segunda-feira, 29 de julho de 2013

Anthrax - Anthems (EP - 2013)



Anthems - Anthrax Versão Classic Rock

Prólogo - a jornada até o Big 4

Um dos Big 4 do Thrash Metal mundial, o Anthrax lançou seu primeiro disco em 1984 (Fistful Of Metal), mas achou de fato sua voz no disco seguinte, sob a figura esquisita de Joey Belladonna e sua indefectível franja e vocais um tanto agudos para uma banda de Thrash, o que terminou por se tornar um diferencial. Capitaneados pela dupla Scott Ian (guitarra base) e Charlie Benante (um dos melhores bateristas da história do metal), o Anthrax lançou um punhado de discos que se tornariam referência em se tratando de Thrash Metal, com uma pitada de groove mais acentuada que seus colegas de cena.

Anthrax em 1985 - Só cabelo maneiro

Em 1992 Joey Belladonna foi demitido, sendo então substituído pelo excelente John Bush, que fizera fama no Armored Saint, banda que então acabara de encerrar as atividades. Mudando consideravelmente seu estilo, a banda alcançou um patamar comercial ainda mais alto por conta de Only (ver vídeo abaixo), hit single para seu novo disco, o bom Sound Of White Noise (de 1993). O problema é que daí em diante o Anthrax nunca mais conseguiu se encontrar, lançando trabalhos que falharam em impressionar os velhos fãs e tampouco angariaram novos seguidores. Em 2003 o ótimo We’ve Come For You All colocaria a banda de volta nos trilhos. 

Anthrax com John Bush...e lá se foram as jubas.

Mas bastou uma oferta gorda de um festival para que a formação “clássica” se reunisse para que a banda voltasse a enfrentar um período conturbado. Inicialmente a proposta fora aceita por Charlie Benante, que intencionava excursionar pelos festivais de verão na Europa com os vocais de John Bush e Joey Belladonna. John Bush, que acabara de se tornar pai, aproveitou a situação delicada para se desligar oficialmente do Anthrax. A reunião da formação clássica aconteceu em 2005, rendendo o ao vivo Alive 2, mas nem tudo correu bem e logo Belladonna sairia novamente (com o guitarrista Dan Spitz, em 2007). Desesperada e tendo que cumprir diversas datas importantes, a banda recruta John Bush às pressas. Bush concorda, mas avisa que seria apenas para quebrar o galho, já que ele se aposentara das grandes turnês.


Logo a banda anuncia seu novo vocalista, o então desconhecido Dan Nelson. Nas entrevistas, Charlie e Scott cantam ao mundo o quanto o novo vocalista é fenomenal, e que estariam gravando o disco de suas vidas. Pouco depois e sem maiores explicações Dan é demitido, e até hoje o assunto é tratado como tabu nas entrevistas com a banda. Não se sabe ao certo o que aconteceu internamente, mas as gravações foram abortadas e a banda se viu em maus lençóis novamente. Eis que em 2010, após extensa negociação, Joey Belladonna retornou ao cargo que o tornou famoso e finalmente a banda pode viver um período de calmaria. Vieram então os convites para integrar o Big 4 e as gravações de um novo disco, que dizem, pouco aproveitou das músicas compostas nas sessões com Dan Nelson.

Anthrax com o grandalhão Dan Nelson 
Após uma bem sucedida turnê mundial promovendo o rebento de 2011, Worship Music, a banda voltou ao estúdio para a gravação de um EP. 

Anthems - o EP!

O novo EP do Anthrax traz um apanhado de covers de bandas que pouco ou nada tem em comum com o Thrash Metal praticado pelos malucos de Nova Iorque. Vendido em formato digipack, o EP tem várias capas diferentes, cada uma trazendo referência às artes originais dos singles/discos homenageados. A capa externa (um envelope com espaço recortado no logo/pentagrama) é padrão, permitindo em seu recorte a visualização da capa interna, no meu caso, a que faz referência à TNT, do AC/DC, com o mascote Not Man fazendo as vezes de Angus. Uma ideia simples e divertida, e colocarei a maioria das capas aqui na resenha.

O Conceito da Capa Envelope
Anthem do Rush abre a bolachinha arregaçando, com Belladonna suando para alcançar os agudos estratosféricos de Geddy Lee. TNT traz uma impressionante transmutação da banda no AC/DC dos tempos de Bon Scott. 

Capa 1 - Rush
Capa AC/DC - Not Angus Man
A surpreendente escolha de Smokin’ do Boston rende uma versão bem empolgante, com participação do tecladista canadense Fred Mandel, músico de estúdio que já contribuiu com gente do quilate de Pink Floyd, Elton John, Queen e Alice Cooper.

Uma capa de Boston, com o perdão do trocadilho

E que tal então um dos Big 4 coverizando Journey? Nenhuma novidade, pois foi justamente cantando Steve Perry que Belladonna impressionou o Anthrax em seu teste para a banda. A semelhança da voz de Joey, que parece estar em sua melhor fase (ao menos em estúdio), com Steve chega a assustar em alguns momentos.


Big Eyes é a segunda música do sempre divertido Cheap Trick que a banda coveriza (a primeira havia sido Auf Wiedersehen) e o resultado ficou excelente. Jailbreak do Thin Lizzy traz o galês Phil Campbell, fiel escudeiro de Lemmy kilmister no Motörhead desde 1983 e como tal grande fã dos irlandeses, na guitarra solo.

A garota com os tais grandes...olhos...

Releitura da clássica capa de Jailbreak
Divertida a princípio, a bolachinha traz dois problemas: o primeiro é que muito pouco do som do Anthrax pode ser encontrado aqui, já que as versões respeitam demais as originais. Um bumbo duplo aqui, uma guitarra mais agressiva acolá, mas já que a banda ousou na escolha dos covers, poderia também ter ousado nos arranjos. O outro problema é que temos ao final do disco a inclusão de duas versões para Crawl, música já conhecida do legalzinho Worship Music. A primeira versão é uma edição mais curta da original e a segunda apresenta um arranjo orquestrado. Nenhuma das duas vale muito a pena, já que a música é apenas razoável.


Saldo Final

Anthems é um bom EP, gostoso de escutar e algo viciante, mas que pode deixar os fãs de Thrash mais xiitas com raiva pela seleção de músicas. Só faltou ao Anthrax ser um pouco mais...ANTHRAX!


NOTA: 7,5


Ficha Técnica
Banda (Nacionalidade): Anthrax (EUA)

Título (ano de lançamento): Anthems (2013)
Mídia: EP

Gravadora: Megaforce/Nuclear Blast (Importado)

Faixas: 8
Duração: 33’

Rotule como: Heavy Metal, Hard Rock

Indicado para: fãs de classic rock/ Hard Rock (sim, isso mesmo)  
Passe longe se: estiver sedento por Thrash Metal e/ou tiver urticárias à menção de bandas como Boston e Journey...

sábado, 20 de julho de 2013

Curtas: Adrenaline Mob, Airbourne, Cathedral e Halestorm



Curtas: Adrenaline Mob, Airbourne, Cathedral e Halestorm


Adrenaline Mob - Covertá
Adrenaline Mob – Covertá (Ep – 2013)

A agora ex-superbanda de Mike Portnoy (um dos melhores bateristas da história recente do metal e também uma das figuras mais malas da cena) com o fantástico Russel Allen (vocalista do Symphony X) nos presenteou com mais um EP, dessa vez contendo somente versões para clássicos do Hard/Heavy. Em conjunto com o ótimo Mike Orlando (guitarras) e John Moyer (baixista do Disturbed), Portnoy e Allen arregaçam em faixas como a ótima High wire (do Badlands) e Barracuda (do Heart), mas não fazem justiça aos originais de Romeo Delight (Van Halen) e break on Through (The Doors). Lemon Song (Led Zeppelin) parece perdida em meio aos outros sons e as versões de faixas que continham Dio como vocalista em suas originais ficaram corretas, pois se há alguém capaz de fazer justiça à Ronnie, esse cara é Russel Allen. No geral, um disco legal, mas como o restante da curta discografia da banda, nos deixa aquela sensação de que falta algo.


NOTA: 6


Portnoy, Allen e grande elenco batem na trave...de novo





Airbourne - Black Dog Barking

Airbourne – Black Dog Barking (CD – 2013)

Os tresloucados australianos vem impressionando o mundo com seu som calcado nos primórdios do AC/DC, ancorados mais ainda por seus shows carregados de energia. Mas se ao vivo a banda já é considerada uma realidade e aparece em destaque em diversos festivais no verão europeu, em estúdio a coisa ainda não chega a emplacar. Com uma mistura da sonoridade AC/DC da era Bon Scott com infusões do hard rock americano do final dos anos 1980 (leia-se Motley Crüe e afins), tudo nesse terceiro disco da banda soa bacana e divertido, mas ao final dos seus pouco mais de trinta minutos de duração fica aquela sensação de que a banda deveria se esmerar um pouco mais e não soar tão genérica. Mas se você não se importa tanto com originalidade há de se divertir com a bem produzida bolachinha. Ah, e a capa é animal!

NOTA: 7

Attack Of the Mad Aussies





Cathedral - The Last Spire


Cathedral – The Last Spire (CD – 2013)

Talhado como o ultimo disco da carreira de um dos combos mais festejados da história do Doom Metal, The Last Spire é bem menos afeito á experimentações do que The Guessing Game (disco de 2010). Após uma demasiado longa introdução climática, Pallbearer finalmente toma nossos ouvidos de assalto com o que Lee Dorrian e sua trupe sabem fazer de melhor: Doom ultra arrastado calcado em riffs monolíticos do subestimado Gary Jennings. Já li por aí reclamações de que o disco pouco arrisca e não mostra nada diferente do que a banda já fizera no passado. Não deixa de ser verdade, mas considerando se tratar do encerramento da história da banda, creio que a intenção tenha sido justamente fazer uma ode ao próprio legado. Um senhor legado, diga-se de passagem, e The Last Spire mostra-se um final bastante nobre para uma banda que deixará saudades.

NOTA: 8

Lee Dorrian e sua turma, sempre sem pressa


Halestorm - The Strange Case Of
Halestorm – The Strange Case Of (CD – 2012)

Os novos queridinhos da América faturaram um Grammy como melhor canção Hard/Heavy pela faixa de abertura desse seu segundo disco, a viciante Love Bites (So Do I). Mesclando uma mão cheia para melodias radiofônicas e um vigor de botar muita banda de Hard rock no chinelo, os talentosos irmãos Lzzy (voz e guitarra) e Arejay Hale (bateria) fizeram um disco quase perfeito para o mainstream, mas que pode ser bem apreciado por fãs de um rock mais true. “Quase” porque o excesso de baladas acaba por cansar um pouco a audição completa do disco. Uma pena, pois é justamente nas faixas mais pesadas que a banda se sai melhor: a sequencia inicial com a já citada Love Bites, Mz Hyde, I Miss The Misery e Freaks Like Me somada à excelente Daughters Of Darkness seriam o suficiente para convencer os fãs de um bom Hard rock, todas ancoradas nos ótimos vocais da bela Lzzy. Mas nesse meio temos um punhado de baladas e faixas mais melosas que atingem um nível quase Avril Lavigniano. Tomara que a banda invista em seu lado mais rocker, pois ao que ao que consta por suas apresentações ao vivo, é aí que reside o verdadeiro talento da banda.

NOTA: 7

Lzzy Hale e sua bela...guitarra



segunda-feira, 15 de julho de 2013

Megadeth – Super Collider (CD - 2013)


Megamouth Strikes again!

Dave Mustaine, uma das figuras mais polêmicas da cena metálica (ops) mundial é também um cara extremamente prolífico. Após um hiato por conta de problemas de saúde que quase o levaram a abandonar a carreira, Megadave colocou sua banda nos eixos e produzindo com uma certa frequência, com resultados que variam do excelente (o alucinante Endgame) ao apenas levemente interessante (a colcha de retalhos para cumprir tabela Th1rte3n). Após mais alguns episódios de verborragia contra Obama que resvalavam nas mais estranhas teorias conspiratórias, Dave (ou seria Megamouth) fez uma promessa pública ao resto da banda: iria manter suas opiniões políticas para si, de agora em diante suas entrevistas seriam mais controladas.

Dave Megamouth, rei das caganeiras verbais



Chamando Johnny K (produtor do Disturbed, Staind e do lixo Supercharged, o pior disco do Machine Head) para repetir o trabalho feito no disco anterior como produtor, assessorado pelo protegido do Motörhead, Cameron Webb como engenheiro de som, Dave grava então o “polêmico” Super Collider. “A banda está muito comercial”, “o som é moderno demais” e “é muito direto”, “ah, e tem o cara do Disturbed”, blá, blá, blá...

Difícil seria entender o porquê de tanta polêmica, mas vamos lá...

Superpolêmico?

Iniciando com o baixo de Ellefson, Kingmaker é pesadona e bem direta, mas falha em cativar com suas linhas melódicas mundanas e um refrão que passa quase despercebido numa primeira audição. Os bons solos estão lá, como em qualquer música, boa ou ruim, da formação atual da banda. Cortesia do Dave e do sempre espetacular Chris Broderick.


A faixa-título tem um quê de música comercial, o que não é novidade, o Megadeth faz músicas assim desde ao menos Countdown To Extintion. Falta um pouco de carisma no caso desta aqui, que não deslancha e nem deve chamar muita atenção comercialmente, mas é besteira dizer que a banda se vendeu. Se ela a fez, foi há mais de 20 anos...


Burn! Vem em seguida, pesadona, ainda que novamente direta. Uma opção melhor que as músicas anteriores, certamente. Built For War mantém o peso e vem um pouco mais quebrada que as faixas anteriores. Uma faixa que poderia bem estar em United Abominations, com seus ótimos riffs e solos. Off The Edge mantém a pegada mas talvez careça de uma linha melódica um pouco mais empolgante, ainda que os ótimos solos compensem bastante esse problema.

Não, não é o anticristo, é só David "uh-ah-ah-ha" Draiman.
A tão temida faixa vendilhona se chama Dance In The Rain, que insere de maneira tão sutil celos e violinos que os mesmos se tornam imperceptíveis aos desavisados numa primeira audição. a música em si é a melhor do álbum, e a tão temida participação de David Draiman (cristão convicto, menos militante e chato que Dave) também pode nem se fazer notar. Draiman abre mão de seus famosos “barulhos de macaco” e sua interpretação, restrita ao final da música, respeita tanto o estilo Megadave que você pode simplesmente entender se tratar do boca de croissant cantando com um pouco mais de efeito na voz que o normal.


Beginning Of Sorrow segue o estilo pesado, ainda que direto - algo que o Megadeth já fizera muito bem em discos como Youthanasia e Contdown To Extinction e não tão bem em Risk e Criptic Writings. Logo, carece de consistência a baboseira de que isso representaria uma mudança de ares na discografia do Megadeth. Boa faixa.

A reclamação sobre a suposta vendilhonice contry em The Blackest Crow soa de uma babaquice ímpar. A música é muito boa, totalmente heavy e a tal inserção de instrumentos e melodias do estilo apócrifo fica quase tão restrita quanto na excelente Ghost Walking do Lamb Of God. 

Megadeth, Megavendilhões?
Diferentemente de Forget To Remember, que tem sim um que de inspiração em bandas como The Cult em seu riff principal. Ótimo refrão e melodias, compostos por David Draiman, fazem que a faixa possa ser incluída como um dos destaques do disco. 

O dedilhado bluesy logo é quebrado por um rif cortante na última faixa autora de Super Collider, a apenas ok Don’t Turn Your Back On A Friend. Curiosamente, a banda resolveu encerrar o disco com o cover da excelente, porém para lá de batida Cold Sweat do imortal Thin Lizzy. Um bom cover, talvez respeitoso demais com a original, mas que tem muito pouco com o estilo do resto do disco.

Saldo Final

A eterna verborragia imbecilóide de Dave Mustaine muitas vezes acaba por fazer uma espécie de marketing prejudicial ao Megadeth. Só assim para explicar o porque de tanta polêmica envolvendo esse Super Collider. Aqui temos o Megadeth fazendo o que se acostumou desde Contdown To Extinction, um Heavy Metal direto e bem feito, com boas melodias, bons riffs e ótimos solos.

Afinal, afora o espetacular Endgame, que restaurou um pouco o lado Thrash da banda, e o fraco Risk, que derramou um pouco mais de lodo pop no som do que o recomendado, SC não foge muito ao que a banda já fez. A participação de David Draiman trouxe somente coisas boas, e é preciso ser muito cri-cri para realmente se revoltar com isso.

Enfim, Super Collider estilisticamente está bem próximo do disco anterior, Th1rte3n, só que com uma maior coesão no material apresentado. Talvez você goste, talvez prefira reclamar e lembrar o longínquo tempo em que a banda era um dos baluartes do Thrash metal, mas esqueça as polêmicas: SC é um bom disco de Heavy Metal. Nada mais, nada menos.

NOTA: 7,5

Ficha Técnica

Banda (nacionalidade): Megadeth (EUA)
Mídia: CD
Faixas: 11
Duração: 45’

Lançamento: Universal Records (nacional)

Rotule Como: Heavy Metal

Indicado para: Quem curte o Megadeth de Countdown em diante e não se importa com as diarreias verbais de Dave Megamouth...

Evitar se: você é um cri-cri tão chato quanto o cabelo de poodle ou é uma viúva do Rust In Peace...

terça-feira, 9 de julho de 2013

Black Sabbath – 13 (CD Duplo– 2013)



Oh, Don’t You Ever, Never Say Die, again!

Maio de 2010.

Ronnie James Dio, outrora o gnomo imortal do metal, que esbanjava vigor aos 67 anos de idade capitaneando a recentemente bem sucedida encarnação do Black Sabbath sob a canhestra alcunha Heaven And Hell, finalmente sucumbia ao câncer que tomara seu corpo de assalto em parcos seis meses.

Funeral de Dio, nem Rick Rubin, nem Sharon ficaram tocados
Tony Iommi, arrasado, recapitulou os então 40 anos de estrada liderando o Black Sabbath em uma estrada repleta de percalços, com mais baixos que altos para se recordar: parecia que finalmente tudo chegava ao fim com a passagem de Ronnie. O golpe havia sido forte demais dessa vez.

Mas quem conhece a história do Black Sabbath está acostumado a estranhas reviravoltas.

Na manhã seguinte ao funeral de Dio, Iommi recebe uma ligação de Sharon Osbourne: “Tony, Ozzy quer falar com você”...do outro lado da linha, o disléxico e gaguejante Ozzy diz estar com saudades da banda e que queria voltar...

E então o livro mais sombrio da história do rock ganhou mais um longo (e derradeiro) capítulo...o capítulo de número 13.

Black Sabbath - 13
Recapitulando a longa Estrada para 13

Na verdade, a única condição colocada por Tony Iommi para o retorno da banda foi que eles só retornariam caso fosse para gravar um novo disco. Caso não recordem, a banda havia retornado ao final dos anos 1990 e seguiu uma rotina de participações no Ozzfest, tocando anos a fio o mesmo repertório, sempre escolhido por Ozzy. Isso causou um esgotamento crescente e o fim da reunião após o Ozzfest de 2005. E foi esse o motivo dito por Iommi para que o retorno com Dio, anos depois, fosse feito sob outro nome: “Não aguento mais tocar iron Man e Paranoid toda noite, tenho quase quarenta anos de trabalhos gravados e fico preso às mesmas 8 músicas todas as noites, cansei disso”.

Black Sabbath - Reunion
Não, esse não era um anseio nunca discutido com o resto da formação. Desde 2001 a banda havia tentado por cinco vezes gravar um disco de inéditas. Ao que se saiba (e admitido atualmente pelo próprio), Ozzy estava com o ego nas alturas com o sucesso do The Osbournes na TV e colocara todo o tipo de empecilhos para gravar um novo disco com o Sabbath: sua carreira na TV e discos solo eram então muito mais importantes. A vez que chegaram mais próximo de tirar o novo disco do papel fora realmente em 2001, sob a batuta do produtor Rick Rubin, que haveria de ser o artífice da atual tentativa.

A reunião com o Dio, e gravação de novo material, o ótimo The Devil You Know, arrefecera o ímpeto de Iommi e Geezer, mas quando então se preparavam para discutir a gravação do novo petardo, o pequenino gigante passou a sentir dores cada vez mais lancinantes no estômago. A turnê seguiu sem que Dio consultasse um médico e o resto da história, todos conhecem.

Heaven And Hell,em 2009
Foi então que Sharon Osbourne, sem esperar o cadáver de Dio esfriar, viu a chance de Ozzy reparar o erro de 2001. E o telefonema já citado foi feito, e os dados lançados.

Rick Rubin

O polêmico e excêntrico produtor californiano (cujos trabalhos incluem boa parte do catálogo de Slayer, além de bons discos de Danzig, The Cult e outras coisas menos abonadoras) colocou como uma espécie de meta pessoal gravar o disco com a formação clássica do Black Sabbath. Frustrado com o insucesso das sessões de 2001, Rubin permaneceu como um eterno carrapato nos ouvidos de Sharon Osbourne, aproveitando toda e qualquer oportunidade para levantar a bola da gravação do tão esperado álbum. Com a doença de Ronnie e seu eminente fim, Rick Rubin, sabedor do pavor que Ozzy andava sentindo com o gosto da mortalidade amargamente na língua (Ozzy sentiu e muito a morte de Gary Moore, no mesmo ano), viu ali a grande e talvez última chance de tentar fazer o disco enfim acontecer.
Sobre os métodos de Rubin, esses são alvo de muitos debates acalorados. Alguns consideram o barbudão genial, outros, um embuste (Corey Taylor do Slipknot já gastou bastante saliva criticando o cara, se é que isso conta). Rubin geralmente passa alguma orientação para  abanda, deixa a mesma dias e dias gravando com seus engenheiros e esporadicamente aparece no estúdio, deita que nem um monte de lixo num sofá e escuta o que foi gravado, dizendo o que ficou bom ou o que ficou ruim. Depois disso some de novo e por aí vai. Para o Novo disco do Black Sabbath, sua visão era clara: não queria um disco típico de Metal. O Black Sabbath é a banda mais copiada do estilo, então Rick queria que a banda voltasse à essência de onde tudo havia começado, quando ainda era um pouco mais que uma banda de blues, só que um blues encardido e pesado. Para isso, fez com que os caras escutassem ininterruptamente o primeiro álbum e lutou arduamente para que Ozzy fosse convencido alargar os registros ultra-agudos  de seus últimos discos solo.

Rick Rubin e sua proverbial barba
Bill Ward

Com três quartos do Black Sabbath acordados, faltava apenas trazer o sempre inconstante Bill Ward para a equação. Dentre afirmações de Bill sobre um contrato injusto a afirmações de Ozzy e do resto da banda de que “não podiam esperar mais” ou de que “Bill não tem condições físicas”, de tudo foi publicado na mídia. O certo é que Bill Ward não irira gravar o disco. A banda tentou então Ginger Baker, que além de doido de pedra, odeia abertamente qualquer coisa relacionada ao Heavy metal ( recentemente ele disse que se soubesse que o cream seria tratado como um dos responsáveis pelo surgimento do heavy metal, ele jamais teria começado a banda). Com o insucesso por Baker, Ozzy tentou impor Tommy Clufetos, de sua banda solo. Clufetos foi rejeitado pelo produtor Rick Rubin, que disse ter o cara perfeito para o posto: Brad Wilk, baterista do Rage Against The Machine e Audioslave. Brad nunca foi de fato aceito pela banda, o que fica evidente toda vez que o assunto é tratado em entrevistas atuais. O baterista que anda excursionando com a banda é finalmente Tommy Clufetos, como Ozzy queria.

Brad Wilk
13: O Título e o número
O singelo número 13, escolhido como título do disco, deve sua origem a um evento muito menos sombrio e misterioso que poderíamos esperar. Trata-se de uma mera provocação à gravadora, que desde a assinatura do contrato pressionou a banda quase que semanalmente a compor “pelo menos 13 novas músicas” para o trabalho. De tanto a gravadora insistir, os músicos passaram a informalmente chamar o disco de 13, e o nome pegou. Para pavor de Ozzy, que relatou à Classic Rock: “Sou extremamente supersticioso, então é justo que eu não esteja exatamente empolgado em dar esse título ao disco. Toda vez que essa formação se junta, fico esperando uma bomba cair, ou quem sabe um terremoto nos atingir”.

Obviamente o fator superstição não passou desapercebido após as reclamações do cantor, mas só vieram a fortalecer a intenção de nomear o disco com o número 13: a morte de Dio, os infartos de Bill Ward, o acidente quase fatal de Ozzy em 2003 e agora o câncer de Iommi, realmente se não fosse por má sorte, então o Black Sabbath não teria sorte nenhuma.

E 13 ficou, mas só para provocar a gravadora, Iommi pediu para a banda parar de gravar músicas quando terminaram a décima segunda. Típico humor britânico.

Enfim, 13 - o disco:
End Of The Beginning toma os alto falantes de assalto com um que de hecatombe, um riff lento e pesadão que fariam Lee Dorrian (Cathedral) e Leif Edling (Candlemass) chorarem copiosamente abraçadinhos. Mas afora o peso inicial a música também expõe os três problemas do disco:

  1.  A auto referência – tudo aqui dá a impressão de que já ouvimos isso antes. Na maior parte das vezes trata-se de uma pequena injustiça. O Black Sabbath é a banda mais imitada da história do rock pesado (seguida de perto pelo Judas Priest, talvez). Não é culpa da banda que os outros a copiem e nem a banda deve mudar seu estilo por conta disso. Mas em alguns momentos a auto-referência foi proposital e beirou a picaretagem, veremos mais adiante.

2. Ozzy robótico – em End Of The Beginning e God Is Dead quase podemos ver Ozzy lendo as letras no teleprompter, tamanha a roboticidade de sua interpretação. Explica-se, Rick Rubin e o resto da banda insistiram que Ozzy deveria cantar em registro mais grave do que vinha fazendo em sua carreira solo. Ozzy, birrento, não queria fazer dessa maneira. Talvez essas interpretações mais robóticas tenham sido obtidas antes do madman ter dado o clique e admitido que os caras tinham razão. 

3.  Letras. O bestiário lírico de Geezer estava em péssima forma. Talvez esse seja o disco com piores letras da história do Black Sabbath. Em parte se deve ao Geezer admitidamente ter reformulado boa parte delas para evitar a negatividade, em respeito ao estado de Tony Iommi. Morte e suas asseclas deveriam ser tratadas com um pouco mais de leveza.

Retornando à música, End Of The Beginning começa muito pesada, absolutamente Doom, e aos poucos vai se transformando em seus longos 8 minutos em um classic rock bacana, mas até mesmo algo positivo em sua intenção. Um bom início, de qualquer forma.


A música de trabalho, God Is Dead? vem logo em seguida, outro épico de mais de 8 minutos e de andamento lento, e é o exemplo mais emblemático do Ozzy robô. Admito que não gostei nem um pouco dela quando a escutei das primeiras vezes, mas acabei me acostumando. Me deu a impressão de alguma sobra de estúdio de The Devil You Know. A letra versa sobre um psicopata e fanático religioso que quer provar que a despeito do que alguns políticos e filósofos pregam, Deus não estaria morto. Obviamente o cara o faz de sua maneira torta. Uma curiosidade: God Is Dead? Seria inicialmente chamada American Jihad. Ozzy entrou em pânico e pediu que Geezer mudasse o título, senão alguém podia acabar matando eles. Geezer mudou o título, embora ache o novo muito mais ofensivo para quem não ler o resto da letra. 


A dupla de músicas que se segue exemplificam bem o item 1 dos supostos problemas do disco que coloquei lá em cima. Loner, a primeira faixa acelerada (pero no mucho) do repertório faz uma brincadeira com o riff principal e estrutura de NIB. Ah, e tem um extraordinariamente despropositado Alright Now que soa bem cretino na música, que a despeito disso é legalzinha. Zeitgeist surgiu de um comentário de Rubin, que ouvindo o material gravado, sugeriu a Iommi: “Bem poderíamos ter uma Planet Caravan no disco. Segundo Tony Iommi: “Rick falou isso numa sexta, escrevi Zeitgeist durante o final de semana, toquei para Ozzy e Geezer na segunda e gravamos a faixa na terça feira”. Picaretagens à parte, essa Planet Caravan parte 2 é ótima e representa o ponto de virada no disco.


Age Of Reason é o primeiro sinal de que 13 não viria a se tornar um mero cata poeira na coleção de discos alheia. Vigorosa e com uma boa interpretação de um Ozzy bem mais solto, ela serve de um importante veículo para Tony, que brilha com ótimos solos despejados sob uma camada de teclados (não creditados no encarte). Os teclados e a ótima linha de baixo de Geezer somados aos solos de Iommi dão um ar épico interessante a essa ótima faixa.


O bom momento musical prossegue com a um pouco mais acelerada Live Forever, que a despeito da letra horrorosa, empolga bastante.

A cereja do bolo vem sobre a forma de Damaged Soul, um puta blues encardido e pesadão que dá margem a desempenhos para lá de bacanas de Geezer, Ozzy e, principalmente Iommi. A música, intencionalmente encomendada por Rick Rubin para sintetizar a essência do primeiro disco do Sabbath, e que em sua gravação original contava com mais de 17 minustos repletos de improvisos, conta até mesmo com uns sons de gaita supostamente gravados por Ozzy. Excelente, Damaged Soul ( a despeito da letra ridícula) é a melhor faixa desse 13 com larga vantagem.


O disco se encerra com Dear Father, um ataque a Igreja Católica pesado e com uma linha melódica que em muito lembram as boas coisas da carreira solo do comedor de morcegos. Ao final da faixa, como que para fechar o ciclo, temos o som distante de sinos e de uma tempestade.

Faixas Bônus

Existem duas edições de 13 disponíveis no mercado Brasileiro. A versão comum, contendo oito faixas, e uma versão dupla, com três faixas bônus. Methademic, a primeira, deveria ter sido a faixa de abertura da versão normal, tamanha sua qualidade. Forte, acelerada e certamente a coisa mais pesada dessa sessão de gravações, sua exclusão do repertório deve ser explicada unicamente pela obsessão de Rick Rubin em apostar na faceta mais lenta da banda. Ah, cabe ressaltar que essa é também a única faixa onde a performance de Brad Wilk se faz destacar. No resto do disco, Brad parece tocar como se estivesse a olhar os outros membros da banda em busca de aprovação.

Mas esta também é a única das faixas do segundo disco cuja falta pode ser sentida. Peace Of Mind não diz ao que veio e é disparado a mais fraca do pacote e Pariah remete aos nada brilhantes trabalhos solo atuais de Ozzy. Há ainda uma quarta faixa, Naivete In Black (uma brincadeira com o título de NIB), que somente está disponível nas versões compradas na cadeia de lojas Best Buy. Não a escutei.

Saldo Final

Honesto em sua desonestidade (eps, parece letra do Geezer, isso), 13 é mais Black Sabbath que poderíamos esperar e/ou sonhar.

A essência da primeira e mais incensada encarnação da banda está toda lá, intacta.

Obviamente, como sabemos de toda a parafernália financeira e legal que envolve o nome do Black Sabbath, seria muita ingenuidade e cara-de-pau cair naquele lugar comum do “a magia está ali”.

Não há magia, tudo aqui foi pensado e repensado.

Mas que o resultado é extremante compensador acho que disso poucos discordarão. 13 é um baita disco. Ponto.

Agora, se este será o último capítulo do livro negro que vem sendo escrito há 43 anos por Tony Iommi, disso tenho lá minhas dúvidas...

NOTA: 8,5