sábado, 10 de novembro de 2012

Royal Thunder- CVI (CD - 2012)



Uma Sombria e Viajante Estréia

Oh, Atlanta

Geralmente inicio minhas resenhas com uma tentativa (geralmente desconexa) de contextualizar historicamente o lançamento analisado, fazendo um (às vezes nem tão) breve retrospecto da carreira da banda em questão. Cá estou em maus apuros: nada sei sobre o Royal Thunder.

A única vantagem é que pelo que andei procurando, não há muito a ser resgatado em revistas e sites... Não, isso não quer dizer que não valha a pena continuar a ler essa resenha e descobrir o pouco que tenho sobre eles, já que me parece que estamos diante de uma das mais intrigantes e promissoras bandas a surgir nos últimos anos.

O simpático Josh Weaver
Tudo começou com o guitarrista Josh Weaver (ver foto acima) buscando entre seus amigos da cena de Atlanta, músicos para sua nova banda. Nascido em 2006 e inicialmente instrumental, o Royal Thunder demorou um tempo a encontrar sua voz e cara...e essa veio sob a figura gnomesca de Mlny Parsonz, uma baixista conhecida na cena, mas que só tinha até então experiência como vocalista urrando seus pulmões para fora em bandas de Death Metal e Grindcore.

Mlny Parsonz

Com muita relutância, Mlny foi convencida a assumir o baixo e também a voz de uma banda que soava estranhamente original. Após um bem recebido EP, que rendeu um contrato com a Relapse Records, Josh então acreditou ser o momento certo para um importante passo na carreira do RT: o lançamento de seu debut, intitulado CVI.

Josh e Mlny - um estranho casal

Blues Apocalíptico De Dentro do Fog

Os primeiros acordes do apoteótico doom-blues lisérgico Parsonz Curse (ver vídeo) só não impressiona mais do que a voz de Mlny, forte e carregada de personalidade e feeling, com um charme não treinado que só acomete os grandes talentos. Não consigo acreditar que ela passou quase 10 anos de carreira sem saber que conseguia cantar assim. Parsonz Curse soa exatamente como se o Black Sabbath de seus primeiros álbuns fosse capitaneado por Johnette Napolitano do Concrete Blonde (algo que foi muito bem notado em alguma resenha que li por aí). Se o disco acabasse aí, eu já teria ganho meu dia – uma das músicas mais legais que escutei recentemente. Mas o disco continua...


Whispering World (ver vídeos) inicia com mais um riff que lembra que a banda tem um pé fincado firme na moda recente do stoner/ retro-rock, que inclusive tem grandes representantes vindos de Atlanta, como Black Tusk e Red Fang, por exemplo. Ah e a performance de Mlny novamente rouba a cena, indo do sexy ao agressivo, mostrando que essa moça tem os dois pezinhos fincados no hall das grandes vocalistas da nova onda de mulheres que usam suas vozes em prol de um rock mais cru, como Lzzy Hale (do Halestorm) e Jill Janus (do Huntress). Mais um petardo, dessa vez mais direto, e cabe destacar também as guitarras de Josh Weaver, com timbragem bem vintage.



A psicodelia dá as caras com mais força na épica Shake and Shift, lembrando um pouco o The Gathering de seus primeiros anos com Anneke. Shake And Shift é uma viagem tortuosamente bem construída com referências a Pink floyd de sua fase psicodélica, Black Sabbath e até mesmo às bandas alternativas da década de 1990. Mas cada um de seus mais de 8 minutos soa intensamente gratificante.


No Good é um rockão bem direto e setentista, grudento mesmo. Lembra bastante o Graveyard ou o Witchcraft em seus trabalhos recentes. A viagem é retomada com Blue, que começa com um clima de Pink Floyd de Set The Controls For The Heart Of The Sun...e de repente dá lugar a uma quebradeira que em muito lembra o Sludge de um Mastodon. Uma boa faixa, e que mostra que Mlny tem também uma ótima mão para linhas de baixo, mas que talvez fique um pouco para trás comparada às demais.

Royal Thunder - Formação atual
A valsa psicodélica de Sleeping Witch (ver vídeo) começa de maneira etérea e atinge um ápice Iommico no ótimo refrão.  O clima algo esotérico presente em todo o álbum dá as caras com mais força na excelente e enigmática South Of Somewhere, que alterna calmaria e peso com maestria. As letras, por sinal, são sempre estranhas e com referências de leve ao ocultismo. O mistério joga a favor do som da banda e até mesmo o nome do disco está envolto em brumas: CVI é romano para o número 106, número que, segundo Josh, persegue sua carreira e a da banda de maneiras não explicadas. E se eu não estou tecendo comentários sobre a ótima performance dos outros membros do RT, é porque para a gravação do primeiro disco o núcleo fixo conta somente com Josh e Mlny, os outros músicos apenas fizeram as sessões como contratados.



Mais um épico longo e esfumaçado, Drown tem muitas facetas, todas interessantes. A bonitinha e curta Minus serve de interlúdio e então temos a pesada Black Water Vision para encerrar o trabalho de forma mais direta.

Cartaz do Roadburn 2013
Saldo Final

O Royal Thunder faz de sua estréia uma excelente jornada pelo doom/Stoner e blues carregada de criatividade e altas doses de psicodelia. Os talentos de Josh Weaver como compositor e Mlny como vocalista são admiráveis, ainda mais se considerarmos que se trata de um começo e há ainda caminho a evoluir. Uma banda muito promissora e que merece a atenção que vem recebendo da mídia especializada lá fora.


NOTA – 9


Ficha Técnica

Banda (Nacionalidade): Royal Thunder (EUA)
Título (ano de lançamento): CVI (2012)

Mídia: CD

Gravadora: Relapse (Importado)
Faixas: 10
Duração: CD – 60’

Rotule como: Doom, Stoner, Blues Rock, Rock psicodélico
Indicado para: quem curte coisas estranhas e obscuras que se movem lentamente no fog
Passe longe se: você apreciar mais velocidade em seu rock.



6 comentários:

  1. Toca Raul! E Set THE Controls For The Heart Of The Sun...

    Mais não digo. Se VOCÊ não conhece a banda, eu então...

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    1. Fala, Krill
      Já reparei o Set THE Controls, hehehehehe
      Vale a pena dar uma escutada nessa banda, vá em frente.
      abraço
      T

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  2. Muito difícil eu gostar de coisas novas mas essa banda é muito boa!!!!!!!!!!!!!

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    1. Olá!
      Também me surpreendi bastante com a qualidade e personalidade da banda! Que venham mais lançamentos como esse.
      Abraço
      T

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  3. Respostas
    1. Aê, Pipi!!!!Você comentou mesmo, heheheh
      Viu, às vezes aparece uma banda nova boa, camarada!
      Grande abraço
      T

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