Hisingen Blues (2011) |
SERIAM OS SUECOS VIAJANTES DO
TEMPO?
Por Trevas
Prólogo - uma peregrinação
qualquer pela galeria do rock carioca
Como de costume, toda vez que
passo pelo Rio de Janeiro, obrigatoriamente visito as lojas de cds da galeria
Vitrine da Tijuca, que proverbialmente chamamos de “galeria do rock carioca”.
Geralmente o faço sem um alvo específico, somente para verificar os lançamentos
e garimpar uma boa oferta. Estou em uma das lojas, garimpando a seção reservada
ao rock dos anos 1960/1970. O vendedor, sempre muito simpático e sabedor de
minha preferência pelo rock setentista, me pergunta, acenando para a capa de um
disco exposto na parede da loja:
“já ouviu Graveyard?”
O disco está no meio de outros
tantos de bandas rotuladas como “stoner”. Não tão simpaticamente, torço o nariz
e digo que não conheço. O vendedor, relevando minha tacanha evolução
espiritual, coloca o cd para rolar no som mecânico da loja. Finjo não me
importar e continuo minha misantrópica ação quase ritualística de revirar os
cds em busca de algum santo graal, ou de algo em bom preço, o que viesse
primeiro.
Mas não pude ignorar o que se
passou em seguida: uma virada de bateria e um riff nervoso de uma guitarra que
parecia ter sido timbrada por uma versão lisérgica do espírito de Paul Kossoff.
Uma voz ao mesmo tempo roufenha, despreocupada e cheia de feeling berrando como
se Rusty Day tivesse levantado de sua tumba. Quase pude sentir calças
boca-de-sino materializando-se sobre minha bermuda e um par de suíças se instalando
em minha face. Os cds viram vinil e sei lá porque, tenho certeza que um pacote
de haxixe apareceu em meu bolso. “Que diabos está acontecendo”, pensei – era apenas
o Graveyard, a máquina do tempo sueca fazendo uma nova vítima!
Graveyard - até os caras parecem saídos do túnel do tempo |
Background – o retrô rock sueco
Após a invasão do chamado “Gothenburg
Sound”, ou como alguns gostam de dizer – a merda da moda do death metal
melódico, que tomou a Suécia nos anos 1990 até meados dos anos 2000, o país escandinavo
entrou num novo movimento. Dezenas de bandas praticando um som vintage, baseado
no psicodelismo, timbres e liberdade musical do início dos anos 1970.
Talvez o pioneiro desse movimento
seja o Spiritual Beggars (de Michael Ammot, do Carcass e atualmente Arch
Enemy), mas podemos citar também os Hellacopters além da nova safra: Horisont,
Truckfighters, Asteroid, Demon Cleaner e em alguns pontos, o próprio Grand
Magus.
O Graveyard surgiu de uma
derivação de parte da formação do folk/doom do Witchcraft, mais precisamente em
2006. Seu primeiro disco, homônimo, foi lançado em 2007, pela TeePee Records,
logo chamando atenção da Nuclear Blast. Não foi só a Nuclear Blast que teve sua
atenção voltada ao Graveyard. David Fricke, editor sênior da Rolling Stone,
colocou os suecos em sua coluna “Fricke’s Pick”, destinada a revelar pérolas
musicais escondidas por aí (ver link abaixo). Fricke também teve a experiência
de transporte temporal com a banda, no caso dele, foi carregado direto para os
banhos de lama do Glastonbury Festival de 1970 – só que sem a lama!
Capa do Primeiro Disco |
Finalmente, Hisingen Blues
Hisingen Blues toma nossos
ouvidos de assalto logo em seus primeiros instantes, com a urgência de “Aint
Fit To Live Here”, uma de suas melhores faixas. A sonoridade é vintage até a
medula. Mas nada soa forçado ou fake. O disco segue com um nível elevadíssimo
de qualidade e a banda trabalha muito bem com a dinâmica barulho/calmaria, como
uma versão lisérgica e entupida de esteroides do Free. Ecos de Led Zeppelin,
Cactus e Black Sabbath podem ser encontrados aqui e ali, mas nada que possa ser
considerado meramente cópia.
Embora todas as músicas sejam
dignas de nota, a faixa título se destaca, em conjunto com “The Siren”, um
blues rock fantasmagórico, a faixa de abertura citada anteriormente e a
instrumental “The Longing”, que é provavelmente a melhor composição que Enio
Morricone nunca escreveu, digna da trilha sonora de algum Western empoeirado. Algumas
versões ainda incluem a faixa bônus “Cooking Brew”, que poderia muito bem estar
no repertório oficial do álbum.
Clipe da Faixa Título
Saldo final
Talvez o grande trunfo do
Graveyard seja que, ao contrário da maioria das bandas retrô-rock ou stoner, não
soa como alguém emulando desesperadamente os anos 1970. A banda soa EXATAMENTE
como se fosse alguma pérola obscura produzida no período e que por algum motivo
ainda mais obscuro, tivesse permanecida escondida até que algum colecionador
sortudo tivesse redescoberto a bolachinha.
Some a excelência musical da
bolachinha com a bela arte de capa, um raro caso de ilustração criativa nos
tempos atuais, e temos um lançamento imperdível.
Cabe ressaltar que a bolachinha
foi recentemente lançada no mercado nacional, pela Hellion Records.
NOTA - 9
Curiosidade
O estranho nome do disco faz
menção apenas ao fato de sua faixa título ter sido composta em uma noite fria
num quarto de hotel da ilha sueca de Hisingen.
Ficha Técnica
Banda: Graveyard
Título (ano de lançamento):
Hisingen Blues (2011)
Mídia: CD
Faixas: 9 (10 em algumas versões)
Rotule como: Classic rock, Heavy Rock, Hard
Rock, Stoner
Indicado para: Fãs de Led
Zeppelin, Black Sabbath, Cactus, Free e bandas setentistas em geral.
Passe longe se: seu negócio for
coisas modernas e/ou modernosas (ou se tiver alergia a pó).
A minha sorte que conheço várias relíquias através do maridinho, adorei a resenha de hj, muito divertida!!! *__*
ResponderExcluirValeu, pequena. Te amo
ExcluirBjos
T
muito louca essa banda!
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