quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Machine Head - Bloodstone & Diamonds (Deluxe Edition - Cd)

Capa da Edição Deluxe
Avassalador
Por Trevas
Prólogo: Uma Viagem ao Inferno
Vinte anos se passaram desde que o Machine Head marcou seu nome na história do heavy metal com o lançamento do matador Burn My Eyes. Quem vê a banda estampando as capas dos meios de imprensa especializados ao redor do globo pode ter a impressão de que os californianos tiveram uma carreira repleta de glórias. Ledo engano, Robb Flynn e sua trupe trilharam uma estrada para lá de tortuosa.

O clássico Burn My Eyes
A banda nasceu da ruptura de Robb Flynn com a Vio-lence, em 1991. Robb rapidamente se uniu ao amigo Adam Duce, um adolescente problemático que havia recentemente pego gosto pelo baixo. Duce indicou seu amigo de infância Logan Mader para a guitarra e o baterista Tony Constanza assumiu as baquetas. Os quatro gravaram uma demo sem muita expectativa, demo esta que parou nas mãos de um executivo da Roadrunner. Um contrato foi oferecido, Chris Kontos assumiu a bateria e Burn My Eyes foi gravado, se tornando o disco de estreia mais vendido da história da Roadrunner, 400.000 cópias justamente em um período onde o Grunge havia praticamente sepultado a cena metálica.


Burn My Eyes revitalizara o Thrash Metal, mas a partir daí a banda envolveu-se em escolhas para lá de polêmicas. Não dá para dizer que o segundo disco, The More Things Change (já com Dave McClain na bateria) seja ruim, mas sua abordagem com muito mais groove falhou em impressionar os fãs mais xiitas, a despeito de possuir faixas como Ten Ton Hammer.


The Burning Red adicionou ao som do Machine Head elementos do então imberbe (e infame) Nu Metal. Para deleite da Roadrunner, e desespero dos puristas, o disco vendeu horrores (em muito puxado pelo sucesso de The Blood, The Sweat, The Tears). A mudança também se fez notar nas atitudes e no visual da banda, cada vez mais próximas da estética Adidas comum à época. Internamente, as coisas desmoronavam rapidamente. Robb, Duce e Mader chafurdavam cada vez mais em metanfetamina, com esse último perdendo o posto após inúmeras brigas e ausências a ensaios e até mesmo shows. Mas foi uma infeliz coincidência que quase pôs um ponto final na outrora promissora carreira dos californianos.

Machine Head em sua controversa fase Pula-pula 
Apostando novamente no som do momento, o Machine Head gravou o fraco Supercharger. A aposta da Roadrunner e da banda era que o disco seria um sucesso entre os novos headbangers. E possivelmente repetiria ou suplantaria a vendagem do lançamento anterior, não fosse a coincidência citada anteriormente: o videoclipe para o primeiro single, Crashing Around You, trazia cenas de vários edifícios desmoronando. Lançados poucos dias após o atentado de 11 se setembro, o clipe e single foram banidos. A Roadrunner, que investira pesado na banda, resolveu rescindir o contrato (lançando ainda o ao vivo Hellalive para cumprir tabela). De postulantes a novos deuses do metal, os rapazes do Machine Head foram abandonados à própria sorte. O vício em drogas e crescente conflito interno em nada ajudaram. A história parecia chegar ao fim.

Ressurgimento das Cinzas

Robb Flynn encontrou em sua esposa e filhos a força para vencer o vício e em um misto de desespero e obstinação, resolveu tentar um recomeço. Com o escudeiro Adam Duce e Dave McClain ao seu lado, escolheu Phil Demmel para o posto de guitarrista e produziu sozinho o novo disco. Após dezenas de negativas em território americano, Through The Ashes Of Empires foi lançado na Europa. Os primeiros instantes da faixa de abertura, Imperium, já deixavam claro que o Machine Head havia voltado com sangue nos olhos, abandonando para trás o modismo e os experimentos. A receptividade pela mídia europeia fez com que a Roadrunner USA resolvesse oferecer um novo contrato à banda em sua terra natal. A presença no top 200 da Billboard marcaria o triunfo de Robb e o renascimento do Machine Head.


Mas os californianos queriam mais. Após longa turnê e buscando inspiração no Rush (em especial A Farewell To Kings), o Machine Head entra em estúdio para gravar o ambicioso The Blackening. Lançado em 2007, o disco conquistou a imprensa especializada e os fãs europeus, com o mesmo alcançando o top 20 em vários países daquele continente. Sua força residiu no casamento entre ferocidade e técnica, com quase todas as músicas atingindo mais de 7 minutos de duração. Trilhando a linha tênue entre a pretensão e a genialidade, o disco conquistou muitos novos fãs para a banda.


Após uma turnê ainda mais longa que a anterior, é lançado Unto the Locust, em 2011. O disco beirava a perfeição, com os eventuais exageros estilísticos de The Blackening dando lugar a temas muito bem estruturados e de uma maturidade incomum, sem perder o peso avassalador. Pela primeira vez o Machine Head adentrou o top 25 da Billboard e em vários países da Europa a banda chegara ao Top 5. Unto The Locust não só manteve a boa fase, representou uma palpável evolução. Passada mais uma turnê de sucesso, as relações internas se deterioram ao ponto da expulsão do outrora fiel escudeiro Adam Duce. Em meio ao turbilhão, Robb finalmente anuncia seu novo rebento. Sinceramente, me peguei pensando: como seguir uma sequência de discos tão fortes? Teria a boa fase chegado ao fim? Estava preparado para a decepção, mesmo que de leve.


O Disco

Tal como I Am Hell no disco anterior, Now We Die inicia com arranjos floreados. Dessa vez ao invés de um coral temos um quarteto de cordas que a princípio soa estranho, mas acaba por dar um charme à música. Utilizada como primeiro single, Now We Die segue o mesmo padrão do material de Unto The Locust, com estrutura épica, pesada sem abrir mão de um refrão memorável.


A primeira impressão, de continuidade na estética musical do disco anterior, cai por terra já com Killers & Kings, uma faixa direta que traz em seu refrão óbvia referência ao Thrash oitentista, com gang vocals e tudo. Excelente e que deve ter presença garantida nos shows dessa turnê. Ghost Will Haunt My Bones ressuscita o Machine Head de Through The Ashes Of Empires com seu grande senso melódico aliado a muito peso.


Night Of The Long Knives, apresentada como segunda música de trabalho do disco, transmuta em violência sonora os sangrentos assassinatos cometidos pelos seguidores do imbecil Charles Manson. A “Família Manson”, em agosto de 1969, ao matar a atriz Sharon Tate, quatro de seus amigos e o casal LaBianca, sepultou também a utopia da geração do Verão do Amor e com ela toda a cultura Hippie. Obviamente o ponto de vista de Robb é ácido e esmiúça a patética capacidade humana de seguir cegamente a cultura do ódio. Confesso que quando o Lyric Video fora lançado, Night Of the Long Knives não mexeu comigo. Mas após umas três audições logo se tornou uma de minhas favoritas.


Sail Into The Black começa atmosférica, com um fantasmagórico canto gregoriano adornado por um igualmente sombrio piano coroando a maturidade de Robb Flynn como compositor e arranjador.  A segunda metade de seus oito minutos de duração traz um riff monolítico, de um peso absurdo. Mais uma grande faixa para a coleção do Machine Head.

Machine Head 2014
Eyes Of The Dead é mais visceral, ainda que curiosamente intrincada, e é quase impossível não cantarolar Murder, Murder junto a seu refrão. Os duelos de solos entre Demmel e Flynn, destaque recorrente desde o ressurgimento da banda, ficam cada vez mais impressionantes, remetendo aos tempos áureos do metal oitentista, quando se dava uma grande importância a esses detalhes. Robb mostra nessa faixa que está cada vez melhorando mais como vocalista, soando em alguns momentos mais brutal que nunca, e em outros com um refinamento melódico só adquirido recentemente.

Robb após uma temporada na casa de Zakk Wylde
Sim, a versatilidade do novo disco já impressiona até aqui, mas Beneath The Silt ressalta ainda mais esse diferencial. A mesma parece saída do bestiário musical do Down (inclusive com Robb encarnando sua personificação de Phil Anselmo em alguns momentos) o que definitivamente não é ruim. In Comes The Flood, com sua letra atacando fortemente o “sonho americano”, reitera a constatação de que Demmel e Flynn andam com inspiração em alta na criação de riffs. Novamente parece haver algum novo tempero na música, algo difícil de explicar: ainda soa como Machine Head, mas de uma maneira diferente, reflexo de uma banda em seu novo auge.

Damage Inside funciona como um etéreo interlúdio para a agressividade inclemente de Game Over, uma cusparada venenosa em direção ao agora desafeto Adam Duce. O novato MacEachern que no restante do disco luta bravamente para se fazer ouvir em meio à performance sempre demolidora do excelente Dave McClain (um dos bateristas mais subestimados da cena), aqui ganha seu merecido destaque. Ainda que extremamente pesada, Game Over tem um refrão tão contagioso que poderia figurar em algum hit de uma rádio rock fictícia.

Capa da edição em formato tradicional
Imaginal Cells, um interlúdio que mistura trechos de falas com um tema instrumental que parece saído de algum trabalho do Megadeth, prepara o terreno para o encerramento com Take Me Through the Fire, a música mais mundana do repertório do novo disco. Não me entenda mal, Take Me está longe de ser ruim, apenas empalidece quando comparada a excelência do material que a antecedeu.

Saldo Final

Bloodstone & Diamonds é a prova cabal de que a torrente de criatividade do renascido Machine Head não tem limites. A qualidade do material aqui presente se faz ainda mais impressionante se levarmos em conta que a banda não se rendeu à fórmula estética que garantiu o sucesso dos discos anteriores. A temida estagnação criativa definitivamente parece estar a uma galáxia de distância, mas dessa vez ao invés de me preocupar com o que o futuro reserva para uma de minhas bandas favoritas, curtirei o seu presente. Um presente brilhante, diga-se.  

NOTA: 9,5

P.s.: A edição Deluxe aqui analisada não apresenta nenhum material extra, mas vem encartada em um belo Digibook cujo interior emula um livro de ocultismo. Apenas para os mais aficionados.

Prós:
Grande músicas, ótima execução e produção caprichada.
Contras:
Um pouco longo, pode cansar os ouvintes com déficit de atenção.

Classifique como: Modern Heavy Metal, Groove Metal, Thrash Metal

Para Fãs de: Fãs de Thrash e de um Heavy mais moderno

Ficha Técnica
Banda: Machine Head
Origem: EUA
Disco (ano): Bloodstone & Diamonds – Deluxe Edition (2014)
Mídia: CD
Lançamento: Nuclear Blast (Importado, versão nacional anunciada)

Faixas (duração): CD  - 12 (71’).
Produção: Robb Flynn e Juan Urteaga
Mixagem: Colin Richardson
Arte de Capa: Marcelo Vasco e Rafal Wechterowicz

Formação:
Robb Flynn – Guitarra e voz;
Phil Demmel – Guitarra;
Jared MacEachern – baixo;
Dave McClain – bateria.

2 comentários:

  1. Tinha perdido o respeito por eles, se venderam, viraram música de moleque boiola, mas escutei um pouco desse disco aí e tá da hora. Acho que vou até tirar a poeira do Burn My Eies.
    valeu
    Danilo

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    Respostas
    1. Fala, Danilo
      Pois é, os caras realmente pisaram um pouco na bola. Mas pode ter certeza, do Through The Ashes em diante, é só disco foda!
      Abraço
      T

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