão que fariam
Lee Dorrian (Cathedral) e Leif Edling (Candlemass) chorarem copiosamente abraçadinhos.
Mas afora o peso inicial a música também expõe os três problemas do disco:
1. A
auto referência – tudo aqui dá a impressão de que já ouvimos isso antes. Na maior
parte das vezes trata-se de uma pequena injustiça. O Black Sabbath é a banda mais
imitada da história do rock pesado (seguida de perto pelo Judas Priest, talvez).
Não é culpa da banda que os outros a copiem e nem a banda deve mudar seu estilo
por conta disso. Mas em alguns momentos a auto-referência foi proposital e
beirou a picaretagem, veremos mais adiante.
2. Ozzy
robótico – em End Of The Beginning e God Is Dead quase podemos ver Ozzy lendo
as letras no teleprompter, tamanha a roboticidade de sua interpretação. Explica-se,
Rick Rubin e o resto da banda insistiram que Ozzy deveria cantar em registro
mais grave do que vinha fazendo em sua carreira solo. Ozzy, birrento, não
queria fazer dessa maneira. Talvez essas interpretações mais robóticas tenham
sido obtidas antes do madman ter dado o clique e admitido que os caras tinham
razão.
3. Letras.
O bestiário lírico de Geezer estava em péssima forma. Talvez esse seja o disco
com piores letras da história do Black Sabbath. Em parte se deve ao Geezer
admitidamente ter reformulado boa parte delas para evitar a negatividade, em
respeito ao estado de Tony Iommi. Morte e suas asseclas deveriam ser tratadas
com um pouco mais de leveza.
Retornando à música, End Of The Beginning começa
muito pesada, absolutamente Doom, e aos poucos vai se transformando em seus
longos 8 minutos em um classic rock bacana, mas até mesmo algo positivo em sua
intenção. Um bom início, de qualquer forma.
A
música de trabalho, God Is Dead? vem logo em seguida, outro épico de mais de 8
minutos e de andamento lento, e é o exemplo mais emblemático do Ozzy robô. Admito
que não gostei nem um pouco dela quando a escutei das primeiras vezes, mas
acabei me acostumando. Me deu a impressão de alguma sobra de estúdio de The
Devil You Know. A letra versa sobre um psicopata e fanático religioso que quer
provar que a despeito do que alguns políticos e filósofos pregam, Deus não
estaria morto. Obviamente o cara o faz de sua maneira torta. Uma curiosidade:
God Is Dead? Seria inicialmente chamada American Jihad. Ozzy entrou em pânico e
pediu que Geezer mudasse o título, senão alguém podia acabar matando eles.
Geezer mudou o título, embora ache o novo muito mais ofensivo para quem não ler
o resto da letra.
A dupla
de músicas que se segue exemplificam bem o item 1 dos supostos problemas do
disco que coloquei lá em cima. Loner, a primeira faixa acelerada (pero no
mucho) do repertório faz uma brincadeira com o riff principal e estrutura de
NIB. Ah, e tem um extraordinariamente despropositado Alright Now que soa bem cretino
na música, que a despeito disso é legalzinha. Zeitgeist surgiu de um comentário
de Rubin, que ouvindo o material gravado, sugeriu a Iommi: “Bem poderíamos ter
uma Planet Caravan no disco. Segundo Tony Iommi: “Rick falou isso numa sexta, escrevi
Zeitgeist durante o final de semana, toquei para Ozzy e Geezer na segunda e
gravamos a faixa na terça feira”. Picaretagens à parte, essa Planet Caravan
parte 2 é ótima e representa o ponto de virada no disco.
Age
Of Reason é o primeiro sinal de que 13 não viria a se tornar um mero cata
poeira na coleção de discos alheia. Vigorosa e com uma boa interpretação de um
Ozzy bem mais solto, ela serve de um importante veículo para Tony, que brilha
com ótimos solos despejados sob uma camada de teclados (não creditados no
encarte). Os teclados e a ótima linha de baixo de Geezer somados aos solos de
Iommi dão um ar épico interessante a essa ótima faixa.
O bom momento musical prossegue
com a um pouco mais acelerada Live Forever, que a despeito da letra horrorosa,
empolga bastante.
A cereja do bolo vem sobre a forma de Damaged
Soul, um puta blues encardido e pesadão que dá margem a desempenhos para lá de
bacanas de Geezer, Ozzy e, principalmente Iommi. A música, intencionalmente
encomendada por Rick Rubin para sintetizar a essência do primeiro disco do
Sabbath, e que em sua gravação original contava com mais de 17 minustos
repletos de improvisos, conta até mesmo com uns sons de gaita supostamente
gravados por Ozzy. Excelente, Damaged Soul ( a despeito da letra ridícula) é a
melhor faixa desse 13 com larga vantagem.
O disco
se encerra com Dear Father, um ataque a Igreja Católica pesado e com uma linha
melódica que em muito lembram as boas coisas da carreira solo do comedor de
morcegos. Ao final da faixa, como que para fechar o ciclo, temos o som distante
de sinos e de uma tempestade.
Faixas Bônus
Existem duas edições de 13
disponíveis no mercado Brasileiro. A versão comum, contendo oito faixas, e uma
versão dupla, com três faixas bônus. Methademic, a primeira, deveria ter sido a
faixa de abertura da versão normal, tamanha sua qualidade. Forte, acelerada e
certamente a coisa mais pesada dessa sessão de gravações, sua exclusão do
repertório deve ser explicada unicamente pela obsessão de Rick Rubin em apostar
na faceta mais lenta da banda. Ah, cabe ressaltar que essa é também a única
faixa onde a performance de Brad Wilk se faz destacar. No resto do disco, Brad
parece tocar como se estivesse a olhar os outros membros da banda em busca de
aprovação.
Mas esta também é a única das faixas do segundo
disco cuja falta pode ser sentida. Peace Of Mind não diz ao que veio e é
disparado a mais fraca do pacote e Pariah remete aos nada brilhantes trabalhos
solo atuais de Ozzy. Há ainda uma quarta faixa, Naivete In Black (uma brincadeira com o título de NIB), que somente está disponível nas versões compradas na cadeia de lojas Best Buy. Não a escutei.
Saldo Final
Honesto em sua desonestidade
(eps, parece letra do Geezer, isso), 13 é mais Black Sabbath que poderíamos
esperar e/ou sonhar.
A essência da primeira e mais
incensada encarnação da banda está toda lá, intacta.
Obviamente, como sabemos de toda
a parafernália financeira e legal que envolve o nome do Black Sabbath, seria
muita ingenuidade e cara-de-pau cair naquele lugar comum do “a magia está ali”.
Não há magia, tudo aqui foi
pensado e repensado.
Mas que o resultado é extremante
compensador acho que disso poucos discordarão. 13 é um baita disco. Ponto.
Agora, se este será o último
capítulo do livro negro que vem sendo escrito há 43 anos por Tony Iommi, disso
tenho lá minhas dúvidas...
NOTA: 8,5
Quero crer que será mesmo o final chapter. Mas gostei sim. E, a despeito de nossa conversa regada a brahmas, gostei do Brad Wilk.
ResponderExcluirBeijunda.
P.S.: escreve mais, cramulhão!
Fala, Mr Krill
ExcluirBrad Wilk tem mais pegada do que mostrou no disco. Mas pelo visto, os caras não se deram muito bem com ele (foi imposto por Rick Rubin) e isso o deixou pouco a vontade.
Ah, adicionei um parágrafo no item que fala sobre o barbudão esquisito, leia lá.
abracetas e agora, com internet de volta, voltarei a escrever mais!
T