Lillie: F-65 |
WINO,
DOOM E MUITO FEEDBACK
Saint Vitus em retrospectiva
Surgida em 1978, e atuando até
1980 sob o epíteto Tyrant, a banda
americana Saint Vitus tem na origem
do então novo nome assumido a essência de seu som.
O emblemático nome foi escolhido
em referência (e reverência) a Saint Vitus
Dance, faixa do Black Sabbath
contida no disco Vol 4. O Black Sabbath seria o ponto de
referência musical para os americanos, uma espécie de santo graal metálico.
Utilizando a estética minimalista e obscura dos pais do metal e adicionando
elementos da então nova onda do heavy metal, o Saint Vitus ajudou a cunhar um de seus mais polêmicos subestilos: o
Doom Metal.
Após dois álbuns e um EP, o Saint Vitus abraçaria uma nova formação,
considerada por muitos responsável por sua fase clássica. O início dessa era
teria como marco a chegada do vocalista Scott
“Wino” Weinrich, que até então capitaneava o The Obsessed. Com Wino
nos vocais, gravaram Born Too Late,
seu álbum mais conhecido, e cujo título expressa claramente o sentimento de Dave Chandler, líder e guitarrista da
banda, sobre o papel de seu grupo na história do rock pesado – o sentimento de
que banda deveria ter nascido uma década antes.
Saint Vitus nos velhos tempos |
Após três bons álbuns, Wino deixou a banda, que gravou um
disco (C.O.D., de 1992) com o
vocalista Chritus Linderson (do Count Raven) e em 1993 chamou de volta
ao microfone o vocalista original, Scott
Reagers.
Com Reagers
de volta, a banda gravaria seu último disco, Die Healing, em 1995. Após uma breve turnê, a banda encerrou
atividades, tendo encenado em algumas ocasiões durante os anos 2000 algumas
reuniões da formação de Born Too Late
para a realização de shows esporádicos.
Mas apesar desses shows, muito
pouco se sabia sobre os planos de Dave
Chandler e Wino em relação à
banda.
Após algumas declarações
desencontradas na mídia especializada em relação a seu futuro e em meio a uma
pequena turnê com o Crowbar, eis
então que a banda passa a incluir uma nova música em seu set, chamada Blessed Night.
Você deixaria Wino como babá de seus filhos? |
Seria então o sinal de um novo
disco do Saint Vitus?
A resposta veio quando a gravadora
Season of Mist anunciou para maio de
2012 o lançamento de Lillie F-65, o
novo rebento de um dos pais do Doom
Metal.
Lillie: F-65, antidepressivos e muito fuzz
O nome do disco, que segundo Wino foi tirado de um antigo
antidepressivo muito apreciado por Chandler,
é estranho e sorumbático, tal como a capa e, acima de tudo, seu conteúdo.
Saint Vitus em 2012 - somente rostinhos bonitos? |
Sem muita cerimônia, uma pequena
virada da bateria de Henry Vasquez
(substituto do falecido Armando Acosta)
abre o disco e logo de cara temos a voz de Wino,
roufenha e carregada de maldição como sempre. O riff atolado de fuzz de Dave Chandler dá o tom tanto quanto o
resto da banda, e Let Them Fall (ver clipe abaixo) se
mostra a faixa ideal para introduzir o Saint
Vitus de volta à vida após longos dezessete anos. O solo baseado unicamente
em feedback contido nessa faixa até então não incomoda, sendo inclusive saudado
como uma saída estilística interessante...mal sabia eu então o que viria até o
final do disco...
E se a faixa de abertura é
promissora, o jogo parece ganho logo no começo de The Bleeding Ground, com sua letra que supostamente fala sobre
experimentos com drogas feitos pelo governo americano. Nessa música temos dois
momentos únicos do disco, uma bela acelerada ao final da faixa, quebrando o
ritmo monolítico que se estende por todo o resto da bolachinha e um excitante
solo de guitarra ao melhor estilo Mr. Iommi.
Vertigo, a primeira instrumental, serve como um lúgubre interlúdio
(ao melhor estilo dos velhos discos do Sabbazão) que culmina em outra grande
faixa, a já conhecida Blessed Night.
Blessed Night tem início com um riff
cheio de fuzz de Dave Chandler,
seguido pela precisa cozinha formada por Henry
Vasquez e Mark Adams e pela voz
marcante de Wino e é a mais Black Sabbath das faixas desse disco. Novamente
o solo de guitarra é marcado por feedback, fuzz e wah wah...
A introdução de The Waste of Time parece saída de
alguma demo do Candlemass, o que não
é nada ruim. Sua levada grotescamente opressiva coroa mais uma linha melódica
que rescende a crueldade, marca registrada de Wino. Mais uma ótima faixa. Ah, e no solo, tome-lhe feedback, fuzz
e wah wah...
Infelizmente, o que parecia que
ia terminar em mais um clássico da banda começa a desandar... Dependence tem um clima pesado,
arrastado e sombrio, mas nem de longe é marcante como as faixas anteriores. E,
além disso, tem boa parte dos seus sete minutos de duração marcado pelo uso de
efeitos e feedback. Seria apenas um pequeno problema, se não fosse o fato da
faixa seguinte, a sétima do curto disco, apresentar apenas um emaranhado de
feedback que se estende por quase três minutos.
Saldo Final, um rebento
prematuro?
Dezessete anos após Die Healing, considerado por muitos fãs
e críticos (e pela própria banda) como ponto alto da carreira do Saint Vitus, retornar com um álbum de
pouco mais de meia hora, e desperdiçar quase sete desses preciosos minutos com
barulhos sem sentido, me parece uma tremenda bola fora.
Se considerarmos a ótima
qualidade de quatro das faixas apresentadas, fica a clara impressão que a banda
deveria ter esperado um pouco mais, composto um pouco mais, antes de dar as
caras ao mundo. Ou deveria ter lançado somente quatro das faixas, no formato de
um EP, o que seria mais honesto.
No final das contas, curiosamente
Lillie F-65 acaba soando como um
rebento prematuro da banda que supostamente nasceu tarde demais...
NOTA: 6,5
Ficha Técnica
Banda (Nacionalidade): Saint
Vitus (EUA)
Título (ano de lançamento): Lillie:
F-65 (2012)
Mídia: CD
Gravadora: Season of Mist (importado)
Faixas: 7
Duração: 33’ (sem feedback, provavelmente 20')
Rotule como: Doom Metal
Indicado para: Fãs de um doom
metal beirando a tosqueira.
Passe longe se: tiver tendências
suicidas.