They All
Came Out To Montreux
Uma Justa Homenagem
O mais virtuoso dos grupos que compõe a Santa Trindade
Britânica dos primórdios do Metal (completam a lista o Led Zeppelin e o Black
Sabbath), o Deep Purple conta com
um punhado de discos clássicos em sua extensa discografia, talhada ao longo de
quatro décadas quase ininterruptas de existência. Por isso mesmo, uma eventual
discussão sobre o melhor disco do Purple
pode render horas de acalorados papos de bar. Na minha opinião a escolha parelha
seria entre Burn (1974) e In Rock(1970). Mas se existem dúvidas
sobre qual seria o melhor disco da banda, poucos ousariam discordar qual foi o
disco de estúdio mais importante para a carreira da banda. Esse disco foi Machine Head, que em 1972 apresentou ao
mundo dois dos maiores hinos da história do rock, Highway Star e Smoke On The
Water, que contém o provável riff de guitarra mais conhecido do mundo em
todos os tempos.
Deep Purple - MK II (1972) |
Produzido
por Martin Birch, Machine Head
representaria o disco mais maduro da banda até então, encontrando um meio termo
entre a fúria de In Rock e a
musicalidade de Fireball. Smoke On The Water se tornaria a maior
marca da banda, ainda que Machine Head
só tenha se tornado um sucesso absoluto de vendas por conta da versão ao vivo
desta música inclusa no seminal Made In
Japan, registro considerado por muitos um marco dos shows de rock.
O Icônico Machine Head |
Em comemoração
aos 40 anos do disco, a excelente Classic
Rock Magazine preparou um baita pacote, uma edição especial contando com
matérias sobre a gravação do disco, entrevistas com membros do Purple (inclusive a última entrevista
com Jon Lord antes de seu
falecimento), além de entrevistas com artistas famosos influenciados pela banda
(Lars Ulrich, Satriani, Bruce Dickinson,
Joe Elliot...). A cereja do bolo
atende pelo nome de Re-Machined, um
disco tributo inicialmente encartado com a revista (e que atualmente já pode ser adquirido separadamente) contando com um plantel de
respeito reinterpretando as músicas desse clássico do rock, cada qual à sua
maneira.
O Apetitoso Pacote da Classic Rock |
Re-Machined Passo a passo
Além das músicas de Machine Head executadas em sua ordem
original, o tributo traz algumas “faixas-bônus”, sob a forma de versões
alternativas para duas músicas (Smoke on
The Water e Highway Star) e uma
releitura para o B-side When A Blind Man
Cries, clássica música gravada nas sessões originais na Suíça, mas deixada
de fora da versão final do disco por mais um capricho do genioso maluquete Ricthie Blackmore.
A versão de Smoke On The Water de Santana apareceu originalmente nesse disco |
O repertório
original tem então início com uma versão ao vivo de Highway Star executada com muita garra e classe pelo supergrupo com
nome mais idiota do mundo, o Chickenfoot.
Todos demonstram ótima performance, valendo destacar dois pontos: Sammy Hagar, aos 65 anos, tem um gogó
para lá de privilegiado e é uma pena que Satriani
não tenha sido efetivado no Purple
em 94, pois fica claro e evidente que ele teria levado a banda a um patamar
muito mais interessante que aquele mala do Steve
Morse.
O Pé-de Galinha, ê nome horroroso |
A
Funky e pouco lembrada pérola Maybe I’m
A Leo não poderia ter ficado em melhores mãos, com Glenn Hughes cantando e tocando magistralmente, ancorado pelo ótimo
Chad Smith (Chickenfoot, Red Hot Chilli
Peppers) na bateria e por Luis
Maldonado (que já atuou como dublê de um fugido Michael Schenker em discos do UFO)
na guitarra.
Hughes e Chad - Espero que tenham demitido a personal stylist |
Zakk Wylde surpreende ao se recusar a executar uma óbvia
releitura meramente porrada e suja para Pictures
Of Home (minha favorita do Machine
Head), música com maior potencial metálico do disco original. Ao invés de
sentar a pua, Zakk levou seu Black Label Society a uma execução
muito mais próxima do estilo Southern
Metal praticado no Pride And Glory.
Uma bela bola dentro.
O bando do velho Zakk |
Bem,
nem tudo são flores. Kings Of Chaos,
supergrupo montado especialmente para o tributo e que conta com Joe Elliot (voz, Def Leppard), Steve Stevens
(Guitarra - Billy Idol), Duff McKagan (baixo - Guns And Roses) e Matt Sorum (The Cult, Guns And Roses), simplesmente não
consegue transformar a já não tão boa Never
Before (disparada a menos legal de Machine
Head) em algo além de burocrático.
Kings Of Chaos - Supergrupo superchato |
Mas
“burocrático” seria um mega elogio para o Flaming
Lips, que assassinou de maneira covarde e brutal Smoke On The Water. Realmente não consigo acreditar que a banda
tenha tido algum intuito aqui além de soar absolutamente irritante. Uma das
piores releituras que uma boa música já recebeu na história do rock.
Flaming Shits, ops, Lips |
Por
sorte logo em seguida temos o artista do momento, Joe Bonamassa, capitaneando com maestria Lazy, contando com a ajuda das privilegiadas cordas vocais de Jimmy Barnes (Cold Chisel). Barnes, a
quem só conheci tardiamente, mais exatamente no último disco de Bonamassa, Driving Towards The Daylight, é um monstro e em conjunto com o belo
trabalho do guitarrista americano transforma Lazy na provável melhor releitura desse disco.
Bonamassa (primeiro à direita), sua banda e Jimmy Barnes (à frente, de vermelho xadrez) |
Bruce Dickinson já declarou algumas vezes seu apreço por Ian Gillan, e aqui tem sua chance de
prestar homenagem a seu ídolo. Uma pena que a chance foi desperdiçada, pois o Iron Maiden não consegue emplacar sua Space Truckin’, que soa emperrada e prá
lá de burocrática, com uma performance especialmente desinspirada do próprio Bruce. Bruce Dickinson que, diga-se de passagem, não canta realmente bem
em estúdio com o Iron desde Brave New World. Como o vocalista vive
desancando em entrevistas o produtor Kevin
Shirley, adotado pelo resto da banda desde o já citado disco de retorno,
começo a achar que Bruce não se
esforça mais em estúdio por pura pirraça, mesmo.
A donzela podia ter acertado como na versão para Massacre do Thin Lizzy, não? |
Outro
grande fã declarado de Deep Purple, Lars Ulrich chegou a oferecer uma
montanha de dinheiro para reunir o MK
III do Purple, se oferecendo
inclusive para assumir a bateria caso Ian
Paice não quisesse se indispor com seus companheiros do Purple atual. Aqui ele tem a chance de
homenagear a MK II,
surpreendentemente escolhendo o B-Side When
A Blind Man Cries. A escolha pode ser considerada surpreendente por se
tratar de uma balada na qual o grande destaque fica por conta da interpretação
vocal belíssima de Gillan. James Hetfield, reconhecidamente um
vocalista prá lá de limitado, poderia passar vergonha aqui. Mas não é o que
acontece, o Metallica se sai muito
bem, obrigado, mesmo com James se
esforçando tanto que de início fica até difícil reconhecer sua voz.
É, James, que sufoco! |
A última
faixa, uma segunda versão de Highway
Star, conta com um line-up de peso: Steve
Vai, Glenn Hughes, Chad Smith e Lachlan Doley (que toca com Jimmy
Barnes). Entretanto, nem Hughes
nem Vai acertam o tom aqui, fazendo
uma releitura que se não compromete, também não chega a lugar nenhum.
Saldo Final
Como tradicionalmente acontece em
tributos do gênero, Re-Machined é
marcado por altos e baixos. Fortuitamente, com a exceção ao bolo fecal
expurgado pelo Flaming Lips, temos
aqui um disco de audição bastante agradável, que merece uma chance pela
qualidade musical e não somente pela curiosidade em torno dos grandes nomes
envolvidos.
NOTA – 7,5
Ficha Técnica
Título (ano de lançamento): Re-Machined – A Tribute to Deep
Purple’s Machine Head (2012)
Mídia: CD
Gravadora: Eagle (Importado)
Faixas: 10
Estes merdas do "FL" deveriam ser espancados com um gato morto até o bicho voltar a miar...
ResponderExcluirQuanto aos demais, concordo: variam de "correto" a "fodástico". Nem achei a versão do Maiden tão burocrática assim. Tá bom, sou fãzoco e até Ilariê ficaria maneiro com eles...
Uma boa homenagem. Nota 8 (com o FL) e 9,25 (sem o FL).
Prezado Krill
ExcluirÉ, sem o Flaming Shits a nota seria ao menos um ponto maior, heheheehe...Ah, onde posso arranjar um gato morto bem pesado?
ah, vou te mandar a versão de "esse cara sou eu" com o Iron então...
E desses tributos, posso citar o Nativity In Black, dedicado ao bom e velho Sabazão e o Legends Of Metal, tributo em duas partes ao padre judas, como os melhores que já ouvi.
Abração
R
Aviso aos navegantes: O CD em questão acaba de ser lançado no Brasil pela ST2/Eagle!
ResponderExcluirAbraços
Trevas