O Velho “Novo” Lynyrd Em Busca
De Afirmação
O ano era 1977. O Lynyrd Skynyrd finalmente deixara de
lado sua vocação para banda de encrenqueiros para ser somente reconhecida pelo
seu real valor musical. Chegava as lojas Street
Survivors (foto), com o hino That
Smell cantando a maturidade ganha pelos sulistas após várias experiências
que quase levaram alguns de seus membros à morte. Em novembro daquele ano a
banda finalmente tocaria no Madison Square
Garden e os arruaceiros de Jacksonville
entrariam via tapete vermelho no rol das maiores bandas de rock da América em
todos os tempos.
A supostamente profética capa de Street Survivors, com a banda em chamas |
O
final da história, quase todos conhecem. O sonho dos malucos sulistas foi
abreviado quando o Convair CV-300 que levava a banda caiu em um pântano no
Texas (foto), matando dentre vários tripulantes, três membros da banda –
incluindo aí o vocalista e líder Ronnie
Van Zant.
O Acidente, reportado em jornal da época |
No aniversário
de dez anos do acidente, cinco ex-membros da banda resolveram reativar o Lynyrd para uma turnê. No lugar de Ronnie, entraria seu irmão caçula, Johnny Van Zant (foto), já um renomado cantor
na cena norte americana com sua carreira solo e com o grupo Van Zant.
O caçula Johnny Van Zant |
O que seria apenas um tributo
acabou por ganhar vida própria, e o Lynyrd
Skynyrd tentaria reviver sua veia autoral. Mas se o Lynyrd Skynyrd de 1987 fora muito bem recebido nos palcos, fora
deles a história sempre foi diferente. Primeiramente com o fraco southern-hard-pop de 1991 (preciso dizer de que ano?),
seguindo com uma série de discos que independente da qualidade musical, viveram
à sombra (ao menos para parte dos fãs) do “Lynyrd
Original”...
Aparentemente, a banda nunca deu
a mínima para as críticas, talvez por ter ciência que a hoje laureada “fase
clássica” não era nada querida pela maioria da imprensa especializada antes do
acidente. “A morte nos torna melhores do que somos” disse uma vez o sábio Lemmy Kilmister.
Mas talvez tentando mostrar a
velha marca para um novo público, a banda lançou em 2009 o bastante criticado God & Guns (que acho muito bom),
dando um toque de modernidade ao som da banda, contando com a ajuda de
compositores e músicos como John 5 e
Rob Zombie, tudo sob a batuta do
produtor Bob Marlette (Alice Cooper, Marylin Manson, Seether).
Talvez pelas críticas sofridas
com esse disco, talvez simplesmente por estarem satisfeitos coma experiência e
não precisarem repetir a dose, o novo velho Lynyrd resolveu partir com tudo para o estilo que ajudou a
consagrar – o Southern Rock.
Segundo a Classic
Rock de setembro desse ano (foto), Gary
Rossington é capaz de olhar diretamente nos olhos de qualquer interlocutor
e dizer que Last Of A Dyin’ Breed é
o melhor trabalho da banda desde Street
Survivors. Sendo ele o único membro presente da fase clássica da banda e
também sobrevivente do desastre aéreo (o que lhe rendeu: dois braços, uma perna
e a pelve quebrados, além de rompimento do estômago e fígado – vários e vários
meses em recuperação), quem ousaria discordar?
Medlock, Johnny e Gary na capa da Classic Rock |
Uma Ode Ao Legado da Banda
Novamente sob a batuta de Bob Marelette, a faixa título abre o disco com uma ode ao passado
da família Van Zant e da própria
banda e seu legado. Um Southern Rock
simples e caprichado, onde Johnny
relembra as viagens com o pai caminhoneiro, onde o patriarca mostrou aos pequenos
irmãos Donnie, Ronnie e Johnny o amor
pela estrada como metáfora para a liberdade. As lições de um tal “irmão
descalço” (Ronnie Van Zant
praticamente não usava sapatos) também são lembradas na letra.
Já em One Day At A Time (ver clipe ao vivo), temos o reencontro com o som
mais tradicional da banda, sendo essa uma faixa que bem poderia estar em Gimme Back My Bullets (1976). Nela temos a filosofia da banda
exposta: “Aint No Use In Crying, What Aint Dead Is Surely Dying, One Day At A
Time”. Um dos destaques, e que também traz a certeza que a banda deu uma
maior atenção à uma de suas marcas registradas: os arranjos para três
guitarras, que haviam se perdido um pouco no disco anterior.
Homegrown talvez seja a faixa que mais se aproxima do Sothern Hard Rock moderno de God & Guns, ainda que a modernidade
aqui seja muito mais sutil.
A primeira balada do repertório, Ready To Fly, novamente trabalha sobre
o tema de morte como libertação. Apesar da banda ter se notabilizado por gravar
baladas country depois do sucesso de
Pure And Simple de 1991, a coisa
aqui se aproxima mais das baladas da fase clássica, exceto pelo belo arranjo de
cordas. Fica também bem evidente que a despeito da importância de Ronnie Van Zant como líder e compositor,
o caçula Johnny como vocalista é
absolutamente o mais talentoso dos Van
Zant. Uma das vozes mais bonitas do Southern
Rock, e que nunca se rende a exibicionismo barato.
Sobre as outras performances individuais, fica
até difícil falar algo. Ponto para Bob Marlette,
temos aqui as guitarras de Gary
Rossington, Rickey Medlock (o Sr.
Blackfoot, que chegou a tocar
bateria no Lynyrd antes do primeiro
disco) e do novato Mark Matejka soam
como nos velhos tempos da banda. De resto, pelas informações do encarte e
presença de músicos de estúdio e convidados, fica difícil saber quem gravou o
quê. Mas seja lá quais músicos participaram das gravações, tudo soa muito bem
executado e inspirado.
Muitas rugas e muita lenha para queimar - Lynyrd 2012 |
Continuando na ordem do disco, a cara
mais moderna do Southern Rock
reaparece na malícia quase hard de Mississippi Blood, com um refrão
grudento que a torna irresistível. O pique se mantém com o riff hendrixiano de Good Teatcher.
A balada Something To Live For é
talvez a grande bomba do disco. Além de soar totalmente desinteressante, ainda
traz mais uma das letras de Johnny que
mais parecem feitas para panfleto de campanha do Partido Republicano. Apesar de
sempre ser evasivo quando perguntado sobre o conteúdo político de suas letras,
é sabido que a banda assinou contrato para participar dos comícios de Mitt Romney.
Sorte nossa que a Whitesnakeana Life’s Twisted retoma o rumo com uma
ótima performance de Johnny. Te
perdoamos, cara! Curiosamente a faixa seguinte, Nothing Comes Easy, tem também a cara da banda do Tio Coverdale em seu início de carreira.
Muito disso se deve provavelmente à semelhança dos timbres de David e Johnny. Posso facilmente ouvi-la ao lado de Walkin’ In The Shadow Of The Blues, o que não é ruim, claro.
A safada Honey Hole é uma ode ao cunnilingus, ou, vá lá...o popular Xerequete.
Um tema curioso para um cristão carola como Van Zant ou seu companheiro de missa Gary. Boa faixa com grande solo de slide.
A caipiríssima Start Livin’ Life Again, curiosamente é a faixa co-assinada por John 5 no disco. Um encerramento
bucólico que, em meio a várias letras com o tema recorrente da proximidade da
morte (ainda que essa sempre apareça com o viés de libertação), traz uma
mensagem de esperança.
Saldo Final
Last Of A Dyin’ Breed pode até não ser o melhor disco da banda
desde seu retorno em 1987, mas certamente é o que melhor faz a conexão entre o “velho”
Lynyrd e o eterno “novo” Lynyrd.
Os fãs da atual fase irão gostar
com toda a certeza. Aos detratores, talvez seja a hora de dar uma nova chance. E
aos que, como eu, acham uma bobagem a polêmica em torno da atual encarnação da
banda e curtem as duas fases, Last Of A
Dyin’ Breed soa como um honesto e prazeroso disco de rock. Puro e simples. E
isso basta.
NOTA: 8,5
Ficha Técnica
Banda (Nacionalidade): Lynyrd
Skynyrd (EUA)
Título (ano de lançamento): Last
Of A Dyin’ Breed (2012)
Mídia: CD
Gravadora: Roadrunner (Nacional)
Faixas: 11
Duração: CD – 45’
Rotule como: Southern Rock
Indicado para: Fãs de Southern
Rock.
Passe longe se: For uma das viúvas de Ronnie Van
Zant.
Deve ser um ótimo álbum!
ResponderExcluirCurto muito o "novo Lynyrd".
A voz do Johnny é fodástica, e essa mistura de southern com hard rock me agradam bastante!
Depois de ouvir o cd comento aki!
Fala, Pablo
ExcluirTambém curto bastante o "novo Lynyrd", hehe
Está bem legal o disco, não vai se arrepender. Ah, e menos panfletário que o God & Guns...Depois você me conta o que achou.
Abraço
R
Esta é uma banda que, à parte sua história sangrenta e uma meia dúzia de três ou quatro canções, desconheço quase por completo.
ResponderExcluirParabéns pela resenha, que ficou muito bacana. A sacada de colocar a reprodução do jornal caiu bem.
Abração.
Pô, Krill, está dando mole então. Assista o recente Live From Freedom Hall. Se gostar do que viu/ouviu, corra atrás da discografia. Uma grande banda.
ExcluirAh, e valeu pelo elogio, hehe
Abracetas
T