sábado, 27 de setembro de 2014

Accept - Blind Rage (Deluxe Edition - Cd + BD - 2014)



Consolidando a Boa Fase
Por Trevas

A Alemanha sempre foi um celeiro de boas bandas de rock pesado. Poderia escrever três postagens nesse blog só listando as mais relevantes e ainda assim correr o risco de esquecer alguém. Se o título de banda de rock alemã mais popular em todos os tempos dificilmente sairá das mãos do Scorpions, o de banda de Heavy Metal mais importante da cena Teutônica está sujeito a discussão acalorada. A garotada leite-com-pera e roupa-com-babados gritará “Helloween, Helloween!!” em falsete, montada num unicórnio que parece saído de “meu querido pônei”; os rédibênzi cascudos agitarão suas correntes, gritarão esganiçadamente “Kreator!!” e então sofrerão coma alcoólico e os modernosos goticóides bradarão “Rammstein” com voz grave e puxando bastante o sotaque tupinimão (contendo as lágrimas para não borrar a maquiagem).  

Cada qual em sua tribo, todos tem sua cota de razão. Eu diria simplesmente que a maior banda de metal, puro e simples, vinda da terra do chucrute foi, é, e sempre será o Accept.
A banda já havia batalhado arduamente por toda a segunda metade dos anos 1970 e lançado três discos sem muito alarde quando cuspiu Restless And Wild. Fast As A Shark, música que abre o disco, tornou-se uma febre na comunidade metálica mundial, uma faixa extremamente pesada e rápida para os padrões de então.

German Leatherboys - Accept nos anos 1980
O nome do Accept não chamou a atenção somente dos aficionados por metal, tendo a banda ganho um contrato com a Epic (subsidiária da Sony) para lançar seu disco seguinte, o excelente e platinado Balls To the Wall.


O Accept era então a banda de metal perfeita: a imagem belicosa transpirava perigo e revolta; as guitarras ferozes eram também muito bem tocadas (cortesia de Wolf Hoffman); as letras eram provocativas e transbordavam por vezes imagens de uma sexualidade pervertida e dúbia (numa esperta jogada de marketing, a esposa do guitarrista fazia as letras sob pseudônimo, sua ótica feminina dando uma imagem SM/Gay à banda) e a bateria era um rolo compressor para a época. Mas talvez a característica mais marcante dos alemães para a maioria fosse a voz e imagem de Udo Dirkschneider, o diminuto e horrendo vocalista.

Udo...ou seria Silvio Luis? Ainda não sei...
A associação da voz de Pato Donald de Udo com o sucesso do Accept ficou ainda mais forte quando a banda, atrás de uma repaginação de seu som para a metade farofeira dos anos 1980, abandonou o gnomo e apostou no vocalista americano David Reece. O único lançamento com essa formação, Eat the Heat, foi um fracasso de crítica e vendas na época (hoje é tratado como cult), e o Accept fechou as portas. Em paralelo, Udo montou o U.D.O., que agradou os antigos fãs e conquistou uma nova geração (a geração do power metal) fazendo um metal que nada mais é do que uma versão diluída do Accept de outrora.

Duas tentativas de reunião do Accept ocorreram nos anos 1990 e 2000, ambas por curto espaço de tempo e sem tanto sucesso. Segundo Udo, não faziam sentido, pois ele ganhava mais com sua carreira solo, a qual dizia também ser mais atrativa para o público atual.

Improvável Ressurgimento

Bom, não vou mentir. Quando a banda anunciou seu retorno às atividades em 2009, dessa vez sem Udo e com outro vocalista americano (o pouco conhecido Mark Tornillo), eu torci o nariz. Na verdade, não conheço ninguém que não tenha feito o mesmo. Talvez no melhor disco de retorno da história, Wolf Hoffman calou a boca de meio mundo em 2010 com o apoteótico Blood Of The Nations.

Accept 2010, Tornillo de boné
Até mesmo o desdém jocoso inicial de Udo em relação a nova encarnação do Accept caiu por terra ao som de petardos como Teutonic Terror e Pandemic. E ao vivo, o quinteto mostrou entusiasmo invejável, e o então pouco conhecido Tornillo ganhou o respeito de todos ao fazer um excelente trabalho também no material clássico do Accept.


Coroando a bem sucedida parceria com o produtor britânico Andy Sneap, o Accept repetiu a dose em 2012, com Stalingrad. Sem o amparo do efeito surpresa, Stalingrad soava um pouco aquém em relação ao disco anterior, mas deu seu recado: o Accept estava vivo e pronto para consolidar seu novo reinado.


Mantendo um ritmo digno de décadas passadas, Wolf e sua trupe anunciaram seu terceiro disco em quatro anos, novamente contando com a produção de Andy Sneap. Blind Rage foi lançado em várias edições diferentes. A analisada aqui é a Deluxe, que conta com o Cd mais um Bluray contendo um show na íntegra da turnê de Stalingrad (Chile, 2013).

Edição deluxe, prepare seu rico dinheirinho
Capa e Temática
Não, Blind Rage não é exatamente um disco conceitual. Longe disso. Mas a arte de capa e nome foram inspirados na situação atual da política mundial, com diversos conflitos centrados no ódio pipocando ao redor do globo. A fúria cega do título. Mas antes de apostar nessa temática (como sempre, por orientação de Gabi, esposa de Wolf - empresária e letrista eventual do Accept), a banda parece ter trabalhado em outra temática e arte de capa. Conforme matéria publicada no site Whiplash (ver aqui), a temática do álbum versaria sobre a luta pela liberdade. E a arte de capa até então seria elaborada pelo brasileiro Julio Marinho (ver abaixo). Cabe ressaltar que a faixa Wanna Be Free trata de tráfico humano e escravidão nos dias de hoje. Talvez fosse então trabalhada como faixa título.

Arte originalmente trabalhada para o disco
O Disco

Introdução épica em crescendo e a rifferama de Stampede parece pegar a trilha de onde Stalingrad havia parado. Escolhida como primeiro single, é forte candidata a abrir os shows da próxima turnê, um perfeito arrasa quarteirão. Os solos cantáveis, marca registrada de Wolf Hoffman, dão suas caras pela primeira vez no disco e a produção de Andy Sneap deixou tudo soando com muita pegada e clareza, as Always...


As faixas seguintes parecem determinar o diferencial de Blind Rage em relação aos discos anteriores. Dying Breed, Dark Side Of My heart e Fall Of The Empire são três petardos mid tempo, mas com muita preocupação com as linhas melódicas, seja nos vocais do impressionante Mark Tornillo, seja até mesmo nos solos. Dark Side Of My Heart chega a emular o climão do disco Metal Heart, de forma fantástica, diga-se. E sabe aqueles corais de sauna gay que sempre marcaram os refrães do Accept? Estão aqui presentes, um delicioso anacronismo no meio dessa versão moderna da banda.


Trail Of Tears acelera o ritmo e mantém a qualidade impressionante da bolachinha. O cuidado com as melodias também é mantido nas faixas mais rápidas, como na ótima ponte dessa faixa em mais um ótimo solo de Wolf Hoffman. Tivesse mantido essa toada, Blind Rage seria facilmente o disco de Heavy metal do ano, mas infelizmente o repertório oscila um pouco a partir desse ponto. A suposta faixa título de outrora, Wanna Be Free, até se esforça em ser uma power ballad marcante, com baixo pulsante, letra forte e ponte bacana, mas seu refrão deixa um bocado a desejar. Não é ruim, mas fica um pouco abaixo das faixas anteriores. E não é implicância por se tratar de uma balada, 200 Years é uma faixa feroz e rápida, mas sofre do mesmo mal, um pouco longa demais e com um refrão minguado. Mas possui mais um grande trabalho de guitarras para compensar.

Accept 2014
Bloodbath Mastermind tem a ferocidade das músicas de Blood Of the Nations e retoma o alto nível da primeira metade do disco. O único defeito da associação Andy Sneap/Accept reside no tamanho das músicas, algumas faixas diretas como essa poderiam render ainda mais se fossem um minuto (as vezes dois) mais curtas, quase nada nos últimos três discos fica abaixo dos 5 minutos de duração.
From The Ashes We Rise tem um início blueseiro encardido logo convertido em mais um petardo mid tempo, que coroa as ótimas vocalizações de Mark Tornillo. Uma boa faixa que ganha força após seguidas audições. The Curse é mais uma música promissora e cheia de boas intenções, mas que sofre da maldição (ok, foi mal, não resisti) do refrão meio mocorongo. Mas a oscilante segunda metade de Blind Rage encerra com uma excelente faixa, Final Journey, com direito a Wolf Hoffman apostando em um solo com referência de música erudita. Se em Metal Heart o solo evocava Für Elise de Beethoven, dessa vez Wolf emula Tchaikovskiy em uma peripécia guitarrística que tem tudo para se tornar obrigatória nos shows da banda (Errata do Trevas: burro! buuurrrooo!!! Conforme ótima intervenção do camarada Igor Maxwell, Wolf emula Grieg em Final Journey, e não Tchaikovskiy!)


Saldo Final
O terceiro e mais melódico disco desse novo capítulo da história do Accept vem confirmar a boa fase e deixar os cotovelos de anão do Udo ainda mais doloridos. Tivesse a bolachinha mantido a toada de sua primeira metade, estaríamos diante de um novo clássico da banda. Mas mesmo em seus momentos menos inspirados, Blind Rage nunca fica chato, não. Mas fico na torcida de que na quarta parceria Andy Sneap/ Accept, as duas partes se concentrem em fazer um disco mais conciso, já que uma hora de material para uma banda de metal tradicional é coisa demais para um disco só.

NOTA: 8

Blu-Ray, Live In Chile 2013

A edição deluxe analisada aqui não traz nenhuma faixa bônus e sim um show inteiro gravado em 2013. Existem edições que vem com esse show em DVD, a minha veio com o mesmo em BD. Geralmente, quando escuto falar que uma banda resolveu lançar um show como material bônus de um lançamento de estúdio, vou logo torcendo o nariz: por que diachos uma banda abriria mão de um produto em potencial? Fico na espera de algo com qualidade próxima de um bootleg, sem apelo que justifique sua existência comercial. É o caso aqui, certo? Porra nenhuma, o que temos em mãos é um puta show com duas horas de duração, som excelente e em HD. A performance da banda é perfeita, com muita pegada e repertório fenomenal que mistura em suas 21 (?!?!) faixas (fora solos e introdução) os clássicos e novos sons do Accept. Mark Tornillo canta absurdamente bem e sua imagem, nada convencional, ajuda a criar uma nova identidade para a banda. Wolf Hoffman divide as vezes de frontman com Tornillo, indo para o meio do palco em seus sempre excelentes solos e o resto da banda é extremamente competente. Esses fatores, somados à empolgação do público chileno, tornam esse show imperdível. A contar contra, apenas a ausência de opção sonora afora a mixagem PCM stereo. Para quem ainda aposta em mídia física, a edição deluxe, embalada num digipack bacana contido num slipcase razoavelmente resistente, é A pedida.

Nota do Show: 10



Prós:
Accept clássico. Ótimo trabalho de todos da banda, preocupação com as melodias.
Contras:
Um pouco longo, oscila um pouco em sua segunda metade.

Classifique como: Heavy Metal

Para Fãs de: Heavy metal clássico em geral

Ficha Técnica
Banda: Accept
Origem: ALE
Disco (ano): Blind Rage – Deluxe Edition (2014)
Mídia: CD + BD
Lançamento: Nuclear Blast (Importado, versão nacional anunciada)

Faixas (duração): CD  - 11 (58’).
BD 23 – 5 (121’)

Produção: Andy Sneap
Arte de Capa: Dan Goldsworthy

Formação:
Mark Tornillo – voz;
Wolf Hoffman – Guitarra;
Herman Frank – Guitarra;
Peter Baltes – baixo;
Stefan Schwarzmann – bateria.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Sabaton – Teatro Rival (Rio de Janeiro – 17.09.14)



Pica Das Galáxias!!
Fotos e Texto por Trevas

Bastava adentrar o sempre simpático Teatro Rival para descobrir o tipo de acolhida que os suecos do Sabaton receberiam em sua primeira passagem por solo carioca: pouco após o horário de abertura da casa, nenhuma camisa ou Cd da banda sobrara na loja de merchandise. O clima de apreensão era palpável no saturado ar de uma calorenta noite de quarta-feira, quando pontualmente ás 20:30 as luzes se apagam sob o som mecânico de Final Countdown, do Europe. Logo os Suecos correm para suas posições e tal qual um pelotão desses que ilustram suas letras, tomam de assalto o palco, com a empolgante Ghost Division executada a perfeição. Já na introdução da segunda música, To hell And Back, do novo disco, percebia-se que o público não estava para brincadeira, cada palavra sendo cantada em um coro potente e empolgado que arrancava sorrisos incontidos da banda.

Recepção calorosa
A proficiência do Sabaton na execução de seus instrumentos poderia indicar uma postura comportada no palco, certo? Nada disso, a banda se movimenta e brinca bastante, em especial o vocalista Joakim Brodén, com sua habitual performance atlética anabolizada por doses cavalares de simpatia e carisma. Logo após a apoteótica Carolus Rex, Brodén brinca sobre o perigo que eles correm ao tentar aprender algumas palavras em português, dizendo que alguém ensinara uma expressão em nossa língua nativa: “Pica dos galáxias”, disse o grandalhão num impagável sotaque carregado, para risos gerais. Após a galhofa, Brodén diz que é o momento de nos ensinar um pouco de Sueco, emendando então a versão para Gott Mit Uns em sua língua natal.

Brodén, um galhofeiro visivelmente feliz
Uprising e Attero Dominatus seguem para delírio geral e então Brodén pega o celular de um fã que vinha filmando o show, vira a câmera para fitar a plateia, filma o próprio pênis e finge atender a uma ligação, dizendo “estou na porra de um show”. Ainda em tom divertido, Brodén afirma que jamais haviam visto uma recepção tão calorosa por uma plateia de um lugar nunca antes visitado pela banda. Seu sorriso e gestos indicam que essa declaração está longe de ser mera demagogia. A resposta do lisonjeado público é efusiva e mesmo as novas Resist And Bite e Soldier Of 3 Armies são recebidas com incrível empolgação. No intervalo entre as músicas, mais galhofa, Brodén teve sua calça rasgada no meio de uma performance mais empolgada, diz se tratar de um ar condicionado peniano, e que a única maneira dele parar de falar do próprio pênis seria começar logo a tocar a próxima música. Swedish Pagans encerra a primeira parte do set, e os fãs não dão o menor sinal de cansaço.

Pär Sundström e Chris Rörland
Hannes Van Dahl
Cobras Fumantes...
Os gritos de “Sabaton, Sabaton” ainda ecoavam quando a banda recomeça o set com a estonteante Night Witches. Ao final da mesma, Brodén cita que a próxima música deveria ter sido tocada ao vivo pela primeira vez em solo brasileiro. A grande ovação indica que todos na casa já sabiam o que viria. E então Brodén anuncia em péssimo português: “A cobra Vai Fumaaaarrr”, e lá temos Smoking Snakes, música feita em homenagem à Força Expedicionária Brasileira (FEB), cantada em uníssono. Destaque para a felicidade da banda ao ouvir o público cantar o trecho em português da música. Impossível ficar impassível num momento desses. O momento de euforia é coroado com Primo Victoria, clássico mor dos suecos, seguido do tiro de misericórdia galhofeiro de Metal Crue, a divertida bobagem que homenageia diversas bandas dos anos 1980 em sua letra.

Brodén e seu exército carioca
Ao final do curto set (parcos 75 minutos) os imensos sorrisos de todos na casa, seja na plateia ou no palco, parecem concordar que aquela expressão aprendida pela banda se encaixaria bem para ilustrar o show: “PICA DAS GALAXIAS”

Que retornem logo!

domingo, 14 de setembro de 2014

Curtas: California Breed – California Breed/ Gus G. – I Am The Fire





Curtas: California Breed – California Breed/ Gus G. – I Am The Fire



California Breed
California Breed – California Breed - Deluxe Edition (Cd+DVD – 2014)

Depois da triste lavagem de roupa suja via mídias digitais que marcou o fim do Black Country Communion (ver história aqui na Cripta), Glenn Hughes resolveu não perder tempo e começar um novo projeto. Com Jason Bonham a tiracolo, iniciou uma busca incessante por um guitarrista prodigioso que pudesse estar à altura do desafeto Joe Bonamassa. Boatos do recrutamento de figuras como Zakk Wylde e Richie Kotzen foram publicados aqui e acolá, mas o posto foi finalmente ocupado pelo americano Andrew Watt, apenas 23 anos, mas alma totalmente vintage. Apresentado a Glenn Hughes por ninguém menos que Julian Lennon, Watt conquistou a confiança do veterano de imediato, e o falastrão workaholic não tardou a alardear aos quatro ventos que lançaria seu melhor trabalho em todos os tempos. Coisa que Glenn faz toda semana, claro.

Bonham, Hughes e Watt, antes de lavar roupa suja
Com Dave Cobb na produção, o trio partiu rapidamente para o estúdio e gravou 13 canções (uma somente na edição deluxe) diretas e que reverenciam o retro-rock em voga atualmente (não por acaso, Cobb fora responsável pelo premiado Pressure And Time do Rival Sons). Elementos da carreira solo de Hughes, doses homeopáticas de Zeppelin, bons riffs, vocalizações inspiradas e uma bateria bem na cara fazem dessa estreia um disco agradável, mas que começa a perder sua força a partir de sua segunda metade.


Faixas como The Way, Sweet Tea, The Grey e Midnight Oil se destacam dentre as mais roqueiras, enquanto Chemical Rain reina solitária dentre as mais calmas. A edição deluxe traz ainda uma faixa bônus, Solo, bem interessante, além de um DVD contendo um making of correto e os clipes para The Way e Sweet Tea, nada que vá fazer muita falta.


Gostaria de poder dizer se tratar de uma estreia promissora de um grande projeto, mas pouco depois do lançamento da bolachinha, Jason brigou com Hughes, de maneira idêntica ao ocorrido no entrevero Hughes-Bonamassa, com Joey Castillo (ex-Queens Of The Stone Age) assumindo as baquetas. O futuro da banda atualmente está em cheque, mas mesmo que esse venha a ser o único rebento do California Breed, merece uma conferida.

NOTA: 7,5

I Am The Fire
Gus G. – I Am The Fire (Cd-2014)

Kostas Karamitroudis (aka Gus G) já havia brilhado junto aos headbangers mais fiéis com o Dream Evil e capitaneando o Firewind (ver história aqui na Cripta), mas foi só ao virar o mais novo escudeiro de Ozzy Osbourne que seu talento nas seis cordas foi finalmente reconhecido por um público mais amplo.

Gus G
Aproveitando os holofotes e as atividades de Ozzy junto ao Black Sabbath, Gus se uniu a alguns colegas e produziu seu primeiro trabalho solo. E quem esperava um Cd típico de guitarrista virtuose, cheio de temas instrumentais autoindulgentes, quebrou a cara: I Am The Fire é um disco calcado em sua maioria em canções Hard/Heavy, oitentista em intenção, apesar da ótima produção que dá um toque preciso de modernidade à obra.


Com bela arte de capa pelo brasileiro Gustavo Sazes, o disco traz solos e riffs inspiradíssimos do guitarrista grego, o que era de se esperar. Mas o destaque mesmo fica para os músicos convidados. Mats Levén (Therion, Candlemass, Malmsteen) comanda os vocais nas ótimas My Will Be Done e Blame It On Me dentre outras. O duo Devour the Day marca sua participação na faixa título, a mais moderna do pacote.


Billy Sheehan e David Ellefson fazem companhia a Gus nas duas faixas instrumentais do disco, e Jeff Scott Soto revive o Talisman em Summer Days.


Ainda nas participações especiais vocais, temos Jacob Bunton (Adler), Tom Englund (Evergrey) e Alexia Rodriguez (Eyes Set To Kill), além do gaiato Michael Starr (Steel Panther) se levando a sério em Redemption. I Am The Fire é um disco muito bom, muito bem produzido e bem mais variado e acessível que os trabalhos anteriores de Gus G. Uma bela estreia cujo sucesso (aliado à saída do vocalista Apollo) já põe em dúvida o futuro do Firewind.

NOTA:8



sábado, 6 de setembro de 2014

Overload Music Fest – Fates Warning + Swallow The Sun (Teatro Rival – Rio de Janeiro – 05.09.14)

Cartaz Oficial do Evento
Doom e Prog Metal numa Noite épica!
Texto por Trevas
Fotos por Daniel Croce, Pablo Coelho e Trevas

Prólogo, Trevas e o Fates Warning
Não é todo dia que temos a oportunidade de realizar um daqueles desejos (sonho é uma palavra meio forte) de moleque. A perspectiva de finalmente assistir ao Fates Warning ao vivo me colocou num estágio de ansiedade pré show que não sentia desde que fui a São Paulo conferir Ritchie Blackmore e sua efêmera encarnação noventista para o Rainbow.
Não, o Fates Warning nunca figurou exatamente no rol de minhas bandas favoritas em todos os tempos, mas sempre ficou alí, na espreita, como que integrante do cast de coadjuvantes de luxo em quase todos os momentos de minha vida musical.
Lembro até hoje de meu primeiro contato com o som dos caras, provavelmente em 1993 – aluguei um disco duplo na Video & Game Center, às cegas. O disco duplo incluía dois títulos da banda: Awaken The Guardian (1986) e No Exit.(1988). Embora o título e arte gráfica do primeiro é que tenham me atraído a apostar na banda, foi o segundo disco que me conquistou de imediato. A assombrosa intro à capella, seguida da feroz e complexa Anarchy Divine, além de faixas como Silent Cries, adornadas por um trabalho de guitarra épico e a voz melodiosa de Ray Alder mostraram um novo reino musical que o imberbe Trevas ainda não conhecia. Nascia ali o gosto pelo Prog Metal, um subgênero que me acompanhou por anos a fio.

Fates Warning à época de Inside Out
Desse subgênero, o FW é considerado pioneiro, ao lado do Queensrÿche. Apesar de seu Prog Metal raramente apresentar características herméticas e exibicionistas, curiosamente a banda apenas resvalou no Mainstream, tendo sido relegada ao estatus de Cult, ao contrário do Queensrÿche e do filhote Dream Theater, que alcançaram invejável sucesso comercial.

No Exit - meu primeiro contato com a banda
Aos poucos arrebatei todos os títulos dos caras que eu encontrava (quando minha mesada permitia). E embora tivesse adorado de primeira obras como Perfect Symmetry e Parallels, foi Inside Out (de 1994) que se tornou meu xodó. Primeiro disco dos caras que tive a oportunidade de adquirir assim que lançado, é tido como uma obra menor na carreira da banda, por ter sido a primeira vez em que o FW repetiu a fórmula em dois trabalhos seguidos. Inside Out é sim uma espécie de continuação para o bem-sucedido Parallels, embora sabe-se lá por que, eu me identifique muito mais com a continuação do que com o original.

Inside Out - meu favorito
Eternamente no meu top 10, Inside Out fez com que, mesmo após eu renegar o Prog Metal de meu cardápio musical, eu continuasse acompanhando a banda a cada lançamento.


Overload Music Fest
A oportunidade de assistir os caras veio com o Overload Music Fest, primeiro festival organizado pela produtora homônima. Festival que aqui no Rio apresentou quatro bandas divididas em dois dias: Alcest e God Is An Astronaut no dia 04 de setembro, Fates Warning e os noruegueses do Swallow The Sun no dia 05. Coube então ao escandinavos a abertura do evento numa sexta feira de clima ameno e público escasso no sempre agradável Teatro Rival.
Folder do Evento
Swallow The Sun

Cerca de 100 pessoas estavam dentro da casa no momento em que teve início o show do STS, a maioria movida apenas por curiosidade e alguns poucos fãs de fato, que cantavam cada palavra com fervor.
Aparentando algum nervosismo, o sexteto destilou um set pesado e arrastado, calcado num Doom com elementos de Death Metal que por vezes parece uma versão competente e moderna do My Dying Bride (ainda que sem o refinamento das composições dos britânicos).
Apesar de poucos conhecerem as músicas, o STS conquistou rapidamente o usualmente cético público Prog Metal, e era comum ver gente perguntando se havia material de merchandise ou cd dos caras à venda. Ou seja, se a banda tinha como objetivo angariar novos fãs em território não explorado, seu bom show (de aproximadamente 40 minutos) cumpriu a missão com louvor.

Let there Be Doom -Swallow The Sun no Rival (por Trevas)

Fates Warning

A diferença de postura do Fates Warning para outras bandas do estilo pode ser vista já desde o início do show. Sem muita frescura, os caras sobrem ao palco, pegam seus instrumentos e já começam a descer a lenha, com a faixa de abertura do disco atual, a excelente One Thousand Fires. A faixa seguinte, One, vigorosa e direta, já garantiu o público nas mãos dos americanos.

Fates Warning (Por Pablo)
A banda atualmente conta apenas com Ray Alder e o líder Jim Matheos em sua formação fixa, o restante dos músicos atuando como contratados. Mas engana-se aquele que tirar disso a conclusão de que a formação atual fica a dever ao passado da banda.


Ray Alder, por Daniel Croce


O baixista Joey Vera (do Armored Saint e Anthrax) já toca com os caras desde o final da década de 1990, sempre mostrando sua competência e pegada no baixo e ajudando Alder nos backing vocals.


Vera e seu cabelinho Cascão (por Daniel Croce)


Bobby Jarzombeck (Halford, Sebastian Bach) tem a hercúlea missão de substituir o monstro Mark Zonder, e o faz com precisão cirúrgica, replicando cada detalhe dos pratos amalucados das versões originais, e ainda por cima acrescentando um toque pessoal na pegada e peso. Uma performance que por si só valeria o show.


Bobby concentrado (por Daniel Croce)


O virtuoso Michael Abdow é o caçula da banda e vem substituindo Frank Aresti na atual turnê. O cara, que tem fuça de garoto ainda, empunha sua guitarra de sete cordas com maestria, efetuando boa parte dos belos e complexos solos da banda e adaptando para o instrumento a maioria das passagens de teclado. Uma agradável surpresa.


Abdow, por Daniel Croce


Os veteranos Matheos e Alder dispensam maiores apresentações. Jim tem uma pegada e timbre únicos, marcas registradas do som do FW. Curiosamente restringe sua performance à maioria das bases e uns poucos solos. Engraçado perceber que ele parece não ter envelhecido nem um pouco nas últimas décadas, sempre com a mesma carranca sisuda e a vasta cabeleira cacheada.

Matheos, Vera e Jarzombeck (Por Pablo)
Ray Alder (sobrenome verdadeiro, Balderrama) também pareceria ter bebido da mesma fonte da juventude, não tivesse resolvido ostentar uma portentosa barba grisalha. Sua performance vocal beira a perfeição, embora os agudos estratosféricos do material de Parallels tenham ficado para trás. Além de ótimo vocalista, o cara é bastante simpático e tem uma puta presença de palco, algo raríssimo (muito mesmo) em se tratando do estilo.


Alder comandando o show (por  Daniel Croce)


Diga-se de passagem, o feeling da banda ao vivo tem muito mais a dever ao Heavy metal do que ao prog. Apesar da complexidade das músicas, o set nunca passa perto do mero exibicionismo e o feeling e momento são colocados à frente da perfeição asséptica que por vezes contamina as bandas de Prog metal.

O set escolhido se ateve ao material de Perfect Symmetry em diante, com ao menos uma canção de cada disco presente no show.

Point Of View, Life In Still Water e a épica The Eleventh Hour representaram Parallels, fazendo muito marmanjo berrar a plenos pulmões. Through Different Eyes foi a estrela de Perfect Symmetry. O novo álbum, além da abertura, foi representado por Firefly (cantada por todos) e I Am. FWX se fez presente com a quase pop Another Perfect Day. Já a música-disco A Pleasant Shade Of Gray teve quatro de suas partes executadas (como elas soam melhor ao vivo, hein?).


Matheos, o dono da bola (por Daniel Croce)


Talvez o único ponto razoavelmente fora da curva tenha sido Pieces Of Me, que se não é ruim, fica a dever ao restante do repertório. Monument (de Inside Out) fechou a primeira parte do set, e o encore veio com uma versão um pouco editada para a bela Still Remains (de Disconnected), totalizando uma hora e quarenta de espetáculo.

Público e banda se despedem um do outro em êxtase, cada qual torcendo em seu íntimo que outra noite dessas não demore tanto a se repetir.

P.s.: De negativo, apenas o pouco público. E nesse caso, mando um recado aos fãs de Prog Metal que se estapeiam para ver o soporífero show do Dream Theater: façam um favor a si mesmos, chafurdem na discografia do Fates Warning e da próxima vez assistam os caras. Já vi o DT em ação por três vezes em palcos e eras diferentes e o FW engole os caras com farinha. Como se diz no Facefuck: “Fica a dica”.