The Book Of Souls : Live Chapter |
E
A Donzela Vive
Por Trevas
Se na época áurea da
indústria fonográfica os discos ao vivo já eram considerados uma espécie de
patinho feio, o que dizer hoje em dia, num cenário onde nem mais os discos de
estúdio vendem e onde a profusão de imagens amadoras e profissionais dos shows
pululam quase em tempo real no youtube,
minando qualquer magia de “ver e ouvir” sua banda favorita ao vivo? Pois é. E o
cenário realmente mudou muito. Nas últimas duas décadas os discos ao vivo foram
colocados de lado em detrimento dos home vídeos, aproveitando que os DVDs vendiam bem, mas o Youtube destruiu por completo esse
mercado, o que explica a estratégia de lançamento de The Book Of Souls: Live Chapter, o enésimo disco ao vivo da Donzela
– streaming ao vivo da contraparte visual do disco, com a parte em áudio lançada
em Cd duplo (aqui analisado) e vinil
triplo.
Os dois formatos lançados para os Cds |
Mas o que um lançamento desse
tipo vindo do Iron Maiden ainda pode
nos oferecer? Que o Iron é uma força poderosa em cima dos palcos, até os
detratores da banda tem que admitir. E a fórmula quase sempre é a mesma: muitas
músicas do novo lançamento de estúdio entremeadas pelos clássicos de sempre e
uma ou duas mexidas do baú da banda. Talvez o grande trunfo do novo lançamento
seja justamente a qualidade do disco em promoção nessa turnê, The Book Of Souls é, de longe, a melhor
coisa que a banda colocou no mercado desde os anos 1980. Mas será que seu
material, mais denso e sombrio que o habitual, funcionou no ambiente ao vivo? Veremos.
Disco
1:
O formato escolhido
segue a ideia que a banda executou outras vezes, de pinçar músicas de
apresentações diferentes ao redor do globo. E o primeiro disco é, de longe, o
maior atrativo no pacote. O início apoteótico com a matadora If Eternity Should Fail (pensada como música
solo por Bruce e adotada pela banda para
o novo trabalho) já sana de vez uma dúvida: como estaria a voz do baixinho após
o câncer? Perfeita, obrigado. Mr. Dickinson
está soando melhor nessa turnê do que nas três anteriores. Speed Of Light é divertida, e as antigas começam a aparecer no
repertório. Wrathchild está ok, mas
a versão matadora de Children Of The Damned é quem brilha.
Death Or Glory é um petardo e
funciona muito melhor ao vivo, com ótima pegada do vovô Nicko, assim como a épica The
Red And The Black, com passagem instrumental excelente, de longe a melhor
música de Harris desde a hoje clássica
Sign Of The Cross.
E nas surradas (mas sempre bem-vindas) The Trooper e Powerslave, pode ser notado que enfim a
fórmula com três guitarras vem sendo aproveitada em sua plenitude, os arranjos
estão diferentes e Adrian, Janick e Dave, muito mais soltos. E Tony
Newton acertou a mão na mixagem, cheia de punch e permitindo ouvir cada um dos guitarristas com perfeição.
Disco
2:
O segundo disco
começa com excelentes versões para The
Great Unknown e Book Of Souls,
comprovando novamente a força do disco mais recente. E comprovando também que definitivamente
Kevin Shirley não acerta a mão em estúdio com a banda, as duas músicas,
como as outras do mesmo trabalho, soam muito mais poderosas aqui do que nas
versões originais.
Daí em diante é aquilo: jogo ganho e mais do mesmo. Ok, eu seria o
primeiro a reclamar “porra, vão tocar essa de novo?” quando os primeiros
acordes de Fear of The Dark tomassem
a arena...mas logo estaria pulando junto à massa cearense de carne saltitante e
cantante. A superexposição é um problema sério, mas garanto que 90% das bandas
de metal tradicional do planeta matariam para ter uma música como essa em seu
repertório. As óbvias e sempre funcionais Iron
Maiden (Argentina), The Number of
The Beast (Wacken) e o encerramento com Wasted Years (Rio de Janeiro) entremeadas com a chata Blood Brothers. Inexplicável como a
banda insiste em uma de suas piores músicas recentes no repertório.
Veredito
da Cripta
The
Book Of Souls: Live Chapter certamente não irá rivalizar com Live After Death como melhor registro
ao vivo do Iron Maiden. Mas é muito
bem feito e divertido, capaz de lembrar ao mais cínico dos cínicos que os britânicos
sempre serão uma das melhores bandas ao vivo da história do rock pesado. Muito
bom.
NOTA:
8,50
Gravadora:
Warner Music (nacional).
Pontos
positivos: gravação excelente, ótimas performances, músicas novas funcionam
muito bem ao vivo
Pontos
negativos: a banda podia dar uma remexida mais criativa no material antigo
Para
fãs de: Judas Priest, Saxon
Classifique como: Heavy Metal
Uma coisa q tenho q concordar, e muito, contigo é sobre a produção do Kevin Shirley, q por pouco não assassina um discaço como o Book of Souls; desde a primeira vez q escutei o disco penso em como soaria ao vivo, com mais energia, peso e crueza já habituais nos shows da banda. Taí minha oportunidade!
ResponderExcluirTotalmente excelente!!!
Abração!!!
ML
fala, camarada!
ExcluirOlha, sou suspeito para falar, ainda não faço ideia do que as pessoas enxergam em Kevin Shirley. tem um ou outro bom disco no currículo, mas nunca é a qualidade sonora destes que salta aos ouvidos. No geral, um produtor de coisas dispensáveis (de banda grandes) com sonoridade tacanha.
Abraço
T
É aquilo que eu sempre digo em relação ao Iron Maiden: o grupo literalmente acabou depois de "The Final Frontier", e o que eu vejo em The Book of Souls e neste mais recente "ao vivo" da Donzela de Ferro, nada mais é do que o resto do que a banda foi há quase 40 anos atrás, ou seja: uma cópia 100% piorada de si mesmo.
ResponderExcluirfala, camarada
ExcluirDiscordo 789%, acho que finalmente a banda voltou aos eixos depois de alguns trabalhos medianos no pós retorno. A banda esteve bem pior em discos como o realmente horroroso No Prayer For The Dying e no inominável Virtual XI, mas os discos pós retorno careciam de um algo a mais, e The Book Of Souls, a despeito da errática produção do superestimado Kevin Shirley, trouxe esse elemento de volta. Ao vivo, o de sempre, se o disco a ser promovido é bom, então o show é bom.
Abraço
Trevas
Cada um com suas opiniões, amigo, mas de minha parte me dá uma tristeza ver a banda do jeito que está hoje...
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