Bastardo Glorioso
Por
Trevas
“Inglorious é a maior banda a surgir na
Inglaterra desde o Led Zeppelin.”
A
frase, dita pelo conceituado produtor Sul-Africano Kevin Shirley (Iron Maiden,
Journey, Dream Theater, Joe Bonamassa e grande elenco...) é de
uma audácia de fazer os pentelhos dos fãs mais tradicionalistas de Classic Rock despencarem. Curiosamente a estranha afirmação a respeito de
uma banda que mal completou 3 anos de existência encontra eco no genial
guitarrista do Queen, Brian May. Mas afinal, quem diabos é esse tal Inglorious?
Na verdade, o
primeiro ponto passível de crítica na fala de Mr. Caveman é chamar o Inglorious
de banda. De fato, a dita "banda" não passa de um projeto capitaneado pelo gigante loiro Nathan James, uma figura que ao que consta possui um imenso talento e um
ego ainda mais vultuoso. Nathan, um britânico que ainda não chegou aos 30 anos
de idade, começou sua carreira cantando em eventos de fãs do Queen. Ganhou maior notoriedade ao
participar de dois programas da TV inglesa. No The Voice, foi
absolutamente ignorado pelos jurados ao cantar um clássico do Bon Jovi. Sentindo-se humilhado, o jovem somou o sentimento de rejeição
a sua ambição feérica e jurou que iria mostrar não só à Grã-Bretanha, mas
também ao resto do mundo seu talento.
Nathan, o próprio bastardo inglório |
Uma
segunda chance na TV quase rendeu-lhe de vez o estrelato. Dessa vez
participando do programa Superstar, Nathan foi adotado pelo mentor do reality
show, nada mais nada menos que Andrew
Lloyd Webber. Os dois viraram unha e carne, até que um choque de egos fez
com que o famoso produtor/compositor expulsasse o pupilo do programa. Webber ainda dirigiu palavras duras ao
cantor via imprensa, criticando seu ego inflado, críticas que ganharam eco nas
palavras de outros músicos participantes do programa. Ainda assim a experiência
rendeu frutos ao jovem vocalista, que recebeu um convite para integrar a Trans Siberian Orchestra e a banda solo
do lendário Uli Jon Roth. Com Uli, a quem Nathan chama de Mestre Yoda das guitarras, Nathan aprendeu a apreciar a magia da
música de uma maneira mais pura e romântica. Mas foi com a TSO, onde passou a ver a cor do dinheiro, capitaneando shows para
20/30.000 pessoas, que o vocalista decidiu que era hora dele mesmo montar sua
banda, com a certeza de que seu talento seria o suficiente para alçar voos
igualmente altos. Arrogância? Coragem? Fé?
Provavelmente todos
os itens misturados. O primeiro disco do Inglorious
(cuja formação muda mais do que o Rainbow)
saiu ano passado, recebendo boas críticas (ver o ponto de vista da Cripta aqui)
e grande destaque na mídia especializada. Poucos meses depois recebi a notícia
de que o novo disco, simplesmente intitulado II, ganharia as lojas de disco ao redor do globo.
Inglorious, em sua 789 formação em 3 anos... |
Inglorious II, com sua arte de capa que remete ao infame Mean Busisness, do não
menos infame supergrupo The Firm, foi produzido pela banda e mixado
pelo Kevin Shirley. Foi justamente ao mixar o trabalho que o Caveman se sentiu surpreendido pela
qualidade do material, soltando a frase citada no início da matéria. Vamos
conferir então se o que temos em mãos é realmente tão impressionante assim.
Após uma climática e tristonha introdução, somo atacados com um peso e
groove impressionantes da ótima I Don’t
Need Your Loving (ver vídeo). Bons riffs, baixo pulsante, produção
cristalina e um ótimo refrão. Um começo para lá de promissor.
Taking The Blame (ver vídeo) começa e você jura que está ouvindo Whitesnake em seus anos pré-farofagem. Mas a voz de Nathan tem qualidade e personalidade suficientes para afastar tais pensamentos impuros.
A sonoridade mais contida e menos estridente do disco trona sua audição
mais prazerosa do que na estreia e a evolução vocal de Nathan James é visível,
se antes o grandalhão irritava com gritos desnecessários e firulas vocais em
profusão, aqui a interpretação é que é o foco, como na bela Tell Me Why. Read All About It (ver vídeo) tem um clima algo Zeppeliano ao mesmo tempo que traz uma
pitada de modernidade à mistura. Change
Is Coming tem no hammond e nos vocais repletos de tempero soul seus charmes
não tão secretos, outra boa faixa num disco que vai se mostrando deliciosamente
homogêneo.
A power balada Making Me Pay
quebra um pouco o andamento da bolachinha e vem nos lembrar que o vocalista
pode estar mais contido, mas gosta de se exibir. Por muito pouco não ultrapassa
a fronteira do bom gosto. Mas bom gosto é o que não falta à excelente e
vigorosa Hell Or High Water, a
melhor faixa do disco (e possivelmente a melhor da banda, ver vídeo). No Good For You segue aquela pegada Whitesnakeana, mantendo o padrão de
qualidade elevado.
I’ve Got A Feeling é corretinha, mas fica um pouco aquém
do restante do material. Só que vem seguida da ótima e algo setentista Black Magic (ver vídeo), outro dos destaques do disco, tal qual a
belíssima balada Faraway (Led Zeppelin até o talo). Perto dessa sequência o encerramento com a competente
High Class Woman mostra-se até mesmo um bocado anticlimático.
Saldo Final
Longe
de entrar na onda de exagero de Kevin
Shirley, Inglorious II não
apresenta absolutamente nada de novo ao já bastante explorado bestiário do Hard Rock. Mas mesmo apostando em uma fórmula batida, é impossível
passar incólume à qualidade das canções e aos vocais cada vez mais maduros do
privilegiado Nathan James. Inglorious II está
repleto de clichês, e tenho lá minhas dúvidas se será suficiente para atender à
ambição de lotar arenas ao redor do globo, mas é inegavelmente um disco muito
divertido que deve figurar em muita lista de melhores do ano por aí.
NOTA: 8,74
Gravadora:
Frontiers/Nuclear Blast (importado)
Pontos
positivos: belas canções, produção caprichada e ótima performance vocal
Pontos
negativos: não traz nada de novo ao estilo
Para
fãs de: Whitesnake, Badlands
Classifique como: Hard Rock, Classic Rock
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