Uli Jon Roth - Tokyo Tapes Revisited |
A Orgia Guitarrística
do Hippie Velho
Por
Trevas
O
Scorpions é a maior banda de rock
alemã em todos os tempos. Quem se acostumou ao Hard meloso e radiofônico da
banda nos anos 1980 em diante talvez nem se dê conta que a banda era bastante
pesada para os padrões setentistas quando surgiu. E se Rudolph e Klaus já se
mostravam os capitães do barco, a arma secreta da banda vinha na forma de um
estranho hiponga com um jeito único de tocar guitarra: Uli Jon Roth.
Uli entrou para o Scorpions substituindo o imberbe Michael Schenker, que
fora “abduzido” por um UFO britânico.
Com a banda gravou quatro bem-sucedidos discos de estúdio, que ajudaram a banda
a cimentar sua reputação, em especial no Japão, onde se tornaram gigantes. E foi
justamente na terra do Sol Nascente que gravaram em 1978 um dos maiores discos
ao vivo de seu tempo, o hoje mítico Tokyo
Tapes. E se Tokyo Tapes mostrou ao
mundo o poderio do Scorpions nos
palcos, também representou o canto do cisne para Uli que, avesso a visão comercial de música da dupla de chefes do quinteto, preferiu montar seu próprio grupo, o Electric Sun. Tokyo Tapes Revisited é o
registro do show que Uli e sua banda
realizaram em 2015, no Japão (dã), para comemorar o legado da fase do
guitarrista junto à um dos maiores grupos de rock da história.
Tokyo Tapes original |
Apresentação
Como tem sido comum, Tokyo Tapes Revisited foi
lançado em uma miríade de formatos diferentes. DVD. Cds. Vinil. DVD +Cds. Blu-ray. Blu-ray +Cds. Earbook com um porrilhão de itens... Enfim, tem para todos os bolsos. A versão aqui analisada é a que tem o Blu-ray e dois Cds, com o
repertório idêntico. A apresentação é bem bonita, um caprichado digipack que se abre, cada parte
contendo um miolo acrílico individual para um dos três disquinhos. O livreto,
em papel fosco de qualidade, só engrandece as belas fotos do show. Bonito e
prático.
Um dos muitos formatos de fazer fã pobre chorar copiosamente |
Imagem
O material traz
algumas das imagens mais nítidas e cristalinas que vi nos lançamentos recentes.
Nem na absoluta escuridão e muito menos nos momentos mais repletos de efeitos
luminosos há aquela perda de qualidade e pixelização da imagem. E a iluminação
do show é belíssima. As tomadas da edição não são tão dinâmicas quanto o usual,
focando bastante as mãos do patrão, para deleite dos aficionados por guitarras.
Há também diversas tomadas bonitas, claramente pensadas não só para a
funcionalidade, mas também para dar um tom poético ao lançamento. Me lembrou o
trabalho feito no belo Lamentations,
do Opeth.
Som
Ainda que as músicas
executadas sejam claramente números de Heavy Metal, a banda de Mr. Roth se esmera em fazer versões ricas
em arranjos que as afastam um pouco do rótulo, mas sem abrir mão do peso. A
formação de sete peças, composta por 3 guitarristas, baixo bateria e voz, sendo
que um dos guitarristas assume os vocais em uma ou outra faixa, poderia
resultar em uma mixagem bagunçada, mas definitivamente o trabalho da equipe de
som, majoritariamente nipônica, beira a perfeição. Todos os instrumentos muito
bem representados na edição final. O único e grande senão fica por conta da
quase inexistente captação do som da plateia. Mas talvez a culpa não seja exatamente
do engenheiro de som...vejamos no item abaixo...
Performances e
repertório
Uli é um dos maiores guitarristas da
história do rock, e mostra aqui que a idade em nada arrefeceu sua técnica e
pegada, que continuam únicas. Com aquele jeitão de hippie velho, inspira
simpatia e deixa sua banda brilhar bastante. Pudera, ele se cercou de feras:
O baterista Jamie Little (Bob Catley, Robbie Williams), é
preciso e trabalha na percussão em alguns momentos também. O baixista Ule W. Ritgen (Zeno, Fair Warning e o Electric Sun do patrão) trabalha funcionalmente nos bem bolados arranjos,
encontrando seu espaço com criatividade no meio de uma orgia guitarrística. Niklas Turmann (Uli John Roth, Fair Warning) toca uma guitarra de responsa e
ainda detona na voz. O tecladista Corvin
Bahn (Gamma Ray) também assume
de bom grado seu espaço como coadjuvante, aparecendo somente quando suas teclas
se fazem necessárias para engrandecer os arranjos. Já o guitarrista David Klosinski, esse debulha suas guitarras sem fazer feio diante do
patrão e mestre. Nathan James (Inglorious) é...bem...Nathan
James: brega, over e extremamente
talentoso. Se um dia esse cara domar os excessos, pode vir a se tornar o
vocalista que ele pensa que é.
O
repertório é excelente, mas ao contrário do que o nome do pacote indica, não
representa um espelho do set de Tokyo
Tapes. Apenas 8 das 18 músicas do
clássico disco do Scorpions dão as
caras no repertório de 19 músicas e mais de duas horas de duração, replicado
tanto no Blu-Ray quanto nos dois Cds.
Algumas ausências são absurdas: Speedy’s
Coming, He’s A Woman She’s A Man,
Robot Man e Steamrock Fever. Mas tem material bom o
suficiente para compensar as ausências, incluindo dois números de Hendrix.
A plateia nipônica é
de uma broxidão Godzillica que quase azeda o angu. Um amontoado de senhores de
meia idade de terninho e cabelos curtinhos, que ficam educadamente sentados, se
manifestando exclusivamente quando solicitados ou ao final das músicas. Até
quando levantam os braços fica aquela impressão de que o fazem de maneira
titubeante, como se temessem ser achincalhados por demonstrar emoções. Que eu
me lembre o único momento onde ouvi eles cantando espontaneamente e a plenos
pulmões foi em Kojo No Tsuki.
A
mudez do público nipônico é frustrante? Sim, mas cairia muito bem no dono da
bola. Uli Jon Roth é um monstro da
guitarra, mas porra, por que diabos com dois excelentes vocalistas à disposição
ele insiste em destilar sua horrenda e desafinada voz? Será que alguém em sã
consciência gosta de ouvir esse cara cantando? Impossível!!
Saldo Final
Visualmente
primoroso. Sonoramente belíssimo. Orgia guitarrística master. Repertório
bacana. Talvez tenha faltado um pouco menos de exagero de Nathan e alguém ter mutado o maldito microfone do tio Uli. Uma celebração a uma era de ouro
da carreira da maior banda de rock da Alemanha em todos os tempos. Muito bom!
NOTA: 8,50
Pontos
positivos: belas imagens, som cristalino e guitarras em profusão
Pontos
negativos: Plateia moribunda. E quem caralho quer ouvir a porra do Uli
cantando? E manda o Nathan segurar a periquita!!
Para
fãs de: Scorpions, claro.
Classifique como: Heavy Metal, Classic Rock