Iced Earth - Plagues Of Babylon (2014) |
Consolidando a Retomada
Por Trevas
Prólogo
– E Faça-se Um cd Triplo
Junho de 1999. Pouca grana sobrava a
um ávido colecionador de CDs. A internet discada tornava cada download de cada música
um milagre somente permitido após a meia noite e o advento do divino pulso
único. Hard Times, baby.
Talvez seja justamente por essas dificuldades
que me lembro bem de cada uma das pérolas que descobri nesse período. Nossa arma
de caça, esta era o Soulseek. Uma bela noite, um de meus irmãos, por
recomendação não me lembro de quem, colocou para baixar uma música de uma banda
de Power metal. “Porra, mais Power Metal?”, disse eu. Não é uma banda de Power
Metal qualquer, foi a resposta. Ao acordar as seis da matina, desligar a
internet e verificar o resultado da caça noturna em meu Winamp, fiquei
boquiaberto. Saí para a faculdade com aquela merda na cabeça, e assim ela ficou
até que eu voltasse e escutasse a música mais umas 789 vezes. A música era My Own Savior. A banda, Iced
Earth.
Soulseek - Minha ave de rapina musical nos anos 1990 |
Peguei minhas então parcas economias e rumei no
dia seguinte para umas das lojas de CDs de rock de minha cidade. Dentre os
álbuns disponíveis naquele dia, um tinha o Spawn
na capa. Na época, isso não podia ser um melhor sinal! Outro tinha o que
parecia uma porra duma versão pirata e egípcia do Eddie. Na época também achei isso animal. Mas meus olhos não
desgrudaram mesmo de um Box de cor azul, contendo três CDs ao vivo encartados
em belos digipacks – que diacho, uma banda ousar fazer um triplo ao vivo. Meu rico
dinheirinho se foi. A pérola era o Alive
In Athens, a inspirada megalomania que quase alçou o Iced Earth ao estrelato à época. Eu disse “quase”? Pois
é...quase...
Alive In Athens - Um dos Melhores CDs Ao Vivo de seu tempo |
Era
uma Vez Um Postulante ao Trono…
A banda americana Iced Earth, capitaneada pelo determinado (e para lá de complicado)
guitarrista Jon Schaffer lançara seu
debut homônimo oito anos antes do ao vivo supracitado, para uma recepção na
melhor das hipóteses indiferente da cena metálica. Não que Iced Earth, o disco, não possuísse boas músicas. Mas a execução, a
produção e, em especial os vocais, beiravam o amadorismo. Grande foi o salto de
qualidade entre este primeiro tento e Night
Of The Stormrider, que chamou a atenção de público e crítica com sua
mistura de Power metal, metal tradicional e Thrash Metal. Burnt Offerings elevou as expectativas em relação ao futuro da
banda, e apresentou ao mundo Matt Barlow,
para muitos a voz definitiva dos caras.
Iced Earth nos idos de Dark Saga - Barlow à frente |
Dark Saga,
disco baseado no então cultuado anti-herói dos quadrinhos, Spawn, trouxe algum refinamento e mais influências de metal
tradicional ao som da banda. Mas o pulo do gato em estúdio foi mesmo o
lançamento de Something Wicked This Way
Comes. Um disco equilibrado, onde podemos encontrar temas viscerais rescendendo
a thrash metal misturados a belas baladas e pequenos épicos, SWTWC foi alçado ao top 20 germânico,
rendendo ao Iced Earth a posição de
headliner do maior festival de heavy metal do mundo, o Wacken Open Air.
O próximo passo foi capitalizar em cima da bem
sucedida turnê, com o arrojado lançamento de um álbum triplo ao vivo, o já
citado Alive In Athens. A banda passou
rapidamente do terceiro escalão da cena metálica para um pretendente forte ao panteão
habitado por veteranos já decadentes como Iron
Maiden e Metallica. Mas se você
leu o início desse texto, deve lembrar que eu disse que o Iced Earth “quase” chegou ao estrelato...pois então veio a queda. Jon Schaffer parece ter vestido a
carapuça de gênio musical e muito também por influência de seu grande amigo Hansi Kursch (Blind Guardian), carregou o próximo lançamento da banda de exageros
do Power metal europeu. O resultado, um irregular Horror Show, que vendeu bem, mas causou uma recepção bem menos
empolgada que seus antecessores. Os atentados às torres gêmeas foram o golpe
fatal à boa fase: Matt Barlow entra
em crise existencial e abandona a banda. Em desespero e vendo o sucesso
escorrer por dentre os dedos, Schaffer
contrata o promissor Tim “Ripper” Owens,
então demissionário do Judas Priest.
Uma tremenda jogada de marketing!
Ripper só troca um patrão ruim por um pior...daí ele foi pro Malmsteen |
O resultado foi Glorious Burden, um disco que além de bastante fraco, pecou por sua
temática: o patriotismo expresso em suas letras em nenhum momento cativou o
público da banda, bem mais forte na Europa e America do Sul do que na terra
natal dos estadunidenses.
Ainda tomado de acessos de
megalomania, Jon resolveu colocar a
medonhamente tacanha mini estória de horror iniciada nas três últimas faixas de
SWTWC em primeiro plano, soltando
dois discos conceituais. O primeiro, Framing
Armageddon, ainda com Owens, em
seus momentos mais inspirados é consideravelmente melhor que Glorious Burden, mas ainda longe de
empolgar. A voz de Owens não se
encaixa em grande parte do material, e os exageros de corais nos refrãos, assim
como os arranjos grandiosos falham em cativar e põe tudo a perder.
Vendo a popularidade da banda caindo a cada
lançamento, Schaffer apela,
demitindo Owens e recontratando Matt Barlow. O movimento chama a
atenção dos fãs antigos, mas a segunda parte da obra conceitual, The Crucible Of Man, é ainda pior que a
primeira. A turnê segue com datas minguadas, parte do acordo com Barlow para que o mesmo não se afaste
por muito tempo de seu emprego normal. Não funcionou. Matt então abandona o grupo pela segunda vez.
Barlow (à esquerda): a voz é a mesma, já os cabelos... |
Quando tudo parecia perdido, eis que Schaffer encontra a salvação sob a
forma do canadense Stu Block,
vocalista do pouco conhecido Into
Eternity. Com timbre semelhante ao de Matt
Barlow, mas com uma pegada consideravelmente mais agressiva, Stu fez com que a banda revivesse a
sonoridade de seus primórdios, mais simples e contundente. Dystopia, primeiro disco com o novo vocalista mostra-se o melhor
lançamento da banda desde SWTWC,
pegando tanto os fãs quanto os críticos de surpresa. A turnê subseqüente
recoloca a banda nos trilhos, com uma quantidade muito maior de datas que as
últimas quatro turnês somadas. Entre um show e outro Jon Schaffer começa a compor e produzir o novo disco. Dessa vez não
há mais espaço para erros. E então é anunciado o lançamento de Plagues Of Babylon (POB no resto da resenha).
Novidades
No Front
Gravado em quatro estúdios diferentes POB marca o rompimento da parceria da
banda com o produtor Jim Morris,
tendo Jon Schaffer assumido a produção,
com o auxílio de quatro engenheiros de som diferentes. A outra novidade ficou
por conta da participação efetiva de Stu
nas composições, algo surpreendente quando lembramos da fama de tirano do dono
do Iced Earth. A instabilidade no
line up da banda por si só não é novidade nenhuma, mas cabe ressaltar como
curiosidade que as baterias do disco ficaram ao encargo do brasileiro Raphael Saini. Para não dizer que Jon está curado dos acessos de megalomania,
as seis primeiras músicas fazem parte de uma desinteressante saga sobre zumbis
situada no universo igualmente desinteressante apresentado em SWTWC. Mas se você não se esforçar, nem
perceberá se tratar de um cd parcialmente conceitual. Dito isso vamos ao que
interessa:
Praguejando
com Louvor
Iniciar o disco com uma música mid tempo não é
novidade para o Iced Earth, e a
faixa título (ver vídeo) o faz com louvor do alto de seus quase oito minutos
inspirados e sombrios que beiram o Doom Metal. A produção acerta em deixar tudo
mais seco e minimalista, longe dos exageros de outrora.
A pegada dark e pesada segue com a boa Democide, com boa performance do
baterista Raphael Saini. The Culling soma a essa pegada um ótimo
refrão, que deve garantir a essa faixa estada obrigatória no set list da turnê
vindoura. Amigo de longa data de Jon
Schaffer, com quem divide o projeto bissexto Demons & Wizards, Hansi
Kürsch (Blind Guardian) divide
os vocais com o eficiente Stu na boa
Among The Living Dead (ver vídeo). Aliás,
essa faixa nos faz sonhar com dias melhores e mais agressivos para o Blind Guardian...quem sabe?
Resistance não
é lá muito especial, mas se salva pelo refrão bacaninha e pela interpretação de
Stu, que se distancia da sombra de Barlow, fato que no disco anterior só
era notado nas baladas. A última da ala conceitual do disco, The End? Tem um bocado de Iron Maiden em sua estrutura e é uma
boa faixa. E já que citei o tópico “baladas”, If I Could SeeYou é a primeira do álbum. Formulaica como todas as
baladas do Iced Earth desde Dark Saga, incrivelmente ela funciona,
talvez pela dinâmica que representa no andamento do disco.
Iced Earth 2014: Stu ao centro |
O épico Cthulu
em seu início lembra assustadoramente o Fates
Warning, assumindo depois a tradicional estrutura musical Icedearthiana,
dessa vez sem muito sucesso. Tal qual a faixa anterior, dá uma certa sensação
de déjà-vu. Ainda bem que a boa Peacemaker,
a despeito da mensagem armamentista redneck, aparece com sua pegada sulista quase
hard para angariar uma certa diversidade ao material, podendo ser considerada
um dos destaques.
Parasite
entra no clube do déjà-vu e não traz nada de novo ou empolgante. Spirit Of the Times é a segunda e
última balada de POB. Fugindo à
fórmula de I Died For You e com uma
aura mais viajandona marcada por intervenções guitarrísticas de bom gosto, a
faixa agrada e coroa a boa performance de Stu
Block, que aos poucos vai ganhando os fãs e apresentando uma alternativa
saudável a outrora muito lamentada ausência de Matt Barlow. Ao Invés de encerrar POB por aí, Jon resolveu
incluir uma inesperada versão para um clássico do country. Originalmente composta
por Jimmy Webb e regravada por
dezenas de artistas, Highwayman traz
a participação de Michael Poulsen (Volbeat) e Russell Allen (Symphony X,
Adrenaline Mob) dividindo os vocais
com Stu e o próprio Schaffer. O resultado é legal, mas não
se encaixa em absoluto com a atmosfera dark e carregada do resto do disco.
Saldo
Final
Plagues
Of Babylon mostra o Iced Earth
apostando na atmosfera agressiva e sombria que marcou sua fase áurea, caminho
já pavimentado no ótimo disco anterior, Dystopia.
Embora seja um bom disco, POB poderia
ser ainda melhor caso Jon Schaffer tivesse
encurtado o álbum em umas três faixas (votaria em Cthulu, Parasite e Peacemaker). De qualquer maneira, POB vem para consolidar a retomada do Iced Earth rumo a um lugar de destaque
na história do metal. Que venha o próximo!
NOTA:
7,5
Prós:
A retomada em definitivo da boa e
velha atmosfera dark somada à agressividade quase thrash dos bons tempos do
Iced Earth. Stu Block marcando seu território.
Contras:
Um pouco longo demais para a pouca
variedade no material.
Para Fãs de: Iron Maiden, Metallica
e Judas Priest
Ficha Técnica
Banda: Iced Earth
Origem: EUA
Site Oficial: http://www.icedearth.com/
Disco (ano): Plagues Of Babylon (2014)
Mídia: CD
Lançamento: Century Media
(importado)
Faixas (duração): 12 (62’).
1. Plagues Of Babylon; 2. Democide; 3. The Culling; 4. Among The Living
Dead; 5. Resistance; 6.The End?; 7. If I Could See You; 8. Cthulu; 9. Peacemaker;
10. Parasite; 11.Spirit Of the Times; 12. Highwayman
Produção: Jon Schaffer
Arte de Capa: Eliran kantor
Formação:
Stu Block – voz;
Jon Schaffer – Guitarras, voz;
Troy Steele – Guitarras;
Luke Appleton – baixo;
Raphael Saini – bacteria.
Participações especiais: Russell Allen, Michael
Poulsen, Hansi Kürsch - voz
Mangolão, comentei ontem e o blogger "ignorou"... Vamos ver se me lembro do que disse...
ResponderExcluirÉ interessante lembrar de em que condições se conheceu o Iced Earth. No meu caso, foi num colégio em miserói em que trabalhava, lá pelos idos de 2003 ou 2004. Um colega Professor de matemática (que havia acabado de virar crente), sabedor do meu gosto (não sabor, porra!) metálico, me pergunto se não queria comprar TODA a discografia do IE que ele possuía à época... Como não conhecia NADA, pedi para ouvir umas faixas... Violate, I Died For You e Watching Over Me fizeram o serviço... Carteira mais leve, sorriso no rosto e seis CD's a preço de três... Foi jogo!
Daí comecei a me inteirar sobre eles. Passei a admirar o timbre vocal do Barlow, além da clara habilidade de Schaeffer em compor verdadeiras pérolas... Comprei o DVD semi-oficial-semi-pirata Alive in Athens... E continuei comprando os CD's... And them... Barlow's OUT, Ripper's IN!!! Eu tinha certeza de que não funcionaria... O estilo dos dois é muito distinto... Ouvir o Tim berrando feito um alucinado em "Dracula" mostrava que, de fato, eram incompatíveis... E "The Glorious Burden" - a maior E PIOR patriotada da história da música pesada - foi a pá de cal...
Daí voltou o Barlow. Na boa, mais do mesmo... E um vocalista que estava claramente desconfortável na banda... E lá se vai o Barlow de novo (this time for good?)...
Duas coisas que não se pode negar no Schaeffer: (1) é um visionário com mão de ferro, capaz de construir verdadeiros impérios ou arrasar civilizações inteiras. Pena que, via de regra, prefere cometer cagadas... E o infinito entra-e-sai (ui!) de integrantes prova isso! Ele deve ser um cara mega intratável... (2) tem um olho clínico extraordinário para achar - e recrutar - músicos que impressiona... Achar o semidesconhecido Stu Block foi uma tremenda bola dentro!
Lembro que o Stu foi "apresentado" aos fãs numa regravação matadora de "Dante's Inferno" (só!)... Daí vem o "Dystopia", que já achei um senhor álbum... O vocal rasgadão dele, bem na pegada Thrash/Death do Into Eternity empolgou logo de cara, casando muito bem com o estilo do IE...
Eu gostei - bastante - do "Plagues"... A temática "zumbi", embora forçada, é bastante óbvia, dado que o estilo é certamente viral na atualidade (alguém falou em Umbrella??? Hahahaha...). Até o Hammerfall abandonou o temário "somos-melhores-mais-malvados-e-mais-tr00000-que-o-manowar" pra gravar o Infected (um disco muito bom, por sinal)...
Mas voltando: O Stu me agrada. Acho o "Plagues" um disco 8,5 (estava sentimental quando ouvi as baladas... Huahuahuahuahuahuahua). E acredito que o IE se reinventou. Não chegará ao nível das bandas citadas acima, mas é certamente muito melhor que muita coisa que tem pelaí...
Intão é içu.
Jundas e cetas!
Caceta, Krill!
ResponderExcluirO Blégh ignorou mesmo.
Concordo com tudo o que vc falou, achei o novo disco bom, mas esperava mais. O Dystopia é mais legal, na minha inútil opinião.
O Ripper para mim se tornou aquele jogador firulento e que todos sabem possuir talento acima da média, mas que nunca se encaixa em lugar nenhum. Até hoje o único disco com ele que consegui gostar foi o Juguator. Demolition é pavoroso, fácil fácil o pior da carreira do Padrejudas. Beyond Fear é um cocô, os discos dele com Malmsteen são mais do mesmo, com o Iced Earth não funcionou e o Winter's Bane era apenas razoável. Para ser honesto com o simpático berrador, não escutei o disco solo dele.
Mas uma coisa é certa, Stu é bem bom de gogó e finalmente os caras estão se reencontrando!
Nossos ouvidos agradecem!
Abracetas
T