Prólogo: Accidentally
Stoned
Texto e fotos por Trevas
Sábado, fim de tarde
em Petrópolis. Nenhum plano para a noite. Começo a assistir um jogo na
televisão. Minha esposa resolve entrar na página do facebook de um bar recém
inaugurado, o Gypsy Bar, próximo de onde moramos. A programação da casa anuncia uma
banda de Alagoas, uma tal Necro. Havia esbarrado com o nome dessa banda em
flyers digitais de shows promovidos em uma página voltada para Stoner e Doom.
Fiquei curioso. Colocamos o nome da banda no Youtube, assistimos o vídeo para
Dark Redemption. Vidrados, olhamos o relógio e descobrimos que tínhamos pouco
tempo para chegar ao show. Corremos para o Gypsy Bar, então!
Capa para o Single Dark Redemption |
Bom,
esse será um post dividido em três partes.
Nele
farei um apanhado da apresentação da banda em Petrópolis-RJ, mostrarei a
tentativa de primeira entrevista da Cripta (foi um caos, definitivamente não
tenho tino para jornalismo, hehe) e ainda farei a resenha do segundo disco
desse grupo que tem tudo para alçar voos maiores no underground brasileiro.
Vamos
começar pelo show, então.
Necro (08.11.14 – Gypsy
Bar – Petrópolis/RJ)
Conquistando a Cidade
Imperial
Promovendo seu
segundo disco (resenha ainda nesse post) a Necro vem percorrendo uma infinidade
de cidades do vasto território brasileiro. O power trio inicia seu show pouco
após as 22h, sob olhares de um público tão heterogêneo quanto curioso. Qual não
foi a surpresa de todos os presentes ao ouvir saindo daqueles três aparentemente
tímidos jovens um som pesado como um mamute obeso e que traria um sorriso ao
rosto de Tony Iommi.
Lílian Lessa |
Um bocado pelo talento dos três e talvez amplificado pela extensa maratona
de shows, o show é coeso, todos parecem se entender como que por telepatia. As
composições da banda, ainda que desconhecidas do público presente, são muito
boas, boas o suficiente para fazer o público bater pés, agitar cabeças e ficar
com o olhar vidrado no palco. A resposta efusiva ao final de cada música traz um
sorriso honesto aos rostos dos três, quebrando a timidez.
Necro |
O globo espelhado, somado à estética musical e visual da banda, fazem
com que sejamos transportados para algum pub britânico ao final dos anos1960. Confesso
que não olhei o relógio. A Necro pode ter tocado durante meia hora ou três horas,
não faço ideia. Esse efeito de transcender a física, nos transportar para outro
lugar em outra era, certamente só pode ser alcançado quando a música é boa e
relevante. Bem vindos à Petrópolis. Necro, a cidade imperial é de vocês.
Necro - Cd |
Necro – Necro (Cd
-2014)
Com
doses cavalares de Stoner e Doom, o som da Necro busca inspiração em ícones dos
primórdios do Rock pesado (Black Sabbath, Lucifer’s Friend, Atomic Rooster),
psicodelia e algo do rock latino das antigas (Mutantes) para fazer uma mistura
contagiante. O primeiro som, Noite e Dia, exemplifica bem essa mistura. A
gravação deixa tudo com um som bem na cara e sem retoques, o que é exatamente o
que o estilo da banda pede. A brasilidade estampada nos vocais dessa faixa pode
requerer um pouco mais do ouvinte menos afeito a sons latinos, mas casa
perfeitamente com a proposta da banda.
Dark Redemption,
música de trabalho e que possui um vídeo (ver abaixo), mostra bastante aquela
pegada dos primórdios do Heavy Metal, o tipo de som que faz a felicidade dos
fãs de Stoner.
Creatures From The Swamp tem uma levada deliciosamente Doom que permeia
seus pesados oito minutos. Lílian soa perfeita aqui e por vezes sua voz me
remete aos melhores momentos de Jess And The Ancient Ones ou Purson. Contando
com algumas variações e belos momentos do baixo de Pedro Ivo e da bateria de
Thiago Alef (num curto solo que não soa nada gratuito), essa faixa é certamente
o grande destaque da bolachinha.
Grito
traz novamente a mistura de um som pesado com vocais em português de Pedro e
Lílian que dão um toque exótico e algo misterioso que em muito me lembra o
genial Pescado Rabioso, da Argentina. 17 Horas inicia como uma balada com um
clima tão etéreo e psicodélico quanto sua letra. Um interlúdio elétrico digno
do bom progressivo setentista quebra momentaneamente a calmaria, que logo
retorna. Uma bela viagem. Mente Profana, a despeito do nome, possui letra em
inglês. Outra pedrada Doom calcada num riff que faria Iommi orgulhoso.
Saldo Final
Contando
com bela apresentação gráfica (por Cristiano Suarez), uma produção que casa perfeitamente
com o som da banda e composições muito boas, Necro é um grande disco que fará a
alegria dos fãs de Doom, Stoner e Rock Psicodélico. Seus parcos 33 minutos e
seis músicas são definitivamente uma deliciosa surpresa.
NOTA: 8
Necro – A Entrevista
Por
Trevas e Dressa Ferreira
Ok, não sou nenhum
repórter. Ok, eu e Dressa já estávamos um bocado calibrados. Não, não dá para
chamar o que fizemos de uma entrevista. Ao menos não em termos profissionais.
Mas foi sim uma conversa muito divertida, regada a cerveja e batatas fritas,
com os talentosos e simpaticíssimos Lílian Lessa (guitarra e voz), Pedro Ivo Araújo (Baixo e voz) e Thiago
Alef (bateria). Separei a entrevista por tópicos, espero que vocês gostem!
Trevas, Dressa, Lílian, Pedro e Thiago (+cervejas e quitutes) |
Influências
Sentados em uma mesa
do Gypsy Bar no pós show, com todos munidos de cerveja e quitutes e num clima totalmente
descontraído, a conversa teve início com uma pergunta simples sobre as
influências de cada um. A resposta de Lílian foi a princípio surpreendente, ”olha,
comecei a tocar por causa do Kurt Cobain”. A surpresa cai por terra quando tomamos
pé da idade de cada um na banda: Thiago e Pedro tem 27 anos e Lílian, 24. Sim,
Kurt Cobain fez a cabeça de Lílian em seu início como guitarrista, mas Grace
Slick (Jefferson Airplane) e Janis Joplin são suas influências primordiais,
embora ela brinque dizendo que “essa última é difícil de imitar”. Pedro faz
troça com a namorada, dizendo que ela precisaria de “uma garrafa de whisky para
imitar Janis”, sob risos gerais. Pedro reverencia o falecido Jack Bruce e Sir
Paul McCartney, “ele inventou 80% do que está por aí”, brinca. Já Thiago
concorda com a máxima de 10 entre 10 bateras de rock: “Bonham é Deus”, e cita
também Ian Paice e Ringo Starr como seus guias musicais.
Necro ou Necronomicon –
o Início de tudo
A
banda nasceu em 2009, como Necronomicon, “encurtamos o nome após descobrir que
tinha mais outras bandas usando Necronomicon, tínhamos que mudar mas não muito,
senão ia ser como começar tudo de novo, então ficou Necro, mesmo”. Afinal, como
o próprio Pedro arremata, “Flores Azuis Astrais não ia funcionar, né?”. Não,
não ia.
A
ideia, segundo Pedro era “fazer um som que a gente acredita mesmo, baseado nas
influências da gente”. A formação original contava com o casal Lílian e Pedro,
mas um terceiro integrante. “Pedro tocava bateria e cantava, só passei a cantar
esse ano”, diz Lílian. A parceria inicialmente não funcionou, e Pedro, rindo um
bocado, assume que “não sabe tocar bateria direito”. Aí entrou na equação
Thiago Alef, “Já conhecia eles há anos, sempre fomos amigos e já havíamos tocado
junto em outras bandas”. Banda fechada, tudo pareceu se encaixar, em especial no
novo disco, que carrega o encurtado novo nome.
Tietagem pós show: Dressa, Lílian, Trevas e Pedro |
Passado ou Futuro?
Com uma média de
idade de 26 anos, como poderia uma banda como a Necro fazer tão bem o som de
uma era anterior ao nascimento de seus membros? Pedro, cujo background musical
vêm de família, filosofa, com um sorriso no olhar: “eu acho que a gente não faz
um som retrô, pelo contrário, eu acho que a gente faz o som do futuro, é como
se a gente pegasse aquilo do passado e tentasse levar para outros caminhos".
Turnê
A
rotina de shows para divulgação do novo disco parece estar valendo a pena,
tendo datas agendadas em lugares tão díspares quanto Cabo Frio-RJ, Petrópolis-RJ
e São Paulo. Segundo Pedro “a gente sabe se o pessoal está gostando quando no
intervalo das músicas já tem gente vibrando, como aconteceu aqui”. Thiago
complementa “Ah, é a melhor resposta que um músico pode ter, ver o pessoal
animado com nossas músicas”. Sobre a continuidade da turnê, a banda pensa em
angariar novos lugares a seu currículo “Falta a gente tocar em Florianópolis,
por exemplo”, diz Pedro. Alô, alguém em Floripa resolve isso, please!?
Novidades
O
futuro não muito distante reserva algumas novidades para a Necro, “Já estamos
gravando um Split com uma banda de Recife, a Witching Hour, e nosso disco sairá
em vinil pela Hydro-Phonic, nosso selo, de Detroit (EUA)”, diz Lílian. A Hydro-Phonic
contatou a banda através do MySpace e já havia lançado o disco anterior da
Necro em vinil. A banda está bastante ciente de que o som calcado em elementos dos
anos 1960 e 1970 está em voga lá fora. Sobre a possibilidade de shows no
exterior, Thiago afirma “primeiro estamos tentando conquistar o Brasil, mas
essa possibilidade pode estar perto de acontecer, é que a logística e parte
financeira são complicados”.
Com o crescente
interesse pelo estilo retro-rocker/stoner lá fora, não será uma surpresa se nos
depararmos em breve com o anúncio de shows dos alagoanos em terreno gringo.
Longa Vida à Necro!
Página da banda: http://necronomicon.bandcamp.com/
Facebook: https://www.facebook.com/pages/Necronomicon/152830624746008?fref=ts
Página da banda: http://necronomicon.bandcamp.com/
Facebook: https://www.facebook.com/pages/Necronomicon/152830624746008?fref=ts
Gostei do som, sabe onde acho cd deles para comprar?
ResponderExcluirDanilo Z.
Olá, Danilo
ExcluirComprei o disco no show deles, assim como uma camiseta bem bacana. Mas dê uma olhada no site deles, ao final da resenha, deve ter alguma maneira de comprar o disco por lá.
Abraço
T