quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Kvelertak – Nattesferd (Cd-2016)

Kvelertak - Nattesferd
Kvelertak – Nattesferd (Cd-2016)

Mudando de Ares
Por Trevas

O novo disco dos noruegueses veio coberto do sentimento de ruptura com os dois primeiros trabalhos, que tornaram o Black’n’Roll da banda um improvável Best Seller ao redor da Europa. Incubado desde sua concepção nos seios de um selo que lhes deu todo o suporte, o mítico Roadrunner Records, em Nattesferd o sexteto quebrou primeiramente a parceria com o ilustrador (e dono do Baroness) John Baizley e também resolveu dispensar a produção e mixagem do companheiro Kurt Ballou, ambos presentes nos dois discos anteriores.



O Hômi-Curuja brada: "Leve-me a seu líder!"



E se em termos de ilustração a qualidade se manteve, havendo apenas a nova estética no trabalho de capa proposto pelo ótimo Arik Roper (responsável por capas que vão desde artistas mainstream como Black Crowes até mestres do underground do naipe de Sleep, Sun O))) e Grand Magus), já na produção a mudança não foi lá muito acertada não. Meio abafado e sem tanto punch, o Kvelertak tentou apostar suas fichas em carregar a mão no acento Retro-Rocker do vasto espectro de seu som. Não que isso seja exatamente ruim, mas músicas como 1985 (ver vídeo) acabam soando meio tranquilas e previsíveis demais, ainda que agradáveis.


E quem escutou os discos anteriores certamente vai estranhar a palavra “previsível” sendo usada para o som dos caras. É que a produção de Nick Terry (Turbonegro) em conjunto com a banda, acabou por amaciar e organizar o caos, causando um preocupante impacto inicial. Mas, ei, não vá embora. Nattesferd, a música (ver vídeo), mostra que o disco homônimo está longe de ser um fiasco. Facilmente um dos sons do ano, ela vem para lembrar o motivo pelo qual o Kvelertak ter virado um queridinho da imprensa especializada.


Daí para frente parece que a bolachinha resolve engrenar, ou ao menos nossos ouvidos acabam por se acostumar à pegada mais carregada no Classic Rock e menos caótica, como em Svartmesse (ver vídeo) e Ondskapsen Galakse. Bronsegud traz um tiquinho de punk Rock à mistura, mas sem agredir muito os ouvidos.


Berserkr finalmente joga alguns Blast Beats nas nossas fuças, escapando por muito pouco de soar como novo clássico dos caras. Heksebrann de cara assusta por seu padrão algo Baroness/Mastodon, mas logo assume feições Kvelertakianas ao longo de seus 9 minutos de duração, se tornando o grande destaque do disco (junto à já elencada faixa título), com seu refrão viciante embelezado por um sutil vocal feminino (ver video).


Nekrodamus encerra de maneira competente a bolachinha com um ar de Folk Metal em suas guitarras, algo como uma trilha sonora de um western empoeirado...só que rodado em Marte.

2016 - Mas cadê a Corujinha????
Saldo Final

Nattesferd é definitivamente um disco curioso: a princípio um pouco decepcionante em razão da alta expectativa criada, acaba por se tornar bastante bom com repetidas audições despojadas de comparação com o passado. Ao que parece pelo direcionamento aqui encontrado, a tresloucada coruja norueguesa vai tentar alçar vôos ainda maiores, rumo ao improvável estrelato reservado ao igualmente idiossincrático Mastodon!    

NOTA: 8,36

Pontos positivos: goste ou não, soa diferente de qualquer coisa
Pontos negativos: produção respeitosa demais com o lado Classic Rock
Para fãs de: Turbonegro, Baroness, Mastodon, Kylesa
Classifique como: Black’n’Roll, Modern Metal, retro-Rock, Space-Metal, Punk'n'Roll...ah, caralho, sei lá!!!!!

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Soilwork - The Tour Majestic (09/09/2016 - Teatro Odisseia - Rio de Janeiro/RJ)

Cartaz da turnê Brasileira
Uma verdadeira “Ride Majestic”!
Texto por Trevas
Fotos (exceto Meet and Greet) cedidas cordialmente pelo sempre excelente (e grande fã do Soilwork!!) Allan Barata - Obrigado, amigo!!

Enfim chegava o momento que o jovem Trevas imaginou nunca presenciar. Um dos baluartes do Melodic Death Metal sueco finalmente pisava no Rio de Janeiro. E, ainda melhor, consegui um Meet and Greet em uma promoção. Ah, mas nem tudo são flores. Primeiramente, o tão esperado show tomaria lugar no Teatro Odisseia...meu local desfavorito para shows no Rio. Promessa de som cocozão, ainda mais ao levar em consideração se tratar de uma banda com duas guitarras e teclado. Até a logística para colocar essa gente toda naquele palco pequenino deve ser complexa. Ok, ainda assim tentei não desanimar. O segundo senão: ganhei o Meet and Greet, e eu devia desconfiar que não se tratava de minha sorte...ganhei como todos os que concorreram, pois quase ninguém se inscreveu na promoção. Ah, não estou reclamando pela promoção em si, e sim por isso ser um indicativo de que o público a conferir os suecos seria para lá de reduzido.

Ok, após o Meet and Greet, no qual o gigante Bjorn e o guitarrista David Andersson se mostraram bastante surpresos com meu pedido de autógrafo numa cópia de Skyline Whispers, do projeto paralelo Night Flight Orchestra (ver resenha aqui), ficamos no aguardo do show em si.

Olha o sorriso do Trevas Fanboy...
E que show avassalador. Começando com a faixa título do último disco de inéditas e passando por quase todos os trabalhos da banda, o sexteto não deixou espaço para o público, não mais que mediano, respirar. Mediano em número, pois cada um dos presentes simplesmente cantava todas as músicas de maneira tal que era visível a surpresa do Soilwork. E a banda retribuía essa energia!

A Momentary Bliss - Soilwork no Odisseia (foto por Allan Barata)
Strid estava com a voz em dia e alternava os vocais urrados e limpos com maestria. Sylvain Couldret e David Andersson podem não formar a dupla de guitarristas mais prodigiosa da história dos caras, mas não fazem feio, além de demonstrar extrema felicidade em poder tocar para o público Sul Americano. Markus Wibom é uma figura, desfilando pelo palco com muita pose e carisma. O tecladista Sven Karlsson é o único que não vibra tanto durante o show, mas desempenha seu papel com competência. O novato Bastian Thusgaard se vira como pode para substituir o monstro Dirk Verbeuren, e até que se sai relativamente bem.

O tresloucado e hirsuto Wibom (foto por Allan Barata)
O som? O tradicional bololô do Odisseia, com sua habitual “síndrome do vocal baixo”. Daria para reclamar da escolha do local de maneira mais enfática, mas o público algo decepcionante me deixa sem argumentos. Não daria para transpor nem para o belo Teatro Rival.

Strid, o gigante gentil, destruindo tudo no Odisseia (foto por Allan Barata)

Bjorn Strid causando um Overload no Odisseia (foto por Allan Barata)


No mais, uma hora e quinze (e quinze faixas) depois, Strid (que supostamente fazia aniversário) agradece ao púbico e é possível sentir honestidade e gratidão em sua voz. A promessa é feita, de que o Soilwork irá retornar em breve. O grandalhão cita a casa vazia e faz o Mea Culpa por ter se ausentado quando a banda viveu seu ápice comercial, e pede que da próxima vez quem estiver ali e que tenha gostado do show traga seus amigos. Ah, Strid, te garanto que se depender do boca-a-boca de quem teve a sorte de assistir esse show destruidor, qualquer casa ficará pequena quando vocês resolverem retornar!  (NOTA:10)

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Maximus Festival - Autódromo de Interlagos – São Paulo (07.09.16)

Maximus Festival 2016
Maximus Festival - Autódromo de Interlagos – São Paulo (07.09.16)
Texto e fotos* por Trevas
*Exceto Fotos para os shows de: Halestorm, Disturbed, Marilyn Manson e Rammstein - cortesia da sempre destruidora Alessandra Tolc (Photolc), a quem vai aqui meu agradecimento - valeu!!!!

E eis que no feriado de 07 de setembro quem ganhou um belo presente foram os headbangers, em especial àqueles mais afeitos a bandas com sonoridade mais moderna. Segue aqui minhas impressões sobre o Maximus Festival, que já teve a confirmação de sua segunda edição, para 20 de maio de 2017 (meu aniversário, ora pois).
Conforme fiz ano passado com a resenha para o Monsters, separarei o texto na avaliação estrutural do evento e posteriormente na avaliação dos shows em si.


PARTE I – O FESTIVAL

Ingressos

Adquirir os ingressos pela internet foi absolutamente tranquilo. O preço certamente não é convidativo. Mas, convenhamos, não anda muito diferente dos valores cobrados para eventos de uma única banda (e.g. Scorpions e Black Sabbath). Enfim, acaba por se tornar um valor justo. A retirada dos ingressos não foi tão simples assim. Quem comprou em bilheterias logo de cara, teve que fazer uma segunda visita a pontos credenciados para trocar seu “voucher” pela pulseira que serviria de real entrada para o evento (e gerenciadora do sistema cashless, do qual logo falaremos). A troca também podia ser efetuada no dia do evento, mas acho pouco provável que alguém que compre ingressos antecipadamente tenha apostado nisso.

Eu comprei meus ingressos pela internet. Como moro em outro estado, efetuei a retirada na véspera, na bilheteria do Estádio do Morumbi. Nesse momento a retirada já dava direito a própria pulseira. Mas não foi tão simples assim. A fila nem era grande, mas o atendimento, feito por poucos caixas, mostrou-se um pouco lento demais para quem paga uma fortuna de “taxa de conveniência”. Conveniente para quem, cara-pálida? Tive um problema adicional que quase estragou minha aventura: o meu cartão usado na compra do ingresso foi clonado pouco depois da mesma. O pedaço de plástico foi devidamente cancelado, novo cartão emitido, vida que segue. Não para a retirada dos ingressos. Além do documento de identidade, me foi cobrado o cartão da compra. Informei o ocorrido. Negaram-me o ingresso: ou eu teria de ter uma fatura paga do cartão, ou o BO da clonagem(?!?!?!?!). Após um período de impasse que me pareceu um filme de terror, consegui reverter a situação (na verdade só foi resolvido quando minha retórica tornou-se longa demais e a fila atrás de mim, impaciente). Me foi informado que isso aconteceu para minha segurança. Não entendi até agora a lógica. O saldo, um envelope contendo duas estranhas pulseirinhas (minha e da Sra. Trevas). E lá vamos ao sistema Cashless.

O envelope contendo as infames pulseirinhas
Cashless – WTF?!?!?!

Bom, o tal sistema cashless supostamente serve para dois fins: evitar que o caboclo fique andando com dindin no festival, algo salutar em se tratando de grandes multidões e grandes beberagens. O outro motivo seria um melhor controle de gastos por parte do usuário, que abasteceria sua pulseirinha previamente através de cartão de crédito o quanto estaria disposto a gastar no evento. A segunda serventia cai por terra quando somos expostos a uma planilha de conversão: o dinheiro válido no evento seriam os “Metals”, cada unidade equivalendo a R$3,75. Fácil do bêbado se perder nessa, não? Pois é.

A terrível Tabela do Enrabamento
O acesso ao evento exigia a prévia ativação da pulseira, feita num cadastro online simples para quem estava em sua cidade natal e o fez num note ou desktop. Já para quem estava longe de casa e com a disponibilidade dum smartphone vagabundo, deve ter sido uma josta. Quem quisesse podia já linkar a pulseira a um cartão de crédito e abastecer a mesma. Dentro do evento, estavam disponíveis alguns pontos de recarga da pulseira, que aceitavam débito também. Ao que parece o principal dos pontos de recarga teve alguma fila de início, mas não presenciei. Os outros pontos estavam sempre com filas curtas e que demoravam no máximo uns poucos minutinhos para atendimento. Para adquirir qualquer produto ou serviço no evento, era bem simples: aproximava-se a pulseira de um leitor, que informava o saldo da pulseira e a compra a ser efetivada. A compra então era confirmada e novamente se aproximava a pulseira do leitor. Tudo com auxílio do vendedor. Bem rápido e efetivo. Aprovado. Sobre o saldo excedente na pulseira, supostamente o mesmo será estornado no cartão cadastrado. A custo módico de 2 Metals de taxa automática. Veremos. (Nota do Trevas: atualizando o post, acabo de receber via e-mail a confirmação do estorno dos Metals residuais de minha pulseira, com a taxa de conveniência de 2 Metals sendo descontada. E sim, o fato se mostrou confirmado em minha fatura do cartão, ou seja, o método realmente funcionou). 

Acesso

O acesso à pista ocorreu da maneira mais calma e rápida que já presenciei em qualquer festival que eu tenha notícia. Foi passar pela revista, encostar a pulseira num tablet e pronto, dentro estávamos. Fila zero. Na verdade, na mesma semana fui num show com pouco mais de cem pessoas e o acesso foi dez vezes pior. Nota dez!!!

Entrada, livre, leve e solta!!
Atividades

Mais econômico que o Monsters nesse ponto, o Maximus, que aproveitou acertadamente o visual da franquia Australiana Mad Max em todo seu visual, tinha algumas barracas de itens afeitos ao universo Banger (lojas de botas, acessórios esotéricos e vinis), as lojas oficiais de camisas e adereços das bandas e festival e área de Food Truck. Além disso, a Sky também arcou com uma bem montada área com carros e trono (dono de uma sempre extensa fila para fotos) fazendo referência ao universo dos filmes australianos supracitados. Ao fundo, um cemitério de mentirinha com lápides de grandes heróis do rock que já não estão mais entre nós. Bacana e simples. Os preços? Exorbitantes como sempre. As camisas, custavam em média 32. Metals. Façam as contas e imaginem a enrabada.

Calango Max além da Cúpula do Baião
Fila para sentar no trono (ver também o item: banheiros)
Alimentação e Bebida

A área de Food Truck (Gas Town, sim, a mítica Vila Gasolina) estava bem bacana e apresentava uma variedade aceitável de quitutes. As filas praticamente inexistiam. Quem não quisesse sair de frente do palco para comprar sua birita podia confiar que a qualquer momento um ambulante com um tanque de cerveja passaria por perto para o abastecimento. Outro ponto positivo do evento. O problema? Os preços, claro. Uma cerveja (Bud, que o diabo carregue essa josta) custava 3 Metals. Um sanduba? Em média uns 6. Era permitido a entrada com alimentos industrializados em sua embalagem original. Sempre recomendável fazer isso, pois passar o dia dependendo de lanchinhos com preços nada módicos pode ocasionar a falência do headbanger desavisado.

Entrada da Vila Gasolina, na verdade, um cantinho de Food Trucks

Lojinhas, para você trocar seu rim por algum badulaque maneiro
Quando a bebida oficial é Bud, pode apostar que o Posto Médico vai ficar cheio
Banheiros

Sempre com fila, os aglomerados de horrendos banheiros químicos são o pesadelo daqueles que pretendem passar o dia num evento como esse. Um grande ponto falho, ainda mais na parte da noite, quando a escuridão tornou algo além de uma simples mijada um acontecimento pavoroso. Já vi, em eventos bem menos abastados, soluções que envolvem banheiros montados em containers e caminhões, com qualidade e higiene bem melhores. Se tem um ponto que DEVE evoluir para a edição de 2017, é esse.

A fila para sentar no outro trono era mais bacana
Palco e Som

Dois monumentais palcos forma montados um ao lado do outro para os shows principais (Rockatansky e Maximus). Um palco bem mais modesto, Thunder Dome (Sim, a Cúpula do Trovão!!), receberia os shows até o meio da tarde. A estrutura do entorno do Thunder Dome esteve ok e o único show que conferi ali contou com ótimo som.

Cúpula do Trovão: dois homens entram, apenas um homem sai
Já nos dois palcos principais, alguns problemas foram notados. O piso era de terra batida, com um pouco de cascalho por cima, insuficiente para impedir a formação de poças de lama. Por sorte uma micro garoa caiu na tarde de quarta. Tivesse sido um chuvaredo, chafurdaríamos bonito.

Da lama ao caos...
Mas esse foi um mero pormenor. Se ano passado o mega telão ao fundo do palco garantiu um tremendo visual até para os shows menores, dessa vez não tivemos a mesma sorte. Uma imensa estrutura para backdrops foi disponibilizada, mas a mesma só prendia os backdrops na parte de cima, e o vento constante fazia com que eles ficassem revoltos. Enfim, algumas bandas optaram por não usar seus backdrops ou deixá-los estendidos pela metade, próximo ao solo. Uma perda de apelo visual, em especial para os shows à luz do dia, quando a iluminação não ajuda a deixar o espetáculo mais bonito. Quanto ao som, um problema bem mais complicado. Na verdade, o mesmo começou bem ruim nos palcos principais e só ficou realmente bom nos três shows principais (Disturbed, Marilyn Manson e Rammstein). De resto ou o som ficou incrivelmente baixo (Black Stone Cherry, metade inicial do set do Halestorm), ou muito embolado (Hellyeah). A clara impressão é que o poderio sonoro foi reservado propositalmente para as atrações finais. Vergonha. No mais, a acústica do local, um promontório no meio do Autódromo, parece ter contribuído para a dispersão do som, fazendo com que você visse uma massa de 40.000 pessoas cantando, mas que soavam como 10 cabruncos. Chato.

Os dois palcos principais: Rockatansky (esquerda) e Maximus (direita)

Grade de Horários do Festival
PARTE II – OS SHOWS!!!

Começamos a maratona com os improváveis rednecks finlandeses do Steve N Seagulls. Vestidos com roupas que remetem a estereótipos da caipiragem estadunidense, os cabruncos fazem versões bluegrass de estandartes do Hard e do Metal. O curto set de seis músicas foi extremamente divertido e cheio de energia, passando por coisas como The Trooper e Aces High (Iron), Seek & Destroy (Metallica) e encerrando com uma apoteótica Thunderstruck (Ac/Dc). Bem diferente e legal, o show deve ser uma monstruosidade dentro de um local de menor porte (NOTA: 8). Enquanto aguardávamos para migrar para o Thunder Dome, aproveitamos o tempo para rodar as lojinhas atrás de alguns souvenires. Enquanto isso assisti à distância o Hollywood Undead fazer sua melhor personificação de Linkin Park do início de carreira. Um show bem feito de uma banda que ainda parece ter que encontrar sua própria cara (NOTA: 6).

Família Buscapé? Nada, é só o Steve n Seagulls
Definitivamente o tipo de dupla que não se espera ver num festival de Metal (Steve N Seagulls)
No Thunder Dome, teve início o show da banda potiguar Far From Alaska. E que show. O som da banda é difícil de rotular, uma mistura de uma miríade de influências que vão do Stoner ao universo alternativo, mas bem fácil de assimilar. Os natalenses tocam com sangue nos olhos e desenvoltura, com a linha de frente dividida entre a talentosíssima e carismática Emmily Barreto (voz) e a tresloucada Cris Botarelly (lap steel, sintetizadores, chapéu do Sonic e voz). A receptividade foi surpreendentemente boa, com um bocado de gente cantando as letras, mostrando que a banda já galgou um bom território no cenário underground. Uma pena que aparentemente o show terminou com uma música a menos, fruto de um pequeno atraso por problemas técnicos no decorrer da apresentação. Muito bom (NOTA: 9).

Emmily gastando o gogó - Far From Alaska

Até Sonic toca no Far From Alaska
Seguimos para o palco Maximus, no intuito de dar uma conferida no Hellyeah, do Vinnie Paul, mítico baterista do Pantera. Confesso que nunca consegui curtir o som da banda em estúdio, mas imaginei que ao vivo a coisa pudesse ser diferente. Ledo engano. O som é pesado, obviamente Vinnie Paul detona na bateria. Mas a impressão que a banda passa é que toca a mesma música repetidamente, um Groove Metal genérico, sempre pontuada pelos gritos irritantes do esforçado e simpático Chad Gray (com a cara coberta de sangue artificial). Enfim, o show só serve mesmo para a molecada poder dizer que um dia viu o batera do Pantera em ação. Como já vi o Pantera, o show mostrou apenas uma banda tão sem graça e pouco inventiva quanto seu nome sugere (NOTA: 5).

Olha, nem suando sangue para o show do Hellyeah soar mais do que meramente esforçado
O Black Stone Cherry parece algo deslocado no cast do festival, e chega a ser curioso que uma banda que já é gigante nos Estados Unidos se apresente tão cedo no Festival. E você sabe que o negócio vai pegar fogo quando os roadies ao invés de abastecerem o praticado da bateria com garrafas de água mineral, o fazem com Jack Daniels! Desfalcados do segundo guitarrista (não consegui entender o motivo), o BSC ganhou o reforço do Joe Hottinger, guitarrista e eventual peguete de Lzzy do Halestorm. E o gorducho Chris Robertson, completamente rouco, puxou a performance de sua banda para uma apresentação que deveria ser memorável, debulhando nos solos, com um desempenho arrasa-quarteirão do baterista John Fred Young, muita empolgação por parte do baixista John Lawhon e cercado de boas canções de um Southern Rock mesclado com Heavy Metal. Uma pena que o festival não colaborou. O backdrop da banda ficou tão revolto com a ventania que acabou sendo recolhido ao início da apresentação. E, muito pior, o som ficou tão baixo que se tornou difícil escutar os solos e alguns riffs. E não melhorou nem um pouco durante todo o show. O público e banda se comportaram como se tudo estivesse ok, o que foi bom, diversão garantida. Mas ficou aquela sensação de que os caipiras, que detonam fortemente, mereciam mais (NOTA:7,5).


Chris Robertson jogando para a galera - Black Stone Cherry
Joe Hottinger pegando mais cedo no serviço - Black Stone Cherry
Hora de Lzzy Hale e sua trupe. Com os backdrops firmemente montados (na verdade, os mesmos faziam “barrigas” por conta do vento durante o show), o quarteto estadunidense toma o palco Maximus com Love Bites (So do I), nada mais nada menos a faixa que garantiu o Grammy para a banda.

A frente do palco estava abarrotada, mostrando que a ótima apresentação do Halestorm no Rock In Rio rendeu frutos. O Hard Pop dos caras pode ficar meio diluído em estúdio, mas ao vivo a coisa muda de figura: Lzzy é uma frontwoman com talento e carisma suficientes para deixar seu nome escrito na história do rock. Mesmo parecendo rouca, a moça não economiza o gogó, berrando a plenos pulmões enquanto o irmãozinho Arejay detona na bateria. Em jornada dupla, Hottinger manda melhor nas guitarras do que eu imaginava enquanto Josh Smith ajuda a construir uma cozinha de respeito. O show já era bom o suficiente com o som meia boca, e ficou ainda melhor quando finalmente conseguiram deixar o belo palco com uma potência sonora digna do evento. Showzaço (NOTA:9,5).

Lzzy ensinando os marmanjos a arte perdida do rock and roll (Foto por Alessandra Tolc)
Contando com uma concentração bastante menor que a do Halestorm frente ao palco, os britânicos do Bullet For My Valentine pareciam que iriam encarar uma plateia com algum nível de hostilidade. Era comum ouvir gente reclamando da banda antes do show, associando a mesma equivocadamente com a cena emo, por exemplo. Bastou apenas uma música para as mesmas pessoas ficarem olhando com visível curiosidade para o quarteto, impressionadas com o peso que aqueles jovens com cara de Boy Band emanam ao vivo (N.T.: em determinada pausa entre as músicas, um grupo de meninas, eufórico, gritou: fiquem pelados!!! Uma pena que não tive essa ideia enquanto a Lzzy estava no palco). Michael Thomas fez A performance baterística do dia, em um festival onde o instrumento já vinha sendo muito bem tratado. Michael Paget e Matthew Tuck detonaram nas dobras de guitarra e solos, enquanto o novato Jaimie Mathias se desdobrava entre as linhas de baixo e parte dos vocais. O som no palco já se fazia bem melhor do que nas apresentações anteriores, com exceção dos vocais de Tuck, bem baixos, em especial quando este utilizava o microfone principal (por vezes ele cantava em um microfone posicionado atrás do praticado da bateria). As luzes já começavam a fazer diferença, tornando o espetáculo ainda melhor. Claro que de nada adiantaria tocar bem e ter a iluminação a seu lado se suas músicas também não forem boas o suficiente. E cara, como são. Com um set recheado de faixas do ótimo novo disco, Venom, somadas aos Hits, o BFMV fez a felicidade dos fãs e certamente conquistou mais um monte daqueles que antes se mostravam incrédulos. (NOTA: 9).

Matt Tuck debulhando a guitarra - BFMV
Michael Paget e os canhões de luz fazendo efeito - BFMV
Talvez o Disturbed fosse a banda com menor rejeição de todo o festival. Tinha gente que torcia o nariz para o Marilyn Manson e vi alguns fãs do shock rocker enciumados com a importância dada aos headliners alemães. Mas o Disturbed? Ainda que um pouco, todos ali pareciam curtir os caras. O início, com som impressionante e aquela sequência de hits que só uma banda que ganha o primeiro lugar da Billboard desde o debut pode ter à disposição, parecia acenar para o melhor show do festival. Mas em algum momento a coisa desandou. David Draiman, cada vez mais roliço e parecendo o Gru da animação Meu Malvado Favorito, vez ou outra lançava olhares algo perdidos e/ou desinteressados, insistindo em puxar o estranho coro “olê-olê-olê-Disturbed, Disturbed”, meio sem graça, como se não soubesse lidar com o público que tinha em mãos. E se ainda assim a plateia agitava sem parar, o interesse diminuiu consideravelmente quando, sem ser possível entender o motivo, a banda emendou uma sequência de covers desnecessários (Simon & Garfunkel, U2, Rage Against the Machine, The Who) que deixou a apresentação com cara de Karaokê. Não ajudou em muito a sequência com the Light, a pior música do novo disco, que deixou o vocalista meio no vácuo ao pedir sem ser lá muito atendido para que o público levantasse os celulares iluminados no refrão. Mas nem tudo estava perdido, Stricken iniciou uma quadrilogia matadora na reta final do show, e Down With the Sickness encerrou com dignidade uma boa apresentação que perdeu a grande chance de ser memorável (NOTA: 7,5).

Meu malvado favorito - David "Gru" Draiman e seu Disturbed (foto por Alessandra Tolc)
Olha, vi muito fã das antigas do Marilyn Manson assustado quando subiu ao palco, com algum atraso, uma figura que mais se assemelhava ao Nicholas Cage interpretando um proxeneta de luxo em alguma ficção científica dirigida por Luc Besson. Roliço e vestindo um terninho, MM andava erraticamente pelo palco, numa tentativa infrutífera de tentar parecer um respeitável crooner. O impacto inicial, que já não fora lá muito positivo, foi piorando música após música, seja pelo inexplicável e longo intervalo silencioso entre uma música e outra (quebrado por alguns barulhinhos de guitarra desconexos), seja pela postura “foda-se’ que o repaginado anticristo imprimia em suas interpretações das músicas, por muitas vezes balbuciando as letras de maneira displicente. Era assim: as luzes se acendiam, MM cantava erraticamente alguma música com arranjo modificado do original, MM tacava o microfone no chão, luzes se apagavam, dois minutos de espera com pim-pam-pum solitário na guitarra, MM voltava ao palco, repete-se o circo. Tudo isso quebrado apenas por um momento de chilique do astro (com um corte numa das mãos – cenográfico?) com alguém da plateia, interrompendo a execução de algum número musical desinteressante, para então ser retomada a chata rotina do show. Se musicalmente a carreira do esquisitão é passível de discussão, nos palcos sempre ouvi falar que ele detonava. Bom, pelo visto isso foi no passado, atualmente o roliço clone de Nicholas Cage que subiu ao palco do Maximus interpreta um péssimo Marilyn Manson. Constrangedor (NOTA: 3).

Nicholas Cage não acerta uma faz tempo (Foto por Alessandra Tolc)
Vou ser sincero: se teve um motivo em especial que fez com que eu e minha esposa nos deslocássemos até outro Estado para esse Festival, esse motivo atende por um nome – Rammstein! Temos aqui um cabrunco que deve ter batido o recorde de reproduções do DVD Live Aus Berlin. Ao menos em DVDs o espetáculo que os caras fazem parecia incomparável. E bastou uma música para que toda essa expectativa fosse confrontada com a realidade – o show do Rammstein é definitivamente o melhor espetáculo da atualidade. A qualidade de som impecável realça todo o peso do Metal Industrial praticado pelos teutônicos, e nem as letras na língua de Schweinsteiger impedem que a multidão que preenche por completo o espaço dos dois palcos até o fundo cante a plenos pulmões palavra por palavra. Os praticados das luzes no palco se movem música após música, fazendo com que até mesmo quando a pirotecnia não se fazia presente o apelo visual fosse algo único e mutante. A performance dos caras é estudada e bastante eficiente, com aquela postura algo robótica, algo alienígena entremeada por um senso de humor ácido. Ah, e os efeitos pirotécnicos? Esses fazem o show do Kiss parecer um número qualquer de algum circo decadente. O repertório, iniciado pela nova Ramm 4, perpassa toda a carreira dos alemães, ficando difícil achar algo para reclamar. Enfim, uma espécie de Disneylândia infernal para headbanger nenhum botar defeito. Inesquecível! (NOTA: 10)


Feuer Frei!!!! Rammstein fazendo a primeira fila de pururuca (Foto por Alessandra Tolc)

Saldo Final

Comparado ao Monsters do ano passado, esse Maximus ganhou de lavada por apresentar um Line Up composto em sua grande maioria por bandas que ou estão no auge ou ainda tem sangue nos olhos para tentar chegar até lá. Com uma organização exemplar no que tange ao acesso à entrada e aos serviços oferecidos, o festival também mostrou-se um avanço considerável se comparado a seu irmão mais velho. A pontualidade dos shows também foi outro ponto para lá de positivo, assim como a variedade de estilo das atrações. De negativo, restou a defasagem na qualidade de som dos shows principais para o das outras atrações (coisa que não aconteceu tão marcadamente no Monsters) e o alto preço cobrado pelos produtos e serviços no festival. Se as atrações anunciadas para a próxima edição forem minimamente atraentes, nos vemos de novo em 2017!!!








domingo, 18 de setembro de 2016

Gus Monsanto – Karma Café (Cd-2016)

Gus Monsanto - Karma Café

Gus Goes Solo!
Por Trevas

Prólogo - Uma Longa Gestação



Sabe aqueles filmes de heróis que vemos hoje em dia, onde diversos personagens interessantes, com história de vida e brilho próprios são diluídos para servir a uma trama complexa e você é pego pensando: “pô, personagem X bem poderia ter um filme só dele, né?”. Mas o filme esperado nunca vem. Pois então, assim parecia seguir a carreira do vocalista Petropolitano Gus Monsanto.


'É, cara, tô falando com você!" Gus Monsanto



Um dos melhores vocalistas de rock pesado a ter surgido em território tupiniquim em todos os tempos, Gus possui considerável reputação no Velho Continente, tendo participação marcante em bandas como Adagio (França), Human Fortress (Alemanha), Takara (EUA) e, obviamente, Revolution Renasissance (o combo multinacional capitaneado pelo guitarrista Timo Tolkki). Isso sem falar nas Brasucas Angel Heart, Symbolica e Astra. Some isso às inúmeras participações especiais (Dr. Sin, Skyrion, Julien Damotte...) e você tem uma discografia bastante rica. Algo que talvez só tenha paralelos com a carreira do também excelente Jeff Scott Soto





O “problema” é que em muitos desses casos o vocalista usou seu talento para tentar imprimir sua marca em músicas idealizadas por outros artistas. Era de se esperar, portanto, que em algum momento o cara sentisse uma forte necessidade em poder exprimir sua arte seguindo suas próprias regras, expiando seus próprios demônios e colorindo seus próprios sonhos. E aí teve início a longa gestação do que viria ser Karma Café, um trabalho que começou a ser elaborado lá pelos idos de 2013 e que acaba de ser lançado, um pouco na surdina, para surpresa geral. A se considerar a versatilidade de Gus somado ao fato de sua discografia passear por diversos estilos dentro do rock pesado, pairou a dúvida no ar; que caminho seguiria o vocalista em sua primeira aventura solo? Apostaria ele no Power Metal, cena na qual talvez tenha obtido maior reconhecimento? Ou estaria ele reservando alguma surpresa? Pois então, pegue uma mesa no Karma Café e vejamos o que tem no menu.



Adentrando o Café

A trinca inicial, com a ótima faixa título seguida pela animada No Candle Left In The Box e a Zeppeliana Elephant In The Room (composta em parceria com o irmão Jayme, uma de minhas favoritas, diga-se), já mostra o tom do disco: sonoridade Hard flertando com o Pop (chame de Melodic Rock, se quiser). Gus está cantando de maneira solta e repleta de feeling, sabedor do que cada canção pede em termos de performance. Nada aqui é over e não há sequer um pingo de Power Metal na bolacha, o que pode assustar um pouco os fãs da discografia do vocalista e que desconhecem seu rico pool de influências.

Fire and Dynamite é daquelas faixas que poderiam muito bem ganhar as rádios rock, num mundo onde as mesmas ainda existissem, claro. Repleta de belas melodias e com arranjo bem bolado e belas intervenções de guitarra, cortesia de William Belle. A produção, ao encargo de Gus com Celo Oliveira aposta numa sonoridade cristalina e com espaço para todos os instrumentos brilharem. Mas deixando claro também se tratar de um disco de canções, e num trabalho assim a estrela absoluta é a voz, como vemos nas harmonias cuidadosas das faixas mais pop como Time (outra parceria com Jayme Monsanto e que possui absurda veia radiofônica), A Girl I Know, Going Insane, Fel (com algo de country e Beatles) e Shooting Star (a menos inspirada para meu gosto, a despeito dos belos solos).





Nas letras é possível observar uma intensa carga emocional, tudo soa extremamente pessoal e é possível notar um tom algo melancólico. Mas essa sutil melancolia nunca transparece na energia que as músicas passam, bastante positiva, diga-se.


A bolachinha volta a ganhar peso com a ótima Forbidden, que bem poderia ser a melhor música que o Dokken fez em séculos. O pop volta com força total e muita qualidade em Why?, com belo interlúdio com destaque para o baixo de Jayme. After the Storm é a minha favorita do lado mais calmo do disco e duvido alguém escutar a viciante Change the World sem sair fazendo os “nanana” junto com o Petropolitano. A primeira aventura solo de Gus termina com uma mensagem bem “alto astral” da curtinha e rocker Nothing is Impossible, com leves toques à lá Marillion, cortesia dos teclados de Bruno .


Saldo Final

A estreia de Gus Monsanto traz um material muito bem feito, repleto de belas melodias e executado por um time para lá de talentoso, num disco daqueles de se escutar por inteiro sem cansar. Talvez represente um choque inicial para os fãs da carreira do vocalista, cujos maiores feitos sempre estiveram mais relacionados ao universo do Power Metal.  Um trabalho que fará a alegria dos fãs de Melodic Rock e AOR em especial. Se você gosta da gravadora Frontiers e seus combos sempre eficientes de Melodic Rock, não perca tempo e corra atrás dessa belezura. Resta esperar que o disco, já disponível no Spotify e em mídia física, seja bem recebido e que o vocalista não demore tanto assim para soltar um novo trabalho solo.


NOTA: 8,42


Pontos positivos: belas melodias, vocais caprichados e arranjos que valorizam as canções
Pontos negativos: trabalho bastante melódico, não há muito espaço para peso aqui
Para fãs dos trabalhos da gravadora Frontiers e congêneres;
Classifique como: Melodic Rock, AOR, Hard Pop