quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Cirith Ungol – Forever Black (CD-2020)

 

Honrando o Passado

Por Trevas

O mundo dos fãs do Metal e do Rock Progressivo adora histórias de heróis desconhecidos, pequenos tesouros que, em períodos pré-internet, eram guardados a sete chaves, já que a divulgação ampla desses trabalhos tiraria o poder de “sou fodão e só eu conheço/tenho isso”. O tesouro perderia seu valor se sua existência caísse nas mãos dos fãs mundanos que gostam do que todo mundo gosta. São as amadas “bandas cult”. Na verdade, a grande maioria dessas bandas definitivamente foi relegada a um segundo plano na história por alguma razão concreta, seja ela artística (sonoridade bacana, mas sem nada de diferente de outros contemporâneos, sonoridade à frente do gosto da época, sonoridade realmente ruim...) ou profissional (falta de profissionalismo dos membros, substâncias demais causando problemas, problemas com gravadoras e contratos ruins...). Quando eu era moleque, Frost And Fire, disco de estreia do Cirith Ungol era tido como uma das pérolas das pérolas dos discos “Cult”. Não irei mentir, mas achei o disco uma bosta quando escutei, muito por conta do vocal esquisito de Tim Baker. Acreditei ser mais um disco alçado à um status importante só por que não era fácil de achar.

O "lendário" Frost & Fire

Anos se passaram e acabei dando uma segunda chance à banda. Tim Baker continuou soando esquisito aos meus ouvidos, mas é inegável que a banda tinha uma cara bem própria e um charme tosco que unia os mundos do emergente Metal oitentista com o legado que o Black Sabbath deixara na década anterior. A banda lançou mais três (bons) discos em dez anos, encerrando suas atividades justamente por problemas contratuais, somados à mudança de interesse na cena Rocker com a chegada do Hair Metal ao mainstream e o posterior surgimento da cena de Seattle.

Os rostinhos bonitos do Cirith Ungol em 2020

Uma mania que costuma andar de mãos dadas com o culto à bandas desconhecidas, é a de ressuscitar as mesmas para reaparecimento em shows comemorativos em festivais. E foi com uma proposta de um festival que o Cirith Ungol retornou, em 2015. Quatro dos membros originais (com reforço do novato baixista Jarvis Leatherby) fizeram shows concorridos, que renderam um ótimo ao vivo. A receptividade foi tão boa que optaram por entrar em estúdio e adicionar um quinto rebento de estúdio à discografia, Forever Black. Com produção da banda junto à Armand Anthony (guitarrista do Night Demon), o disco abre com uma introdução épica que nos joga direto para a ferocidade da excelente Legions Arise. A impressão que temos é de que o tempo mal passou. Ao menos em termos de intenção e sonoridade, já que a produção (precisa e orgânica) faz Tim Baker soar muito mais poderoso que no passado (mas ainda esquisito), e a banda, mais pesada e concisa.


Quem busca novidades, aqui não as encontrará. Se eu dissesse se tratar de um disco nunca lançado gravado logo após Paradise Lost, você acreditaria. Longe de ser um demérito, aquela mescla de Black Sabbath com NWOBHM tem grandes chances de ainda acalentar os corações dos Headbangers, e as composições podem raramente atingir o patamar de novos clássicos (posto que Legions Arise e Fire Divine podem requerer facilmente), mas também nunca passam perto de fazer feio. Um disco de retorno honesto e recheado de um Heavy metal cru, empolgante e sem frescuras. Uma ótima pedida! (NOTA: 8,42)

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Gravadora: Hellion Records (nacional)

Prós: Heavy Metal cru e empolgante, com cara bem própria

Contras: Tim Baker continua soando como Tim Baker

Classifique como: Heavy Metal

Para Fãs de: Trouble, Black Sabbath
















sábado, 15 de agosto de 2020

Cloven Hoof – Age Of Steel (CD-2020)

 

Genericamente Divertido

Por Trevas

Mais uma daquelas bandas do quinquagésimo escalão da NWOBHM que terminaram por se tornar “cult” ao longo dos anos, o Cloven Hoof brinca de “volta dos que não foram” desde os primórdios, mantendo apenas o baixista Lee Payne como figura constante nas suas 789 formações. Curiosamente, desde os anos 2000 Lee conseguiu manter uma produtividade razoável, esse Age Of Steel sendo o 4º lançamento desde o milionésimo retorno da banda, em 2006. Com todas as composições e produção assinados pelo próprio Lee Payne, vamos ao que o Cloven Hoof tem para oferecer em 2020.


A bilionésima primeira formação do Cloven Hoof

Bathory abre o disco com corais e uma produção moderna, emoldurando um Heavy Metal Tradicional, mas nem de longe refém do passado. Um início vigoroso e promissor. O disco segue com sua melhor faixa, a épica Alderley Edge, e aqui também nos apresenta a maior contradição para quem avalia um disco como esse: as músicas são tudo o que um fã de metal tradicional pode pedir, mas ao mesmo tempo exageram nas referências e cometem frequentemente alguns “empréstimos” que fariam corar até o Jimmy Page! Alderley Edge, por exemplo, assalta descaradamente a progressão de Alexander The Great em seu início, além de surrupiar os versos de alguma música dos discos novos do Iron (não identifiquei exatamente qual) e harmonias de guitarra em seu meio de outra faixa da mesma banda. O vocalista atual, o bom George Call (que já cantou até no Omen) até mesmo emula o “Bruce gripado” atual com perfeição assustadora em alguns momentos. A cara de pau chega ao ponto de surripiarem o pré refrão de Evil That Men Do na boa Touch The Rainbow! Mas ao mesmo tempo, se você conseguir se abster desses momentos de picaretagem, o disco passa a soar bem agradável, vide as boas Bedlam e Victim Of The Furies.








Completam o novo Line-up os estreantes e competentes Ash Baker (guitarras) e Mark Bristow (bateria), num disco que, com a exceção da fraca Judas, deve agradar em cheio os fãs antigos, além de ter grandes chances de conquistar novos adeptos junto ao pessoal que curte bandas expoentes do Generic Metal como Hammerfall e Primal Fear. (NOTA: 8,24)

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Gravadora: Hellion Records (nacional)

Prós: Heavy Metal direto, bem tocado e divertido

Contras: exagera nas “referências’ e pequenos “empréstimos”

Classifique como: Heavy Metal

Para Fãs de: Iron Maiden, Jag Panzer 






quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Lights Out: Surviving the '70s with UFO – Martin Popoff (Livro-2017)

 

Formato: E-book Kindle (Em Inglês)

Editora: Wymer Publishing

168 Páginas

 

Os Anos de Ouro da UFOlogia

Por Trevas

Cachorro de rua fez cocô, ninguém limpou, nasce uma biografia do Popoff em cima. Piadas à parte, o grau de produtividade do jornalista canadense é tamanho que a frase acima passa longe de ser um exagero, beirando uma centena de livros escritos, sob uma infinidade de bandas e temas dentro do rock pesado. Mas não é à toa, como fundador e editor sênior da extinta Brave Words & Bloody Knuckles, principal revista de metal do Canadá, além de trabalhos com outras mídias especializadas do ramo, Martin realizou uma gama incontável de entrevistas com praticamente todo e qualquer artista relevante da cena. E esse acervo costuma dar credibilidade à suas obras. Lights Out é o segundo livro de Popoff sobre a lendária banda britânica, mas aqui temos uma pegadinha, pois o “novo” livro nasceu originalmente como um projeto de revisão de UFO: Shoot Out the Lights, publicado em 2005. Martin estava organizando as entrevistas mais recentes sobre a banda e então percebeu ter em mãos tanto material extra que a revisão ficaria gigantesca e impublicável. O autor decidiu então desmembrar a obra original em vários volumes, Lights Out sendo o primeiro, centrado na linha do tempo compreendida entre o primeiro disco dos ingleses até o lançamento e promoção do mítico Strangers In The Night, ao final de 1979.

Popoff, o simpático tiozão da biografia


Quem já leu qualquer coisa de Martin Popoff já sabe o que esperar, Martin é muito mais um competente compilador de informações do que um bom contador de histórias. Em seus livros, cada capítulo espelha um lançamento da banda, com as informações sobre produção e curiosidades extraídas diretamente das entrevistas com membros da banda e pessoas próximas. Então a qualidade informativa é sempre legal, mas muito mais centrada no aspecto musical do que pessoal da coisa. O que em muitos casos rende livros para lá de burocráticos. Para nossa sorte, o UFO sempre teve em suas formações músicos para lá de excêntricos, com a língua afiada para quaisquer assuntos, então a leitura se torna excepcionalmente bem interessante. O legal nesse caso é o confronto de opiniões e visões sobre os mesmos temas provindos de personalidades tão distintas quanto Phil Mogg, Michael Schenker, Paul Raymond e Pete Way. Também temos contribuições do simpático Andy Parker, do tresloucado Paul Chapman, do ácido Danny Peyronel, e dos produtores Leo Lyons e Ron Nevison (que parece ter o ego ainda maior que o dos músicos). Como todos são bastante falantes, dá até para criar uma espécie de história da banda na cabeça com o material, ainda que não seja o intuito original. Uma leitura bem agradável e que dá um panorama bem completo da criação de alguns dos melhores discos de Rock dos anos 1970. (NOTA: 8,00)
















domingo, 9 de agosto de 2020

Lucifer – Lucifer III (CD-2020)



The Devil You Know

Por Trevas 

Meio redundante dizer, mas esse é o terceiro rebento do combo multinacional capitaneado pela alemã Johanna Platow Andersson, outrora conhecida por Johanna Sadonis. Sim, a mudança de nome da moça tem um pouco a ver com a mudança na banda. Johanna juntou os trapos (e assumiu o nome) com seu parceiro de segundo disco, Nicke Andersson (multi-instrumentista que ficou famoso por ter capitaneado bandas tão díspares quanto Entombed e Hellacopters), e os dois são exatamente o que sobrou do segundo disco, além de escrever e produzir tudo o que ouvimos aqui.

Johanna e seus Black Caps

De cara Ghosts nos leva a crer que o Lucifer optou definitivamente por assumir seu lado Retro Rocker, como no segundo trabalho, em detrimento ao Occult Rock com elementos de Doom do disco de estreia. Ainda que as boas Midnight Phantom e Leather Demon (assim como as letras) mantenham sopros, não mais que efêmeros do clima sombrio de outrora.


Não que isso seja exatamente um problema. A despeito das mudanças de formação e de opção estilística, a banda conseguiu forjar uma cara própria, muito graças à voz única de Johanna. Longe de ser uma virtuose da voz, a alemã tem um timbre agradável que nos remete a algum lugar esfumaçado (e com leve cheiro de enxofre) no fim dos anos 1960.


Dessa vez Nicke ficou restrito às baquetas, as boas guitarras cabendo ao desconhecido Martin Nordin e ao sueco Linus Björklund (do ótimo grupo de Retro Rock VOJD). Não dá para saber pelos créditos quem responde pelo baixo nem pelo Hammond climático que aparece aqui e acolá. Mas é tudo bem feito, com aquela aura de produção antiga, ainda que bem polida. O problema é que as músicas são legais, mas carecem de um algo a mais que estava presente nos dois trabalhos anteriores. Uma bolachinha curta, boa de se ouvir, mas que falha em se destacar dentro do para lá de recheado e concorrido mercado de lançamentos do universo Retro Rocker (NOTA: 8,21)

Visite o The Metal Club

Gravadora: Hellion Records (nacional)

Prós: a banda achou sua cara, e é uma cara agradável

Contras: menos cativante que os trabalhos anteriores

Classifique como: Retro Rock, Occult Rock

Para Fãs de: Blood Ceremony, Jess And The Ancient Ones, Jex Thoth