sábado, 23 de dezembro de 2017

Iron Maiden - The Book Of Souls: Live Chapter (2Cds – 2017)

The Book Of Souls : Live Chapter
E A Donzela Vive
Por Trevas

Se na época áurea da indústria fonográfica os discos ao vivo já eram considerados uma espécie de patinho feio, o que dizer hoje em dia, num cenário onde nem mais os discos de estúdio vendem e onde a profusão de imagens amadoras e profissionais dos shows pululam quase em tempo real no youtube, minando qualquer magia de “ver e ouvir” sua banda favorita ao vivo? Pois é. E o cenário realmente mudou muito. Nas últimas duas décadas os discos ao vivo foram colocados de lado em detrimento dos home vídeos, aproveitando que os DVDs vendiam bem, mas o Youtube destruiu por completo esse mercado, o que explica a estratégia de lançamento de The Book Of Souls: Live Chapter, o enésimo disco ao vivo da Donzela – streaming ao vivo da contraparte visual do disco, com a parte em áudio lançada em Cd duplo (aqui analisado) e vinil triplo.

Os dois formatos lançados para os Cds

Mas o que um lançamento desse tipo vindo do Iron Maiden ainda pode nos oferecer? Que o Iron é uma força poderosa em cima dos palcos, até os detratores da banda tem que admitir. E a fórmula quase sempre é a mesma: muitas músicas do novo lançamento de estúdio entremeadas pelos clássicos de sempre e uma ou duas mexidas do baú da banda. Talvez o grande trunfo do novo lançamento seja justamente a qualidade do disco em promoção nessa turnê, The Book Of Souls é, de longe, a melhor coisa que a banda colocou no mercado desde os anos 1980. Mas será que seu material, mais denso e sombrio que o habitual, funcionou no ambiente ao vivo? Veremos.

Disco 1:

O formato escolhido segue a ideia que a banda executou outras vezes, de pinçar músicas de apresentações diferentes ao redor do globo. E o primeiro disco é, de longe, o maior atrativo no pacote. O início apoteótico com a matadora If Eternity Should Fail (pensada como música solo por Bruce e adotada pela banda para o novo trabalho) já sana de vez uma dúvida: como estaria a voz do baixinho após o câncer? Perfeita, obrigado. Mr. Dickinson está soando melhor nessa turnê do que nas três anteriores. Speed Of Light é divertida, e as antigas começam a aparecer no repertório. Wrathchild está ok, mas a versão matadora de Children Of The Damned é quem brilha.



Death Or Glory é um petardo e funciona muito melhor ao vivo, com ótima pegada do vovô Nicko, assim como a épica The Red And The Black, com passagem instrumental excelente, de longe a melhor música de Harris desde a hoje clássica Sign Of The Cross.


E nas surradas (mas sempre bem-vindas) The Trooper e Powerslave, pode ser notado que enfim a fórmula com três guitarras vem sendo aproveitada em sua plenitude, os arranjos estão diferentes e Adrian, Janick e Dave, muito mais soltos. E Tony Newton acertou a mão na mixagem, cheia de punch e permitindo ouvir cada um dos guitarristas com perfeição.


Disco 2:

O segundo disco começa com excelentes versões para The Great Unknown e Book Of Souls, comprovando novamente a força do disco mais recente. E comprovando também que definitivamente Kevin Shirley não acerta a mão em estúdio com a banda, as duas músicas, como as outras do mesmo trabalho, soam muito mais poderosas aqui do que nas versões originais.



Daí em diante é aquilo: jogo ganho e mais do mesmo. Ok, eu seria o primeiro a reclamar “porra, vão tocar essa de novo?” quando os primeiros acordes de Fear of The Dark tomassem a arena...mas logo estaria pulando junto à massa cearense de carne saltitante e cantante. A superexposição é um problema sério, mas garanto que 90% das bandas de metal tradicional do planeta matariam para ter uma música como essa em seu repertório. As óbvias e sempre funcionais Iron Maiden (Argentina), The Number of The Beast (Wacken) e o encerramento com Wasted Years (Rio de Janeiro) entremeadas com a chata Blood Brothers. Inexplicável como a banda insiste em uma de suas piores músicas recentes no repertório.



Veredito da Cripta

The Book Of Souls: Live Chapter certamente não irá rivalizar com Live After Death como melhor registro ao vivo do Iron Maiden. Mas é muito bem feito e divertido, capaz de lembrar ao mais cínico dos cínicos que os britânicos sempre serão uma das melhores bandas ao vivo da história do rock pesado. Muito bom.


NOTA: 8,50


Gravadora: Warner Music (nacional).
Pontos positivos: gravação excelente, ótimas performances, músicas novas funcionam muito bem ao vivo
Pontos negativos: a banda podia dar uma remexida mais criativa no material antigo
Para fãs de: Judas Priest, Saxon
Classifique como: Heavy Metal



5 comentários:

  1. Uma coisa q tenho q concordar, e muito, contigo é sobre a produção do Kevin Shirley, q por pouco não assassina um discaço como o Book of Souls; desde a primeira vez q escutei o disco penso em como soaria ao vivo, com mais energia, peso e crueza já habituais nos shows da banda. Taí minha oportunidade!
    Totalmente excelente!!!
    Abração!!!
    ML

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    1. fala, camarada!
      Olha, sou suspeito para falar, ainda não faço ideia do que as pessoas enxergam em Kevin Shirley. tem um ou outro bom disco no currículo, mas nunca é a qualidade sonora destes que salta aos ouvidos. No geral, um produtor de coisas dispensáveis (de banda grandes) com sonoridade tacanha.
      Abraço
      T

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  2. É aquilo que eu sempre digo em relação ao Iron Maiden: o grupo literalmente acabou depois de "The Final Frontier", e o que eu vejo em The Book of Souls e neste mais recente "ao vivo" da Donzela de Ferro, nada mais é do que o resto do que a banda foi há quase 40 anos atrás, ou seja: uma cópia 100% piorada de si mesmo.

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    1. fala, camarada
      Discordo 789%, acho que finalmente a banda voltou aos eixos depois de alguns trabalhos medianos no pós retorno. A banda esteve bem pior em discos como o realmente horroroso No Prayer For The Dying e no inominável Virtual XI, mas os discos pós retorno careciam de um algo a mais, e The Book Of Souls, a despeito da errática produção do superestimado Kevin Shirley, trouxe esse elemento de volta. Ao vivo, o de sempre, se o disco a ser promovido é bom, então o show é bom.
      Abraço
      Trevas

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    2. Cada um com suas opiniões, amigo, mas de minha parte me dá uma tristeza ver a banda do jeito que está hoje...

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