Prólogo –
Descobrindo Chewbacca
Não consigo em absoluto precisar
a época...
Em uma era pré internet, conheci
muitas bandas e artistas no velho esquema de fitas K-7 gravadas, sob a forma de
coletâneas, que os amigos faziam para mostrar uns aos outros suas novas
descobertas.
Uma vez um camarada me emprestou
a cópia da cópia da filha da cópia de um VHS mascado, contendo um show daquele
que ele acabara de descobrir como o melhor guitarrista de todos os tempos.
O guitarrista, o doido ególatra Yngwie Malmsteen.
Realmente foda, o cara era como o
Ritchie Blackmore com esteróides,
tocava aquelas coisas neoclássicas à velocidade da luz e sua música ficava em
algum lugar entre o Heavy rock à lá Rainbow e o AOR, então em voga.
Fiquei boquiaberto com a destreza
do sueco, certamente.
Mas confesso que o que me chamou mais a atenção
foi um vocalista grandalhão, feio feito a peste, que apesar de lembrar um dublê
do Chewbacca, cantava
monstruosamente bem, mas de maneira diferente do padrão habitual do metal.
Marcel Jacob e Jeff Scott Soto em sua época Chewbacca |
Havia ali algo que me lembrava as
bandas clássicas dos anos 1970 e outras coisas que eu então não conhecia
direito...minhas referências musicais eram tão extensas quanto sinopse de
pornô.
O vocalista em questão era Jeff Scott Soto. Virei fã desde então.
E embora o cara tenha participado
de mais bandas e projetos do que eu seria capaz de listar em uma só resenha,
para minha falha curricular, nunca havia assistido o caboclo ao vivo. Eis aqui
minha redenção, então.
O Show – 22.09.12
Pouco depois das 22h, com a
simpática casa da Lapa ainda com algum lugar para respirar, pouco a pouco os
membros da nova banda de Jeff Scott Soto tomam seus postos. Sob uma névoa de
gelo seco tomam de assalto o bairro boêmio do Rio de Janeiro com a pesada Take U Down, do novo disco Damage Control (resenha em breve aqui
na Cripta). Jeff Scott Soto adentra o palco como um
furacão, um furacão algo rotundo, demonstrando um domínio de palco bastante
acima da média, para alguém com talento vocal já muito acima da média. Um showman
completo, com um estilo que por vezes faz referência a uma de suas maiores
influências, Freddie Mercury, com
seus trejeitos exagerados que quase esbarram na breguice.
O som ainda estava algo embolado e o vocal do
patrão um pouco baixo, mas os problemas logo corrigidos foram pontuais.
JSS |
O que
se seguiu foi um show intenso, divertido e com um fantástico clima intimista. E não tardou para a casa ficar abarrotada. Boa
parte do repertório foi dedicado ao novo disco, representado por seis músicas, e
o material ficou excelente ao vivo. Destacaria a faixa de trabalho, Look Inside Your Heart, cantada por
muito na platéia e a algo soturna Afraid
To Die, que só saiu em algumas edições limitadas de Damage Control e marcou o momento mais próximo musicalmente do que Jeff fez com Axel Rudi Pell e Malmsteen.
Deu tempo até para dar uma descansada |
Mas se algumas partes da carreira
do cantor foram negligenciadas no repertório apresentado, houve espaço também
para algumas surpresas: One Love, do
projeto W.E.T. marcou presença,
assim como Living The Life, da
trilha sonora de Rock Star e uma
versão empolgante para Shot In The Dark,
do comedor de morcegos Ozzy.
Momento piano e voz |
A banda também ganhou espaço para mostrar seu
talento e brindar o público com algumas brincadeiras musicais interessantes. Nela
estiveram presentes os brasileiros Edu
Cominato (bateria - Remove Silence,
Tempestt) e o talentoso BJ (Tempestt), que além de tocar teclados e guitarra, ainda cantou bem
como sempre, segurando nos backings e até fazendo um breve duelo com o patrão. O
restante da banda contou com dois madrilenhos: o bom guitarrista Jorge Salan e o baixista Fernando Mainier, ambos egressos do
gigante do Folk Metal Espanhol Mago de Oz. Todos brilharam e
demonstraram imensa felicidade em estar ali com uma platéia participativa e que
conhecia todas as músicas.
BJ, Mainier, Cominato, JSS e Salan |
Dessa
vez o Talisman, banda que Jeff Scott Soto capitaneou junto com o
falecido Marcel Jacob por boa parte
de sua carreira, apareceu representada apenas por um Medley, contendo Break The Chains, e os covers para Madonna (Frozen) e Seal (Crazy), dentre outras. Mas o grande
destaque ficou por conta da recepção à I’ll
Be Waiting, cantada em uníssono por todos os presentes. Foi tamanha a
euforia que essa música causou que a banda acabou por retornar ao seu refrão
por outras vezes só para instigar a platéia.
Set List da Noite |
Chegada à hora do bis, Mr. Soto faz uma espirituosa
brincadeira com a platéia: como a casa não tem camarins, não faria sentido ele
sair do palco, esperar os aplausos e voltar. Pediu então para a galera virar de
costas para o palco e gritar o nome dele e então se virar – para dar a sensação
do retorno para o bis. Após a piada, engatam a faixa de abertura do novo disco,
Give A Little More, seguida de Stand Up, música composta por Sammy Hagar para o projeto Planet Us, com Neal Schon. Projeto esse que se transformou no Soul Sirkus, mas que deixou essa música de herança para a trilha
sonora de Rock Star.
Uma hora e quarenta e muita diversão depois, Jeff Scott Soto e sua banda deixam o
palco debaixo de muitos aplausos. Uma noite bastante agradável que para os que
se dispuseram a tal, ainda contou com um Meet
and Greet com a banda, no próprio pub. Resta recomendar a todos os que
perderam esse show que não deixem de conferir Chewie quando ele aparecer por essas bandas novamente. Vale cada
centavo.
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