NO MORE DOOM?
Prólogo -Surge a máquina Sueca
do Juízo Final
Um dos baluartes do doom metal na década de 1980, o Candlemass fez sua fama ao misturar o peso sombrio e monolítico dos primórdios doBlack Sabbath com o então novo metal europeu. Após um início bombástico com o excelente Epicus Doomicus Metallicus, os suecos liderados por Leif Edling (baixista e compositor de 99% do material da banda) acharam sua voz sob a rotunda forma do maluquete Messiah Marcolin, uma gigante e desgrenhada figura que se vestia de monge. Dono de voz e carisma muito acima da média, Messiah levou a banda a uma sequência de trabalhos obrigatórios na discografia de qualquer fã de metal (Nightfall, Ancient dreams e Tales Of Creation).
Um dos baluartes do doom metal na década de 1980, o Candlemass fez sua fama ao misturar o peso sombrio e monolítico dos primórdios doBlack Sabbath com o então novo metal europeu. Após um início bombástico com o excelente Epicus Doomicus Metallicus, os suecos liderados por Leif Edling (baixista e compositor de 99% do material da banda) acharam sua voz sob a rotunda forma do maluquete Messiah Marcolin, uma gigante e desgrenhada figura que se vestia de monge. Dono de voz e carisma muito acima da média, Messiah levou a banda a uma sequência de trabalhos obrigatórios na discografia de qualquer fã de metal (Nightfall, Ancient dreams e Tales Of Creation).
Candlemass - Messiah ao centro em sua glória capilar |
Isso até que os egos começaram a
falar mais alto que a música, culminando com a saída de Messiah, em 1990. Nãos em deixar para trás o monstruoso registro ao
vivo Candlemass – LIVE.
A banda prosseguiu sob a forma de
uma espécie de projeto solo de Leif Edling,
lançando discos cada vez mais experimentais (discos esses desprezados sem eu
tempo, mas que ganharam estatus “cult” recentemente), até que desapareceu do
mapa em 1999.
No início dos anos 2000, pegando
carona na onda de reuniões de formações clássicas de bandas de metal, eis que o
improvável acontece: Messiah retorna
ao Candlemass.
Candlemass 2002 - o retorno |
Uma
turnê de retorno matadora foi o prenúncio do lançamento de um dos melhores
discos da banda, uma pedrada homônima produzida pelo mestre Andy Sneap e que se tornou um dos
melhores discos de 2005 (ver vídeo para Black Dwarf):
Mas
logo a personalidade insana de Messiah
entraria novamente em choque com a tirania assumida de Leif Edling. No momento em que adentravam o estúdio para gravar o
sucessor de Candlemass, o monge maluco
pelou fora do barco.
Messiah colocou o terninho e foi procurar emprego |
A Nuclear Blast, gravadora da banda à época, tentou demover Messiah e convencê-lo ao menos a
concluir as gravações. Chegaram a oferecer um ótimo contrato para um disco solo
para o balofo, mas sem sucesso.
Parecia tudo perdido...
Candlemass redivivo – De novo!
Robert "Leôncio" Lowe |
Com
voz única e poderosa, aliada a excentricidade visual comparável à do Messiah, Robert Lowe conquistou de cara quase todos os fãs da banda.
Facilitou em muito o fato dos discos subsequentes, King Of The Grey Islands e Death
Magic Doom apresentarem material que rivalizava facilmente com os clássicos
de outrora.
A banda com Robert Lowe |
Mas, após a boa fase, somos pegos
de surpresa com duas notícias:
A primeira, o Candlemass lançaria seu disco
derradeiro, encerrando suas atividades ao final da turnê.
Resignado, corri atrás de uma
cópia do canto de cisne de uma das bandas que mais gosto, ansiando fortemente
que tal canto fizesse justiça a carreira brilhante da mesma.
Psalms for The Dead foi lançado em vários formatos. O formato aqui
analisado conta com o CD original e um DVD. Como não existem faixas bônus, o
conteúdo extra do DVD será analisado após a resenha. O pacote em si é bonito,
um digibook contendo letras e fotos interessantes. A arte gráfica segue o
padrão dos últimos discos, sombria, simples e efetiva.
Quanto ao material sonoro, lá
vamos nós:
Entoando os Salmos
Passamos a The Sound Of Dying Demons.A bateria marcando o tempo seguida de um
riff soturno e distorcido parece uma óbvia referência a Iron Man, mas há de se
lembrar, a própria existência do Candlemass
é uma eterna referência (e reverência) ao som do Black Sabbath. Os teclados criando um clima de filme de terror ou
ficção científica de baixo orçamento fazem ressurgir resquícios do Candlemass de Dactylis Glomerata ou From the
13th Sun (cortesia de Carl Westholm,
que fez parte da banda nessa época). Mais um refrão preguiçoso e repetitivo
(estaria o Candlemass ouvindo muito
o Iron Maiden atual?). Dispensável.
Começo a temer pelo restante do disco.
Começa Dancing in The Temple (of the Mad Queen Bee), uma faixa atípica.Algo
acelerada, curta e nada melancólica (ao menos para os padrões da banda), a
faixa vale novamente pelos ótimos solos.Forçando bastante a barra, poderíamos
fazer um paralelo desta música com as influências neoclássicas de Tales Of Creation.
Waterwitch começa pesada e promissora, sua estrutura épica
lembrando bastante outras faixas da atual encarnação do Candlemass. Mas nada a salva de mais um refrão modorrentamente
preguiçoso – “Waterwitch, Waterwitch, Waterwicth...”. Fica a clara impressão
que o chefão, compositor, letrista e baixista Leif Edling já viveu dias mais criativos.
Leif, pouco antes de soltar os cachorros...pobre Lowe |
O clima de desesperança não é
algo incomum e necessariamente ruim em um disco de doom metal, exceto quando se
trata de desesperança na capacidade da banda em fazer um bom disco. Mas o jogo
ainda não havia terminado, e as coisas começariam a melhorar. Consideravelmente,
diga-se.
A faixa título é o tipo de
material que esperava escutar desde que apertei o play em meu aparelho de som
para fazer essa resenha: riffs monolíticos, solos inspirados, belas linhas
melódicas e refrão marcante. Tudo isso coroado pelo peso típico do doom metal. Forte candidata a clássico.
Outro início com marcação de
bateria e logo somos presenteados com um riff que parece saído de Vol4, do Black Sabbath – The Killing
Of The Sun tem algo que a deixa no meio tempo entre o doom tradicional e o
Stoner. Matadora.
Efeitos que novamente remetem aos
álbuns mais experimentais da banda iniciam Siren
Song, deixando-a com algo de Uriah Heep,
o que não pode ser considerado um insulto. Algo como um remake deRainbow Demon, conta com uma ótima
performance de todos e solo de teclado, cortesia de Per Wiberg (Spiritual
Beggars, Opeth).
O disco se encerra com a boa Black As Time. A descontar a
desnecessária introdução falada, que ao invés de criar um clima sombrio parece
mais saída de algum esquete perdido do Monty Python, Black As Time literalmente fecha o caixão do Candlemass com alguma dignidade funesta.
Sobre os desempenhos individuais,
o Candlemass sempre primou em jogar
para a equipe. Leif Edling e Jan Lindh formam uma cozinha precisa e
funcional, primando em imprimir o peso monolítico que faz parte da marca
registrada da banda. A produção, sob a batuta do chefão Edling, é bastante boa.
Todos os instrumentos aparecem em igual destaque e o peso e punch são quase
palpáveis.
Os guitarristas Mats "Mappe" Björkman e Lars “Lasse”Johansson podem não ser
reconhecidos individualmente pela técnica apurada. Entretanto, quando juntos,
são responsáveis por algo raro no metal atual: solos daqueles que ficam na
memória tanto quanto as melodias vocais. E talvez abraçando o que seria a
última oportunidade em deixar sua marca para a posteridade, a dupla é o
destaque absoluto do disco.
Saldo Final
Em se tratando do alto padrão de
qualidade dos últimos três discos, aliado à grande expectativa criada por
(supostamente) se tratar do derradeiro capítulo de uma das melhores bandas
escandinavas em todos os tempos, é impossível não chegar a terrível conclusão:
Psalms For The Dead é tranquilamente o disco mais fraco desde o
retorno da banda em 2005.
Mas se não será lembrado como um
dos melhores discos do Candlemass,
também fica a milhas de distância de ser considerado um disco ruim. Em suma, Psalms For The Dead é um bom disco de
doom metal em sua vertente mais
tradicional. O disco dificilmente deixará algum fã descontente, mas a
irregularidade do material nele contido talvez seja a prova cabal de que esse é
o momento certo para se aposentar.
NOTA:7
DVD da Edição Limitada:
Intitulado Let There Be Doom, o material do DVD é constituído
de um making of do álbum intercalado com cenas do 70.000 Tons of Metal, o famigerado cruzeiro com shows de metal. Logo
de início somos avisados que um dos guitarristas, Lars “Lasse”Johansson não pode participar do cruzeiro por problemas
familiares. Logo de início, um problema – não há legendas. E tome cenas em línguas
escandinavas e alemão. E mesmo os diálogos em inglês são de difícil
compreensão, o sotaque dos caras (com exceção do americano Robert) é
complicado. Algumas cenas da gravação do disco ou da sessão de fotos para o
mesmo se salvam com muita boa vontade. No mais, são pouco mais de 25 minutos de
imagens ruins e perfeitamente dispensáveis. Não vale tempo (para quem faz
download) e muito menos dinheiro (para quem compra). Passe longe!
Curiosidade:
Para a turnê de despedida foi
confirmado MatsLevén no posto de
vocalista. Para quem não conheceMats
já integrou o próprio Candlemass (e
outros dois projetos de Edling: Krux e Abstrakt Algebra), além de ter participado de discos e turnês com o
Therion, Yngwie Malmsteen, At Vance,
dentre outros. Dotado de boa performance de palco, sua extensão vocal só fica
aquém de sua capacidade em irritar tímpanos alheios. Uma pena que tenha que
terminar assim. Para diminuir o fiasco, foi anunciado também que Per Wiberg arcará com as partes de
teclado dessa derradeira turnê.
Ficha Técnica
Banda (Nacionalidade): Candlemass
(SUE)
Título (ano de lançamento): Psalms
For the Dead (2012)
Mídia: CD
Gravadora: Napalm Records (Importado)
Faixas: 9
Duração: 50’
Faixas:
1. Prophet; 2. The Sound of Dying Demons; 3. Dancing
In The Temple; 4. Waterwitch; 5. The Lights Of Thebe; 6. Psalms For the Dead;
7. The Killing Of The Sun; 8. Siren Song; 9. Black as Time;
Rotule como: Doom Metal
Indicado para: Fãs de metal tocado à velocidade de uma tartaruga sifilítica, mas pesado como um elefante obeso.