domingo, 16 de novembro de 2014

Especial: Necro – Cd + Show + Entrevista



Prólogo: Accidentally Stoned
Texto e fotos por Trevas

Sábado, fim de tarde em Petrópolis. Nenhum plano para a noite. Começo a assistir um jogo na televisão. Minha esposa resolve entrar na página do facebook de um bar recém inaugurado, o Gypsy Bar, próximo de onde moramos. A programação da casa anuncia uma banda de Alagoas, uma tal Necro. Havia esbarrado com o nome dessa banda em flyers digitais de shows promovidos em uma página voltada para Stoner e Doom. Fiquei curioso. Colocamos o nome da banda no Youtube, assistimos o vídeo para Dark Redemption. Vidrados, olhamos o relógio e descobrimos que tínhamos pouco tempo para chegar ao show. Corremos para o Gypsy Bar, então!

Capa para o Single Dark Redemption
Bom, esse será um post dividido em três partes.
Nele farei um apanhado da apresentação da banda em Petrópolis-RJ, mostrarei a tentativa de primeira entrevista da Cripta (foi um caos, definitivamente não tenho tino para jornalismo, hehe) e ainda farei a resenha do segundo disco desse grupo que tem tudo para alçar voos maiores no underground brasileiro.
Vamos começar pelo show, então.


Necro (08.11.14 – Gypsy Bar – Petrópolis/RJ)

Conquistando a Cidade Imperial
Promovendo seu segundo disco (resenha ainda nesse post) a Necro vem percorrendo uma infinidade de cidades do vasto território brasileiro. O power trio inicia seu show pouco após as 22h, sob olhares de um público tão heterogêneo quanto curioso. Qual não foi a surpresa de todos os presentes ao ouvir saindo daqueles três aparentemente tímidos jovens um som pesado como um mamute obeso e que traria um sorriso ao rosto de Tony Iommi.

Lílian Lessa
Um bocado pelo talento dos três e talvez amplificado pela extensa maratona de shows, o show é coeso, todos parecem se entender como que por telepatia. As composições da banda, ainda que desconhecidas do público presente, são muito boas, boas o suficiente para fazer o público bater pés, agitar cabeças e ficar com o olhar vidrado no palco. A resposta efusiva ao final de cada música traz um sorriso honesto aos rostos dos três, quebrando a timidez.

Necro
O globo espelhado, somado à estética musical e visual da banda, fazem com que sejamos transportados para algum pub britânico ao final dos anos1960. Confesso que não olhei o relógio. A Necro pode ter tocado durante meia hora ou três horas, não faço ideia. Esse efeito de transcender a física, nos transportar para outro lugar em outra era, certamente só pode ser alcançado quando a música é boa e relevante. Bem vindos à Petrópolis. Necro, a cidade imperial é de vocês.

Necro - Cd
Necro – Necro (Cd -2014)

Com doses cavalares de Stoner e Doom, o som da Necro busca inspiração em ícones dos primórdios do Rock pesado (Black Sabbath, Lucifer’s Friend, Atomic Rooster), psicodelia e algo do rock latino das antigas (Mutantes) para fazer uma mistura contagiante. O primeiro som, Noite e Dia, exemplifica bem essa mistura. A gravação deixa tudo com um som bem na cara e sem retoques, o que é exatamente o que o estilo da banda pede. A brasilidade estampada nos vocais dessa faixa pode requerer um pouco mais do ouvinte menos afeito a sons latinos, mas casa perfeitamente com a proposta da banda.

Dark Redemption, música de trabalho e que possui um vídeo (ver abaixo), mostra bastante aquela pegada dos primórdios do Heavy Metal, o tipo de som que faz a felicidade dos fãs de Stoner.


Creatures From The Swamp tem uma levada deliciosamente Doom que permeia seus pesados oito minutos. Lílian soa perfeita aqui e por vezes sua voz me remete aos melhores momentos de Jess And The Ancient Ones ou Purson. Contando com algumas variações e belos momentos do baixo de Pedro Ivo e da bateria de Thiago Alef (num curto solo que não soa nada gratuito), essa faixa é certamente o grande destaque da bolachinha.


Grito traz novamente a mistura de um som pesado com vocais em português de Pedro e Lílian que dão um toque exótico e algo misterioso que em muito me lembra o genial Pescado Rabioso, da Argentina. 17 Horas inicia como uma balada com um clima tão etéreo e psicodélico quanto sua letra. Um interlúdio elétrico digno do bom progressivo setentista quebra momentaneamente a calmaria, que logo retorna. Uma bela viagem. Mente Profana, a despeito do nome, possui letra em inglês. Outra pedrada Doom calcada num riff que faria Iommi orgulhoso.

Saldo Final

Contando com bela apresentação gráfica (por Cristiano Suarez), uma produção que casa perfeitamente com o som da banda e composições muito boas, Necro é um grande disco que fará a alegria dos fãs de Doom, Stoner e Rock Psicodélico. Seus parcos 33 minutos e seis músicas são definitivamente uma deliciosa surpresa.

NOTA: 8

Necro – A Entrevista
Por Trevas e Dressa Ferreira

Ok, não sou nenhum repórter. Ok, eu e Dressa já estávamos um bocado calibrados. Não, não dá para chamar o que fizemos de uma entrevista. Ao menos não em termos profissionais. Mas foi sim uma conversa muito divertida, regada a cerveja e batatas fritas, com os talentosos e simpaticíssimos Lílian Lessa (guitarra e voz), Pedro Ivo Araújo (Baixo e voz) e Thiago Alef (bateria). Separei a entrevista por tópicos, espero que vocês gostem!

Trevas, Dressa, Lílian, Pedro e Thiago (+cervejas e quitutes)
Influências
Sentados em uma mesa do Gypsy Bar no pós show, com todos munidos de cerveja e quitutes e num clima totalmente descontraído, a conversa teve início com uma pergunta simples sobre as influências de cada um. A resposta de Lílian foi a princípio surpreendente, ”olha, comecei a tocar por causa do Kurt Cobain”. A surpresa cai por terra quando tomamos pé da idade de cada um na banda: Thiago e Pedro tem 27 anos e Lílian, 24. Sim, Kurt Cobain fez a cabeça de Lílian em seu início como guitarrista, mas Grace Slick (Jefferson Airplane) e Janis Joplin são suas influências primordiais, embora ela brinque dizendo que “essa última é difícil de imitar”. Pedro faz troça com a namorada, dizendo que ela precisaria de “uma garrafa de whisky para imitar Janis”, sob risos gerais. Pedro reverencia o falecido Jack Bruce e Sir Paul McCartney, “ele inventou 80% do que está por aí”, brinca. Já Thiago concorda com a máxima de 10 entre 10 bateras de rock: “Bonham é Deus”, e cita também Ian Paice e Ringo Starr como seus guias musicais.

Necro ou Necronomicon – o Início de tudo
A banda nasceu em 2009, como Necronomicon, “encurtamos o nome após descobrir que tinha mais outras bandas usando Necronomicon, tínhamos que mudar mas não muito, senão ia ser como começar tudo de novo, então ficou Necro, mesmo”. Afinal, como o próprio Pedro arremata, “Flores Azuis Astrais não ia funcionar, né?”. Não, não ia.
A ideia, segundo Pedro era “fazer um som que a gente acredita mesmo, baseado nas influências da gente”. A formação original contava com o casal Lílian e Pedro, mas um terceiro integrante. “Pedro tocava bateria e cantava, só passei a cantar esse ano”, diz Lílian. A parceria inicialmente não funcionou, e Pedro, rindo um bocado, assume que “não sabe tocar bateria direito”. Aí entrou na equação Thiago Alef, “Já conhecia eles há anos, sempre fomos amigos e já havíamos tocado junto em outras bandas”. Banda fechada, tudo pareceu se encaixar, em especial no novo disco, que carrega o encurtado novo nome.


Tietagem pós show: Dressa, Lílian, Trevas e Pedro


Passado ou Futuro?
Com uma média de idade de 26 anos, como poderia uma banda como a Necro fazer tão bem o som de uma era anterior ao nascimento de seus membros? Pedro, cujo background musical vêm de família, filosofa, com um sorriso no olhar: “eu acho que a gente não faz um som retrô, pelo contrário, eu acho que a gente faz o som do futuro, é como se a gente pegasse aquilo do passado e tentasse levar para outros caminhos".

Turnê
A rotina de shows para divulgação do novo disco parece estar valendo a pena, tendo datas agendadas em lugares tão díspares quanto Cabo Frio-RJ, Petrópolis-RJ e São Paulo. Segundo Pedro “a gente sabe se o pessoal está gostando quando no intervalo das músicas já tem gente vibrando, como aconteceu aqui”. Thiago complementa “Ah, é a melhor resposta que um músico pode ter, ver o pessoal animado com nossas músicas”. Sobre a continuidade da turnê, a banda pensa em angariar novos lugares a seu currículo “Falta a gente tocar em Florianópolis, por exemplo”, diz Pedro. Alô, alguém em Floripa resolve isso, please!?

Novidades
O futuro não muito distante reserva algumas novidades para a Necro, “Já estamos gravando um Split com uma banda de Recife, a Witching Hour, e nosso disco sairá em vinil pela Hydro-Phonic, nosso selo, de Detroit (EUA)”, diz Lílian. A Hydro-Phonic contatou a banda através do MySpace e já havia lançado o disco anterior da Necro em vinil. A banda está bastante ciente de que o som calcado em elementos dos anos 1960 e 1970 está em voga lá fora. Sobre a possibilidade de shows no exterior, Thiago afirma “primeiro estamos tentando conquistar o Brasil, mas essa possibilidade pode estar perto de acontecer, é que a logística e parte financeira são complicados”.

Com o crescente interesse pelo estilo retro-rocker/stoner lá fora, não será uma surpresa se nos depararmos em breve com o anúncio de shows dos alagoanos em terreno gringo. Longa Vida à Necro!

Página da banda: http://necronomicon.bandcamp.com/

Facebook: https://www.facebook.com/pages/Necronomicon/152830624746008?fref=ts

2 comentários:

  1. Gostei do som, sabe onde acho cd deles para comprar?
    Danilo Z.

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    Respostas
    1. Olá, Danilo
      Comprei o disco no show deles, assim como uma camiseta bem bacana. Mas dê uma olhada no site deles, ao final da resenha, deve ter alguma maneira de comprar o disco por lá.
      Abraço
      T

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