Para os malucos(as) que como eu tem prazer em destrinchar as histórias que permeiam a trilha sonora que escolhemos para nossas vidas. E quantas histórias interessantes se escondem em cada esquina desse vasto mundo do rock! Vocês encontrarão por aqui resenhas de shows, discos, livros, dvds (blu-rays) e notícias comentadas sobre o mundo do rock. Espero que vocês gostem e visitem sempre ou eventualmente. Eu, certamente, me divertirei muito escrevendo aqui.
O BattleBeast foi montado na Finlândia em 2008, e o que a princípio era um
projeto sem grandes ambições envolvendo amigos de infância acabou por tomar
proporções inesperadas no ano de 2010. A banda não só ganhou uma importante
competição de bandas em sua terra natal, como simplesmente também levou o WackenMetalBattle daquele
ano, o que garantiu imensa repercussão na grande mídia local e de quebra angariou
um belo contrato com uma gravadora. E mesmo após a saída de sua vocalista
original, o Battle Beast vem
mantendo uma agenda hercúlea, alternando entre turnês e lançamento de discos,
sendo BringerofPain o quarto em 6
anos. E parece que a fórmula tem funcionado, BringerofPain é o segundo disco dos finlandeses
a chegar ao topo das paradas em sua terra natal, e dessa vez eles chegaram
também ao Top 20 na Alemanha? Será que o mundo anseia tanto assim por calçar
polainas e bater cabeça? Vamos checar onde reside o charme dessa curiosa banda.
Finlandeses Bélicos, mas nada bestas
Straight To the Heart, King For A Day, Bastard Son of Odin dão aquela sensação de que estamos vivendo
dentro de uma imensa compilação de trilhas sonoras dos filmes de ação toscos
dos anos 1980 (Ruas de Fogo e afins). Dá para imaginar DavidHasselfoff
dançando essas músicas. Se esse é teu ideal de diversão, não terás motivos para
reclamar da bolachinha.
E não há nenhum problema em admitir que colocar BringerofPain para rodar é uma tremenda delícia.
É tudo muito bem feito, NooraLouhimo (que parece uma filha bastarda da NinaHagen) tem uma voz rouca e poderosa,
que se encaixa bem tanto em baladas (Beyond
the Burning Skies, algo Nightwish)
ou nos números mais Hard (FamiliarHell), quanto em números agressivos, como a faixa título. A
produção, ao encargo do tecladista Janne
é de alto nível, lembrando um pouco a linha estilística seguida pelo Sabaton em discos recentes. E os
músicos, obviamente relegados a segundo plano, jogam para o time, JuusoSoinio e JoonaBjorkroth são efetivos nos riffs e
econômicos nos bons solos. EeroSipila e PyryVikki fazem uma
cozinha que parece se inspirar na disco music, sem deixar o peso de lado. O
tecladista/produtor JanneBjorkroth deixa seu instrumento lá em
cima na mixagem, mas isso faz bastante sentido dentro das ideias musicais da
banda.
Nem tudo funciona perfeitamente, é claro, a dance e breguinha chega a
lembrar aquelas atrocidades do Amaranthe
e Far From Heaven também não ajuda
em muito a manter a qualidade do disco, elevando a breguice para níveis que
fariam a Cher verter lágrimas de
glitter.
Nina Louhimo, ou seria Noora Hagen?
Não fosse a produção, a faixa título pareceria algo que o Accept assinaria com galhardia, um
petardo metálico guiado pela velocidade, gang vocals e os vocais ferozes da
bolachuda Noora. Definitivamente o
grande destaque dentro das 10 faixas que compõe a edição normal, ao lado da
algo industrial LostInWars,
que traz um dueto bacana entre a vocalista e TomiJoutsen, do Amorphis. A edição brasileira ainda
conta com 3 faixas bônus, todas legais e que facilmente poderiam trocar de
lugar com outras do repertório oficial.
Saldo Final
Cada
vez apostando mais na mistura Power/Hard/Pop, o BattleBeast
confeccionou um disco de audição agradável e para lá de divertido, chegando a
ser capaz de agradar até os Headbanger mais sisudos quando (ainda que
eventualmente) investem no peso.
NOTA: 7,77
Gravadora:
Shinigami Records (nacional).
Pontos
positivos: A bela voz de Noora e os refrães contagiantes
Pontos
negativos: a ideia diverte mas acaba por soar repetitiva
O Arch Enemy foi formado em 1996, numa
parceria entre o guitarrista Michael Amott e o vocalista Johan Liiva, ex-colegas do Carnage.
A intenção de Amott era a de seguir
a linha que fizera em Heartwork, do Carcass, um DeathMetal com altas
doses de melodia. Devido ao pedigree de alguns dos envolvidos, a banda obteve
algum reconhecimento, em especial no mercado Japonês. Mas foi com a saída de Liiva que o AE começou sua escalada de mera curiosidade na cena extrema para
uma das maiores bandas de Metal do planeta na história recente. Para o lugar de
Liiva foi recrutada a até então
vocalista amadora AngelaGossow. Angela não fora a pioneira no uso de vocais extremos, mas à época a
cena mostrava-se ávida por mulheres conquistando espaço num ambiente
notoriamente machista e Angela se
tornou uma espécie de símbolo: uma mulher de beleza contida, sem rompantes de
diva, a chamada “girl next door”, mas que se transformava numa poderosa máquina
de chutar bundas em cima de um palco. Atingindo um sucesso comercial antes
considerado improvável, o ArchEnemy galgou fãs ao redor do globo,
graças também ao amadurecimento de seus discos, culminando no espetacular AnthemsOfRebellion.
Angela Gossow, total girl power
Mas nem tudo eram flores. Após DoomsdayMachine, a fórmula musical da banda
foi mostrando claros sinais de desgaste. E Angela
vinha demonstrando insatisfação por conta da constante pressão por uma agenda
mais intensa nas turnês. Esse fato culminou na saída da alemã do posto de
vocalista, ainda que tenha assumido lugar no management da banda. Foi
justamente ela que indiciou uma jovem canadense para seu lugar, a então
vocalista do TheAgonist, AlissaWhite-Gluz. Alissa, que possui um estilo vocal bem
versátil e claramente influenciada pela colega alemã, também comunga das mesmas
ideias políticas e ambientais de Angela
(as duas são veganas, afeitas à ideologias de esquerda e ativistas pelos
direitos dos animais) o que pode ter facilitado a aproximação e amizade.
Rita Repulsa...ehr, digo, Alissa White-Gluz
Michael Amott temia pela queda de
popularidade da banda diante da saída de uma frontwoman tão marcante. E o temor
dos fãs residia no uso de vocais limpos pela nova vocalista no ArchEnemy. Ambos estavam enganados, WarEternal, o novo
disco, é de longe o material mais criativo da banda desde Anthems, e Alissa se
restringiu a utilizar seus poderosos vocais urrados. A receptividade foi
tamanha que a demanda por shows mais do que duplicou. Com a vantagem que Alissa não tem problemas em fazer
longas turnês, encarando com maestria uma agenda de shows hercúlea. As The Stages Burn é o registro
audiovisual de um show realizado pela banda no Wacken de 2016. A versão aqui analisada é a registrada em Blu-Ray,
mas temos também edições em Cd, DVD e um caprichado (e caríssimo) Box Set.
A bela (e incomprável) edição em Digibook
Imagem e Som
A banda preparou uma
produção e palco especial para o show no Wacken,
e para isso não poupou esforços e nem dinheiro. E o resultado é fantástico,
lembrando as produções das bandas grandes dos anos 1980, em especial IronMaiden. O palco foi convertido em um imenso castelo com bandeiras e
painéis muito bem bolados. Ao fundo, um círculo iluminado com o logo da banda.
A iluminação está excelente, casando de maneira perfeita com o conteúdo
musical. Atrás do praticado da bateria temos outro microfone, em uma espécie de
púlpito cerimonial, onde Alissa
ainda faz uma performance especial em You
Will Know My Name e duas outras músicas. Aliada à produção de palco, temos
torres de chamas e fumaça que engrandecem ainda mais o visual.
Tudo
isso seria em vão se não existisse esmero em captar a energia do show. Mas
estamos falando de um dos maiores diretores de shows/clipes disponíveis no
mercado, o sueco Patric Ullaeus
(responsável por ótimos Home Videos
de gente como In Flames, Europe e WithinTemptation). Ullaeus capricha em tomadas criativas e
numa edição ágil sem se tornar irritante. As câmeras estão em número suficiente
para providenciar todos os ângulos possíveis (são 13 no total) e a imagem é
absolutamente cristalina em todas, fazendo valer a alta resolução esperada de
um lançamento em Blu-Ray. Já o som,
disponível em estéreo e 5.1, ficou sob a responsabilidade do mago britânico AndySneap. Não preciso nem dizer então que o som é igualmente
cristalino e perfeito, certo? Amott
fez questão de dizer nas entrevistas que não existiu retrabalho em estúdio,
estando os pequenos deslizes todos ali para vermos. Bom, não encontrei nenhum
deslize. Mas quem se importa?
Performances e
Repertório
A dupla de guitarras
da banda é um deleite em termos de contrastes. MichaelAmott é o
discípulo perfeito do MichaelSchenker, seus leads e solos sempre
melodiosos ao ponto de podermos cantar cada nota. Já JeffLoomis é um dos
melhores shredders de sua geração,
chegando a dar saudade de seus tempos no Nevermore.
A para lá de competente cozinha composta por SharleeD’Angelo e DanielErlandson parece sempre funcionar à velocidade da luz. Mas, são
todas figuras carimbadas e conhecidas do grande público. Aqui, obviamente, as
atenções estão especialmente voltadas para a “novata” AlissaWhite-Gluz. A
despeito da imensa simpatia e carisma que a figura de AngelaGossow sempre
passou aos fãs, angariando respeito até entre os não tão afeitos assim ao som
da banda, é impossível não chegar à conclusão que a banda ganhou ainda mais
poder de fogo com a adição da canadense. Com seu visual que parece a releitura
estadunidense da RitaRepulsa dos PowerRangers, Alissa tem um gogó poderosíssimo,
funcionando perfeitamente tanto no material das fases anteriores como nas
músicas de WarEternal. Some isso a uma presença de palco teatral e atlética, um puta
domínio do público e temos a melhor frontwoman disponível para substituir a
querida Angela.
Sobre
o repertório, no show do Wacken
temos uma mistura do novo trabalho com as músicas mais populares da fase Gossow. Dos discos com Liiva, somente BlackEarth está
representado, e Ryse of the Tyrant (da
fase Angela) também foi ignorado.
Ausências à parte, o repertório é extremamente energético e funciona
imensamente bem, obrigado.
Extras
Os
extras podem ser divididos em três partes. Um BehindTheScenes do show do Wacken, trechos de um show no Japão e videoclipes.
O
Behind The Scenes do show do Wacken é bem curtinho (cerca de 7
minutos) e alterna entre cenas rápidas do Meet&Greet, da coletiva oficial de imprensa do festival e da preparação
da estrutura do palco. Não há legendas, mas são poucas as falas e o inglês dos
envolvidos é de fácil compreensão.
Já o show do Japão,
nomeado TokyoSacrifice, traz oito faixas em um ambiente totalmente diverso da
atração principal do pacote. Contando com a produção de palco normal da turnê,
consideravelmente mais tacanha do que a do show do Wacken, e sem a infinidade de câmeras daquela noite, temos aqui um
registro visual mais cru de um show do ArchEnemy. Mas bastante visceral e com
qualidade sonora muito boa. Não é mostrado o show inteiro, mas acertadamente as
faixas escolhidas são diversas daquelas do show principal. Muito bom.
A
terceira parte dos extras consiste no apanhado de videoclipes oficiais da
divulgação de WarEternal, um material que pode parecer
desimportante em tempos de YouTube,
mas sua inclusão torna o pacote bem completo.
Saldo Final
Mesmo
se você é um dos poucos que torcem o nariz para a nova formação do ArchEnemy, é impossível não admirar o esmero que a banda teve em
produzir esse show. E o registro audiovisual do mesmo também é irrepreensível,
até o momento de longe o melhor material ao vivo que Amott e sua trupe colocaram no mercado. Excelente.
NOTA: 10
Gravadora:
Century Media (importado). No mercado brasileiro foi lançada uma edição em DVD
+ Cd.
Pontos
positivos: performance, imagem, som e extras excelentes
Pontos
negativos: fez com que eu me arrependesse amargamente de ter perdido o show
dessa turnê
“Inglorious é a maior banda a surgir na
Inglaterra desde o LedZeppelin.”
A
frase, dita pelo conceituado produtor Sul-Africano Kevin Shirley (Iron Maiden,
Journey, DreamTheater, Joe Bonamassa e grande elenco...) é de
uma audácia de fazer os pentelhos dos fãs mais tradicionalistas de ClassicRock despencarem. Curiosamente a estranha afirmação a respeito de
uma banda que mal completou 3 anos de existência encontra eco no genial
guitarrista do Queen, BrianMay. Mas afinal, quem diabos é esse tal Inglorious?
Na verdade, o
primeiro ponto passível de crítica na fala de Mr. Caveman é chamar o Inglorious
de banda. De fato, a dita "banda" não passa de um projeto capitaneado pelo gigante loiro NathanJames, uma figura que ao que consta possui um imenso talento e um
ego ainda mais vultuoso. Nathan, um britânico que ainda não chegou aos 30 anos
de idade, começou sua carreira cantando em eventos de fãs do Queen. Ganhou maior notoriedade ao
participar de dois programas da TV inglesa. No TheVoice, foi
absolutamente ignorado pelos jurados ao cantar um clássico do BonJovi. Sentindo-se humilhado, o jovem somou o sentimento de rejeição
a sua ambição feérica e jurou que iria mostrar não só à Grã-Bretanha, mas
também ao resto do mundo seu talento.
Nathan, o próprio bastardo inglório
Uma
segunda chance na TV quase rendeu-lhe de vez o estrelato. Dessa vez
participando do programa Superstar, Nathan foi adotado pelo mentor do reality
show, nada mais nada menos que AndrewLloydWebber. Os dois viraram unha e carne, até que um choque de egos fez
com que o famoso produtor/compositor expulsasse o pupilo do programa. Webber ainda dirigiu palavras duras ao
cantor via imprensa, criticando seu ego inflado, críticas que ganharam eco nas
palavras de outros músicos participantes do programa. Ainda assim a experiência
rendeu frutos ao jovem vocalista, que recebeu um convite para integrar a Trans Siberian Orchestra e a banda solo
do lendário Uli Jon Roth. Com Uli, a quem Nathan chama de MestreYoda das guitarras, Nathan aprendeu a apreciar a magia da
música de uma maneira mais pura e romântica. Mas foi com a TSO, onde passou a ver a cor do dinheiro, capitaneando shows para
20/30.000 pessoas, que o vocalista decidiu que era hora dele mesmo montar sua
banda, com a certeza de que seu talento seria o suficiente para alçar voos
igualmente altos. Arrogância? Coragem? Fé?
Provavelmente todos
os itens misturados. O primeiro disco do Inglorious
(cuja formação muda mais do que o Rainbow)
saiu ano passado, recebendo boas críticas (ver o ponto de vista da Cripta aqui)
e grande destaque na mídia especializada. Poucos meses depois recebi a notícia
de que o novo disco, simplesmente intitulado II, ganharia as lojas de disco ao redor do globo.
Inglorious, em sua 789 formação em 3 anos...
IngloriousII, com sua arte de capa que remete ao infame MeanBusisness, do não
menos infame supergrupo TheFirm, foi produzido pela banda e mixado
pelo Kevin Shirley. Foi justamente ao mixar o trabalho que o Caveman se sentiu surpreendido pela
qualidade do material, soltando a frase citada no início da matéria. Vamos
conferir então se o que temos em mãos é realmente tão impressionante assim.
Após uma climática e tristonha introdução, somo atacados com um peso e
groove impressionantes da ótima I Don’t
Need Your Loving (ver vídeo). Bons riffs, baixo pulsante, produção
cristalina e um ótimo refrão. Um começo para lá de promissor.
Taking The Blame (ver vídeo) começa e você jura que está ouvindo Whitesnake em seus anos pré-farofagem. Mas a voz de Nathan tem qualidade e personalidade suficientes para afastar tais pensamentos impuros.
A sonoridade mais contida e menos estridente do disco trona sua audição
mais prazerosa do que na estreia e a evolução vocal de NathanJames é visível,
se antes o grandalhão irritava com gritos desnecessários e firulas vocais em
profusão, aqui a interpretação é que é o foco, como na bela Tell Me Why. Read All About It (ver vídeo) tem um clima algo Zeppeliano ao mesmo tempo que traz uma
pitada de modernidade à mistura. Change
Is Coming tem no hammond e nos vocais repletos de tempero soul seus charmes
não tão secretos, outra boa faixa num disco que vai se mostrando deliciosamente
homogêneo.
A power balada Making Me Pay
quebra um pouco o andamento da bolachinha e vem nos lembrar que o vocalista
pode estar mais contido, mas gosta de se exibir. Por muito pouco não ultrapassa
a fronteira do bom gosto. Mas bom gosto é o que não falta à excelente e
vigorosa Hell Or High Water, a
melhor faixa do disco (e possivelmente a melhor da banda, ver vídeo). No Good For You segue aquela pegada Whitesnakeana, mantendo o padrão de
qualidade elevado.
I’ve Got A Feeling é corretinha, mas fica um pouco aquém
do restante do material. Só que vem seguida da ótima e algo setentista BlackMagic (ver vídeo), outro dos destaques do disco, tal qual a
belíssima balada Faraway (LedZeppelin até o talo). Perto dessa sequência o encerramento com a competente
High Class Woman mostra-se até mesmo um bocado anticlimático.
Saldo Final
Longe
de entrar na onda de exagero de KevinShirley, IngloriousII não
apresenta absolutamente nada de novo ao já bastante explorado bestiário do HardRock. Mas mesmo apostando em uma fórmula batida, é impossível
passar incólume à qualidade das canções e aos vocais cada vez mais maduros do
privilegiado NathanJames. IngloriousII está
repleto de clichês, e tenho lá minhas dúvidas se será suficiente para atender à
ambição de lotar arenas ao redor do globo, mas é inegavelmente um disco muito
divertido que deve figurar em muita lista de melhores do ano por aí.
NOTA: 8,74
Gravadora:
Frontiers/Nuclear Blast (importado)
Pontos
positivos: belas canções, produção caprichada e ótima performance vocal