sábado, 22 de novembro de 2014

Curtas: Gotthard, Hammerfall, Death Penalty e Joe Bonamassa





Gotthard - Bang!
Gotthard – Bang! (Cd-2014)

Atirando Na Direção Certa

Quatro anos após a morte do insubstituível Steve Lee, o Gotthard lança seu 11º disco, Bang! Segundo a contar com os vocais do australiano Nic Maeder, Bang! tenta reascender a chama da banda, depois do apagado Firebirth. Após uma breve introdução, a sequência com a faixa título e Get Up’n’Move On parece indicar que a banda novamente não irá conseguir voltar aos trilhos. Nic possui uma voz comum e algo sem sal, mas a culpa definitivamente reside nas composições. A power balada e primeiro single, Fell What I Feel (ver vídeo), radiofônica e inspirada, mostra que há esperança.


A balada seguinte, C’est La Vie, é chatinha, mas a partir daí, temos um show de hard rock nos moldes daqueles que os suíços nos acostumaram a ouvir em discos como Dial Hard e Lipservice. A sequência com Jump The Gun, Spread Your Wings, I Wont Look Down e My Belief trazem aquele som calcado em Whitesnake, Aerosmith e pitadas de Led e Purple que fizeram a fama da banda. A melecosa Maybe estraga o ritmo, mas temos outra boa saraivada de hardões com Red on A Sleeve, What You Get e Mr. Ticket Man. O final fica aos cuidados da passável Thank You, que se estende por longos 10 minutos, graça ao arranjo grandioso com vários solos de guitarra. A edição limitada inclui dois bônus desnecessários. Enfim, apesar do repertório desigual, Bang! Trará de volta aquele sorriso no rosto dos fãs de Gotthard. Quem sabe no próximo álbum os caras não fazem um novo clássico?

NOTA: 7

Gotthard - caminhando na direção certa.

Prós:
Boas melodias e maior pegada que nos discos anteriores.
Contras:
Um pouco longo demais.

Classifique como: Hard Rock

Para Fãs de: Whitesnake, Aerosmith

Hammerfall - (r)Evolution
Hammerfall – (r)Evolution – (Cd-2014)

Generic Metal sem concessões

Depois de chegar a anunciar o fim das atividades, diante da fraca receptividade a Infectious (de 2011), o Hammerfall se reúne para lançar seu 9º disco, prometendo um retorno às origens. A capa, genérica até a medula, mostra que o curioso título é um engodo total. Aos primeiros instantes de Hector’s Hymn fica claro que não encontraremos nenhuma revolução aqui, apenas aquele Power Metal com influências de NWOBHM e gang vocals em profusão. Com uma produção cristalina que só peca no mix dos ditos gang vocals, tão altos que chegam a destoar, o novo tento dos suecos fará a alegria dos órfãos do decadente metal melódico.


Uma pena que petardos como a faixa de abertura e a excelente Bushido não encontrem companhia à altura. Coisas como Winter Is Coming, Live Life Loud e a faixa título estão bem abaixo da capacidade da banda. E é impossível não achar graça da voz agudinha e limpa de Joacim Cans se anunciando como “Demon From Hell” na bacaninha Ex Inferis. A edição limitada ainda traz Demonized, melhor que a maioria das músicas da edição normal. Em suma, originalidade em baixa, mas parece que os fãs não se importaram, a bolachinha atingiu o primeiro lugar nas paradas suecas. Indicado somente para os tarados pelo estilo.

NOTA: 6




Hammerfall - Muita pose, pouca inspiração
Prós:
Bons riffs, Hector’s Hymn e Bushido são muito boas.
Contras:
Faltam bons refrães, Gang Vocals muito altos na mixagem.

Classifique como: Power Metal, Metal Melódico

Para Fãs de: Metal Melódico sem grandes expectativas.


Death Penalty
Death Penalty – Death Penalty (Cd-2014)

Gaz Jennings revive a NWOBHM

Com o fim das atividades do Cathedral, instituição britânica do Doom Metal, muito se perguntaram quando teríamos a oportunidade de ouvir novamente os riffs monolíticos do sempre inspirado Gaz Jennings. Bom, esse Death Penalty (nome dado em homenagem ao famoso disco do Witchfynder General) é a resposta. Gaz capturou os talentos do baterista Fredrik “Cozy” Cosemans e da ótima vocalista Michelle Nocon, ambos da banda belga Serpentcult. Completa o elenco o baixista belga Raf Meukens. A introdução do disco homônimo dá a clara impressão de que teremos um combo Doom, mas Howling At The Throne Of Decadence nos acerta em cheio com um heavy metal tradicional calcado na NWOBHM de bandas como Angel Witch e Satan. O Doom aqui serve apenas como um tempero a mais.


A banda soa coesa e pesada, com destaque absoluto para os riffs de Gaz e para a voz de Michelle, que lembra por vezes uma versão mais agressiva da Doro dos tempos de Warlock. E as composições são todas muito boas, com destaque para Eyes Of The Heretic, Children Of The Night, Written By the Insane e Immortal By Your Hand. A épica She’s A Witch nos presenteia com flashes do velho Cathedral. Gaz Jennings e sua trupe definitivamente acertaram a mão nesse que pode ser considerado o melhor Debut do ano.

NOTA: 8

Death Penalty - uma estreia promissora
Prós:
Muito peso, ótimos riffs e solos e uma grande vocalista.
Contras:
Nada a destacar.

Classifique como: Heavy Metal com elementos de Doom e NWOBHM

Para Fãs de: Metal tradicional e NWOBHM


Joe Bonamassa - Different Shades Of Blue
Joe Bonamassa – Different Shades Of Blue (Cd-2014)

Finalmente Errando o Alvo

Entra ano, sai ano e a única coisa certa na vida é que Joe Bonamassa lançará alguma coisa nova, seja um disco solo, um ao vivo ou participação em algum projeto. Eis que 2014 não é diferente: Smokin’ Joe solta seu 11º disco de estúdio. Como que para enganar os desavisados, Joe inicia DSOB com a única cover do repertório, a curta Hey Baby (do Hendrix). Daí para diante temos propositalmente apenas faixas autorais, algumas delas contando com a cooperação de Jonathan Cain, do Journey. Apesar de Oh Beautiful, com sua pegada mais rocker, o álbum é mais calcado em Blues do que os últimos lançamentos do americano. Bonamassa continua tocando como poucos, cantando bem e suas composições, mesmo quando longe da genialidade, são agradáveis.



O problema com o novo disco parece o mesmo que arruinou seu segundo lançamento com Beth Hart: arranjos repletos de sopros, percussão e teclados, deixando tudo com cara de big band. Tais arranjos soam desnecessários e acabam por diluir os bons momentos guitarrísticos de faixas como Love Ain’t No Love Song e Living On The Moon. Se você gosta do Bonamassa tocando nesse formato (como no Live at Royal Albert Hall), não verá nenhum problema e esse disco pode te agradar. Prefiro mil vezes Joe tocando com uma pegada mais Blues Rock à Lá Gary Moore e Rory Gallagher (como em Live From New York) e esse DSOB definitivamente falhou em me cativar. Segundo consta no encarte, a partir de agora Joe diminuirá consideravelmente seu ritmo de trabalho. Espero que da próxima vez ele venha com mais sangue nos olhos.

NOTA: 6

Joe Bonamassa dessa vez errou a mão
Prós:
Joe continua tocando muito.
Contras:
Arranjos irritantes, pouca pegada.

Classifique como: Blues

Para Fãs de: um Blues mais comportado.

domingo, 16 de novembro de 2014

Especial: Necro – Cd + Show + Entrevista



Prólogo: Accidentally Stoned
Texto e fotos por Trevas

Sábado, fim de tarde em Petrópolis. Nenhum plano para a noite. Começo a assistir um jogo na televisão. Minha esposa resolve entrar na página do facebook de um bar recém inaugurado, o Gypsy Bar, próximo de onde moramos. A programação da casa anuncia uma banda de Alagoas, uma tal Necro. Havia esbarrado com o nome dessa banda em flyers digitais de shows promovidos em uma página voltada para Stoner e Doom. Fiquei curioso. Colocamos o nome da banda no Youtube, assistimos o vídeo para Dark Redemption. Vidrados, olhamos o relógio e descobrimos que tínhamos pouco tempo para chegar ao show. Corremos para o Gypsy Bar, então!

Capa para o Single Dark Redemption
Bom, esse será um post dividido em três partes.
Nele farei um apanhado da apresentação da banda em Petrópolis-RJ, mostrarei a tentativa de primeira entrevista da Cripta (foi um caos, definitivamente não tenho tino para jornalismo, hehe) e ainda farei a resenha do segundo disco desse grupo que tem tudo para alçar voos maiores no underground brasileiro.
Vamos começar pelo show, então.


Necro (08.11.14 – Gypsy Bar – Petrópolis/RJ)

Conquistando a Cidade Imperial
Promovendo seu segundo disco (resenha ainda nesse post) a Necro vem percorrendo uma infinidade de cidades do vasto território brasileiro. O power trio inicia seu show pouco após as 22h, sob olhares de um público tão heterogêneo quanto curioso. Qual não foi a surpresa de todos os presentes ao ouvir saindo daqueles três aparentemente tímidos jovens um som pesado como um mamute obeso e que traria um sorriso ao rosto de Tony Iommi.

Lílian Lessa
Um bocado pelo talento dos três e talvez amplificado pela extensa maratona de shows, o show é coeso, todos parecem se entender como que por telepatia. As composições da banda, ainda que desconhecidas do público presente, são muito boas, boas o suficiente para fazer o público bater pés, agitar cabeças e ficar com o olhar vidrado no palco. A resposta efusiva ao final de cada música traz um sorriso honesto aos rostos dos três, quebrando a timidez.

Necro
O globo espelhado, somado à estética musical e visual da banda, fazem com que sejamos transportados para algum pub britânico ao final dos anos1960. Confesso que não olhei o relógio. A Necro pode ter tocado durante meia hora ou três horas, não faço ideia. Esse efeito de transcender a física, nos transportar para outro lugar em outra era, certamente só pode ser alcançado quando a música é boa e relevante. Bem vindos à Petrópolis. Necro, a cidade imperial é de vocês.

Necro - Cd
Necro – Necro (Cd -2014)

Com doses cavalares de Stoner e Doom, o som da Necro busca inspiração em ícones dos primórdios do Rock pesado (Black Sabbath, Lucifer’s Friend, Atomic Rooster), psicodelia e algo do rock latino das antigas (Mutantes) para fazer uma mistura contagiante. O primeiro som, Noite e Dia, exemplifica bem essa mistura. A gravação deixa tudo com um som bem na cara e sem retoques, o que é exatamente o que o estilo da banda pede. A brasilidade estampada nos vocais dessa faixa pode requerer um pouco mais do ouvinte menos afeito a sons latinos, mas casa perfeitamente com a proposta da banda.

Dark Redemption, música de trabalho e que possui um vídeo (ver abaixo), mostra bastante aquela pegada dos primórdios do Heavy Metal, o tipo de som que faz a felicidade dos fãs de Stoner.


Creatures From The Swamp tem uma levada deliciosamente Doom que permeia seus pesados oito minutos. Lílian soa perfeita aqui e por vezes sua voz me remete aos melhores momentos de Jess And The Ancient Ones ou Purson. Contando com algumas variações e belos momentos do baixo de Pedro Ivo e da bateria de Thiago Alef (num curto solo que não soa nada gratuito), essa faixa é certamente o grande destaque da bolachinha.


Grito traz novamente a mistura de um som pesado com vocais em português de Pedro e Lílian que dão um toque exótico e algo misterioso que em muito me lembra o genial Pescado Rabioso, da Argentina. 17 Horas inicia como uma balada com um clima tão etéreo e psicodélico quanto sua letra. Um interlúdio elétrico digno do bom progressivo setentista quebra momentaneamente a calmaria, que logo retorna. Uma bela viagem. Mente Profana, a despeito do nome, possui letra em inglês. Outra pedrada Doom calcada num riff que faria Iommi orgulhoso.

Saldo Final

Contando com bela apresentação gráfica (por Cristiano Suarez), uma produção que casa perfeitamente com o som da banda e composições muito boas, Necro é um grande disco que fará a alegria dos fãs de Doom, Stoner e Rock Psicodélico. Seus parcos 33 minutos e seis músicas são definitivamente uma deliciosa surpresa.

NOTA: 8

Necro – A Entrevista
Por Trevas e Dressa Ferreira

Ok, não sou nenhum repórter. Ok, eu e Dressa já estávamos um bocado calibrados. Não, não dá para chamar o que fizemos de uma entrevista. Ao menos não em termos profissionais. Mas foi sim uma conversa muito divertida, regada a cerveja e batatas fritas, com os talentosos e simpaticíssimos Lílian Lessa (guitarra e voz), Pedro Ivo Araújo (Baixo e voz) e Thiago Alef (bateria). Separei a entrevista por tópicos, espero que vocês gostem!

Trevas, Dressa, Lílian, Pedro e Thiago (+cervejas e quitutes)
Influências
Sentados em uma mesa do Gypsy Bar no pós show, com todos munidos de cerveja e quitutes e num clima totalmente descontraído, a conversa teve início com uma pergunta simples sobre as influências de cada um. A resposta de Lílian foi a princípio surpreendente, ”olha, comecei a tocar por causa do Kurt Cobain”. A surpresa cai por terra quando tomamos pé da idade de cada um na banda: Thiago e Pedro tem 27 anos e Lílian, 24. Sim, Kurt Cobain fez a cabeça de Lílian em seu início como guitarrista, mas Grace Slick (Jefferson Airplane) e Janis Joplin são suas influências primordiais, embora ela brinque dizendo que “essa última é difícil de imitar”. Pedro faz troça com a namorada, dizendo que ela precisaria de “uma garrafa de whisky para imitar Janis”, sob risos gerais. Pedro reverencia o falecido Jack Bruce e Sir Paul McCartney, “ele inventou 80% do que está por aí”, brinca. Já Thiago concorda com a máxima de 10 entre 10 bateras de rock: “Bonham é Deus”, e cita também Ian Paice e Ringo Starr como seus guias musicais.

Necro ou Necronomicon – o Início de tudo
A banda nasceu em 2009, como Necronomicon, “encurtamos o nome após descobrir que tinha mais outras bandas usando Necronomicon, tínhamos que mudar mas não muito, senão ia ser como começar tudo de novo, então ficou Necro, mesmo”. Afinal, como o próprio Pedro arremata, “Flores Azuis Astrais não ia funcionar, né?”. Não, não ia.
A ideia, segundo Pedro era “fazer um som que a gente acredita mesmo, baseado nas influências da gente”. A formação original contava com o casal Lílian e Pedro, mas um terceiro integrante. “Pedro tocava bateria e cantava, só passei a cantar esse ano”, diz Lílian. A parceria inicialmente não funcionou, e Pedro, rindo um bocado, assume que “não sabe tocar bateria direito”. Aí entrou na equação Thiago Alef, “Já conhecia eles há anos, sempre fomos amigos e já havíamos tocado junto em outras bandas”. Banda fechada, tudo pareceu se encaixar, em especial no novo disco, que carrega o encurtado novo nome.


Tietagem pós show: Dressa, Lílian, Trevas e Pedro


Passado ou Futuro?
Com uma média de idade de 26 anos, como poderia uma banda como a Necro fazer tão bem o som de uma era anterior ao nascimento de seus membros? Pedro, cujo background musical vêm de família, filosofa, com um sorriso no olhar: “eu acho que a gente não faz um som retrô, pelo contrário, eu acho que a gente faz o som do futuro, é como se a gente pegasse aquilo do passado e tentasse levar para outros caminhos".

Turnê
A rotina de shows para divulgação do novo disco parece estar valendo a pena, tendo datas agendadas em lugares tão díspares quanto Cabo Frio-RJ, Petrópolis-RJ e São Paulo. Segundo Pedro “a gente sabe se o pessoal está gostando quando no intervalo das músicas já tem gente vibrando, como aconteceu aqui”. Thiago complementa “Ah, é a melhor resposta que um músico pode ter, ver o pessoal animado com nossas músicas”. Sobre a continuidade da turnê, a banda pensa em angariar novos lugares a seu currículo “Falta a gente tocar em Florianópolis, por exemplo”, diz Pedro. Alô, alguém em Floripa resolve isso, please!?

Novidades
O futuro não muito distante reserva algumas novidades para a Necro, “Já estamos gravando um Split com uma banda de Recife, a Witching Hour, e nosso disco sairá em vinil pela Hydro-Phonic, nosso selo, de Detroit (EUA)”, diz Lílian. A Hydro-Phonic contatou a banda através do MySpace e já havia lançado o disco anterior da Necro em vinil. A banda está bastante ciente de que o som calcado em elementos dos anos 1960 e 1970 está em voga lá fora. Sobre a possibilidade de shows no exterior, Thiago afirma “primeiro estamos tentando conquistar o Brasil, mas essa possibilidade pode estar perto de acontecer, é que a logística e parte financeira são complicados”.

Com o crescente interesse pelo estilo retro-rocker/stoner lá fora, não será uma surpresa se nos depararmos em breve com o anúncio de shows dos alagoanos em terreno gringo. Longa Vida à Necro!

Página da banda: http://necronomicon.bandcamp.com/

Facebook: https://www.facebook.com/pages/Necronomicon/152830624746008?fref=ts

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Rival Sons – Great Western Walkyrie (Cd – 2014)

Great Western Walkyrie
Escalando O Olimpo
Por Trevas

O Pacote Completo
Desde o segundo disco, Pressure And Time, o retro-rock dos californianos do Rival Sons vem galgando terreno rumo ao topo do olimpo da cena rocker americana. Com um som inspirado em Doors, The Who, Free e congêneres, o Rival Sons parece ter o pacote completo: o visual, o talento e principalmente, boas composições. Produzido novamente por Dave Cobb (cooptado por Glenn Hughes para produzir o California Breed justamente pelo resultado de sua parceria com o grupo), após uma excursão com Sammy Hagar, esse é o primeiro disco da banda a não contar com o baixista e principal compositor, Robin Everhart.

Rival Sons circa Pressure And Time
Electric Man (ver vídeo) começa a todo o vapor, distorcida e com Jay Buchanan encarnando os grandes vocalistas de décadas passadas em um rockão contagiante. O trio Good Luck, Secret e Play The Fool mostra que o período junto a Sammy Hagar (Buchanan compôs inclusive algumas músicas para o disco mais recente do Red Rocker) parece ter surtido efeito em termo de direção musical, o novo disco soa mais direto e conciso que o trabalho anterior. Mas não fique preocupado, o som dos caras continua com os dois pés fincados num blues rock envenenado e repleto de elementos que remetem ao final dos anos 1960.


E falando em mudança, o novo baixista Dave Beste fechou com o Mike Miley uma cozinha de respeito. O guitarrista Scott Hollyday continua despejando riffs e solos direto de um túnel esfumaçado do tempo. Ah, e Jay Buchanan continua com o vozeirão repleto de feeling, como pode ser ouvido na contagiante balada Good Things (Ver vídeo) e no primeiro single, a ótima e algo Zeppeliana Open My Eyes (Ver vídeo).



Rich And The Poor traz aquele clima de Western Spaghetti à lá Morricone (presente em boa parte do disco anterior), acrescentando uma dose de psicodelismo à mistura. Belle Starr, cujo trecho da letra dá nome ao disco, traz uma curiosa miscelânea. Seu riff inicial é puro Zeppelin, logo caindo para uma melodia vocal que parece escrita por Jon Anderson, do Yes. Mas depois a faixa assume a forma do rock típico do Rival Sons. Uma puta música, com uma dinâmica digna dos grandes grupos do passado.

Rival Sons - indo para a missa?
Where I’ve Been tem cara daquelas baladas que o Paul Rodgers compunha para o Free e Bad Company, repleta de soul e nuances country.  Destination On Course termina a jornada com um clima épico Zeppeliano e um show de interpretação por conta do excelente Jay Buchanan.

Saldo Final

Longe das infusões de Hard Rock californiano que permearam Pressure And Time e segurando a mão nas viagens sessentistas exacerbadas em Head Down, o Rival Sons finalmente encontrou seu ponto de equilíbrio. Sem um minuto sequer que possa ser chamado de dispensável, Great Western Walkyrie tem tudo para catapultar o quarteto ao estrelato em definitivo em seu país natal. Se contarmos que a onda de retro-rock floresceu com força em boa parte da Europa, o momento não poderia ser mais propício para que a conquista venha a ser global. Um discaço que fará a alegria dos fãs de rock, sejam eles saudosistas ou não.

NOTA: 9

Charts
Great Western Walkyrie atingiu o topo da parada heatseeker da Billboard, assim como da BBC em sua parada voltada ao Rock (tendo ficado em 14º nas paradas Britânicas no geral). No resto do mundo figurou no top 10 em todos os países escandinavos (onde a onda retro-rock impera) e top 50 em diversos países europeus.

Prós:
Composições inspiradas, vocais e instrumental repletos de feeling e referências a bandas do passado.

Contras:
Pode soar como purgante para aqueles que não curtem o rock mais clássico.

Classifique como: Retro-rock, Hard Rock, Blues Rock, Classic Rock

Para Fãs de: Free, Bad Company, The Doors, The Who, Led Zeppelin

Ficha Técnica
Banda: Rival Sons
Origem: EUA
Disco (ano): Great Western Walkyrie (2014)
Mídia: CD
Lançamento: Earache (Importado)

Faixas (duração): CD  - 10 (47’).

Produção: Dave Cobb

Formação:
Jay Buchanan – voz;
Scott Holliday – Guitarra;
Dave Beste – baixo;
Mike Miley – bateria.

domingo, 2 de novembro de 2014

Joel McIver - A História Não Contada do Motörhead (Livro – 2013)

Capa - Edição nacional
Verruga Desnuda
Por Trevas

Publicado originalmente em 2011, o livro de Joel McIver ganhou uma edição revisada traduzida para o português em 2013, contando a história da banda desde a infância de Lemmy até a turnê de promoção para o disco The Wörld Is Yours.

A junção de Lemmy, uma das figuras mais emblemáticas e prosaicas da história do rock, com McIver, uma das enciclopédias vivas do metal, soa promissora. Fica a expectativa de que o livro consiga ser mais amplo e divertido que o confuso White Line Fever, autobiografia do líder do Motörhead lançada em 2002.

Joel e Lemmy 
O problema é que, a despeito de seu conhecimento e experiência, McIver falha em tornar o borbotão de informações e referências sobre a banda em uma história concisa e divertida.
Não, não se trata de um livro chato, em absoluto. Mas fica longe do relato lúdico de um Eu Sou Ozzy, capaz de atrair até mesmo aqueles que pouco ou nada conhecem da banda em questão.

E o material que o escritor teve nas mãos, contando com dezenas de entrevistas com o sempre interessante Lemmy e demais membros e ex-membros da banda é riquíssimo. Dos anos iniciais, quando o Motörhead lutou arduamente contra a imprensa britânica e conquistou seu espaço em meio a headbangers e punks, da dissolução da formação clássica, da desilusão com a indústria fonográfica, das opiniões controversas de Lemmy sobre política e tudo o mais. Temos de tudo no livro socado em apenas 250 páginas. É muito pouco para muita informação.

Em relação à edição brasileira, temos adendos sobre fatos ocorridos entre 2011 e 2013, além de uma boa tradução* (por Renato Puppi Munhoz) e oito páginas contendo fotos curiosas da banda.  O prefácio ficou nas mãos do improvável Glenn Hughes, que nos conta um causo de como ele, em seus tempos de Junkie, passou vergonha ao tentar acompanhar o ritmo do homem das verrugas mais famosas da história do rock.

Em suma, um livro legal, mas cuja narrativa não é lá muito fluida. Vai agradar mais aqueles que adoram devorar informações e dados do que àqueles atrás de uma leitura divertida e descompromissada sobre uma das bandas mais cafajestes da história.

Fica a impressão que o livro definitivo sobre Lemmy e o Motörhead ainda está por ser escrito. Alguém se habilita?

NOTA: 7

* Exceção feita à citação a um estanho grupo de rock progressivo, alguém conhece o "Rosa Floyd" à página 53?

Ficha Técnica
Título (Ano): A História Não Contada do Motörhead (2013)
Título Original (ano edição original): Overkill – the Untold Story Of Motörhead (2011)
Autor: Joel McIver
Editora: Edições Ideal
Páginas: 276
Preço Médio: R$40,00