Joe Bonamassa - Blues Of Desperation |
Prólogo - Bonamassa e a
Cripta
Por Trevas
Quatro anos atrás a Cripta nascia justamente do fascínio
que uma apresentação do Bonamassa em
Buenos Aires exerceu sobre a minha pessoa. Tal resenha é justamente uma
das mais lidas por aqui e considero a mesma uma das melhores que já escrevi. Segue
aqui o link para ela, que também explica bastante o fenômeno Bonamassa, um artista low profile e de
produção não afiançada por nenhuma major e que mesmo assim atingiu status de um
dos maiores vendedores de discos da atualidade.
O gordinho nerd da guitarra e seu padrinho, um tal BB King |
O
problema é que desde aquela turnê a produtividade do guitarrista continuou
frenética, mas a qualidade caiu tremendamente. Sua saída do Black Country Communion foi
anunciada (embora venha a ser reeditada em 2017). Seu segundo rebento com a
cantora canadense Beth Hart foi um fiasco (SeeSaw, ver na Cripta) e seu disco Different Shades Of Blues naufragou sob a fórmula
chatíssima de big band (ver resenha). Sinceramente, meu ânimo diante do anúncio
de mais um disco do nerd da guitarra dessa vez não era dos melhores.
Blues e Desespero
Lançado
novamente sob a tutela da J&R Records, Blues
Of Desperation traz pela enésima vez a colaboração entre Joe e o produtor Sul Africano Kevin Shirley (Journey, Iron Maiden, Page & Plant) a quem o estadunidense dá o crédito de ter transformado um
garoto que fritava vinte minutos de solo a esmo num artista que cria canções. Kevin foi o encorajador de Mr. B no caso de apostar em um disco feito apenas de suas músicas. A
fórmula já havia sido tentada em Different
Shades Of Blues (que apenas
abre com uma curta introdução de Hendrix),
mas o material ali em sua maioria era de uma qualidade sofrível.
Bastam as duas
primeiras músicas para entendermos que a proposta aqui é bem mais rocker que a
dos últimos trabalhos. This Train (ver vídeo) pode até ser uma boa
canção sem nada de novo, mas Mountain
Climbing (ver vídeo) é um blues rock
monolítico e algo épico com ótimo refrão. Desde já um dos grandes momentos da
carreira de JB.
A fantasmagórica Drive (ver
vídeo) remete ao ótimo Dust Bowl, e a dobradinha No Good
Place For The Lonely (com cara de algo do Gary Moore, o que é sempre bom) e a faixa título remetem ao prometido:
Blues e desespero, temperados com arranjos crus e ótimos riffs e solos. A banda
que aparece aqui no disco, aliás, traz duas curiosidades: a presença de Anton Fig na bateria (que já tocou com todo mundo, de NSync a Kiss) e da filha de Jimmy
Barnes, Mahalia Barnes, nos
backing vocals.
Ok, nem tudo são flores. The Valley Runs Low é um country com uma aura irritante de
música de igreja, um convite irresistível ao botão de passar a faixa. You Left me Nothing But The Bill And The Blues é apenas ok, mas serve mais como
uma aparente afronta à ex esposa e cantora pop Sandi Thom, de quem se
separou recentemente e como canal para bons solos. Por sorte, Distant Lonesome Train, com sua
cara mais sombria e bateria marcada trazem o disco de volta aos...trilhos (ok,
não pude resistir, sorry). Ótima faixa, que vem mostrar também como Joe, um cara de voz normalmente algo
enjoativa, melhorou como cantor, com uma capacidade de interpretação bastante
interessante.
Bonamassa 2016, ainda um nerd da guitarra |
How Deep
this River Runs, é uma ótima power
ballad que deve em iguais partes ao Blues e ao Classic Hard Rock, um dos grandes
destaques do disco (atentem para o ótimo baixo de Michael Rhodes nessa
faixa). Livin’ Easy já aposta mais num blues de cabaré empoeirado, bacaninha, mas
que soaria melhor na voz encardida de um Tom
Waits. Já a faixa de encerramento What I’ve Known For A Long Time é um blues tão tradicionalzão que
sua existência só se justifica pelos belos solos, mesmo.
Saldo Final
Blues Of
Desperation pode ter trazido à tona
um novo enfoque mais autoral ao trabalho de JB. Mas termina por incorrer no mesmo problema de quase toda a
discografia do prodigioso guitarrista: temos lado a lado faixas fantásticas e
outras totalmente desnecessárias. Por sorte, aqui as fantásticas estão em maior
número e cobrem com folga o estrago feito pelas canções menos inspiradas. Um
dos melhores discos de Joe Bonamassa
e um bom início para quem quer conhecer o trabalho do cara.
NOTA: 8,53
Para fãs de: Gary Moore, Rory Gallagher, BB King
Fuja se: blues para você for música de velho broxa (nesse caso, você está redondamente enganado, isso tem um nome: jazz)
Classifique como: Blue, Blues Rock, Classic Rock
P.s.:
aqui cabe uma explicação: a partir desse post, me utilizarei do método de
pontuação do The Metal Club, um site realmente especial, onde os fanáticos pelo
rock pesado podem dar notas a suas músicas favoritas. Quando se completa as
notas de um disco, o site gera a nota automática para aquele disco (através de
um algoritmo). E o mais legal, semanalmente você recebe indicações de músicas
baseadas nas cotações que você fez. Ou seja, quanto mais você avalia discos e
músicas, mais acertadas serão essas indicações! Segue abaixo o link, acesse,
faça sua conta e divirta-se!!!