Pelas Barbas do Profeta!
Texto: Trevas
Fotos do Show por David de Oliveira
Prólogo – Zakk, ontem e hoje
Numa chuvosa tarde de sábado me
encaminhei ao Vivo Rio para corrigir uma de minhas mais evidentes falhas
curriculares, assistir a um dos maiores guitarristas de Hard/ Heavy em todos os
tempos ao vivo.
Jeffery
Phillip Wiedlandt,
gerado em 1967, de fato nasceu para o mundo em 1987, quando já com o nome
artístico Zakk Wylde, substituiu Jake E. Lee na banda do Madman Ozzy Osbourne. O então magro e
alto rapaz loiro cravou ali o início de uma duradoura parceria com o comedor de
morcegos, tendo sido responsável pelo seu maior sucesso comercial, o disco No More Tears.
Zakk antes de comer espinafre e jogas as giletes fora, em 88 |
Compositor
prolífico, Zakk ocupou seu tempo
livre entre os espaçados discos com Ozzy
e respectivas turnês inicialmente com o Pride
And Glory, projeto de Southern Metal
que daria origem ao mais pesado e sujo Black
Label Society. Entretanto, com o crescimento desse projeto e aumento exponencial
da fama do guitarrista, sucesso esse ancorado em uma mistura de talento,
carisma e imagem forte, muitos começaram a perceber o óbvio: havia muito pouco
de Ozzy nas músicas de Ozzy (sempre foi assim, ora bolas). Some-se
a isso o fato de muitos moleques que pouco ou nada sabem (ou não se interessam
em saber) da importância histórica de Ozzy
para o metal irem aos shows mais para ver Zakk
em ação e tivemos então a escolha óbvia – Zakk
é convidado a se retirar da banda.
Muitas barbas e músculos depois |
Quanto
à minha falha curricular, já havia assistido ao Ozzy por duas vezes. Mas na primeira, em 1995, Joe Holmes (que tocara com Dave
Lee Roth) assumira as cordas no lugar do já prodigioso e ainda nada
anabolizado pupilo e na vez mais recente (esse ano) Gus G, outro prodígio, se adonara do mesmo posto. Dessa vez, tão
logo soube da apresentação no Rio de Janeiro, me apressei em garantir meu
ingresso.
Darwin projetando a evolução de Zakk? |
Tamuya Thrash Tribe
TTT - Futuro promissor |
Berserkers Movidos à Cerveja
Sem álcool
E apesar de toda a pancadaria
sonora, havia algo a mais no ar (ou a menos), um Zakk inicialmente menos comunicativo que o normal parecia refletir
o estado de espírito da equipe da banda, que segundo relatos não confirmados,
estaria com os nervos à flor da pele por conta dos problemas que levaram ao
cancelamento do show de Fortaleza e adiamento de outra data em Porto Alegre.
BLS detonando |
Muita
gente reclamou do set escolhido para a turnê atual, mas achei a seleção válida,
exceção feita à próxima da noite, Berserkers,
que considero uma das mais fracas da banda. Zakk começou a se soltar um pouco somente no hit Bleed For Me, incitando à platéia a
soltar o gogó com socos desferidos no ar. A partir desse gesto o show começou a
engrenar de vez. The Rose Petalled
Garden poderia ser considerada uma grata surpresa, se hoje em dia não fosse
tão fácil apagar surpresas consultando a internet antes de um show. Zakk senta frente a um teclado para
executar uma pequena peça que logo se torna a bela In This River, em uma rendição não muito feliz devido à combalida
voz do gigante. Mas há de ressaltar o espaço dado a Nick, que assume as guitarras por completo durante esse número, e a
homenagem à Dimebag Darrel, através
de duas imagens do falecido guitarrista do Pantera
estendidas sobre as paredes de amps.
Enquanto Madonna e Lady gaga trocam de figurinos durante o show... |
...Zakk troca de guitarras, cada uma mais animal que a outra... |
Forever Down faz a banda retomar o peso, seguida de um acapachante
momento solo de Zakk, onde ele
mostra com imensa facilidade que pode colocar quase todos os guitarristas que
um dia ousaram tocar heavy metal no bolso de uma de suas jaquetas de
motociclista. Não bastasse parecer o rebento da improvável união carnal de um
Viking com um urso Grizzly, Zakk tem
uma sonoridade e pegada únicos, unindo uma brutalidade impressionante com uma
técnica para lá de surreal. Sei que muita gente torce o nariz para a música do BLS, mas é inegável o talento de seu
mentor.
Mais uma do harém do homem urso |
Compensando o ritmo algo titubeante
da primeira metade da apresentação, a partir da boa Parade Of The Dead o que vimos foi um arregaço sonoro atrás do
outro: Overlord, Blessed Hellride, Suicide Messiah e as já clássicas Concret jungle (única coisa que presta no pavoroso Shot To Hell) e Stillborn, tocadas sem parar e com Zakk novamente empolgado, quase
fizeram o público esquecer a ausência de Fire It Up e do já costumeiro não
retorno da banda para a apresentação de um bis.
Saldo Final
Zakk Wylde é uma lenda, está cercado de bons músicos e possui em
seu catálogo um punhado de grandes hinos metálicos (isso ainda abrindo mão de
material valioso gravado com Ozzy, Pride And Glory e carreira solo). Uma pena
que o show demorou um pouco a engrenar e que o som nunca ficou realmente bom durante
todo o set.
De qualquer maneira, é um espetáculo
bastante indicado aos amantes de grandes riffs e solos e assistir a um dos
grandes guitarristas em todos os tempos deveria ser matéria obrigatória em
qualquer escola do rock que se preze.