quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Re-Machined – A Tribute to Deep Purple’s Machine Head (CD - 2012)



They All Came Out To Montreux

Uma Justa Homenagem


O mais virtuoso dos grupos que compõe a Santa Trindade Britânica dos primórdios do Metal (completam a lista o Led Zeppelin e o Black Sabbath), o Deep Purple conta com um punhado de discos clássicos em sua extensa discografia, talhada ao longo de quatro décadas quase ininterruptas de existência. Por isso mesmo, uma eventual discussão sobre o melhor disco do Purple pode render horas de acalorados papos de bar. Na minha opinião a escolha parelha seria entre Burn (1974) e In Rock(1970). Mas se existem dúvidas sobre qual seria o melhor disco da banda, poucos ousariam discordar qual foi o disco de estúdio mais importante para a carreira da banda. Esse disco foi Machine Head, que em 1972 apresentou ao mundo dois dos maiores hinos da história do rock, Highway Star e Smoke On The Water, que contém o provável riff de guitarra mais conhecido do mundo em todos os tempos.


Deep Purple - MK II (1972)

Produzido por Martin Birch, Machine Head representaria o disco mais maduro da banda até então, encontrando um meio termo entre a fúria de In Rock e a musicalidade de Fireball. Smoke On The Water se tornaria a maior marca da banda, ainda que Machine Head só tenha se tornado um sucesso absoluto de vendas por conta da versão ao vivo desta música inclusa no seminal Made In Japan, registro considerado por muitos um marco dos shows de rock.

O Icônico Machine Head
Em comemoração aos 40 anos do disco, a excelente Classic Rock Magazine preparou um baita pacote, uma edição especial contando com matérias sobre a gravação do disco, entrevistas com membros do Purple (inclusive a última entrevista com Jon Lord antes de seu falecimento), além de entrevistas com artistas famosos influenciados pela banda (Lars Ulrich, Satriani, Bruce Dickinson, Joe Elliot...). A cereja do bolo atende pelo nome de Re-Machined, um disco tributo inicialmente encartado com a revista (e que atualmente já pode ser adquirido separadamente) contando com um plantel de respeito reinterpretando as músicas desse clássico do rock, cada qual à sua maneira.

O Apetitoso Pacote da Classic Rock
Re-Machined Passo a passo

Além das músicas de Machine Head executadas em sua ordem original, o tributo traz algumas “faixas-bônus”, sob a forma de versões alternativas para duas músicas (Smoke on The Water e Highway Star) e uma releitura para o B-side When A Blind Man Cries, clássica música gravada nas sessões originais na Suíça, mas deixada de fora da versão final do disco por mais um capricho do genioso maluquete Ricthie Blackmore.

Curiosamente Re-Machined começa justo com uma das “faixas-bônus”, uma releitura bastante inspirada para Smoke On The Water, sob a batuta de Santana (originalmente gravada para o disco de covers Guitar Heaven, do próprio Mexicano). Tremei, puristas, Santana coloca sua marca latina em um dos mais famosos estandartes do Hard/Heavy e o fez com a ajuda de Jacoby Shaddix, do (ugh) Papa Roach, na voz. Nada a reclamar aqui, a dupla nos entregou uma releitura muito boa, que consegue mostrar personalidade e ao mesmo tempo uma boa dose de respeito à original.

A versão de Smoke On The Water de Santana apareceu originalmente nesse disco

O repertório original tem então início com uma versão ao vivo de Highway Star executada com muita garra e classe pelo supergrupo com nome mais idiota do mundo, o Chickenfoot. Todos demonstram ótima performance, valendo destacar dois pontos: Sammy Hagar, aos 65 anos, tem um gogó para lá de privilegiado e é uma pena que Satriani não tenha sido efetivado no Purple em 94, pois fica claro e evidente que ele teria levado a banda a um patamar muito mais interessante que aquele mala do Steve Morse.

O Pé-de Galinha, ê nome horroroso

A Funky e pouco lembrada pérola Maybe I’m A Leo não poderia ter ficado em melhores mãos, com Glenn Hughes cantando e tocando magistralmente, ancorado pelo ótimo Chad Smith (Chickenfoot, Red Hot Chilli Peppers) na bateria e por Luis Maldonado (que já atuou como dublê de um fugido Michael Schenker em discos do UFO) na guitarra.

Hughes e Chad - Espero que tenham demitido a personal stylist




Zakk Wylde surpreende ao se recusar a executar uma óbvia releitura meramente porrada e suja para Pictures Of Home (minha favorita do Machine Head), música com maior potencial metálico do disco original. Ao invés de sentar a pua, Zakk levou seu Black Label Society a uma execução muito mais próxima do estilo Southern Metal praticado no Pride And Glory. Uma bela bola dentro.

O bando do velho Zakk

Bem, nem tudo são flores. Kings Of Chaos, supergrupo montado especialmente para o tributo e que conta com Joe Elliot (voz, Def Leppard), Steve Stevens (Guitarra - Billy Idol), Duff McKagan (baixo - Guns And Roses) e Matt Sorum (The Cult, Guns And Roses), simplesmente não consegue transformar a já não tão boa Never Before (disparada a menos legal de Machine Head) em algo além de burocrático.

Kings Of Chaos - Supergrupo superchato

Mas “burocrático” seria um mega elogio para o Flaming Lips, que assassinou de maneira covarde e brutal Smoke On The Water. Realmente não consigo acreditar que a banda tenha tido algum intuito aqui além de soar absolutamente irritante. Uma das piores releituras que uma boa música já recebeu na história do rock.

Flaming Shits, ops, Lips

Por sorte logo em seguida temos o artista do momento, Joe Bonamassa, capitaneando com maestria Lazy, contando com a ajuda das privilegiadas cordas vocais de Jimmy Barnes (Cold Chisel). Barnes, a quem só conheci tardiamente, mais exatamente no último disco de Bonamassa, Driving Towards The Daylight, é um monstro e em conjunto com o belo trabalho do guitarrista americano transforma Lazy na provável melhor releitura desse disco.

Bonamassa (primeiro à direita), sua banda e Jimmy Barnes (à frente, de vermelho xadrez)

Bruce Dickinson já declarou algumas vezes seu apreço por Ian Gillan, e aqui tem sua chance de prestar homenagem a seu ídolo. Uma pena que a chance foi desperdiçada, pois o Iron Maiden não consegue emplacar sua Space Truckin’, que soa emperrada e prá lá de burocrática, com uma performance especialmente desinspirada do próprio Bruce. Bruce Dickinson que, diga-se de passagem, não canta realmente bem em estúdio com o Iron desde Brave New World. Como o vocalista vive desancando em entrevistas o produtor Kevin Shirley, adotado pelo resto da banda desde o já citado disco de retorno, começo a achar que Bruce não se esforça mais em estúdio por pura pirraça, mesmo.

A donzela podia ter acertado como na versão para Massacre  do Thin Lizzy, não?

Outro grande fã declarado de Deep Purple, Lars Ulrich chegou a oferecer uma montanha de dinheiro para reunir o MK III do Purple, se oferecendo inclusive para assumir a bateria caso Ian Paice não quisesse se indispor com seus companheiros do Purple atual. Aqui ele tem a chance de homenagear a MK II, surpreendentemente escolhendo o B-Side When A Blind Man Cries. A escolha pode ser considerada surpreendente por se tratar de uma balada na qual o grande destaque fica por conta da interpretação vocal belíssima de Gillan. James Hetfield, reconhecidamente um vocalista prá lá de limitado, poderia passar vergonha aqui. Mas não é o que acontece, o Metallica se sai muito bem, obrigado, mesmo com James se esforçando tanto que de início fica até difícil reconhecer sua voz.

É, James, que sufoco!

A última faixa, uma segunda versão de Highway Star, conta com um line-up de peso: Steve Vai, Glenn Hughes, Chad Smith e Lachlan Doley (que toca com Jimmy Barnes). Entretanto, nem Hughes nem Vai acertam o tom aqui, fazendo uma releitura que se não compromete, também não chega a lugar nenhum.



Saldo Final

Como tradicionalmente acontece em tributos do gênero, Re-Machined é marcado por altos e baixos. Fortuitamente, com a exceção ao bolo fecal expurgado pelo Flaming Lips, temos aqui um disco de audição bastante agradável, que merece uma chance pela qualidade musical e não somente pela curiosidade em torno dos grandes nomes envolvidos.


NOTA – 7,5


Ficha Técnica

Título (ano de lançamento): Re-Machined – A Tribute to Deep Purple’s Machine Head (2012)

Mídia: CD

Gravadora: Eagle (Importado)

Faixas: 10

Duração: CD – 52’

3 comentários:

  1. Estes merdas do "FL" deveriam ser espancados com um gato morto até o bicho voltar a miar...

    Quanto aos demais, concordo: variam de "correto" a "fodástico". Nem achei a versão do Maiden tão burocrática assim. Tá bom, sou fãzoco e até Ilariê ficaria maneiro com eles...

    Uma boa homenagem. Nota 8 (com o FL) e 9,25 (sem o FL).

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Prezado Krill
      É, sem o Flaming Shits a nota seria ao menos um ponto maior, heheheehe...Ah, onde posso arranjar um gato morto bem pesado?
      ah, vou te mandar a versão de "esse cara sou eu" com o Iron então...
      E desses tributos, posso citar o Nativity In Black, dedicado ao bom e velho Sabazão e o Legends Of Metal, tributo em duas partes ao padre judas, como os melhores que já ouvi.
      Abração
      R

      Excluir
  2. Aviso aos navegantes: O CD em questão acaba de ser lançado no Brasil pela ST2/Eagle!
    Abraços
    Trevas

    ResponderExcluir