quinta-feira, 7 de junho de 2012

Dia 01 - Joe Bonamassa (Teatro Coliseo, Buenos Aires)


Caros Amigos (as)
Retorno ao mundo dos blogs, para escrever sobre a coisa que mais gosto, o bom e velho rock and roll. Não o faço porque acredito escrever bem - meu estilo literário é semi-aborígene. Não o faço por exibicionismo. Faço por simplesmente adorar escutar, ler e assistir tudo sobre música e sei que, assim como eu, existem outros malucos por aí. Malucos(as) que tem prazer em destrinchar as histórias que permeiam a trilha sonora que escolhemos para nossas vidas. E quantas histórias interessantes se escondem em cada esquina desse vasto mundo do rock!
Vocês encontrarão por aqui resenhas de shows, discos, livros, dvds (blu-rays) e notícias sobre o mundo do rock. Tudo obviamente passando pelo meu filtro, mas sem nenhuma intenção de polemizar pelo simples prazer de polemizar. Sempre que puder, colocarei as referências de onde tiro as informações, para que possam ler as matérias originais, pois não há nada pior do que as lendas urbanas que a internet fomenta. E o rock está cheio de lendas urbanas.
Espero que vocês gostem e visitem sempre ou eventualmente. Eu, certamente, me divertirei muito escrevendo aqui.
Começo com a resenha do show do Joe Bonamassa, que tive o prazer de assistir com minha noiva em nossa viagem para Buenos Aires. Por motivos pessoais, esse show foi bem marcante. Mas irei despir minha resenha disso e fazer ainda uma breve introdução sobre a história do artista, que considero um dos mais interessantes da nova safra.
Abraços
Renato “Trevas”

Joe Bonamassa - Teatro Coliseo (Buenos Aires) - 29.05.12

Prólogo - uma noite qualquer na capital Porteña
O início de noite em Buenos Aires se mostra frio, temperado com ventos daqueles de açoitar as poucas partes do corpo desprotegidas. O Teatro Coliseo fica a menos de sete quadras de nosso hotel, praticamente na esquina da Rua Marcelo T de Alvear com a imensa Avenida 9 de Julio, a monstruosa avenida que corta o centro da cidade Portenha.
Com sua fachada voltada para a Plaza Libertad, arborizada e simpática durante o dia, lúgubre durante a noite, o Teatro Coliseo não tem aparentemente nada que o diferencie de outros 789 teatros de médio e grande porte situados no centro da cidade de Buenos Aires. O neon verde aceso e a pequena concentração de pessoas em sua porta são os sinais de que algo tomaria lugar ali, mas não há pôster ou qualquer indicação de que seria o show do outrora garoto prodígio “Smokin’” Joe Bonamassa.

Quem diabos é Joe Bonamassa?

                                                  Joe Bonamassa e BB King, 1989

Nada mais condizente com a trajetória deste músico. Joe Bonamassa sofre de distúrbio de déficit de atenção e hiperatividade e seu pai, um grande fã de rock e blues dos anos 60 e 70, logo descobriu que a única coisa que conseguia manter a atenção do pequeno Joe por algum instante que fosse era a música. Logo, Joe foi apresentado a guitarra e, supreendentemente, tornou-a sua parceira inseparável. Aos 10 anos, o então “Smokin Joe” (que péssimo nome artístico) atraia pequenas aglomerações a seus shows. Pouco depois, Joe ganhou um admirador de peso: BB King. O velho bluesman o apadrinhou e colocou o moleque, com 12 anos, para abrir sua turnê norte americana. Logo Joe Bonamassa estava abrindo shows para nomes como Buddy Guy, Foreigner, Robert Cray, Greg Allman, Robben Ford e Joe Cocker. Segue um link da participação do pequeno “Smokin Joe” arrebentando aos 15 anos no tributo ao Leo Fender:


Na década de 90, Joe fez parte da banda Bloodline, que juntava os filhos de Miles Davis e de Robby Krieger (The Doors). E nos início dos anos 2000, começou sua carreira solo, que já soma 13 albuns. O estilo? Uma amálgama de vários bluesmen de épocas diferentes, mas não seria exagero dizer que Joe Bonamassa deve muito de seu estilo ao saudoso Gary Moore, embora possam ser notados pontos em comum com Rory Gallagher e até mesmo Eric Clapton.  
Ainda que seja um artista independente, vários de seus álbuns, assim como seus DVDs tem estreado na primeira posição na Billboard, fruto de uma estratégia montada por seu braço direito e empresário, Roy Weisman, digna dos artistas dos anos 70 - autopromoção baseada na confiança nas apresentações ao vivo. Roy Weisman foi criado no showbusiness, pois é filho do empresário e braço direito de Frank Sinatra e acompanhava o pai em todos os passos em sua infância.
Eu não posso me gabar. Conheci o Joe Bonamassa apenas recentemente, através do supergrupo Black Country Communion, do qual fazem parte Jason Bonham, Glenn Hughes e Derek Sherinian. Mas de lá para cá, me tornei fã absoluto.
 Para quem quiser entender melhor o fenômeno Bonamassa, aconselho fortemente dar uma checada na Classic Rock Magazine 167 (foto), lançada agora em 2012, que além da matéria de capa (ver abaixo), vem com uma boa coletânea do artista encartada.



Finalmente, o show
Por dentro, o Teatro Coliseo é luxuoso, ainda que seja estranha a ideia de assistir a um show de rock com lugar marcado. Ao entrar no setor marcado em seu ingresso, no nosso caso, a primeira bancada superior (ou como eles chamam: Superpullman), recebemos o programa do show, um belo souvenir para guardar de um evento especial.
Pouco antes de começar o show, o local estava vazio, com boa parte dos 2500 lugares desocupados. Sabia que havia algo errado, pois pouco após comprar minhas entradas online, me deparei com a informação que o show estaria “sold out”. Isso com pouco menos de um mês de antecedência.  Dito e feito, faltando apenas 5 minutos para o horário marcado, o teatro já estava abarrotado, sem um lugar livre. A plateia, por sinal, bem heterogênea, de garotada com roupas de bandas de death metal até senhores careca-cabeludos de 60 anos, passando por casais nada roqueiros, havia de tudo ali. E do estranhamento inicial em assistir a um show desses sentado até a loucura barulhenta na reta final do show, pudemos comprovar a intensidade do roqueiro povo porteño.
Frente do Teatro Coliseo
                                                          
Interior do Teatro Coliseo + Programa do Show


Pontualmente as 20:30, sobe ao palco Joe e sua banda, ao som de “Slow Train”. O som está perfeito e a iluminação é arrebatadora. Mr. Bonamassa está acompanhado de sua banda no formato mais rock, contando com Carmine Rojas no baixo (Keith Richards, Tina Turner, Rod Stewart, David Bowie e Stevie Wonder); Rick Mellick (Andy Gibb, Marc Hunter, John Denver) nos teclados e o boçal Tal Bergman (Billy Idol, Rod Stewart, Simple Minds, Peter Cetera, Eric Johnson, Terence Trent Darby) na batera. Seja em músicas mais pesadas e autorais, como “The Ballad of John Henry”, seja em números mais introspectivos, como a fantasmagórica versão de “Midnight Blues” (do cara-de-morcego Gary Moore) a banda parece ter uma química sobrenatural, abrindo espaço para improvisos que nunca soam gratuitos, muito menos servem de escada para a demonstração do talento do patrão. Todos tem igual destaque no show.

Tal Bergman – o animal
Ao menos deveriam, mas a fúria e técnica brutal de Tal Bergman saltam aos olhos e ouvidos. Cada acesso de fúria do brucutu era seguido pela entrada no palco de um desesperado roadie, que tinha que arranjar tempo entre uma pancada e outra do Mr. Bergman para apertar as peças do kit de bateria, que não resistiam ao implacável baterista. Sabedor do potencial showman que tem em mãos, Bonamassa reserva parte do show para um duelo com seu baterista. Joe manda ver na guitarra, Tal Bergman responde com um solo de bateria destruidor. Isso se alterna por umas três vezes. Ao final de uma marretada de Bergman, ouve-se um grito no meio da plateia – “ANIMAAAL”!! Risadas gerais e orgulho nos olhos do batera. Quando parece impossível vencer o duelo, Joe ao invés de fritar a guitarra, apenas dedilha o início de “Stairway to Heaven”. Platéia ganha, o show prossegue.
Aliás, além dos óbvios covers de standards do blues e rock, e até espaço para um número do Black Country Communion (“Song of Yesterday”), muitas são as referências a clássicos do rock nos improvisos durante o show. A maior parte deles na mega jam final sobre “Just Got Paid” (ZZ Top), na qual pedaços de músicas do Led Zeppelin e até mesmo boa parte da porção instrumental de “Still of the Night” do Whistesnake são executados, para deleite do público.

Saldo final
Entre exibições de feeling e momentos de puro rockenroll, a banda deixa o palco com uma hora e quarenta de show. A plateia não mais se contenta em ficar sentada e ovaciona e entoa gritos dignos dos temidos barrabravas, até que a banda retorna. Joe Bonamassa diz “demorei 12 anos até pisar na Argentina, mas podem ter certeza, não vou demorar mais 12 anos para voltar”. Todos acreditamos, a sensação é a mesma para cada um de nós em relação ao show. A banda emenda a faixa título do recém lançado cd “Driving Towards Daylight”, muito bonita, por sinal, e termina com a já citada música do ZZ Top. Somadas duas horas de muito blues rock, as luzes se acendem, a banda se despede demoradamente, e todos extasiados, retornamos a fria noite portenha.
No dia seguinte, na minha peregrinação pelas abundantes lojas de cds de B.A., foi comum encontrar nos alto falantes das lojas o novo disco do cara rolando. Em uma delas, pequenina, não me contive: perguntei ao dono da loja se ele havia estado no show, na noite anterior. O senhor, de uns 50 anos, abre um sorriso orgulhoso e profere, em espanhol: “claro! Foi uma noite e tanto, não?”
Foi. Com certeza.

Trevas






10 comentários:

  1. Com certeza foi um dos melhores shows da minha vida, sem falar da companhia perfeita!!!! *__* Jamais irei esquecer!!!!

    Parabéns pelo blog arrasou com muito estilo e conhecimento!

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    1. Obrigado, pequena. Esse novo Blog é 100% culpa sua, hehehehe
      Te amo
      T

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  2. Ae renato , blog fera , curti d+
    by : seu primo lindo (:

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  3. Show!!!vou indicar seu blog para os amigo...Paula marques.

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  4. Olá, esse negocio de rock, não é muito minha praia, eu gosto é do Luan Santana.......hahahahahah, esse blog vai bombar, boa sorte, mais agora e na boa, o tal do BB, foi quem fundou o Banco do Brasil?........ops
    Abraços do amigo
    Hilton

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    1. Hiltoca, assim que sair o novo do Luan Santana, pode deixar que eu resenho, uhuhuhu....NOT!
      abração

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  5. Parabéns pelo blog! Adorei a resenha do show...

    Att,
    Billy Marreta.

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