sábado, 27 de outubro de 2012

Herman Rarebell - Scorpions – Minha História Em Uma das Maiores Bandas de Todos os Tempos (Livro - 2012)




Venha Sentar no Botequim do Alemão

Herman Ze German


Para quem não conhece, Herman Rarebell foi o baterista da era de maior sucesso comercial do Scorpions, tendo tocado com os caras de 1977 a 1995. Não somente Herman marcou época como um dos bateristas mais vigorosos do hard rock nos anos 1980, como também ajudou a escrever vários dos clássicos da banda, além de ter contribuído com muitas das letras por possuir um conhecimento de inglês “menos ruim” que seus colegas de Hannover.


Herman Maltratando as Peles nos anos 1980

Pois bem, ao final do ano passado, Herman resolveu compartilhar suas memórias sobre esses anos junto ao Scorpions com o mundo, com a ajuda de Michael Krikorian, que além de jornalista é diretor da fundação Rock And Roll Remembers, criada para ajudar figuras públicas outrora proeminentes na cena rocker e que hoje passam por dificuldades.



O livro, originalmente lançado em inglês, sob o título “And Speaking About Scorpions...”, foi recentemente publicado pela Panda Books no Brasil, contando com uma boa tradução de Gus Monsanto (que é um tremendo vocalista de metal) e notas na badana de capa e na contracapa escritas respectivamente por Bruno Sutter (o humorista e músico conhecido pelo personagem Detonator) e por Felipe Machado (jornalista e guitarrista do Viper). O prefácio fica por conta de Dieter Dierks, o proverbial “sexto Scorpion”, produtor que trabalhou com a banda em seu período mais prolífico.

Mas quem espera pela típica biografia de astro do rock vai encontrar algo um pouco diferente nesse livro. A narrativa é pouco linear e em muito se assemelha a uma conversa de bar, bem informal, sem se preocupar muito com a exatidão e detalhes das histórias contadas. Além do mais, fica evidente desde o início o egocentrismo de Herman, e pouco ou nada é exposto sobre pensamentos, comportamentos e/ou histórias envolvendo outro membro da banda.

Por outro lado, o que também fica bastante evidente é o senso de humor aguçado do baterista bonachão, tudo aqui é contado, ao menos na maior parte do livro, com uma leveza e descontração contagiantes. Em poucas páginas você quase acredita que pode pedir a nova rodada de cerveja alemã para curtir a conversa com seu mais novo amigo.

Herman nos dias de hoje
E logo ficamos sabendo que Herman nasceu Erbel, mas que devido a uma incompreensível inaptidão dos ingleses em pronunciar seu sobrenome corretamente, o Erbel virou Rarebell. E foi na Inglaterra também onde Herman passou a ser chamado Herman Ze German.

E que tal saber que Herman só foi fazer teste para a banda quando ambos estavam na Inglaterra, por conta de um esbarrão casual em um pub britânico com o maluco teutônico Michael Schenker, irmão caçula de Rudolph Schenker.

Outras curiosidades aparecem ao longo do livro, como o surpreendente teor jovial da conversa da banda com Mikhail Gorbachev (que conhecia bastante bem o material da banda) às vésperas de um dos pontos mais importantes da história recente.


Scorpions e Gorbachev

Mas grande parte do livro se passa em devaneios de Herman Ze German sobre a indústria musical, suas idiossincrasias e armadilhas, seja no terreno das finanças, seja no pantanoso terreno das relações conjugais (e como as mesmas são afetadas por esse meio). Herman destila seu humor politicamente incorreto sobre esses pontos, além de dar diversas dicas aos jovens músicos do que fazer e do que não fazer, sempre exemplificando com seus próprios erros e acertos durante a carreira. E não faltam também piadas sobre o bebum Pete Way (baixista do UFO e reconhecidamente um dos maiores junkies da indústria) e sobre a proficiência oral das groupies americanas. Aliás, quem gosta de histórias sobre drogas e devassidão, não deve ficar assanhado. Há até um capitulo inteiro sobre o assunto, mas nada próximo do que pode ser encontrado em outras biografias do gênero, afinal, o autor preferiu não expor nomes na maioria dos casos.

Só que em sua reta final o baterista estraga toda a leveza do papo de botequim, como aquele bêbado que passou um pouco demais da conta, começando a ficar inconveniente. E então, com um amargor muito mal escondido em relação a sua saída da banda, passa a atacar com acusações de ganância e traição Klaus e Rudolph, a quem dizia parágrafos antes amar como irmãos, pontuando os ataques com requintes de egocentrismo, já que afirma que a banda após sua saída não emplacou mais nenhum hit, o que talvez diga algo sobre a sua real importância na história dos Scorpions.

Reunião dos velhos escorpiões em 2006, Herman de vermelho

Saldo Final

Apesar da queda em seus últimos dois capítulos, a leitura em geral é bastante dinâmica e divertida, ainda que seja carente em detalhes históricos.

Meu gosto pelas biografias musicais se deve principalmente ao pano de fundo histórico que as mesmas costumam trazer com maestria e onde aprendemos como os cenários político, econômico e social  modulam o surgimento e morte de estilos e subestilos musicais. E não encontrei nada disso por aqui, as referências históricas são mínimas e mesmo a citação a outras bandas e músicos contemporâneos ocorre de forma esporádica e superficial (ah, há um gratuito espancamento do Girlschool e um tapa de luva de pelica no Bon Jovi).

Ou seja, um livro legal, com um enfoque bem diferente do tradicionalmente encontrado em obras do gênero, mas que fica muito longe de ser uma obra definitiva se seu objetivo for de fato conhecer a história da maior banda de rock teutônica em todos os tempos.


NOTA: 6,5

Ficha Técnica

Título: Scorpions – Minha História Em Uma das Maiores Bandas de Todos os Tempos.

Título original: And Speaking Of Scorpions...

Autor: Herman Rarebell, com Michael Krikorian

Ano: 2012

Tradução: Gus Monsanto

Páginas: 280

Lançamento nacional Panda Books, selo da Editora Original Ltda

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Os Bastardos da Besta: Primal Rock Rebellion - Awoken Broken x Steve Harris - British Lion (CD - 2012)




Os Bastardos da Besta

A Donzela e Eu

Pouco mais de 20 anos se passaram desde que adquiri meu primeiro LP de Heavy Metal (some mais uns 5 anos se falarmos de rock em geral). Nesse espaço de tempo tive várias bandas favoritas – Black Sabbath, Deep Purple, Rainbow, Thin Lizzy, UFO, Judas Priest, Savatage, Testament, Nevermore...a lista é extensa, pois passado um período xiita, sempre procurei conhecer mais e mais bandas...

Mas nenhuma banda ocupou por mais tempo ou com igual intensidade meu carcomido cérebro com suas músicas do que o Iron Maiden. Sim, clichê dos clichês, eu sei. Geralmente se não é a Donzela é o Metallica (de quem nunca fui grande fã) quem causa esse tipo de efeito em novos Headbangers.


Eu ainda escutava Plunct Plact Zum, mas já era vidrado nessa capa!


No auge de meu fanatismo fui incapaz de aceitar que a Donzela pudesse produzir uma música ruim (talvez meus ouvidos ainda em desenvolvimento não captassem as ondas de Quest For Fire, Gangland, Mother Russia, The Assassin ou porcarias afins...). Ai de quem tentasse discutir isso comigo, de Beatles a Jota Cristo, ninguém podia com Eddie e seus pupilos...ao menos para mim.

Cheguei ao ponto de sair às ruas debaixo de uma chuva torrencial e com febre de 39 graus para outro bairro, de busum, só para comprar minha cópia do X Factor no dia em que chegou às lojas...só fui lembrar da febre depois de rodar a bolachinha umas 3 vezes seguidas, já em casa...


O tempo passou, conheci outras centenas de bandas e milhares de discos e obviamente minha visão sobre a banda mudou bastante. Mas ainda assim, embora já não escute mais os discos da besta com freqüência (afinal, as “partituras-letras-capas-e-coisas-escondidas-nas-capas- agradecimentos-dos-encartes” estão gravadas nos meus 2 neurônios catalépticos, obstruindo algum conhecimento mais importante, provavelmente) ainda tenho pelo Iron um certo carinho.



A Donzela Enferrujada

Mas o tempo foi cruel para a banda...Após um período conturbado sob a batuta de Blaze Bayley (acho o X factor muito bom, mas Virtual XI é um lixo comparável ao St Anger), o mundo metálico recebeu com inominável alegria o retorno de Bruce Dickinson e Adrian Smith à banda.


Veio o bom Brave New World (com alguns clássicos disputando espaço com encheção de lingüiça de terceira), mas daí para frente foi uma decepção atrás da outra, culminando com o fraquíssimo The Final Frontier...


The Final Frontier - Acredite, a capa é melhor que o conteúdo...


A empolgação (ou falta de) da banda no palco (ambiente onde outrora fora imbatível) mostrava claramente que alguma mudança precisava vir.

Só não fazia idéia que essa mudança de ares viria sobre a forma de projetos solo de dois membros da banda, produzidos sem muito alarde até a data de lançamento. E na verdade o mais surpreendente é que não se trata de mais um lançamento do workaholic Dickinson e sim de Adrian Smith (que não trabalhava solo desde o fracasso do Psycho Motel) e de, pasmem, Steve Harris, que nunca havia sequer citado essa possibilidade em nenhum ponto de sua carreira.


Aqui então irei tentar dissecar os dois lançamentos, ponto a ponto:



Nomes e Arte Gráfica


Vá lá, Adrian Smith se escondeu atrás de um nome interessante - Primal Rock Rebellion, provavelmente para não dar muita esperança ao típico fã xiita da donzela de que se trata de algo parecido com o som do Iron.


Primal Rock Rebellion - Awoken Broken

Steve Harris colocou seu nomão à tapa, ainda que em termos de composição seu projeto funcione como uma banda, nada da suposta tirania de Harris aqui...

Steve Harris - British Lion
Bom, sou do tempo em que ainda se dava valor à arte de capa de um LP/CD, mas talvez isso soe datado atualmente. As capas são interessantes, cada qual a seu estilo, seja o dark caótico de Primal Rock Rebellion, seja o Leão classudo de Steve Harris. Os encartes também são bacanas, mas o conceito gráfico de PRR é mais criativo.

Origens e Membros


Projetos com Adrian Smith não são uma novidade. O guitarrista já havia tentado a sorte com o natimorto ASAP (Adrian Smith And Project – ver foto) e com o Psycho Motel (com dois discos). Ambos um tremendo fracasso comercial e razoável sucesso de crítica. O Psycho Motel (ver vídeo) até contava com um bom apoio da Castle, mas a gravadora entrou em colapso logo após o segundo disco dos caras e com ela se foi a banda.


ASAP - Ataque dos Mullets Assassinos



A nova empreita de Mr. Smith surgiu de um encontro casual do guitarrista com o vocalista Mikee Goodman, após Adrian ter assistido um show de sua banda, o SikTh. Impressionado com a sonoridade pesada e experimental da banda, e mais ainda com a performance que beirava a esquizofrenia de Mikee, Adrian começou uma troca de idéias musicais que amadureceu durante dois anos até tomar a forma de um EP de quatro faixas. A receptividade do material por parte da gravadora foi surpreendente e logo a dupla foi intimada a compor mais material, para lançamento de um álbum completo. Além de Mikee e Adrian (que gravou guitarras, baixo e backing vocals) o PRR traz o ex-SikTh Dan Foord na bateria. Cabe ressaltar que afora duas músicas que já foram entregues a Mikee prontas (Savage World e Search For Bliss), o restante foi composto em conjunto pela dupla. A bolachinha Awoken Broken também contou com a dupla na produção.

Reunião do AA? Primal Rock Rebellion
Steve Harris jamais havia posto algo que não levasse a chancela do Maiden na rua. Seu projeto nasceu quando ele resolveu adotar uma banda, o British Lion, emprestando seus conhecimentos no ramo para auxiliar o gerenciamento da carreira dos caras. A banda acabou se dissolvendo, mas a amizade tornou-se forte e Steve achou então que era chegada a hora de tentar algo fora do seu porto seguro, convocando seus agora amigos e se aventurando a compor no estilo do British lion, um hard rock moderno e melodioso. Os companheiros de banda são Richard Taylor (voz), David Hawkins (guitarras e teclados), Grahame Leslie (guitarras) e Simon Dawson (bateria). As composições trazem parcerias do veterano com todos da banda, segundo Mr. Harris, apesar de sua fama de tirano ele só sé sente confortável compondo como um grupo coeso. Em homenagem à finada banda que deu origem a empreitada, o disco foi batizado British Lion. A produção de British Lion ficou sob a batuta de Steve Harris, com mixagem ao encargo do arroz de festa Sul Africano Kevin Shirley.

Steve e seus pupilos

Músicas

Se existem coincidências na forma casual como os dois projetos tomaram forma, o mesmo não pode ser dito sobre a sonoridade encontradas aqui. Enquanto o PRR destila uma pancada atrás da outra de um metal moderno e algo experimental, ainda que grudento de uma maneira estranha, o BL simplesmente afunda num hard moderno melecoso e absolutamente genérico.


Basta escutar a ferocidade da dupla de abertura do PRR, as estranhas e ótimas No Friendly Neighbour e No Place Like Home (ver vídeos), com vocais esquizofrênicos e poderosos de Mikee (que pela primeira vez cantou linhas não extremas) e comparar com a falta de potássio da faixa de abertura de BL, o single This Is My God, com o vocal choroso e sem potássio de Richard Taylor para sabermos quem leva a melhor de cara.






Obviamente não se trata de competição e minha torcida foi que os dois trabalhos fossem merecedores da expectativa que criaram. Mas se o nível de PRR raramente cai, com músicas que exalam criatividade, seja nas porradas Savage World, Search For Bliss e White Sheet Robes, seja nas mais calmas Tortured Tone (ver vídeo) e Mirror And The Moon (com traços de Led Zeppelin e The Cult), o mesmo não pode ser dito de BL.


As chorosas A World Without Heaven e Lost Worlds  tentam ser grudentas mas não emplacam, a tão propalada influência de UFO e Thin Lizzy dá as caras de longe (beeeem de longe) em The Chosen Ones e na alegrinha These Are The Hands, sem que nenhuma delas chame muito a atenção. E até as músicas mais promissoras e pesadas, Karma Killer e Judas se perdem nos vocais absolutamente corretinhos demais e sem pegada de Mr. Taylor. Além dessas duas últimas, destacaria também Us Against The World, ainda que sem muita convicção.




E a sova aqui pode ser estendida ao ramo da produção: enquanto Awoken Broken estoura os alto falantes com uma sonoridade pesada e moderna, sem que a porradaria se confunda com cacofonia, o British Lion soa polido demais e sem peso. Nenhuma novidade, tendo em vista que Steve Harris nunca havia acertado a mão como produtor antes, mas creio que essa falta de punch, somada ao estilo do vocalista (que não se encaixa muito na proposta da banda) tenha acabado com as chances de uma boa estréia por parte do veterano baixista.
Para não dizer que tudo são flores no front PRR, os vocais de Mikee Goodman são estranhos e podem não cair bem de primeira em ouvidos mais tradicionais. E por vezes a esquizofrenia de Awoken Broken (vide a faixa título e a intro As Tears Come Falling From The Sky) pode cansar.

Em relação aos traços Maidenianos, estes são muito melhor notados em British Lion, ainda que de forma homeopática (mais forte em Us Against The World) e mais relacionados a algumas linhas de baixo típicas de Mr. Harris. Já em Awoken Broken, raros são os momentos que podem ser relacionados a qualquer coisa em que Adrian Smith tenha colocado suas guitarras a serviço antes.

Sobre o futuro, Adrian Smith diz que trabalharia em outro projeto com Mikee, que além de ser seu amigo, mora próximo ao guitarrista, se a oportunidade e tempo permitirem. Entretanto, seus planos solo futuros estariam mais ligados ao lançamento de um disco instrumental (voltado ao metal) e outro a ser composto para outro vocalista com estilo diferente. Não há possibilidade de vermos o PRR ao vivo, ou ao menos não há planos para tal.


Steve Harris mostrou-se feliz com o resultado de BL, embora também esteja bastante reticente à idéia de colocar a banda na estrada. Sobre novos lançamentos solo, aparentemente haverá mais algum, mas somente após o futuro lançamento do Iron e sua turnê, ou seja, nada antes de 2015.




Receptividade

A Metal Hammer UK saudou Awoken Broken como um disco daqueles que você tem que escutar em 2012. As boas resenhas se estenderam à Classic Rock, Kerrang, Metal Hammer GR e Rolling Stone. Todos citam a modernidade e versatilidade do trabalho e alguns encontraram referências ao Tool e às maluquices do Devin Townsend.


Já o British Lion teve uma recepção menos calorosa. Curiosamente foi a imprensa inglesa, cuja animosidade com Harris já fez com que o mesmo compusesse Virus em “homenagem”, foi a mais complacente. A Classic Rock tascou um honroso 7 para a bolacha, e a Kerrang e a Metal Hammer Uk foram ainda mais longe, dando a mesma nota que deram ao PRR. Já fora do país, o disco se não foi linchado, chegou perto disso. A All Music chamou as músicas de esquecíveis e clichê, o Drowned In Sound execrou o vocalista, a Record Collector também achou o disco longe de ser memorável (embora também longe de ser um lixo) e a About.com criticou a quantidade de encheção de lingüiça na bolacha.
Em termos de vendagem, aparentemente nenhum dos dois mereceu grande atenção, com vantagem para o British Lion, até por trazer explicitamente a chancela de Steve Harris na capa.


Saldo Final

Temos em mãos dois discos tão diversos entre si quanto o são do Iron Maiden. E acredito que isso seja um ponto para lá de positivo.

Mas enquanto o Primal Rock Rebellion prima por algo novo e talvez mais difícil a um primeiro contato, mas com muito peso, o British Lion pisa em terreno bastante mais manjado, apostando com tudo no tino comercial de suas composições, mas sem nunca acertar ao alvo.

No final das contas o PRR com seu Awoken Broken se mostrou uma tremenda surpresa, um disco que cresce a cada audição. Já o primeiro tento de Steve Harris, esse não chega a ser um desastre, é bem feitinho e correto, mas escutá-lo de ponta a ponta sem se distrair com qualquer outra coisa não é uma tarefa das mais fáceis. Em suma, um forte candidato a catador de poeira (ou a arquivo a ser apagado do HD para ganhar espaço) em sua coleção.


NOTAS:

Primal Rock Rebellion – Awoken Broken – 8


Steve Harris – British Lion – 6


Ficha Técnica

Banda (Nacionalidade): Primal Rock Rebellion (ING)

Título (ano de lançamento): Awoken Broken (2012)

Mídia: CD (CD)

Gravadora: Hellion Records (Nacional)
Faixas: 12
Duração: CD – 53’

Rotule como: Heavy Metal, Metal Alternativo, Metal de Vanguarda, Prog Metal

Indicado para: Fãs de Metal Moderno com muita mistura de subestilos

Passe longe se: Modernidade não for o seu forte


Banda (Nacionalidade): Steve Harris (ING)

Título (ano de lançamento): British Lion (2012)

Mídia: CD (CD)
Gravadora: EMI (Nacional)
Faixas: 10
Duração: CD – 52’

Rotule como: Hard Rock Moderno, Melodic Hard Rock, Rock Alternativo Atual

Indicado para: Apenas para colecionadores completistas e curiosos

Passe longe se: Preferir um pouco de potássio no seu rock

sábado, 20 de outubro de 2012

Slash - Apocalyptic Love (CD - 2012)




Tirando Mais Um Coelho da Cartola

Escola, armas e rosas

Eu ainda não era um aficionado por Heavy Metal ou Hard Rock...

Simple Minds, U2, Depeche Mode davam o tom da minha curta coleção de bolachões de vinil...e recém havia “descoberto” minhas duas novas paixões, o Queen (desde os 6 anos de idade eu ficava vidrado na capa do News Of The World toda vez que visitávamos meu tio em São Paulo) e os Ramones...

E de repente, via meninas que mal haviam parado de cantarolar Vou de Táxi exibindo gloriosamente posters de uma nova banda...os caras se vestiam de uma maneira ridícula e o vocalista, um ruivo escrotérrimo, posava com batom na boca e uma porra de short de lycra que compilava tudo de ruim que os anos 1980 representaram...


A banda, o Guns And Roses, havia acabado de estourar ao grande público com o lançamento de Lies (lá fora foi o Appetite For Destruction que começara a moda um pouco antes, mas lembrem-se, era a época pré-internet e a coisa só explodiu mesmo por aqui com a balada Patience...)




GNR - não, eu nunca tive Paciência com eles, ugh...



Foi ódio a primeira vista: a atitude programada, o visual pensado e vendido em tudo o que era lugar e a voz mais irritante que já ouvi na minha vida...definitivamente o GNR representava tudo o que eu sabia não querer numa banda, embora eu ainda não soubesse porra nenhuma.

Bom, pouco tempo depois um estalo no meu cérebro fez do Iron Maiden (que eu conhecia já tinha tempo, meu melhor amigo era viciado nisso) minha banda favorita e então comecei a minha busca pelas origens (sob a figura de Black Sabbath, Deep Purple, Rainbow, Led...). me tornei um headbanger xiita e oficializei meu ódio pelo Axilas Rosas e sua trupe.

Os tempos mudaram, a babaquice preconceituosa morreu com o fim da adolescência, mas uma coisa continua até os dias de hoje – Axel Rose é minha figura desfavorita em toda a história do rock e sua voz (ou falta de, atualmente) fazem minha bolsa escrotal inflar até virar um puff.



O Enigmático Cara da Cartola

Bom, mas nunca consegui ter o mesmo sentimento pelo enigmático cara da cartola, o tal de Slash.


Alguém sabe de fato como é o rosto do Slash?



Nascido Saul Hudson em 1965, na Inglaterra, Slash comeu o pão que o diabo amassou após deixar (ou ser deixado?) o GNR. Já o guitarrista mais incensado daquela época, toda a pompa que envolvia seu nome (até Michael Jackson o adotou) não foi capaz de tornar as coisas fáceis.

Lembro-me que seu Slash’s Snakepit segurou o recorde de publico negativo do falecido Metropolitan (atualmente Citibank Hall), pouco mais de 150 testemunhas viram seu show em 1995.


Snakepit - derrota comercial total...



E convenhamos, nem toda a propaganda do mundo faz daquele bando chamado Velvet Revolver (que parecia mais uma juntada de xepa da feira) uma boa banda. Apesar dos milhões gastos para promover o suposto supergrupo, o retorno foi pífio (mais ou menos como aconteceu com o Audioslave).

Não dei bola para nenhuma das duas empreitadas. Na verdade, você deve estar se perguntando por que diabos então estou fazendo essa resenha.

Bom, acompanhei com curiosidade a notícia sobre o primeiro cd solo do Slash, pois ele viria recheado de bons vocalistas convidados (Beth Hart, Alice Cooper, Chris Cornell, Ian Astbury, Iggy Pop e inicialmente se falava até em Meat Loaf). Mas não escutei o disco quando este saiu.


Primeirão Solo (2010)


Eis que começo a ouvir pessoas que, como eu, não curtem ou curtiram o GNR falando muito bem da nova empreitada do cabra da cartola.

E então o cara acabara de soltar ApocalYptic Love, resolvi dar uma chance....e lá vamos nós:


WOW, riff animal...MYLES que PORRA é ESSA????

Ainda estava curtindo a arte de capa quando um ótimo riff carregado de wah-wah inicia a bolachinha...abri um sorriso e então entra uma voz que parece saída do cu de um pato que engoliu um pedal de wah-wah. QUE PORRA É ESSA?????

Ah, sim, é um tal de Myles Kennedy. Curiosamente já ouvira falar, o cara começou como guitarrista e fez fama como vocalista do Alter Bridge, que nada mais é que o restante do Creed com Myles cantando...não, não conhecia  a banda, não me arriscaria com nada que, mesmo em nonagésimo grau tivesse alguma relação como Creed (provavelmente a banda mais chata a surgir na última década depois do Nickelback).


Myles Kennedy sofre com meu julgamento precoce


Myles usa sua voz de pato na segunda e matadora One Last Thrill (ver abaixo) e já sei que não irei gostar do que escuto no restante do disco. O cara me soava tão chato que tive que pesquisar o porque Malmsteen e Michael Schenker nunca o tinham recrutado antes.

Estou reportando aqui meu primeiro contato com o cara. Após escutar o disco várias vezes e conhecer o Alter Bridge (Jesus como toca o tal Mark Tremonti, quase o perdoei pelo Creed...quae!), acabei me acostumando com Myles Kennedy. Aliás, o cara também toca guitarra muito bem.


Voltando ao Disco

Standing in The Sun mantém o ótimo pique inicial e logo em seguida somos apresentados ao primeiro single, You’re A Lie (ver vídeo), bem bacana também, com seus licks de guitarra que flertam com o metal.




Slash se destaca em todas as faixas. Seu estilo está muito mais próximo dos guitar heroes da década de 1970 do que de seus contemporâneos e do virtuosismo estéril dos anos 1980. Seus solos e timbres estão sempre carregados de personalidade e não há um riff no disco todo que possa ser jogado fora. Tiro minha cartola para o cara, mesmo que com muito atraso.

O restante da banda, intitulada The Conspirators, traz músicos bastante competentes. O multiinstrumentista (que aqui cuida em maior grau da bateria) Canadense Brent Fitz já tocou com gente como Alice Cooper e Vince Neil. O também canadense Todd Kerns (Age Of Electrics) é responsável pelo baixo e backing vovals

Ah, e Myles, a quem achincalhei logo ali em cima, além de gastar o gogó e tocar guitarra é o principal responsável pelas composições. Slash admitiu recentemente à Classic Rock que sempre teve problemas para compor algo além de riffs (o que explica em parte seu fracasso em empreitadas anteriores) e que trabalhar com o criativo Myles estava ensinando muito a ele.


Slash, Myles and The Conspirators - 2012

No More Heroes (ver vídeo) é radiofônica e tem um refrão legal e grudento. Halo tem seu riff chupado de Assault Attack do Michael Schenker Group e possui uma das linhas de voz mais irritantes do disco. We Will Roam é outra que pode tocar nas rádios com tranqüilidade, mas não empolga muito.




A bela Anastasia é certamente um dos destaques do disco, nela Slash dá um show de grandes solos e Myles mostra que consegue cantar muito bem sem o Wah-wah do cu do pato. A balada anti drogas Not For Me é chatinha mas logo temos a ótima Bad Rain (ver vídeo) para compensar, com excelente performance de Mr. Kennedy. Aliás, essa faixa me lembrou muito o também excelente finado Badlands, com Myles soando um bocado como Ray Gillen.




Hard & Fast traz um riff empolgante e vintage e um refrão legal e descompromissado. Far And Away é uma balada razoável com muita cara de anos 1970 com destaque para a bela interpretação de Myles. E o disco chega ao fim com uma de suas melhores faixas, Shots Fired, uma porrada rock and roll contagiante.



Saldo Final

Com uma banda boa e coesa, composições em sua maioria bem feitas, um vocalista com personalidade (ainda que não tenha me descido a principio), o feioso da cartola não tinha como errar. Apocalyptic Love está longe de ser perfeito, mas possui um ritmo acelerado que não cansa e é certamente um disco a ser conferido por todos aqueles que curtem um hard rock bem feito. Uma grata surpresa.

Ah, a banda tocará no Brasil em novembro, na Rio o show será na Fundição Progresso, dia 2.


NOTA: 8

Edição Limitada

Apocalyptic Love foi lançado no Brasil em duas edições, a comum, aqui resenhada e uma edição dupla limitada.
Essa edição limitada vem com duas faixas bônus e um DVD contendo Making Off do disco.


Ficha Técnica

Banda (Nacionalidade): Slash (EUA/ING)

Título (ano de lançamento): Apocalyptic Love (2012)

Mídia: CD (CD)

Gravadora: Hellion Records (Nacional)

Faixas: 13

Duração: CD – 54’

Rotule como: Hard Rock

Indicado para: Fãs de Hard Rock, em especial do Badlands
Passe longe se: Não tiver paciência para vocais esganiçados