quarta-feira, 26 de julho de 2017

Battle Beast – Bringer of Pain (Cd-2017)

Battle Beast - Bringer of Pain (Cd-2017)

Metal de Polainas
Por Trevas


O Battle Beast foi montado na Finlândia em 2008, e o que a princípio era um projeto sem grandes ambições envolvendo amigos de infância acabou por tomar proporções inesperadas no ano de 2010. A banda não só ganhou uma importante competição de bandas em sua terra natal, como simplesmente também levou o Wacken Metal Battle daquele ano, o que garantiu imensa repercussão na grande mídia local e de quebra angariou um belo contrato com uma gravadora. E mesmo após a saída de sua vocalista original, o Battle Beast vem mantendo uma agenda hercúlea, alternando entre turnês e lançamento de discos, sendo Bringer of Pain o quarto em 6 anos. E parece que a fórmula tem funcionado, Bringer of Pain é o segundo disco dos finlandeses a chegar ao topo das paradas em sua terra natal, e dessa vez eles chegaram também ao Top 20 na Alemanha? Será que o mundo anseia tanto assim por calçar polainas e bater cabeça? Vamos checar onde reside o charme dessa curiosa banda.


Finlandeses Bélicos, mas nada bestas

Straight To the Heart, King For A Day, Bastard Son of Odin dão aquela sensação de que estamos vivendo dentro de uma imensa compilação de trilhas sonoras dos filmes de ação toscos dos anos 1980 (Ruas de Fogo e afins). Dá para imaginar David Hasselfoff dançando essas músicas. Se esse é teu ideal de diversão, não terás motivos para reclamar da bolachinha.






E não há nenhum problema em admitir que colocar Bringer of Pain para rodar é uma tremenda delícia. É tudo muito bem feito, Noora Louhimo (que parece uma filha bastarda da Nina Hagen) tem uma voz rouca e poderosa, que se encaixa bem tanto em baladas (Beyond the Burning Skies, algo Nightwish) ou nos números mais Hard (Familiar Hell), quanto em números agressivos, como a faixa título. A produção, ao encargo do tecladista Janne é de alto nível, lembrando um pouco a linha estilística seguida pelo Sabaton em discos recentes. E os músicos, obviamente relegados a segundo plano, jogam para o time, Juuso Soinio e Joona Bjorkroth são efetivos nos riffs e econômicos nos bons solos. Eero Sipila e Pyry Vikki fazem uma cozinha que parece se inspirar na disco music, sem deixar o peso de lado. O tecladista/produtor Janne Bjorkroth deixa seu instrumento lá em cima na mixagem, mas isso faz bastante sentido dentro das ideias musicais da banda.





Nem tudo funciona perfeitamente, é claro, a dance e breguinha chega a lembrar aquelas atrocidades do Amaranthe e Far From Heaven também não ajuda em muito a manter a qualidade do disco, elevando a breguice para níveis que fariam a Cher verter lágrimas de glitter.

Nina Louhimo, ou seria Noora Hagen?

Não fosse a produção, a faixa título pareceria algo que o Accept assinaria com galhardia, um petardo metálico guiado pela velocidade, gang vocals e os vocais ferozes da bolachuda Noora. Definitivamente o grande destaque dentro das 10 faixas que compõe a edição normal, ao lado da algo industrial Lost In Wars, que traz um dueto bacana entre a vocalista e Tomi Joutsen, do Amorphis. A edição brasileira ainda conta com 3 faixas bônus, todas legais e que facilmente poderiam trocar de lugar com outras do repertório oficial.




Saldo Final

Cada vez apostando mais na mistura Power/Hard/Pop, o Battle Beast confeccionou um disco de audição agradável e para lá de divertido, chegando a ser capaz de agradar até os Headbanger mais sisudos quando (ainda que eventualmente) investem no peso.


NOTA: 7,77


Gravadora: Shinigami Records (nacional).
Pontos positivos: A bela voz de Noora e os refrães contagiantes
Pontos negativos: a ideia diverte mas acaba por soar repetitiva
Para fãs de: Sabaton, Accept, Amaranthe
Classifique como: Power Metal/Hard Rock
























domingo, 23 de julho de 2017

Arch Enemy – As The Stages Burn (Blu-Ray – 2017)


Arch Enemy - As The Stages Burn

This Is Tour Eternal!!!
Por Trevas

Prólogo - Yesterday Is Dead And Gone

O Arch Enemy foi formado em 1996, numa parceria entre o guitarrista Michael Amott e o vocalista Johan Liiva, ex-colegas do Carnage. A intenção de Amott era a de seguir a linha que fizera em Heartwork, do Carcass, um Death Metal com altas doses de melodia. Devido ao pedigree de alguns dos envolvidos, a banda obteve algum reconhecimento, em especial no mercado Japonês. Mas foi com a saída de Liiva que o AE começou sua escalada de mera curiosidade na cena extrema para uma das maiores bandas de Metal do planeta na história recente. Para o lugar de Liiva foi recrutada a até então vocalista amadora Angela Gossow. Angela não fora a pioneira no uso de vocais extremos, mas à época a cena mostrava-se ávida por mulheres conquistando espaço num ambiente notoriamente machista e Angela se tornou uma espécie de símbolo: uma mulher de beleza contida, sem rompantes de diva, a chamada “girl next door”, mas que se transformava numa poderosa máquina de chutar bundas em cima de um palco. Atingindo um sucesso comercial antes considerado improvável, o Arch Enemy galgou fãs ao redor do globo, graças também ao amadurecimento de seus discos, culminando no espetacular Anthems Of Rebellion.


Angela Gossow, total girl power


Mas nem tudo eram flores. Após Doomsday Machine, a fórmula musical da banda foi mostrando claros sinais de desgaste. E Angela vinha demonstrando insatisfação por conta da constante pressão por uma agenda mais intensa nas turnês. Esse fato culminou na saída da alemã do posto de vocalista, ainda que tenha assumido lugar no management da banda. Foi justamente ela que indiciou uma jovem canadense para seu lugar, a então vocalista do The Agonist, Alissa White-Gluz. Alissa, que possui um estilo vocal bem versátil e claramente influenciada pela colega alemã, também comunga das mesmas ideias políticas e ambientais de Angela (as duas são veganas, afeitas à ideologias de esquerda e ativistas pelos direitos dos animais) o que pode ter facilitado a aproximação e amizade.


Rita Repulsa...ehr,  digo, Alissa White-Gluz
Michael Amott temia pela queda de popularidade da banda diante da saída de uma frontwoman tão marcante. E o temor dos fãs residia no uso de vocais limpos pela nova vocalista no Arch Enemy. Ambos estavam enganados, War Eternal, o novo disco, é de longe o material mais criativo da banda desde Anthems, e Alissa se restringiu a utilizar seus poderosos vocais urrados. A receptividade foi tamanha que a demanda por shows mais do que duplicou. Com a vantagem que Alissa não tem problemas em fazer longas turnês, encarando com maestria uma agenda de shows hercúlea. As The Stages Burn é o registro audiovisual de um show realizado pela banda no Wacken de 2016. A versão aqui analisada é a registrada em Blu-Ray, mas temos também edições em Cd, DVD e um caprichado (e caríssimo) Box Set.


A bela (e incomprável) edição em Digibook


Imagem e Som

A banda preparou uma produção e palco especial para o show no Wacken, e para isso não poupou esforços e nem dinheiro. E o resultado é fantástico, lembrando as produções das bandas grandes dos anos 1980, em especial Iron Maiden. O palco foi convertido em um imenso castelo com bandeiras e painéis muito bem bolados. Ao fundo, um círculo iluminado com o logo da banda. A iluminação está excelente, casando de maneira perfeita com o conteúdo musical. Atrás do praticado da bateria temos outro microfone, em uma espécie de púlpito cerimonial, onde Alissa ainda faz uma performance especial em You Will Know My Name e duas outras músicas. Aliada à produção de palco, temos torres de chamas e fumaça que engrandecem ainda mais o visual.




Tudo isso seria em vão se não existisse esmero em captar a energia do show. Mas estamos falando de um dos maiores diretores de shows/clipes disponíveis no mercado, o sueco Patric Ullaeus (responsável por ótimos Home Videos de gente como In Flames, Europe e Within Temptation). Ullaeus capricha em tomadas criativas e numa edição ágil sem se tornar irritante. As câmeras estão em número suficiente para providenciar todos os ângulos possíveis (são 13 no total) e a imagem é absolutamente cristalina em todas, fazendo valer a alta resolução esperada de um lançamento em Blu-Ray. Já o som, disponível em estéreo e 5.1, ficou sob a responsabilidade do mago britânico Andy Sneap. Não preciso nem dizer então que o som é igualmente cristalino e perfeito, certo? Amott fez questão de dizer nas entrevistas que não existiu retrabalho em estúdio, estando os pequenos deslizes todos ali para vermos. Bom, não encontrei nenhum deslize. Mas quem se importa?


   
Performances e Repertório

A dupla de guitarras da banda é um deleite em termos de contrastes. Michael Amott é o discípulo perfeito do Michael Schenker, seus leads e solos sempre melodiosos ao ponto de podermos cantar cada nota. Já Jeff Loomis é um dos melhores shredders de sua geração, chegando a dar saudade de seus tempos no Nevermore. A para lá de competente cozinha composta por Sharlee D’Angelo e Daniel Erlandson parece sempre funcionar à velocidade da luz. Mas, são todas figuras carimbadas e conhecidas do grande público. Aqui, obviamente, as atenções estão especialmente voltadas para a “novata” Alissa White-Gluz. A despeito da imensa simpatia e carisma que a figura de Angela Gossow sempre passou aos fãs, angariando respeito até entre os não tão afeitos assim ao som da banda, é impossível não chegar à conclusão que a banda ganhou ainda mais poder de fogo com a adição da canadense. Com seu visual que parece a releitura estadunidense da Rita Repulsa dos Power Rangers, Alissa tem um gogó poderosíssimo, funcionando perfeitamente tanto no material das fases anteriores como nas músicas de War Eternal. Some isso a uma presença de palco teatral e atlética, um puta domínio do público e temos a melhor frontwoman disponível para substituir a querida Angela.





Sobre o repertório, no show do Wacken temos uma mistura do novo trabalho com as músicas mais populares da fase Gossow. Dos discos com Liiva, somente Black Earth está representado, e Ryse of the Tyrant (da fase Angela) também foi ignorado. Ausências à parte, o repertório é extremamente energético e funciona imensamente bem, obrigado.


Extras

Os extras podem ser divididos em três partes. Um Behind The Scenes do show do Wacken, trechos de um show no Japão e videoclipes.

O Behind The Scenes do show do Wacken é bem curtinho (cerca de 7 minutos) e alterna entre cenas rápidas do Meet & Greet, da coletiva oficial de imprensa do festival e da preparação da estrutura do palco. Não há legendas, mas são poucas as falas e o inglês dos envolvidos é de fácil compreensão.

Já o show do Japão, nomeado Tokyo Sacrifice, traz oito faixas em um ambiente totalmente diverso da atração principal do pacote. Contando com a produção de palco normal da turnê, consideravelmente mais tacanha do que a do show do Wacken, e sem a infinidade de câmeras daquela noite, temos aqui um registro visual mais cru de um show do Arch Enemy. Mas bastante visceral e com qualidade sonora muito boa. Não é mostrado o show inteiro, mas acertadamente as faixas escolhidas são diversas daquelas do show principal. Muito bom.




A terceira parte dos extras consiste no apanhado de videoclipes oficiais da divulgação de War Eternal, um material que pode parecer desimportante em tempos de YouTube, mas sua inclusão torna o pacote bem completo.


Saldo Final

Mesmo se você é um dos poucos que torcem o nariz para a nova formação do Arch Enemy, é impossível não admirar o esmero que a banda teve em produzir esse show. E o registro audiovisual do mesmo também é irrepreensível, até o momento de longe o melhor material ao vivo que Amott e sua trupe colocaram no mercado. Excelente.


NOTA: 10


Gravadora: Century Media (importado). No mercado brasileiro foi lançada uma edição em DVD + Cd.
Pontos positivos: performance, imagem, som e extras excelentes
Pontos negativos: fez com que eu me arrependesse amargamente de ter perdido o show dessa turnê
Para fãs de: Soilwork, At The Gates
Classifique como: Melodic Death Metal



























sexta-feira, 21 de julho de 2017

Inglorious – II (Cd-2017)







Bastardo Glorioso
Por Trevas

Inglorious é a maior banda a surgir na Inglaterra desde o Led Zeppelin.”
A frase, dita pelo conceituado produtor Sul-Africano Kevin Shirley (Iron Maiden, Journey, Dream Theater, Joe Bonamassa e grande elenco...) é de uma audácia de fazer os pentelhos dos fãs mais tradicionalistas de Classic Rock despencarem. Curiosamente a estranha afirmação a respeito de uma banda que mal completou 3 anos de existência encontra eco no genial guitarrista do Queen, Brian May. Mas afinal, quem diabos é esse tal Inglorious?

Na verdade, o primeiro ponto passível de crítica na fala de Mr. Caveman é chamar o Inglorious de banda. De fato, a dita "banda" não passa de um projeto capitaneado pelo gigante loiro Nathan James, uma figura que ao que consta possui um imenso talento e um ego ainda mais vultuoso. Nathan, um britânico que ainda não chegou aos 30 anos de idade, começou sua carreira cantando em eventos de fãs do Queen. Ganhou maior notoriedade ao participar de dois programas da TV inglesa. No The Voice, foi absolutamente ignorado pelos jurados ao cantar um clássico do Bon Jovi. Sentindo-se humilhado, o jovem somou o sentimento de rejeição a sua ambição feérica e jurou que iria mostrar não só à Grã-Bretanha, mas também ao resto do mundo seu talento.

Nathan, o próprio bastardo inglório
Uma segunda chance na TV quase rendeu-lhe de vez o estrelato. Dessa vez participando do programa Superstar, Nathan foi adotado pelo mentor do reality show, nada mais nada menos que Andrew Lloyd Webber. Os dois viraram unha e carne, até que um choque de egos fez com que o famoso produtor/compositor expulsasse o pupilo do programa. Webber ainda dirigiu palavras duras ao cantor via imprensa, criticando seu ego inflado, críticas que ganharam eco nas palavras de outros músicos participantes do programa. Ainda assim a experiência rendeu frutos ao jovem vocalista, que recebeu um convite para integrar a Trans Siberian Orchestra e a banda solo do lendário Uli Jon Roth. Com Uli, a quem Nathan chama de Mestre Yoda das guitarras, Nathan aprendeu a apreciar a magia da música de uma maneira mais pura e romântica. Mas foi com a TSO, onde passou a ver a cor do dinheiro, capitaneando shows para 20/30.000 pessoas, que o vocalista decidiu que era hora dele mesmo montar sua banda, com a certeza de que seu talento seria o suficiente para alçar voos igualmente altos. Arrogância? Coragem? Fé?

Provavelmente todos os itens misturados. O primeiro disco do Inglorious (cuja formação muda mais do que o Rainbow) saiu ano passado, recebendo boas críticas (ver o ponto de vista da Cripta aqui) e grande destaque na mídia especializada. Poucos meses depois recebi a notícia de que o novo disco, simplesmente intitulado II, ganharia as lojas de disco ao redor do globo.


Inglorious, em sua 789 formação em 3 anos...

Inglorious II, com sua arte de capa que remete ao infame Mean Busisness, do não menos infame supergrupo The Firm, foi produzido pela banda e mixado pelo Kevin Shirley. Foi justamente ao mixar o trabalho que o Caveman se sentiu surpreendido pela qualidade do material, soltando a frase citada no início da matéria. Vamos conferir então se o que temos em mãos é realmente tão impressionante assim.

Após uma climática e tristonha introdução, somo atacados com um peso e groove impressionantes da ótima I Don’t Need Your Loving (ver vídeo). Bons riffs, baixo pulsante, produção cristalina e um ótimo refrão. Um começo para lá de promissor.






Taking The Blame (ver vídeo) começa e você jura que está ouvindo Whitesnake em seus anos pré-farofagem. Mas a voz de Nathan tem qualidade e personalidade suficientes para afastar tais pensamentos impuros.





A sonoridade mais contida e menos estridente do disco trona sua audição mais prazerosa do que na estreia e a evolução vocal de Nathan James é visível, se antes o grandalhão irritava com gritos desnecessários e firulas vocais em profusão, aqui a interpretação é que é o foco, como na bela Tell Me Why. Read All About It (ver vídeo) tem um clima algo Zeppeliano ao mesmo tempo que traz uma pitada de modernidade à mistura. Change Is Coming tem no hammond e nos vocais repletos de tempero soul seus charmes não tão secretos, outra boa faixa num disco que vai se mostrando deliciosamente homogêneo.




A power balada Making Me Pay quebra um pouco o andamento da bolachinha e vem nos lembrar que o vocalista pode estar mais contido, mas gosta de se exibir. Por muito pouco não ultrapassa a fronteira do bom gosto. Mas bom gosto é o que não falta à excelente e vigorosa Hell Or High Water, a melhor faixa do disco (e possivelmente a melhor da banda, ver vídeo). No Good For You segue aquela pegada Whitesnakeana, mantendo o padrão de qualidade elevado.




I’ve Got A Feeling é corretinha, mas fica um pouco aquém do restante do material. Só que vem seguida da ótima e algo setentista Black Magic (ver vídeo), outro dos destaques do disco, tal qual a belíssima balada Faraway (Led Zeppelin até o talo). Perto dessa sequência o encerramento com a competente High Class Woman mostra-se até mesmo um bocado anticlimático.


Saldo Final

Longe de entrar na onda de exagero de Kevin Shirley, Inglorious II não apresenta absolutamente nada de novo ao já bastante explorado bestiário do Hard Rock. Mas mesmo apostando em uma fórmula batida, é impossível passar incólume à qualidade das canções e aos vocais cada vez mais maduros do privilegiado Nathan James. Inglorious II está repleto de clichês, e tenho lá minhas dúvidas se será suficiente para atender à ambição de lotar arenas ao redor do globo, mas é inegavelmente um disco muito divertido que deve figurar em muita lista de melhores do ano por aí.


NOTA: 8,74


Gravadora: Frontiers/Nuclear Blast (importado)
Pontos positivos: belas canções, produção caprichada e ótima performance vocal
Pontos negativos: não traz nada de novo ao estilo 
Para fãs de: Whitesnake, Badlands
Classifique como: Hard Rock, Classic Rock