segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Lynyrd Skynyrd - Last Of A Dyin' Breed (2012)




O Velho “Novo” Lynyrd Em Busca De Afirmação

Prólogo –  Lynyrd Skynyrd 2 – A Missão

O ano era 1977. O Lynyrd Skynyrd finalmente deixara de lado sua vocação para banda de encrenqueiros para ser somente reconhecida pelo seu real valor musical. Chegava as lojas Street Survivors (foto), com o hino That Smell cantando a maturidade ganha pelos sulistas após várias experiências que quase levaram alguns de seus membros à morte. Em novembro daquele ano a banda finalmente tocaria no Madison Square Garden e os arruaceiros de Jacksonville entrariam via tapete vermelho no rol das maiores bandas de rock da América em todos os tempos.

A supostamente profética capa de Street Survivors, com a banda em chamas

O final da história, quase todos conhecem. O sonho dos malucos sulistas foi abreviado quando o Convair CV-300 que levava a banda caiu em um pântano no Texas (foto), matando dentre vários tripulantes, três membros da banda – incluindo aí o vocalista e líder Ronnie Van Zant.

O Acidente, reportado em jornal da época
No aniversário de dez anos do acidente, cinco ex-membros da banda resolveram reativar o Lynyrd para uma turnê. No lugar de Ronnie, entraria seu irmão caçula, Johnny Van Zant (foto), já um renomado cantor na cena norte americana com sua carreira solo e com o grupo Van Zant.

O caçula Johnny Van Zant
O que seria apenas um tributo acabou por ganhar vida própria, e o Lynyrd Skynyrd tentaria reviver sua veia autoral. Mas se o Lynyrd Skynyrd de 1987 fora muito bem recebido nos palcos, fora deles a história sempre foi diferente. Primeiramente com o fraco southern-hard-pop de 1991 (preciso dizer de que ano?), seguindo com uma série de discos que independente da qualidade musical, viveram à sombra (ao menos para parte dos fãs) do “Lynyrd Original”...

Aparentemente, a banda nunca deu a mínima para as críticas, talvez por ter ciência que a hoje laureada “fase clássica” não era nada querida pela maioria da imprensa especializada antes do acidente. “A morte nos torna melhores do que somos” disse uma vez o sábio Lemmy Kilmister.

Mas talvez tentando mostrar a velha marca para um novo público, a banda lançou em 2009 o bastante criticado God & Guns (que acho muito bom), dando um toque de modernidade ao som da banda, contando com a ajuda de compositores e músicos como John 5 e Rob Zombie, tudo sob a batuta do produtor Bob Marlette (Alice Cooper, Marylin Manson, Seether).

Talvez pelas críticas sofridas com esse disco, talvez simplesmente por estarem satisfeitos coma experiência e não precisarem repetir a dose, o novo velho Lynyrd resolveu partir com tudo para o estilo que ajudou a consagrar – o Southern Rock.


Segundo a Classic Rock de setembro desse ano (foto), Gary Rossington é capaz de olhar diretamente nos olhos de qualquer interlocutor e dizer que Last Of A Dyin’ Breed é o melhor trabalho da banda desde Street Survivors. Sendo ele o único membro presente da fase clássica da banda e também sobrevivente do desastre aéreo (o que lhe rendeu: dois braços, uma perna e a pelve quebrados, além de rompimento do estômago e fígado – vários e vários meses em recuperação), quem ousaria discordar?

Medlock, Johnny e Gary na capa da Classic Rock

Uma Ode Ao Legado da Banda


Novamente sob a batuta de Bob Marelette, a faixa título abre o disco com uma ode ao passado da família Van Zant e da própria banda e seu legado. Um Southern Rock simples e caprichado, onde Johnny relembra as viagens com o pai caminhoneiro, onde o patriarca mostrou aos pequenos irmãos Donnie, Ronnie e Johnny o amor pela estrada como metáfora para a liberdade. As lições de um tal “irmão descalço” (Ronnie Van Zant praticamente não usava sapatos) também são lembradas na letra.



Já em One Day At A Time (ver clipe ao vivo), temos o reencontro com o som mais tradicional da banda, sendo essa uma faixa que bem poderia estar em Gimme Back My Bullets (1976). Nela temos a filosofia da banda exposta: “Aint No Use In Crying, What Aint Dead Is Surely Dying, One Day At A Time”. Um dos destaques, e que também traz a certeza que a banda deu uma maior atenção à uma de suas marcas registradas: os arranjos para três guitarras, que haviam se perdido um pouco no disco anterior.


Homegrown talvez seja a faixa que mais se aproxima do Sothern Hard Rock moderno de God & Guns, ainda que a modernidade aqui seja muito mais sutil.

A primeira balada do repertório, Ready To Fly, novamente trabalha sobre o tema de morte como libertação. Apesar da banda ter se notabilizado por gravar baladas country depois do sucesso de Pure And Simple de 1991, a coisa aqui se aproxima mais das baladas da fase clássica, exceto pelo belo arranjo de cordas. Fica também bem evidente que a despeito da importância de Ronnie Van Zant como líder e compositor, o caçula Johnny como vocalista é absolutamente o mais talentoso dos Van Zant. Uma das vozes mais bonitas do Southern Rock, e que nunca se rende a exibicionismo barato.


Sobre as outras performances individuais, fica até difícil falar algo. Ponto para Bob Marlette, temos aqui as guitarras de Gary Rossington, Rickey Medlock (o Sr. Blackfoot, que chegou a tocar bateria no Lynyrd antes do primeiro disco) e do novato Mark Matejka soam como nos velhos tempos da banda. De resto, pelas informações do encarte e presença de músicos de estúdio e convidados, fica difícil saber quem gravou o quê. Mas seja lá quais músicos participaram das gravações, tudo soa muito bem executado e inspirado.

Muitas rugas e muita lenha para queimar - Lynyrd 2012
Continuando na ordem do disco, a cara mais moderna do Southern Rock reaparece na malícia quase hard de Mississippi Blood, com um refrão grudento que a torna irresistível. O pique se mantém com o riff hendrixiano de Good Teatcher.

A balada Something To Live For é talvez a grande bomba do disco. Além de soar totalmente desinteressante, ainda traz mais uma das letras de Johnny que mais parecem feitas para panfleto de campanha do Partido Republicano. Apesar de sempre ser evasivo quando perguntado sobre o conteúdo político de suas letras, é sabido que a banda assinou contrato para participar dos comícios de Mitt Romney.

Sorte nossa que a Whitesnakeana Life’s Twisted retoma o rumo com uma ótima performance de Johnny. Te perdoamos, cara! Curiosamente a faixa seguinte, Nothing Comes Easy, tem também a cara da banda do Tio Coverdale em seu início de carreira. Muito disso se deve provavelmente à semelhança dos timbres de David e Johnny. Posso facilmente ouvi-la ao lado de Walkin’ In The Shadow Of The Blues, o que não é ruim, claro.

A safada Honey Hole é uma ode ao cunnilingus, ou, vá lá...o popular Xerequete. Um tema curioso para um cristão carola como Van Zant ou seu companheiro de missa Gary. Boa faixa com grande solo de slide.


A caipiríssima Start Livin’ Life Again, curiosamente é a faixa co-assinada por John 5 no disco. Um encerramento bucólico que, em meio a várias letras com o tema recorrente da proximidade da morte (ainda que essa sempre apareça com o viés de libertação), traz uma mensagem de esperança.


Saldo Final

Last Of A Dyin’ Breed pode até não ser o melhor disco da banda desde seu retorno em 1987, mas certamente é o que melhor faz a conexão entre o “velho” Lynyrd e o eterno “novo” Lynyrd.

Os fãs da atual fase irão gostar com toda a certeza. Aos detratores, talvez seja a hora de dar uma nova chance. E aos que, como eu, acham uma bobagem a polêmica em torno da atual encarnação da banda e curtem as duas fases, Last Of A Dyin’ Breed soa como um honesto e prazeroso disco de rock. Puro e simples. E isso basta.



NOTA: 8,5

Ficha Técnica
Banda (Nacionalidade): Lynyrd Skynyrd (EUA)

Título (ano de lançamento): Last Of A Dyin’ Breed (2012)

Mídia: CD

Gravadora: Roadrunner (Nacional)

Faixas: 11
Duração: CD – 45’

Rotule como: Southern Rock

Indicado para: Fãs de Southern Rock.

Passe longe se: For uma das viúvas de Ronnie Van Zant.

4 comentários:

  1. Deve ser um ótimo álbum!

    Curto muito o "novo Lynyrd".
    A voz do Johnny é fodástica, e essa mistura de southern com hard rock me agradam bastante!

    Depois de ouvir o cd comento aki!

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    1. Fala, Pablo
      Também curto bastante o "novo Lynyrd", hehe
      Está bem legal o disco, não vai se arrepender. Ah, e menos panfletário que o God & Guns...Depois você me conta o que achou.
      Abraço
      R

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  2. Esta é uma banda que, à parte sua história sangrenta e uma meia dúzia de três ou quatro canções, desconheço quase por completo.

    Parabéns pela resenha, que ficou muito bacana. A sacada de colocar a reprodução do jornal caiu bem.

    Abração.

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    1. Pô, Krill, está dando mole então. Assista o recente Live From Freedom Hall. Se gostar do que viu/ouviu, corra atrás da discografia. Uma grande banda.
      Ah, e valeu pelo elogio, hehe
      Abracetas
      T

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