O Poder Biomecânico da Encarnação Francesa do Lendário
Monstro Japonês
Nasce Um Ativista
Joseph vivia uma infância feliz em Ondres, um vilarejo privilegiado no sudoeste da França. Lá Joseph e seus amigos podiam brincar em
um ambiente que misturava paisagens serranas com o mar. Um belo dia o pequeno infante, como sempre fazia, descia
correndo com os amigos um dos morrotes que davam acesso a praia. Chegando a
areia, se depararam com uma cena que marcaria a vida do garoto para sempre:
milhares de peixes dentre outros animais da fauna local jaziam mortos na praia.
Chegando a casa, o menino indagou aos pais o que causara tamanha destruição, ao
que foi então informado tratar-se de um grande navio carregado de produtos
químicos que soçobrara próximo a costa. Naquele dia então Joseph foi tomado por uma repentina raiva e pelo entendimento de
que era necessário que alguém gritasse em prol do meio ambiente.
Joseph Duplantier em ação |
Godzilla ou Gojira?
Bom, talvez Joseph “Joe” Duplantier tenha levado um pouco a sério demais o
“gritar” pelo meio ambiente: em 1996 tornava-se guitarrista e vocalista de uma
banda de metal ao lado de seu irmão, Mario
Duplantier. O nome da banda? Godzilla,
a personificação reptiliana dos poderes da mãe natureza contra os seres humanos
que vilipendiam o meio ambiente. Com esse nome gravaram algumas demos, até que,
por conta da existência de outra banda utilizando a marca, se estabeleceram com
o nome original em japonês para a criatura: Gojira.
Com o novo nome veio também o primeiro disco, Terra Incognita, de 2001, trazendo em
sua sonoridade uma mistura de Death Metal com elementos de diversos subestilos
do rock e metal, tudo numa roupagem moderna e diferente. Apesar da boa
receptividade deste e do seu sucessor, The
Link, a banda realmente ganharia o mundo com From Mars To Sirius (ver capa e vídeo para To Sirius), de 2005.
From Mars To Sirius - a baleia, para deleite do Sea Shepherd |
Dois
dos novos fãs angariados foram os irmãos Cavalera.
Sabedores da influência que o Sepultura
exerceu na formação sonora do Gojira,
os irmãos fizeram então um convite ao baixista da banda, Jean-Michel Labadie, para integrar seu novo projeto, que então
levava o nome Inflikted. Jean não pode se juntar ao projeto, e
então o convite foi estendido a Joe
Duplantier, que assumiu o baixo nas gravações do primeiro disco do já
renomeado Cavalera Conspiracy.
Cavalera Conspiracy com Joe ao fundo. |
O disco
seguinte, The Way Of All Flesh (2008),
obteve uma resposta ainda mais positivamente inflamada por parte da crítica, o
que trouxe ainda mais atenção à banda e proporcionou uma longa turnê. O sucesso
dessa turnê obrigou Joe a abandonar
o Cavalera Conspiracy. Dos registros
desta turnê nasceu o petardo The Flesh Live (ver vídeo).
Gojira e Sea Shepherd
Em meio à turnê para The Way Of All Flesh, a banda resolve
gravar um EP por um motivo pouco
usual:
Joe Duplantier faz parte da Sea
Shepherd Conservation Society (ver link abaixo), a controversa ONG capitaneada por um dissidente do Greenpeace (de que foi co-fundador), o Capitão Paul Watson (ver foto), e conhecida
pelos métodos pouco ortodoxos e algo agressivos utilizados no combate aos
navios pesqueiros e baleeiros. A admiração da equipe da ONG para com o Gojira e
seu engajamento à causa é tamanha que o Capitão
Watson resolveu homenagear a banda batizando seu barco mais veloz com seu nome. Em retribuição, o Gojira
resolve gravar o The Sea Shepherd EP,
com a participação de vários nomes da cena metálica mundial, todos simpáticos à
causa. Os nomes confirmados: Randy Blythe (Lamb Of God), Anders Fridén
(In Flames), Fredrik Thordendal (Meshuggah),
Max Cavalera e Devin Townsend. Os fundos levantados com a venda do EP seriam todos convertidos à ONG.
O tresloucado Capitão Watson |
Quis o acaso que as duas
empreitadas fracassassem. Como os Japoneses são os principais alvos da Sea Shepherd e Gojira é uma marca japonesa, o Governo Japonês contatou legalmente
a ONG para que mudasse o nome do
barco, que foi então rebatizado Brigit
Bardot. Já o EP, esse permanece
ainda sem ser acabado, fruto de um acidente quase irreparável com o HD que contém as gravações.
Da Morte ao Renascimento
Gojira 2012 |
O Disco
A faixa
título (ver vídeo) é igualmente única e pesada. Os riffs pouco usuais tem uma
explicação simples: Mario Duplantier,
que divide os créditos de composição com o irmão Joe, é quem traz boa parte das idéias musicais. Por ser um
baterista sem nenhum conhecimento prático de guitarra, os riffs criados devem
muito mais a parte rítmica que o normal. Mas o mais curioso é que o
estranhamento não torna a audição das músicas algo hermético. Há nelas um senso
melódico acima do normal para bandas extremas e não me surpreendo com o fato da
banda angariar fãs fora do circuito metálico.
The Axe, por exemplo, a despeito de sua introdução tipicamente Death metal, traz idéias que grudam na
cabeça. Aliás, é preciso deixar bem claro que a musicalidade absurda aqui
encontrada em nenhum momento descamba para o exibicionismo gratuito que
geralmente acomete as bandas de prog
metal. Joe e Christian Andreu são exímios
guitarristas, mas a força da dupla reside mais em despejar riffs estranhos e
memoráveis aos borbotões do que em fritar solos. Jean-Michel Labadie, quando se destaca é pela timbragem
diferenciada de seu baixo. E Mario
Duplantier, esse é uma máquina de tocar bateria digna de nota. O temor de
que a banda abrandaria seu som por ter assinado com a Roadrunner a essa altura já sumiu por completo.
The Gift Of Guilt (ver vídeo) levanta a bola e é uma das faixas
mais marcantes e prontamente acessíveis do disco, trazendo um clima pesadíssimo
e hipnótico de desolação que por vezes remete ao Killing Joke. Cabe destacar, além da musicalidade impressionante, a
produção perfeita ao encargo de Joe
Duplantier e Josh Wilbur (Lamb Of God).
A
afinação pouco usual escolhida pelo Gojira
para o disco fica ainda mais evidente na introdução da matadora Pain Is A Master, que passa de um limpo
dedilhado para uma pancadaria avassaladora com destaque absoluto para Mario. A introdução inventiva de Born In Winter nos apresenta ao momento
de maior calmaria no disco, com Joe
tentando a sorte em vocais declamados em algumas partes. A mecânica e sombria
The Fall encerra o disco com um clima épico e uma mensagem clara, All Dies Again. E o ciclo chega
novamente ao fim, para então poder haver um novo recomeço...
Gojira andando sobre a água nas páginas da Metal Hammer |
Saldo Final
Musicalidade sobre-humana, peso
absurdo, produção cuidadosa, ótimas letras e nenhum ponto negativo a ser
destacado.
Há algo mais a ser dito sobre L’Enfant Sauvage?
Sim, há. Talvez um ponto que
somente tenha me chamado a atenção ao elaborar essa resenha: a fluidez do
disco. Tal qual o monumental Leviathan,
clássico absoluto do Mastodon, a audição
de L’Enfant Sauvage imprime um ritmo
único e cada música faz sentido dentro do todo do conceito, ainda que não de
forma tão óbvia. Não, não existem temas que se repetem de tempos em tempos para
nos lembrar dessa unidade, as músicas apenas fazem sentido na ordem em que
aparecem, e assim criam um todo muito agradável aos ouvidos. E o resultado é
obtido de uma maneira sutil, já que as mesmas músicas podem ser apreciadas
individualmente sem nenhum problema. Essa coesão é extremamente rara, em
especial após o advento dos CDs e da disponibilidade de espaço proporcionada
por essa mídia.
Em suma, um disco único que pode
causar algum estranhamento a princípio, mas que é capaz de proporcionar uma
viagem e tanto para aquele que se dispuser a desbravá-lo. Se vai se tornar um
clássico, só o tempo dirá. Eu aposto que sim.
Ficha Técnica
Banda (Nacionalidade): Gojira (FRA)
Título (ano de lançamento): L’Enfant
Sauvage (2012)
Mídia: CD
Gravadora: Roadrunner (Importado)
Faixas: 11
Duração: CD – 52’
Rotule como: Prog Metal, Death
Metal, Progressive Death Metal, Metal Moderno
Indicado para: quem aprecia por vezes
algo exótico em seu prato
Só a título de curiosidade:
ResponderExcluirQuando me deparei pela primeira vez com um anúncio sobre esse disco, rapidamente li Elephant Savage como sendo o título e pensei - "que merda de nome idiota para um disco"
Isso só comprova minha teoria que um chimpanzé treinado daria um melhor Trevas que o original.
Abços
T
Give a monkey a brain, and he'll become a better human than anyone of us...
ExcluirE não vou comentar sobre a banda. Nada conheço dela.
krill
ExcluirFaça como eu então, invente um monte de besteira sobre a banda e finja que é verdade, hehehe
Abraço
T