terça-feira, 29 de setembro de 2020

Vandenberg – 2020 (CD-2020)


 O Retorno do Holandês Voador

Por Trevas

O guitarrista holandês Adriaan van den Berg (ou, de forma americanizada, Adrian Vandenberg) manteve, ao menos por um bom tempo, o recorde de permanência nas voláteis fileiras do Whitesnake, figurando como fiel escudeiro do patrão David Coverdale por nada menos que 13 anos. Mas o Whitesnake não representou o primeiro flerte com o sucesso do virtuose. Em 1981, sua banda Teaser editou uma Demo Tape que chamou a atenção da Atlantic Records. Dois anos depois, o primeiro disco da banda, que agora atendia pelo epíteto Vandenberg (provavelmente uma escolha da gravadora para fazer alusão ao multiplatinado Van Halen), alçava o single Burning Heart a um impressionante 39º lugar na Billboard. Dois discos mais foram lançados pelo quarteto, com sucesso comercial decrescendo a cada lançamento. Alibi, de 1985, marcou a saída do vocalista e fim do grupo, com Adrian logo sendo convocado a fazer parte de uma versão repaginada do Whitesnake, que vivia seu apogeu de popularidade.

Adrian à época do Moonkings

Após muitos e muitos anos como parceiro de Coverdale, Adrian foi “desconvocado” do Whitesnake em uma manobra de repaginação da banda similar àquela que garantira seu emprego em 1987. Havia espaço então para a reativação de seu projeto, mas o guitarrista descobriu que os ex-membros da formação original do Vandenberg haviam aberto um processo pleiteando a posse da marca. Enquanto o imbróglio jurídico não se resolvia, Adrian criou um novo grupo, o Moonkings, com o qual gravou dois discos bem recebidos. Mas tão logo ganhou na justiça o direito de voltar a usar a marca Vandenberg, decidiu por lançar uma nova versão da banda, contando com o onipresente vocalista chileno Ronnie Romero (Rainbow, Lords Of Black), o baixista Randy Van Der Elsen (Tank) e o baterista Koen Herfst (Epica, Doro). Para a produção da nova bolachinha, temos o experiente Bob Marlette (Black Sabbath, Alice Cooper, Marilyn Manson, Rob Zombie). Vamos ver (na verdade, ouvir), o que essa patota aprontou.

A "tchurma" de 2020

Shadows Of The Night é um ótimo cartão de visitas, um Hard/Heavy vigoroso, que cheira à Rainbow. Produção boa (mas não sensacional, como o usual para mr. Marlette, que também assina os teclados climáticos) e na cara. Ronnie está usando sua voz de forma diferente do habitual e Adrian, este está mandando brasa em bons riffs e solos, que seguem na legal Freight Train e atingem um patamar muito elevado na excelente Hell And High Water, que não ficaria deslocada em um disco como Rainbow Rising.


A balada Let It Rain mostra que, a despeito do nome da banda, o verdadeiro astro da companhia aqui é Ronnie. Como está cantando, o chileno, que também tem melhorado consideravelmente seu inglês. Usando uma pegada mais Hard, por vezes lembrando o saudoso Steve Lee (Gotthard) ou Danny Bowes (Thunder). Não é à toa, o cara virou o vocalista da moda, o que faz também a versão atual do Vandenberg dar um salto de energia em relação à encarnação original dos anos 1980. O peso Rainbowniano retorna na avassaladora Ride Like The Wind. Como habitual, existem lá seus “fillers”, no caso, a dobradinha pouco inspirada Shout (a mais fraca do disco, de longe) e Shitstorm. E se for muito chato, poderia implicar também com Light Up the Sky, que rouba descaradamente o Riff de Bad Boys, do Whitesnake, mas acaba tomando uma vida própria bem bacana.


A reta final separa uma pequena polêmica, na polarizadora regravação de Burning Heart. Confesso que achei a regravação (que conta com Rudy Sarzo e Brian Tichy como convidados) até mais legal, com a pegada mais rasgada de Ronnie (em contraste ao toque mais AOR da original), mas sou suspeito, nunca curti de fato essa música. O que não tem discussão é que Skyfall, faixa que encerra o disco, é um arregaço para fã de Hard/Heavy nenhum botar defeito. Ao final dos 42 minutos da bolachinha, fica a impressão que David Coverdale estaria muito melhor assessorado em termos criativos se tivesse mantido a parceria com Adrian, já que 2020 é de longe melhor que o último trabalho da Cobrabranca. Discaço.  (NOTA: 8,82)

Visite o The Metal Club

Gravadora: Hellion Records (nacional)

Prós: ótimas músicas, Ronnie Romero cantando muito

Contras: produção apenas correta, sonoridade sem novidades

Classifique como: Hard/Heavy

Para Fãs de: Rainbow, Whitesnake


segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Sepultura - Sepultura Endurance (Filme, 2017)

 



Embracing The Storm

Por Trevas

 “Já havia ouvido a banda antes, mas pra mim não faziam nada de diferente que eu já não tivesse escutado com Slayer ou Possessed. Talvez o sotaque do Max fizesse alguma diferença. Mas aí ouvi Refuse/Resist e não acreditei! Aquilo sim era diferente de tudo o que já tinha ouvido, era simplesmente a coisa mais pesada que meus ouvidos já haviam testemunhado! Era Metal feito como nunca antes! Aquilo era o som do próprio apocalipse!”

As palavras acima são uma transcrição aproximada da apaixonada declaração de ninguém menos que Scott Ian, um dos maiores ícones do metal estadunidense, sobre o nosso Sepultura.

E Endurance traz depoimentos ainda mais  apaixonados de gente do naipe de Lars Ulrich (Metallica), Phil Campbell (Motörhead), David Ellefson (Megadeth), Phil Anselmo e Vinnie Paul (Pantera) e Corey Taylor (Slipknot), só para ficar em alguns nomes...

Um documentário bem construído, que mistura um pouco do resgate das origens, com imagens de bastidores de todas as épocas e entrevistas com figuras chave da trajetória (Monte Conner, Ross Robinson, João Gordo, a galera do Chakal, Jairo Guedz...) com o clima atual da banda em turnê e gravações.

Pegando inclusive momentos cruciais da saída de Jean Dolabella e a chegada do fenômeno Eloy Casagrande.

E tem algumas passagens surpreendentes, como o quanto Lemmy “apadrinhou” a chegada de Derrick, ajudando a banda a vencer a queda de braço com as vozes dissonantes em relação à escolha do “Fumaça “.

Ah,sim...esse é o documentário que resultou no chilique dos Cavalera, que se recusaram a participar do mesmo e limitaram o uso de parte do material. Mais uma demonstração de pequenez de espírito. Uma pena.

Talvez esse imbróglio tenha impedido Endurance de ser um registro perfeito de toda a jornada da banda, mas ainda assim seus 90 minutos passam como um foguete.

Mas as declarações de decanos da história do Metal lá de fora deixam aquela tristeza: os caras são venerados no exterior e aqui, a cada lançamento, desde Chaos AD, é uma choradeira e mimimi impressionantes por parte dos cagadores de regra e (posteriormente) das viúvas de Max.

Longa vida ao Sepultura. (NOTA:9,00)

 

Disponível na Netflix







terça-feira, 22 de setembro de 2020

In Flames – Clayman: 20th Anniversary Edition (CD-2020)


 

Remodelando Um Clássico

Por Trevas

Não fosse a pandemia, 2020 seria um ano repleto de comemorações por parte dos suecos do In Flames. Os baluartes do Gothemburg Sound completam nada mais nada menos que 30 anos de existência. E Clayman, seu quinto disco de estúdio, completa 20 anos de lançamento. E Clayman representa muito para o quinteto: foi com esse disco que a banda galgou terreno para além de seu nicho original, o Death Metal Melódico, ganhando muitos fãs dentro da cena do metal moderno mundial.

Clayman em sua versão original

Clayman também é considerado o último disco do In Flames a apostar em sua proposta sonora original. Reroute To Remain chegaria pouco depois para causar uma imensa divisão entre os fãs, com muito do então chamado Nu Metal infiltrado em seu estilo sueco de Death Melódico. Eu fui um dos fãs que largou de mão da carreira dos caras à época (depois voltei com força total e passei a entender e curtir os rumos que escolheram). Mas escutando o disco hoje em dia, fica mais claro que a ruptura não foi tão drástica quanto pareceu, Clayman já era uma espécie de elo perdido entre o velho e o futuro In Flames. Originalmente produzido por Fredrik Nordström, o disco tem sua edição comemorativa remasterizada por Ted Jensen (Pantera, Gojira). E fica bem fácil notar que a escolha foi acertada, com a clássica Bullet Ride soando forte como nunca na abertura. E que abertura: seguem Pinball Map e a obrigatória Only For The Weak, um clássico instantâneo que curiosamente já escancarava a metamorfose que os suecos sofreriam no próximo disco.


E a destruição não para. A nem sempre lembrada As The Future Repeats Today é de uma urgência viciante, e o início da bem construída Square Nothing remete aos temas Folk vistos nos discos anteriores, mas com um arranjo mais maduro. A faixa título chega, e só não se faz como obrigatória nos sets atuais pois a tríade de abertura está num nível estratosférico e os caras precisam prestigiar os outros trabalhos.


O restante do disco não baixa nem um pouco a guarda, com a dinâmica do futuro In Flames dando as caras em coisas como Satellites And Astronauts e Suburban Me (com solo de Christopher Amott) e Swim merecendo um lugar entre os lados B favoritos dos caras. Com pouco mais de 40 minutos, Clayman continua um forte candidato a disco definitivo de um subgênero, e soa melhor que nunca no novo trabalho de remasterização. Clássico da Cripta, obrigatório!! 


Bônus Da Edição de 20 Anos

Para a nova edição, Clayman ganhou uma arte de capa nova. E cara, como ficou mais bonita. Também estão presentes cinco faixas gravadas atualmente (embora não fique claro no encarte a formação responsável pela gravação), produzidas por Howard Benson (Motörhead). A primeira delas é uma instrumental tocada pelo violoncelista Johannes Bergion (Diablo Swing Orchestra) e Björn Gelotte, uma espécie de medley de alguns temas do disco. Interessante, mas longe de obrigatória. De resto, temos as regravações de Only For The Weak, Bullet Ride, Pinball Map e Clayman. Não, nenhuma delas soa tão bem quanto as originais, embora fique claro que Anders Fridén usa melhor sua voz limitada hoje em dia. Ou seja, não fosse o ótimo trabalho de remasterização das faixas originais, não recomendaria a substituição da versão original do disco por essa edição comemorativa.


Gravadora: Shinigami Records (nacional)

Prós: O clássico do In Flames em seu melhor estado

Contras: As regravações não rivalizam com as originais

Classifique como: Melodic Death metal, Modern Metal

Para Fãs de: Soilwork, Arch Enemy, Dark Tranquillity 












sábado, 19 de setembro de 2020

Black Swan – Shake The World (CD-2020)


 

Lago do Super Cisne Geriátrico

Por Trevas

Supergrupos, um assunto que suscita uma das raras unanimidades dentro da imprensa musical: de modo geral, eles raramente dizem ao que vieram e se vão tão rapidamente quanto foram anunciados, sem deixar muitas saudades. E o que é pior, ao menos aos olhos dos idealizadores: o sucesso comercial quase nunca paga a conta da soma dos egos envolvidos. O selo italiano Frontiers, discordando disso tudo, se especializou em juntar astros da cena Melodic Rock, AOR, Hard Farofa de eras (e glórias) passadas em combos que devem estar dando algum retorno, pois a fórmula se mantém ano após ano. No geral, o resultado das empreitadas da Frontiers nesse nicho sempre soa pasteurizado e sem alma aos meus ouvidos, então não me empolguei nem um pouco quando anunciada a junção de Robin Mcauley (MSG, Grand Prix, Survivor), Jeff Pilson (Dokken, Foreigner, Dio), Reb Beach (Winger, Whitesnake, Dokken) e Matt Starr (Mr Big, Ace Frehley).

Cisne geriátrico?

Mas quando esbarrei com o vídeo (e primeiro single), justamente para a faixa título, meu queixo ímpio foi ao chão e lá ficou. Shake The World é facilmente uma das faixas mais legais de Hard/Heavy deste 2020. Bom, geralmente esses catadões tem sempre uma música de destaque, mantive meu cinismo, que felizmente durou somente até perceber que as quatro primeiras faixas são todas igualmente excelentes!


Não, o quarteto definitivamente não reinventa a pólvora aqui, e o que temos é um Hard/Heavy que poderia muito bem ter sido assinado pelo Scorpions da era Crazy World/Face The Heat. O irlandês Robin Mcauley ficou razoavelmente fora dos holofotes, mas sua ótima voz, essa não envelheceu um dia sequer desde os tempos do MSG! A cozinha Pilson/Starr soa infalível para esse tipo de som. E a despeito da minha pinimba épica com o Winger, sei bem que Reb é um monstro da guitarra. E aqui ele faz o serviço com maestria, em uma sonoridade que remete justamente à era de ouro dos Shredders. A produção de Pilson é coisa de craque, repleta de punch e com modernidade na medida certa. E talvez o pulo de gato desse projeto em relação a outros semelhantes da gravadora resida no fato de que todas as composições foram escritas pelo quarteto, e não pelos pistoleiros de aluguel tradicionais da Frontiers.


Não que isso faça que o disco seja perfeito, o meio da bolacha tem uns momentos mais caidinhos, como a balada xarope Make It There e a mediana The Rock That Rolled Away. Mas a reta final retoma a força de seu início, em especial com as excelentes. Shake The Wold é prova cabal de que supergrupos podem sim funcionar, um disco que resgata aquela arte fronteiriça de Hard/Heavy, que possivelmente agradará tanto os afeitos à farofagem explícita quanto aos fãs de metal tradicional, com uma roupagem digna dos tempos atuais. Um dos discos mais divertidos do ano. (NOTA: 9,21)

Visite o The Metal Club

Gravadora: Hellion Records (nacional)

Prós: O melhor disco que o Scorpions lançou nos últimos 20 anos

Contras: Se busca algo realmente novo no mundo da música, não achará aqui

Classifique como: Hard Rock/Heavy Metal

Para Fãs de: Scorpions 

domingo, 6 de setembro de 2020

H.e.a.t – II (CD-2020)

 


De Volta Ao Jogo

Por Trevas

Uma das maiores potências da onda de Melodic Hard Rock escandinava, a banda H.e.a.t alçou voos maiores de popularidade ao dar um passo aparentemente midiático: em 2010 adicionou à sua formação o vocalista/ator vencedor do Ídolos Sueco de 2009, Erik Grönwall, que também havia acabado de emplacar um single no primeiro lugar das paradas locais. Se a banda já vinha bem, daí para frente subiu de estatus, lançando uma sequência de discos muito bem avaliados, até dar um “passo em falso” com Into The Great Unknown, disco de 2017 que apostava demais em uma incursão no mundo da música Pop/Mainstream atual. Ainda que longe de ser um disco ruim, o trabalho acabou por alienar boa parte dos fãs, o que explica o título de seu mais recente trabalho, H.e.a.t II. Uma volta às origens? Provavelmente.

Bora farofar?

Totalmente produzido pelo tecladista Jona Tee e pelo guitarrista Dave Dalone, o disco abre com a totalmente hard oitentista Rock Your Body, uma faixa energética, mas com refrão preguiçoso e bem clichê, talvez como uma carta de intenções – estamos de volta ao terreno conhecido. Outras coisas que ficam claras no ato são: a qualidade da produção, com ótimo punch e o toque exato de modernidade; e o quanto Erik melhora a cada disco – o que esse cara está cantando é um arregaço!


Daí para frente, o disco é um deleite aos fãs de Melodic Hard Rock: impossível ficar indiferente ao apelo da dupla Dangerous Ground e Come Clean. Já Victory e We Are Gods nos lembram que, apesar da banda ter aberto mão das fortes incursões no Pop contemporâneo, isso não quer dizer que não são capazes de soar modernos dentro de sua proposta. Não estamos em absoluto diante de um mero simulacro de potências do Melodic Hard Rock/AOR oitentista.


Adrenaline e One By One são mais duas pérolas típicas do estilo, grudentas e viciantes, certamente faria sucesso nas festinhas à lá Starfuckers que existiam no Rio. E até a xaropagem habitual das geralmente intragáveis baladas que o AOR produzem fica num patamar aceitável de breguice com Nothing To Say.


Heaven Must Have Won An Angel é tão Journey que juro que fui conferir se não se tratava de um cover. A energia retorna com força total com as duas últimas faixas, a boa Under The Gun e a sensacional Rise, a provável melhor do pacote, com uma pegada mais heavy e moderna, encerrando de forma fenomenal um dos melhores discos do estilo que você escutará esse ano. (NOTA;9,25)

Visite o The Metal Club

Gravadora: Shinigami Records (nacional)

Prós: Melodic Hard Rock/AOR dificilmente fica melhor que isso

Contras: Bom, se você tem vergonha de suas polainas de oncinha, passe longe

Classifique como: Melodic Hard Rock/AOR

Para Fãs de: Eclipse, W.E.T., Journey