Venha Sentar no Botequim do Alemão
Herman Ze German
Para quem não conhece, Herman Rarebell foi o baterista da era de maior sucesso comercial
do Scorpions, tendo tocado com os caras de 1977 a 1995. Não somente Herman marcou época como um dos
bateristas mais vigorosos do hard rock
nos anos 1980, como também ajudou a escrever vários dos clássicos da banda,
além de ter contribuído com muitas das letras por possuir um conhecimento de
inglês “menos ruim” que seus colegas de Hannover.
Herman Maltratando as Peles nos anos 1980 |
Pois
bem, ao final do ano passado, Herman
resolveu compartilhar suas memórias sobre esses anos junto ao Scorpions com o
mundo, com a ajuda de Michael Krikorian,
que além de jornalista é diretor da fundação Rock And Roll Remembers, criada para ajudar figuras públicas
outrora proeminentes na cena rocker
e que hoje passam por dificuldades.
O livro, originalmente lançado em
inglês, sob o título “And Speaking About
Scorpions...”, foi recentemente publicado pela Panda Books no Brasil, contando com uma boa tradução de Gus Monsanto (que é um tremendo
vocalista de metal) e notas na badana de capa e na contracapa escritas
respectivamente por Bruno Sutter (o
humorista e músico conhecido pelo personagem Detonator) e por Felipe
Machado (jornalista e guitarrista do Viper).
O prefácio fica por conta de Dieter
Dierks, o proverbial “sexto Scorpion”,
produtor que trabalhou com a banda em seu período mais prolífico.
Mas quem espera pela típica
biografia de astro do rock vai encontrar algo um pouco diferente nesse livro. A
narrativa é pouco linear e em muito se assemelha a uma conversa de bar, bem
informal, sem se preocupar muito com a exatidão e detalhes das histórias
contadas. Além do mais, fica evidente desde o início o egocentrismo de Herman, e pouco ou nada é exposto sobre
pensamentos, comportamentos e/ou histórias envolvendo outro membro da banda.
Herman nos dias de hoje |
E logo ficamos sabendo que Herman nasceu Erbel, mas que devido a uma incompreensível inaptidão dos ingleses
em pronunciar seu sobrenome corretamente, o Erbel virou Rarebell. E foi
na Inglaterra também onde Herman passou
a ser chamado Herman Ze German.
E que tal saber que Herman só foi fazer teste para a banda
quando ambos estavam na Inglaterra, por conta de um esbarrão casual em um pub
britânico com o maluco teutônico Michael
Schenker, irmão caçula de Rudolph
Schenker.
Outras curiosidades aparecem ao
longo do livro, como o surpreendente teor jovial da conversa da banda com Mikhail Gorbachev (que conhecia
bastante bem o material da banda) às vésperas de um dos pontos mais importantes
da história recente.
Scorpions e Gorbachev |
Mas grande parte do livro se
passa em devaneios de Herman Ze German
sobre a indústria musical, suas idiossincrasias e armadilhas, seja no terreno
das finanças, seja no pantanoso terreno das relações conjugais (e como as
mesmas são afetadas por esse meio). Herman
destila seu humor politicamente incorreto sobre esses pontos, além de dar
diversas dicas aos jovens músicos do que fazer e do que não fazer, sempre
exemplificando com seus próprios erros e acertos durante a carreira. E não
faltam também piadas sobre o bebum Pete
Way (baixista do UFO e
reconhecidamente um dos maiores junkies da indústria) e sobre a proficiência
oral das groupies americanas. Aliás, quem gosta de histórias sobre drogas e
devassidão, não deve ficar assanhado. Há até um capitulo inteiro sobre o
assunto, mas nada próximo do que pode ser encontrado em outras biografias do gênero,
afinal, o autor preferiu não expor nomes na maioria dos casos.
Reunião dos velhos escorpiões em 2006, Herman de vermelho |
Saldo Final
Apesar da queda em seus últimos
dois capítulos, a leitura em geral é bastante dinâmica e divertida, ainda que
seja carente em detalhes históricos.
Meu gosto pelas biografias
musicais se deve principalmente ao pano de fundo histórico que as mesmas
costumam trazer com maestria e onde aprendemos como os cenários político,
econômico e social modulam o surgimento
e morte de estilos e subestilos musicais. E não encontrei nada disso por aqui,
as referências históricas são mínimas e mesmo a citação a outras bandas e
músicos contemporâneos ocorre de forma esporádica e superficial (ah, há um
gratuito espancamento do Girlschool e
um tapa de luva de pelica no Bon Jovi).
Ou seja, um livro legal, com um
enfoque bem diferente do tradicionalmente encontrado em obras do gênero, mas
que fica muito longe de ser uma obra definitiva se seu objetivo for de fato
conhecer a história da maior banda de rock teutônica em todos os tempos.