Cartaz do Show, ainda com Anette |
Pernas (e gogó) para que te quero!
Prólogo –
Not My Cup Of Tea
Vamos ser honestos: Nightwish nunca fez exatamente meu tipo
de som.
Descobri a banda através de um amigo, que me
emprestou entusiasmado o recém lançado Oceanborn,
em 1998. Achei tudo muito chato, típico metal melódico, em voga na época, com
um agravante: vocais líricos femininos. O que era o diferencial da banda,
diga-se de passagem. Tenho uma aversão por vocais líricos. Risquei a banda do
meu mapa.
Nightwish em seus primórdios |
Curiosamente o acaso me levou de
volta à banda. Em 2000, assinei uma revista especializada em metal e meu brinde
foi um ingresso para a apresentação do Nightwish
na Via Funchal, em São Paulo. À época boa parte da minha família residia na
capital paulista e o ingresso serviu de uma bela desculpa para uma visita
familiar (e outra à galeria do Rock, meu Valhalla).
Tarja (leia-se Tária) - a caruda entende do riscado |
Bom,
tudo evolui, e assim aconteceu com o Nightwish.
Veio Once (2004), e com ele a
apresentação em estúdio do veteraníssimo Marco
Hietala, vocalista e baixista do lendário Tarot, grupo de heavy Tradicional oitentista considerado um dos
baluartes do estilo na Finlândia. Marco
compensou a falta de talento e carisma do restante da banda, ajudando Tarja a segurar o peso ao vivo. Once se tornou um sucesso comercial,
muito por conta da superexposição da bacana Nemo e da pesadinha Wish I Had an Angel, que justamente
mostrava o poderio da dupla vocal do Nightwish.
Marco Hietala - trazendo metal e barba maneira ao Nightwish |
Eis
que no auge da fama uma briga feia entre o patrão, careteiro e suposto aprendiz
de ditador Tuomas Holopainen e Tarja Turunen terminou em uma
catástrofe comercial, a cantora deixava o grupo. Substituindo a diva por Anette Olzon, possuidora um estilo de
canto muito mais próximo ao popular, a banda lançou seu mais pesado e maduro
disco, Dark Passion Play (2007). A receptividade
foi um tanto dividida, a bolacha foi aclamada pela crítica, mas a banda parece
não ter tido a mesma sorte perante os fãs, talvez pela falta de carisma de Anette. Veio então Imaginaerum (2011), outro bom disco, que novamente dividiu
opiniões. Datas da turnê de Imaginaerum
já estavam marcadas para a América do Sul, quando todos foram pegos de
surpresa: Anette Olzon abandonara a
banda. Para alegria de muitos, Floor
Jansen, a grandona holandesa que tornara-se famosa com o After Forever, era anunciada como a
substituta temporária de Anette.
Anette e o então querido patrão |
Torcendo
fortemente por um set baseado nos últimos dois discos e curioso com a adição de
uma vocalista consideravelmente mais metalizada que as anteriores rumei para o
Circo Voador em uma infernalmente quente noite de segunda feira para conferir o
novo Nightwish.
Floor Jansen |
Marco, Floor, samplers e o convidado
Mãos ao alto! |
Dark Chest of Wonders seguiu quase de imediato, como que para
saudar as viúvas de Tarja. O público
foi ganho de vez com o hit Wish I Had an
Angel, na qual a dupla Marco e Floor mostraram poderio vocal e
entrosamento. Scaretale veio
evidenciar o que qualquer um com um pouco mais de senso crítico já havia
percebido: boa parte do som da banda fica na dependência de bases pré-gravadas.
Emppu Vuorinen e até mesmo o suposto
gênio Tuomas Holopainen executam
partes absolutamente banais em seus instrumentos, enquanto Floor, Marco e o
baterista Jukka Nevalainen se digladiam
tocando de verdade perante uma avalanche de samplers que simulam orquestras e
outros trocentos instrumentos.
E Tuomas, bem...ok, o cara é algo como um
sex-symbol para as meninas e compõe bem. Mas ao vivo fica resignado a tocar
meia dúzia das notas em seu teclado (mesmo boa parte dos teclados são
pré-gravados) e a fazer caras e bocas e bebericar uma garrafa de vinho. Sua figura
à lá Jack Sparrow definitivamente não faria muita falta caso optassem por
incluir suas poucas partes no batalhão se samplers.
O britânico Troy Donockley veio então se juntar aos músicos
de verdade da banda na execução de I Want My Tears Back. Depois de outra faixa
do novo trabalho, a banda apresenta seu hit maior, Nemo. A platéia está
esfuziante, e mesmo com o calor intenso os 2.000 headbangers presentes fizeram
bonito e não deixaram de cantar e pular um só instante, o que impressionou
claramente a todos na banda. Troy retorna ao palco para dar um show particular
na instrumental The Last Of The Wilds, e foi inevitável sentir uma certa
vergonha alheia por conta da inaptidão do pequenino e simpático Emppu. Talvez seja
ele o guitarrista menos talentoso que já vi em uma banda de renome, o cara
beira o tosco, o que ficou mais evidente no embate com o músico convidado.
Floor e seus súditos |
Wishmaster e Ever Dream agitaram o público, mostrando que Floor
se sai bem tanto no material da fase Tarja quanto no material da fase Anette. Logo
depois começou uma levada de bateria que eu reconheceria até debaixo da terra: Over
The Hills And Far Away, do saudoso Gary Moore foi apresentada com o bônus da
presença de Troy, o que diminiu a raiva em ver o bisonho Emppu e sua imperícia
perante a obra de um dos maiores guitarristas em todos os tempos. Uma boa
versão com Marco dando uma bela ajuda a Floor no refrão.
Emppu fracasso, Marco Hietala e Floor Jansen |
A banda teve um certo problema com a escolha de repertório
ao final do show, já que Ghost Love Score e Song Of Myself derrubaram
consideravelmente a empolgação do público. Last Ride Of The Day corrigiu o
problema, até que a mesma se encerrou e então o púbico percebeu pelos intensos
agradecimentos da banda que esta havia sido a última música da noite.
Nightwish e seu convidado |
Saldo Final
O Nightwish evoluiu em estúdio, mas ao vivo ainda depende da força de
Marco Hietala e de alguma vocalista
com carisma suficiente para obscurecer as limitações do restante da trupe – no caso,
a ótima Floor. Que bom que os dois, em conjunto com o
convidado Troy tenham talento de
sobra. Mas apesar disso, há de se ressaltar que Tuomas compôs nesses anos (em especial de Once para cá) algumas músicas realmente marcantes e a qualidade
delas comandou a noite.
Sobre a troca de vocalistas, a
escolha de Floor Jansen foi para lá
de brilhante, a holandesa tem luz própria, uma bela e potente voz e se encaixa
perfeitamente em qualquer fase do material da banda. Torcemos para que seja efetivada.
No geral, um show intenso e bem
produzido, e duvido que muitos tenham saído do Circo Voador decepcionados com o
que viram.
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